走向心理健康的进化概念

Pedro Urbano
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Nem sequer o manual DSM, afinal uma espécie de glossário construído sobre consensos validados estatisticamente, que no fundo traduz a liderança (ou mesmo o poder hegemónico) do pragmatismo norte-americano sobre a Psiquiatria e a Psicologia, e que parte de pressupostos discutíveis, em particular a assunção de que as diferentes entidades de diagnóstico que define possuem uma realidade subjacente natural e universal. \nÉ necessário prosseguir o caminho. Um caminho iniciado por Karl Jaspers, no que diz respeito à via compreensiva (e não apenas descritiva) dos fenómenos em causa. Um caminho que só fará sentido percorrer se se procurar conhecer melhor as realidades naturais que possam existir, quando existam, subjacentes aos transtornos psiquiátricos; procurando ao mesmo tempo reconhecer que partes das definições de tais transtornos são culturalmente definidas e procurando, ainda, articular as diferentes ordens de factores (naturais e sociais) que, juntas, formarão uma nova conceptualização e compreensão de doença e de doença mental. Isto é, procurando por um lado conhecer o funcionamento natural dos mecanismos psicológicos, tais como foram «programados» ou «desenhados» pela evolução da espécie humana; procurando conhecer igualmente as condições ambientais (sociais, culturais, etc.) que fazem disparar tais mecanismos, necessariamente contextuais, de forma disfuncional; e, por fim, incorporando tais conhecimentos nos valores culturais que vêm definindo, ao longo dos séculos e das civilizações, os comportamentos desviantes que se consideram ser doença mental. Tal conceptualização, evolucionista pela sua natureza, poderá vir a trazer enfim uma solução para o problema fundamental de definir critérios de demarcação (entre o que é e o que não é doença mental) que permitam, por sua vez, encontrar explicações adequadas e satisfatórias para a compreensão dos fenómenos psiquiátricos.","PeriodicalId":33971,"journal":{"name":"Estudos do Seculo XX","volume":" ","pages":""},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2018-07-24","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":"{\"title\":\"Para uma conceptualização evolucionista de Saúde Mental\",\"authors\":\"Pedro Urbano\",\"doi\":\"10.14195/1647-8622_19_5\",\"DOIUrl\":null,\"url\":null,\"abstract\":\"O problema epistemológico do critério de demarcação (entre o que é e o que não é doença mental), constitui um dos problemas mais centrais e mais fundamentais da Psicopatologia. 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摘要

界定标准(什么是精神疾病和什么不是精神疾病)的认识论问题,构成了精神病理学最核心和最基本的问题之一。在数千年的记录历史的崎岖漫长的旅程中,对疾病和精神疾病进行概念化的方法有几种,从超自然传统到无处不在的DSM手册,在后者的具体情况下,DSM手册作为精神疾病的官方分类在全世界被强制实施。然而,迄今为止,没有任何形式能够真正令人满意地对这种障碍进行歧视和定性。即使是DSM手册,毕竟这是一种建立在统计验证共识基础上的术语表,基本上翻译了北美实用主义在精神病学和心理学上的领导地位(甚至霸权),它始于有争议的假设,特别是它定义的不同诊断实体具有自然和普遍的潜在现实的假设。我们必须继续前进。一条由卡尔·雅斯贝尔斯开创的关于所讨论现象的全面(而不仅仅是描述性)路径的路径。只有当我们寻求更好地理解可能存在的自然现实,即潜在的精神障碍时,这条路才有意义;同时寻求认识到这类疾病的部分定义是文化定义的,并寻求阐明不同的因素顺序(自然和社会),这些因素将共同形成对疾病和精神疾病的新概念和理解。也就是说,一方面寻求了解心理机制的自然功能,例如它们是由人类物种的进化“编程”或“设计”的;还寻求了解触发这种机制的环境条件(社会、文化等),这些机制必然是情境性的、功能失调的;最后,将这些知识融入文化价值观中,这些价值观在几个世纪和文明中定义了被认为是精神疾病的越轨行为。这种概念化本质上是进化论的,最终可能会解决界定标准(什么是精神疾病,什么不是精神疾病)的根本问题,从而为理解精神现象找到充分和令人满意的解释。
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Para uma conceptualização evolucionista de Saúde Mental
O problema epistemológico do critério de demarcação (entre o que é e o que não é doença mental), constitui um dos problemas mais centrais e mais fundamentais da Psicopatologia. Ao longo de um percurso acidentado e demorado de milénios de história documentada, foram-se sucedendo várias formas de conceptualizar a doença e a doença mental, desde a tradição sobrenatural até, no caso específico desta última, ao omnipresente manual DSM, que se veio a impor a nível mundial como a classificação oficial dos transtornos psiquiátricos. Todavia, nenhuma forma se revelou até agora verdadeiramente satisfatória para a discriminação e caracterização de tais transtornos. Nem sequer o manual DSM, afinal uma espécie de glossário construído sobre consensos validados estatisticamente, que no fundo traduz a liderança (ou mesmo o poder hegemónico) do pragmatismo norte-americano sobre a Psiquiatria e a Psicologia, e que parte de pressupostos discutíveis, em particular a assunção de que as diferentes entidades de diagnóstico que define possuem uma realidade subjacente natural e universal. É necessário prosseguir o caminho. Um caminho iniciado por Karl Jaspers, no que diz respeito à via compreensiva (e não apenas descritiva) dos fenómenos em causa. Um caminho que só fará sentido percorrer se se procurar conhecer melhor as realidades naturais que possam existir, quando existam, subjacentes aos transtornos psiquiátricos; procurando ao mesmo tempo reconhecer que partes das definições de tais transtornos são culturalmente definidas e procurando, ainda, articular as diferentes ordens de factores (naturais e sociais) que, juntas, formarão uma nova conceptualização e compreensão de doença e de doença mental. Isto é, procurando por um lado conhecer o funcionamento natural dos mecanismos psicológicos, tais como foram «programados» ou «desenhados» pela evolução da espécie humana; procurando conhecer igualmente as condições ambientais (sociais, culturais, etc.) que fazem disparar tais mecanismos, necessariamente contextuais, de forma disfuncional; e, por fim, incorporando tais conhecimentos nos valores culturais que vêm definindo, ao longo dos séculos e das civilizações, os comportamentos desviantes que se consideram ser doença mental. Tal conceptualização, evolucionista pela sua natureza, poderá vir a trazer enfim uma solução para o problema fundamental de definir critérios de demarcação (entre o que é e o que não é doença mental) que permitam, por sua vez, encontrar explicações adequadas e satisfatórias para a compreensão dos fenómenos psiquiátricos.
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