Pub Date : 2018-07-01DOI: 10.32887/issn.2527-2551v15n2p.222-249
Há dicotomia sobre até que ponto a interiorização, a dispersão e a caminhada Guarani nos períodos posteriores à conquista ocorreram somente sob o signo de “reação” a esta ou por outras indagações, como dissensos internos ou motivação cosmológica, assim como se o Oguatá (caminhar) ocorria antes da chegada dos colonizadores europeus e se aconteciam, quais seriam os motivos? Assim presente artigo procura analisar sob as óticas da antropologia, a forma como as lideranças religiosas Mbya cumprem os sonhos auferidos de Nhanderú Ete, originando-se a caminhada em direção à Terra Sem Mal, a Yvy Marãe‟Y, retornam ao local de ocupação de outrora ou à terra indicada por Nhanderú, com a qual mantém laços históricos de luta. Os conflitos se intensificam com a demarcação/ampliação dos territórios ou de terra para o Guarani Mbya, como no caso do Pará, que andaram por cerca de cem anos até encontrar a terra onde exercitar o modo correto de se viver; o dissenso potencializa o etnocentrismo, a discriminação, o racismo, o estigma de ser índio, bugre, preguiçoso, alcoólatra, “raça inferior”. A pesquisa versa sobre o modo como "escolhem”, “adotam”, “retomam”, ressignificam, reterritorializam, guaranizam a terra onde pausaram a caminhada. O presente artigo é resultado de uma pesquisa etnográfica e bibliográfica realizada entre o Guarani Mbyá do Pará- Amazonia Meridional do Brasil. Dessa forma, para a elaboração do texto foram analisados vários materiais que foram formulados em outrora acerca da etnia Guarani como Nimuendajú, Shaden, Clastres, Meliá, Chamorro e Litaiff. Assim a nova pesquisa etnográfica comprovou que há diferenças significativas entre as cosmologias Guarani (Mbyá, Kaiowá e Ñandeva), apesar de possuir algumas semelhanças. Portanto, como resultados ficaram evidentes que os Mbyá sempre estão contextualizados com a busca da terra isenta do mal.
{"title":"YVY MARAE ‟Y-TERRA DE OUTRORA: DA TERRA PROFANA À TERRA SAGRADA GUARANI MBYÁ DA AMAZÔNIA PARAENSE","authors":"","doi":"10.32887/issn.2527-2551v15n2p.222-249","DOIUrl":"https://doi.org/10.32887/issn.2527-2551v15n2p.222-249","url":null,"abstract":"Há dicotomia sobre até que ponto a interiorização, a dispersão e a caminhada Guarani nos períodos posteriores à conquista ocorreram somente sob o signo de “reação” a esta ou por outras indagações, como dissensos internos ou motivação cosmológica, assim como se o Oguatá (caminhar) ocorria antes da chegada dos colonizadores europeus e se aconteciam, quais seriam os motivos? Assim presente artigo procura analisar sob as óticas da antropologia, a forma como as lideranças religiosas Mbya cumprem os sonhos auferidos de Nhanderú Ete, originando-se a caminhada em direção à Terra Sem Mal, a Yvy Marãe‟Y, retornam ao local de ocupação de outrora ou à terra indicada por Nhanderú, com a qual mantém laços históricos de luta. Os conflitos se intensificam com a demarcação/ampliação dos territórios ou de terra para o Guarani Mbya, como no caso do Pará, que andaram por cerca de cem anos até encontrar a terra onde exercitar o modo correto de se viver; o dissenso potencializa o etnocentrismo, a discriminação, o racismo, o estigma de ser índio, bugre, preguiçoso, alcoólatra, “raça inferior”. A pesquisa versa sobre o modo como \"escolhem”, “adotam”, “retomam”, ressignificam, reterritorializam, guaranizam a terra onde pausaram a caminhada. O presente artigo é resultado de uma pesquisa etnográfica e bibliográfica realizada entre o Guarani Mbyá do Pará- Amazonia Meridional do Brasil. Dessa forma, para a elaboração do texto foram analisados vários materiais que foram formulados em outrora acerca da etnia Guarani como Nimuendajú, Shaden, Clastres, Meliá, Chamorro e Litaiff. Assim a nova pesquisa etnográfica comprovou que há diferenças significativas entre as cosmologias Guarani (Mbyá, Kaiowá e Ñandeva), apesar de possuir algumas semelhanças. Portanto, como resultados ficaram evidentes que os Mbyá sempre estão contextualizados com a busca da terra isenta do mal.","PeriodicalId":30176,"journal":{"name":"OPSIS Revista do Departamento de Historia e Ciencias Sociais","volume":"22 1","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2018-07-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"89926559","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2018-07-01DOI: 10.32887/issn.2527-2551v15n2p.140-168
O artigo, a partir do enfoque das Variedades de Capitalismo (VoC), testa empiricamente a hipótese de não homogeneidade do sistema de produção brasileiro. Para este fim, a escala de análise eleita foram as unidades federativas. As tipologias desenvolvidas para a América-Latina e, em especial, para o Brasil foram desafiadas por uma análise comparativa que combinou dois pressupostos: a economia brasileira é heterogênea e hierárquica e tem no Estado um propulsor do desenvolvimento e um ator capaz de operar mudanças importantes na economia política nacional. Por meio do auxílio da análise fatorial e de cluster, conclui-se que o Brasil condensa diferentes ordens de práticas econômicas, que não permitem tratá-lo como um tipo único e homogêneo de variedade de capitalismo.
{"title":"A HETEROGENEIDADE DO CAPITALISMO BRASILEIRO NO INÍCIO DO SÉCULO XXI: UMA ANÁLISE COMPARADA EM ESCALA SUBNACIONAL","authors":"","doi":"10.32887/issn.2527-2551v15n2p.140-168","DOIUrl":"https://doi.org/10.32887/issn.2527-2551v15n2p.140-168","url":null,"abstract":"O artigo, a partir do enfoque das Variedades de Capitalismo (VoC), testa empiricamente a hipótese de não homogeneidade do sistema de produção brasileiro. Para este fim, a escala de análise eleita foram as unidades federativas. As tipologias desenvolvidas para a América-Latina e, em especial, para o Brasil foram desafiadas por uma análise comparativa que combinou dois pressupostos: a economia brasileira é heterogênea e hierárquica e tem no Estado um propulsor do desenvolvimento e um ator capaz de operar mudanças importantes na economia política nacional. Por meio do auxílio da análise fatorial e de cluster, conclui-se que o Brasil condensa diferentes ordens de práticas econômicas, que não permitem tratá-lo como um tipo único e homogêneo de variedade de capitalismo.","PeriodicalId":30176,"journal":{"name":"OPSIS Revista do Departamento de Historia e Ciencias Sociais","volume":"1 1","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2018-07-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"90132928","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2018-07-01DOI: 10.32887/issn.2527-2551v15p.365-371
Jorge Durand, antropólogo, professor e pesquisador do Departamento de Estudos sobre os Movimentos Sociais (DESMOS)da Universidade de Guadalajara, e codiretor dos projetos “Mexican Migration Project” e do “Latin American Migration Project”, junto com Carmen Lussi, doutora em Teologia, com vasta experiência nas áreas de antropologia, migrações internacionais e refúgio, e atualmente assessora do CSEM - Centro Scalabriniano de Estudos Migratórios, Brasília, escrevem em conjunto a obra intitulada “Metodologia e Teoriasno Estudo das Migrações”. O trabalho dos renomados autores busca atrair o leitor propondo uma revisãohistórica emetodológica, abordando aspectos teóricos e conceituais essenciais para os pesquisadores do complexo fenômeno da mobilidade humana, sendo um importante ponto de partida para os interessados na área.
{"title":"RESENHA - METODOLOGIA E TEORIAS NO ESTUDO DAS MIGRAÇÕES","authors":"","doi":"10.32887/issn.2527-2551v15p.365-371","DOIUrl":"https://doi.org/10.32887/issn.2527-2551v15p.365-371","url":null,"abstract":"Jorge Durand, antropólogo, professor e pesquisador do Departamento de Estudos sobre os Movimentos Sociais (DESMOS)da Universidade de Guadalajara, e codiretor dos projetos “Mexican Migration Project” e do “Latin American Migration Project”, junto com Carmen Lussi, doutora em Teologia, com vasta experiência nas áreas de antropologia, migrações internacionais e refúgio, e atualmente assessora do CSEM - Centro Scalabriniano de Estudos Migratórios, Brasília, escrevem em conjunto a obra intitulada “Metodologia e Teoriasno Estudo das Migrações”.\u0000O trabalho dos renomados autores busca atrair o leitor propondo uma revisãohistórica emetodológica, abordando aspectos teóricos e conceituais essenciais para os pesquisadores do complexo fenômeno da mobilidade humana, sendo um importante ponto de partida para os interessados na área.","PeriodicalId":30176,"journal":{"name":"OPSIS Revista do Departamento de Historia e Ciencias Sociais","volume":"9 1","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2018-07-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"73031829","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2018-07-01DOI: 10.32887/issn.2527-2551v15n2p.197-221
Luciana Garcia de Mello
Esse ensaio focaliza a relação entre raça e política no Brasil a partir de uma releitura do livro Discriminação e desigualdades raciais no Brasil, publicado em 1979, por Carlos Hasenbalg. O que ganha destaque na abordagem de Hasenbalg é a dimensão política do racismo, o que permite pensar esse fenômeno em termos estruturais, isto é, enquanto um sistema de opressão e de dominação. Interessa-nos recuperar essa discussão com o objetivo de explicitar a importância do mito da democracia racial para a elite brasileira e refletir sobre os impasses que os movimentos negros encontram para empreender a luta antirracista no Brasil, no período atual. Esse mito tornou possível ocultar o conflito racial, o que permitiu relegar o racismo à esfera privada, fazendo com que no senso comum ele exista apenas enquanto casos isolados de preconceito e de discriminação racial.
本文通过对卡洛斯·哈森巴尔格(Carlos Hasenbalg) 1979年出版的《巴西的歧视与种族不平等》(discriminacao e inequality no Brasil)一书的重新阅读,聚焦巴西种族与政治之间的关系。在Hasenbalg的方法中突出的是种族主义的政治层面,这使我们能够从结构的角度来思考这一现象,即作为一种压迫和统治的制度。我们有兴趣恢复这一讨论,以解释种族民主神话对巴西精英的重要性,并反思黑人运动在当前时期在巴西进行反种族主义斗争时遇到的僵局。这一神话使掩盖种族冲突成为可能,这使得种族主义被降级到私人领域,使常识只存在于偏见和种族歧视的孤立案例中。
{"title":"O MITO DA DEMOCRACIA RACIAL E A RELAÇÃO ENTRE RAÇA E POLÍTICA NO BRASIL: REFLEXÕES A PARTIR DE CARLOS HASENBALG","authors":"Luciana Garcia de Mello","doi":"10.32887/issn.2527-2551v15n2p.197-221","DOIUrl":"https://doi.org/10.32887/issn.2527-2551v15n2p.197-221","url":null,"abstract":"Esse ensaio focaliza a relação entre raça e política no Brasil a partir de uma releitura do livro Discriminação e desigualdades raciais no Brasil, publicado em 1979, por Carlos Hasenbalg. O que ganha destaque na abordagem de Hasenbalg é a dimensão política do racismo, o que permite pensar esse fenômeno em termos estruturais, isto é, enquanto um sistema de opressão e de dominação. Interessa-nos recuperar essa discussão com o objetivo de explicitar a importância do mito da democracia racial para a elite brasileira e refletir sobre os impasses que os movimentos negros encontram para empreender a luta antirracista no Brasil, no período atual. Esse mito tornou possível ocultar o conflito racial, o que permitiu relegar o racismo à esfera privada, fazendo com que no senso comum ele exista apenas enquanto casos isolados de preconceito e de discriminação racial.","PeriodicalId":30176,"journal":{"name":"OPSIS Revista do Departamento de Historia e Ciencias Sociais","volume":"34 1","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2018-07-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"87334560","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2018-07-01DOI: 10.32887/issn.2527-2551v15n2p.116-139
As imagens reunidas neste ensaio fotográfico foram produzidas quando da minha inserção no projeto “Imagens Humanas”, que na oportunidade se dedicava ao registro do cotidiano e das iniciativas de comunidades tradicionais que se mobilizam em rede no norte de Minas Gerais, tendo em vista a composição de um banco de imagens voltadas para apoio às suas lutas por reconhecimento social e acesso a direitos constitucionais. Através deste projeto buscamos desenvolver uma fotografia de qualidade, mas também uma fotografia engajada, pois comprometida com as comunidades envolvidas. O projeto apoiou a realização de oficinas, a exposição de fotografias produzidas e a sua veiculação das imagens em papel fotográfico junto aos grupos sociais. Em campo, buscamos registrar os sujeitos em seu contexto social e em seus lugares de vida e produzir fotos que pudessem ser utilizadas pelas entidades de apoio e pelas próprias pessoas e comunidades como forma de ampliar suas habilidades discursivas e suas estratégias de comunicação social.
{"title":"APANHADORES DE FLORES, A VIDA ENTREMEIO SERRAS, CAMPOS E SEMPRE VIVAS","authors":"","doi":"10.32887/issn.2527-2551v15n2p.116-139","DOIUrl":"https://doi.org/10.32887/issn.2527-2551v15n2p.116-139","url":null,"abstract":"As imagens reunidas neste ensaio fotográfico foram produzidas quando da minha inserção no projeto “Imagens Humanas”, que na oportunidade se dedicava ao registro do cotidiano e das iniciativas de comunidades tradicionais que se mobilizam em rede no norte de Minas Gerais, tendo em vista a composição de um banco de imagens voltadas para apoio às suas lutas por reconhecimento social e acesso a direitos constitucionais. Através deste projeto buscamos desenvolver uma fotografia de qualidade, mas também uma fotografia engajada, pois comprometida com as comunidades envolvidas. O projeto apoiou a realização de oficinas, a exposição de fotografias produzidas e a sua veiculação das imagens em papel fotográfico junto aos grupos sociais. Em campo, buscamos registrar os sujeitos em seu contexto social e em seus lugares de vida e produzir fotos que pudessem ser utilizadas pelas entidades de apoio e pelas próprias pessoas e comunidades como forma de ampliar suas habilidades discursivas e suas estratégias de comunicação social.","PeriodicalId":30176,"journal":{"name":"OPSIS Revista do Departamento de Historia e Ciencias Sociais","volume":"48 1","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2018-07-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"85163337","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2018-07-01DOI: 10.32887/issn.2527-2551v15n2p.33-53
Desde o início dos anos 2000, lideranças indígenas têm vivenciado uma participação importante no Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco (CBHSF), que vem se consolidando, em conjunção com aquela que ocorre em outros órgãos, como um dos principais meios de manifestação das pautas reivindicatórias dos povos indígenas no nordeste brasileiro, especialmente no que concerne à questão das águas do Opará, nomeação indígena para as águas que os brancos denominam rio São Francisco. Atualmente, essa participação no CBHSF se dá em maior número pelas lideranças Tuxá, povo esse cuja história recente explicita um caso de remoção compulsória em consequência da construção da hidrelétrica de Itaparica m 1988, bem como a não demarcação de suas terras ainda trinta anos depois. A pesquisa na qual se baseia o texto aqui apresentado procura verificar como se dá a participação dessas lideranças indígenas no âmbito do comitê a partir da crítica indígena e dos movimentos que compõem certas “políticas indígenas da água”. Essa crítica indígena é utilizada no sentido que Stuart Kirsch (2006) utiliza a expressão, a saber, como uma avaliação que os próprios indígenas realizam de suas relações com o Estado e com os brancos e a partir da qual produzem suas estratégias de ação na relação com esses. A partir de minha pesquisa de campo pude notar que essa constante crítica indígena tem produzido uma diferença entre as antigas e as novas lideranças, e que uma das principais características das últimas, reforçada a todo o momento por elas mesmas, é uma busca saber no que diz respeito aos procedimentos técnico-burocráticos pelos quais funciona um órgão como, por exemplo, o CBHSF, bem como um esforço em apropriar-se do código científico dos brancos enquanto ferramenta estratégica de luta. Nesse texto pretendo tratar dois pontos cruciais em minha pesquisa. O primeiro, a forma como se manifesta um embate, no âmbito do comitê e com enfoque na experiência do povo Tuxá, entre noções distintas de territorialidade, uma a das lideranças indígenas e dos povos representados por essas e a outra aquela patenteada pelo comitê enquanto órgão estatal. O segundo, a priorização do campo de atuação das lideranças indígenas nas seções de caráter técnico na estrutura do comitê em detrimento daquelas de caráter consultivo, para verificar nesse, que é um movimento estratégico de luta, a forma como têm adentrado esse campo do saber técnico-científico, que inclui a lida com documentos, projetos e possibilidades de acionar, por meio dessa participação nas seções técnicas, práticas científicas que fortaleçam suas lutas.
{"title":"POLÍTICAS DO OPARÁ: PARTICIPAÇÃO INDÍGENA NO COMITÊ DE BACIA HIDROGRÁFICA DO SÃO FRANCISCO","authors":"","doi":"10.32887/issn.2527-2551v15n2p.33-53","DOIUrl":"https://doi.org/10.32887/issn.2527-2551v15n2p.33-53","url":null,"abstract":"Desde o início dos anos 2000, lideranças indígenas têm vivenciado uma participação importante no Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco (CBHSF), que vem se consolidando, em conjunção com aquela que ocorre em outros órgãos, como um dos principais meios de manifestação das pautas reivindicatórias dos povos indígenas no nordeste brasileiro, especialmente no que concerne à questão das águas do Opará, nomeação indígena para as águas que os brancos denominam rio São Francisco. Atualmente, essa participação no CBHSF se dá em maior número pelas lideranças Tuxá, povo esse cuja história recente explicita um caso de remoção compulsória em consequência da construção da hidrelétrica de Itaparica m 1988, bem como a não demarcação de suas terras ainda trinta anos depois. A pesquisa na qual se baseia o texto aqui apresentado procura verificar como se dá a participação dessas lideranças indígenas no âmbito do comitê a partir da crítica indígena e dos movimentos que compõem certas “políticas indígenas da água”. Essa crítica indígena é utilizada no sentido que Stuart Kirsch (2006) utiliza a expressão, a saber, como uma avaliação que os próprios indígenas realizam de suas relações com o Estado e com os brancos e a partir da qual produzem suas estratégias de ação na relação com esses. A partir de minha pesquisa de campo pude notar que essa constante crítica indígena tem produzido uma diferença entre as antigas e as novas lideranças, e que uma das principais características das últimas, reforçada a todo o momento por elas mesmas, é uma busca saber no que diz respeito aos procedimentos técnico-burocráticos pelos quais funciona um órgão como, por exemplo, o CBHSF, bem como um esforço em apropriar-se do código científico dos brancos enquanto ferramenta estratégica de luta. Nesse texto pretendo tratar dois pontos cruciais em minha pesquisa. O primeiro, a forma como se manifesta um embate, no âmbito do comitê e com enfoque na experiência do povo Tuxá, entre noções distintas de territorialidade, uma a das lideranças indígenas e dos povos representados por essas e a outra aquela patenteada pelo comitê enquanto órgão estatal. O segundo, a priorização do campo de atuação das lideranças indígenas nas seções de caráter técnico na estrutura do comitê em detrimento daquelas de caráter consultivo, para verificar nesse, que é um movimento estratégico de luta, a forma como têm adentrado esse campo do saber técnico-científico, que inclui a lida com documentos, projetos e possibilidades de acionar, por meio dessa participação nas seções técnicas, práticas científicas que fortaleçam suas lutas.","PeriodicalId":30176,"journal":{"name":"OPSIS Revista do Departamento de Historia e Ciencias Sociais","volume":"10 1","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2018-07-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"87692350","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2018-06-01DOI: 10.32887/issn.2527-2551v15p.187-212
Este trabajo, expone las características generales que presentan las radios gestionadas por y destinadas a la población boliviana residente en el Área Metropolitana de Buenos Aires a partir de una mirada etnográfica. Asimismo, se dará cuenta de las tensiones existentes en torno al perfil identitario de estas radios (si son radios comunitarias o son radios comerciales). Para ello, resulta necesario reconstruir la historia de la radiodifusión boliviana. Veremos cómo, atravesadas por un contexto migratorio, en estas radios confluyen diferentes elementos (provenientes de lo comunitario y de lo comercial) de diferente orden (político, económico, jurídico y sociocultural) cuyas interacciones superan el rol estrictamente comunicacional
{"title":"FRECUENCIA BOLIVIANA: ENTRE LA LÓGICA COMUNITARIA Y LA\u0000LÓGICA COMERCIAL","authors":"","doi":"10.32887/issn.2527-2551v15p.187-212","DOIUrl":"https://doi.org/10.32887/issn.2527-2551v15p.187-212","url":null,"abstract":"Este trabajo, expone las características generales que presentan las radios gestionadas por y destinadas a la población boliviana residente en el Área Metropolitana de Buenos Aires a partir de una mirada etnográfica. Asimismo, se dará cuenta de las tensiones existentes en torno al perfil identitario de estas radios (si son radios comunitarias o son radios comerciales). Para ello, resulta necesario reconstruir la historia de la radiodifusión boliviana. Veremos cómo, atravesadas por un contexto migratorio, en estas radios confluyen diferentes elementos (provenientes de lo comunitario y de lo comercial) de diferente orden (político, económico, jurídico y sociocultural) cuyas interacciones superan el rol estrictamente comunicacional","PeriodicalId":30176,"journal":{"name":"OPSIS Revista do Departamento de Historia e Ciencias Sociais","volume":"13 1","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2018-06-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"79391854","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}