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Abstract
Tendo em conta os testemunhos que foi possível obter na documentação notarial medieval de uma região centro-litoral portuguesa, tentar-se-á traçar a cronologia de alguns fenómenos de alteração do timbre das vogais tónicas do português (em particular da metafonia e da inflexão vocálica), cujas atestações se têm revelado escassas nos manuais de Fonética histórica, dicionários etimológicos e outro tipo de obras lexicográficas desta língua românica. A pesquisa baseou-se num corpus constituído por 153 documentos notariais autênticos, situados entre os séculos xiii e xvi, oriundos dos fundos do mosteiro de Santa Maria de Alcobaça (IAN-TT, Lisboa, 1.ª e 2.ª incorporações), por mim própria transcritos, de acordo com o respeito escrupuloso pelo manuscrito (Carvalho 2017). Assim, é propósito deste estudo fornecer alguns dados que ajudem a esclarecer por que motivo a metafonia e a inflexão vocálica não atingiram de igual modo os mesmos itens lexicais do português, do galego, do asturiano e do castelhano, ao longo do seu devir temporal. Para além de as cronologias nos poderem informar sobre o rumo e o ritmo da mudança, apontam, igualmente, para a importância da existência de um continuum na história das línguas ibero-românicas, acentuando a interdependência de fatores fonológicos, prosódicos, semântico-lexicais, contextuais e discursivos, no processo de difusão em causa.