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Se “a realidade é abordada com os aparelhos de gozo” (Lacan, 1972-73/2010, p. 127), e se a linguagem é um aparelho de gozo, arriscamos inferir que a linguagem poética é aparelho de gozo nãotodo[1]. Mas o que seria linguagem poética? Qual a função de abordar a realidade com esse aparelho? Se gozar nãotodamente implica evocar o grande Outro barrado, consentir com o impossível de se dizer todo; essa experiência de falha ou perda, articulada à mulher, leva a uma lógica de linguagem poética e furada, propositalmente ou não, que se borda a partir do traquejo com o Real. Para discutir a política da leitura e da escrita em psicanálise comentamos literaturas críticas de sua própria escrita, que desdobram em ato sua arte. A literatura que transcende muros e subordinações convoca o leitor a se implicar com o que passa do Isso pelo escrito. Assim como Lacan convoca cada psicanalista a reinventar a psicanálise tendo em conta o Real, a inconsistência e a feminilidade, não sem os seus outros; evocamos uma leitura-escrita nãotoda d'Ⱥ mulher que goza do equívoco.
[1] A escolha pela grafia nãotodo com as duas palavras unidas representa nosso entendimento sobre essa posição ou modalidade de gozo, em que todo fálico e nãotodo fálico são intimamente articulados.