Nos ultimos oito anos, desde 2009, o mundo vem presenciando ondas crescentes de levantes populares que tem sacudido, em seus agires micropoliticos, algumas estruturas. Protestos, manifestacoes, marchas e ocupacoes que, de diferentes recantos, insurgem enquanto remontagens do sujeito em sua dimensao coletiva. Este ensaio encontra em Didi-Huberman, mais especificamente em sua exposicao Soulevements (Levantes), elementos para pensar conceitualmente a montagem sacudida pelos acontecimentos politicos atuais. Didi-Huberman monta essa exposicao pensando em cinco tempos, cinco gestos que vao do micro ao macro, a saber: o gesto da furia inquieta, o gesto intensivo de um corpo que grita, o gesto de clamor da palavra, o gesto de inflamacao coletiva dos vagalumes e o gesto de sobrevivencia para alem do seu desaparecimento. Atraves de algumas imagens da exposicao e da obra “Carta ao Pai”, de Elida Tessler, traca-se alguns elementos para pensar a montagem como modo de expor visualmente as descontinuidades do tempo que atuam em todas as sequencias da historia, modos de organizar – de desmontar, de analisar e tambem de contestar – o proprio horizonte de nosso tempo. Por fim, com subsidio de Dardot, Laval, Negri e Hardt, chega-se a ideia de desmontagem do neossujeito, deste sujeito contemporâneo e neoliberal do qual o desejo e tomado como um novo poder, espaco ininterrupto de disputa. No entanto, a producao de um comum – resgatada pelo drapeado dos levantes atuais – e aqui evocada enquanto gesto efetivo de resistencia.
{"title":"GESTOS E RESISTÊNCIA: IMAGEM E MONTAGEM DO PENSAMENTO","authors":"Elisandro Rodrigues, Luciano Bedin da Costa","doi":"10.17648/IHGP.V4I02.104","DOIUrl":"https://doi.org/10.17648/IHGP.V4I02.104","url":null,"abstract":"Nos ultimos oito anos, desde 2009, o mundo vem presenciando ondas crescentes de levantes populares que tem sacudido, em seus agires micropoliticos, algumas estruturas. Protestos, manifestacoes, marchas e ocupacoes que, de diferentes recantos, insurgem enquanto remontagens do sujeito em sua dimensao coletiva. Este ensaio encontra em Didi-Huberman, mais especificamente em sua exposicao Soulevements (Levantes), elementos para pensar conceitualmente a montagem sacudida pelos acontecimentos politicos atuais. Didi-Huberman monta essa exposicao pensando em cinco tempos, cinco gestos que vao do micro ao macro, a saber: o gesto da furia inquieta, o gesto intensivo de um corpo que grita, o gesto de clamor da palavra, o gesto de inflamacao coletiva dos vagalumes e o gesto de sobrevivencia para alem do seu desaparecimento. Atraves de algumas imagens da exposicao e da obra “Carta ao Pai”, de Elida Tessler, traca-se alguns elementos para pensar a montagem como modo de expor visualmente as descontinuidades do tempo que atuam em todas as sequencias da historia, modos de organizar – de desmontar, de analisar e tambem de contestar – o proprio horizonte de nosso tempo. Por fim, com subsidio de Dardot, Laval, Negri e Hardt, chega-se a ideia de desmontagem do neossujeito, deste sujeito contemporâneo e neoliberal do qual o desejo e tomado como um novo poder, espaco ininterrupto de disputa. No entanto, a producao de um comum – resgatada pelo drapeado dos levantes atuais – e aqui evocada enquanto gesto efetivo de resistencia.","PeriodicalId":432018,"journal":{"name":"Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Pará","volume":"30 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2018-08-31","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"122251008","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Brice Parain dizia que a guerra, de forma terrivel e paradoxal, dera valor a vida e recordara aos homens que nao podem perder um so instante, mas tambem incubara neles uma desconfianca em relacao a linguagem nunca antes imaginada. A mesma desconfianca contagiara as imagens de uma irrealidade nauseabunda, colocando em causa o valor que ainda podiam chegar a ter para a humanidade. De todos os modos, nos campos e nas prisoes, no exilio e nas trincheiras, a arte soube partilhar as privacoes do quotidiano, passando a ser tao importante muitas vezes como alimentar-se e se aquecer, recuperando em certo modo a sua antiga funcao catartica. E nas sombras cuidou das palavras e das imagens, da sensibilidade e da imaginacao, da precaria humanidade do animal humano. O presente trabalho pretende refletir sobre o que dao a pensar essas imagens nas quais a arte oferece a ultima resistencia possivel.
{"title":"“A HUMANIDADE INCÔMODA”: ARTE E RESISTÊNCIA EM TEMPOS INFERNAIS","authors":"E. Pellejero","doi":"10.17648/ihgp.v4i02.113","DOIUrl":"https://doi.org/10.17648/ihgp.v4i02.113","url":null,"abstract":"Brice Parain dizia que a guerra, de forma terrivel e paradoxal, dera valor a vida e recordara aos homens que nao podem perder um so instante, mas tambem incubara neles uma desconfianca em relacao a linguagem nunca antes imaginada. A mesma desconfianca contagiara as imagens de uma irrealidade nauseabunda, colocando em causa o valor que ainda podiam chegar a ter para a humanidade. De todos os modos, nos campos e nas prisoes, no exilio e nas trincheiras, a arte soube partilhar as privacoes do quotidiano, passando a ser tao importante muitas vezes como alimentar-se e se aquecer, recuperando em certo modo a sua antiga funcao catartica. E nas sombras cuidou das palavras e das imagens, da sensibilidade e da imaginacao, da precaria humanidade do animal humano. O presente trabalho pretende refletir sobre o que dao a pensar essas imagens nas quais a arte oferece a ultima resistencia possivel.","PeriodicalId":432018,"journal":{"name":"Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Pará","volume":"48 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2018-08-31","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"114067148","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
O presente texto visa investigar como familias que perderam seus filhos lidam com os objetos que pertenciam a esses entes queridos. Sabendo que muitas dessas familias optam por guardar, ou por manter expostos tais objetos, a pesquisa se interessa pelas representacoes e sentidos a eles atribuidos, bem como pelas motivacoes, sentimentos e intuitos por tras do ato de transforma-los em objetos expositivos, dispostos em quartos e outros comodos da casa, ou do ato de salvaguarda-los em armarios e gavetas, como acervos de acesso restrito aos parentes. Interessa-se, por conseguinte, pelo movimento continuo de selecao, manutencao, manuseio e ressignificacoes desses objetos, numa perspectiva de musealizacao particular que tangencia enlutamento, privacidade e intimidade.
{"title":"MUSEOLOGIA E ACERVOS PARTICULARES: O CASO DAS FAMÍLIAS DA CHACINA DE BELÉM.","authors":"A. Leão, Hugo Menezes Neto","doi":"10.17648/IHGP.V4I02.112","DOIUrl":"https://doi.org/10.17648/IHGP.V4I02.112","url":null,"abstract":"O presente texto visa investigar como familias que perderam seus filhos lidam com os objetos que pertenciam a esses entes queridos. Sabendo que muitas dessas familias optam por guardar, ou por manter expostos tais objetos, a pesquisa se interessa pelas representacoes e sentidos a eles atribuidos, bem como pelas motivacoes, sentimentos e intuitos por tras do ato de transforma-los em objetos expositivos, dispostos em quartos e outros comodos da casa, ou do ato de salvaguarda-los em armarios e gavetas, como acervos de acesso restrito aos parentes. Interessa-se, por conseguinte, pelo movimento continuo de selecao, manutencao, manuseio e ressignificacoes desses objetos, numa perspectiva de musealizacao particular que tangencia enlutamento, privacidade e intimidade.","PeriodicalId":432018,"journal":{"name":"Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Pará","volume":"234 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2018-08-31","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"114541589","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Vivemos no Brasil uma especie de descredito com relacao a algumas das nossas experiencias coletivas. A promulgacao da Constituicao Cidada em 1988 levou uma grande parcela da nossa populacao acreditar que haviamos construido um patamar minimo de institucionalidade, a partir do qual novas potencias poderiam ser efetuadas. Contudo, em menos de trinta anos assistimos essa crenca ser desconstruida. Concomitantemente ao cenario nacional, parece estar em curso, em muitos paises, uma onda conservadora que vem colocando em xeque o proprio regime democratico. Nessa circunstância uma irremediavel questao se impoe: a democracia estaria entrando em colapso? Para alem da perplexidade, paralisia e angustia, muitas vezes experienciadas em momentos de desmonte, alguns pensadores e cientistas afirmam que sao justamente os momentos de breakdown, como o que estamos atravessando, que se apresentam gravidos de virtuais. Virtuais, pois nao se trata de buscar pelo possivel da possibilidade – o qual previamente se coloca a disposicao como escolha – mas se perguntar pelo possivel da potencia. A questao pode entao ser reposicionada: em que medida as insurreicoes que estamos vivendo criam condicoes de possibilidade para que a experiencia etica seja tomada em primeiro plano, e nao mais a reboque do projeto/modelo politico a ser atingido, escolhido, selecionado? Assim, a aposta deste texto e a de permitir passagem a uma vida que vem – aberta pelo colapso e pelas insurreicoes em curso. Ou seja, a de problematizar o corpo democratico fazendo ressoar potencias de intercessores como Gilles Deleuze, Francisco Varela e Jacques Ranciere.
{"title":"UMA DEMOCRACIA EM COLAPSO: O ESGOTAMENTO DO POSSÍVEL E A EXPERIÊNCIA ÉTICA","authors":"Édio Raniére, C. Maraschin","doi":"10.17648/IHGP.V4I02.106","DOIUrl":"https://doi.org/10.17648/IHGP.V4I02.106","url":null,"abstract":"Vivemos no Brasil uma especie de descredito com relacao a algumas das nossas experiencias coletivas. A promulgacao da Constituicao Cidada em 1988 levou uma grande parcela da nossa populacao acreditar que haviamos construido um patamar minimo de institucionalidade, a partir do qual novas potencias poderiam ser efetuadas. Contudo, em menos de trinta anos assistimos essa crenca ser desconstruida. Concomitantemente ao cenario nacional, parece estar em curso, em muitos paises, uma onda conservadora que vem colocando em xeque o proprio regime democratico. Nessa circunstância uma irremediavel questao se impoe: a democracia estaria entrando em colapso? Para alem da perplexidade, paralisia e angustia, muitas vezes experienciadas em momentos de desmonte, alguns pensadores e cientistas afirmam que sao justamente os momentos de breakdown, como o que estamos atravessando, que se apresentam gravidos de virtuais. Virtuais, pois nao se trata de buscar pelo possivel da possibilidade – o qual previamente se coloca a disposicao como escolha – mas se perguntar pelo possivel da potencia. A questao pode entao ser reposicionada: em que medida as insurreicoes que estamos vivendo criam condicoes de possibilidade para que a experiencia etica seja tomada em primeiro plano, e nao mais a reboque do projeto/modelo politico a ser atingido, escolhido, selecionado? Assim, a aposta deste texto e a de permitir passagem a uma vida que vem – aberta pelo colapso e pelas insurreicoes em curso. Ou seja, a de problematizar o corpo democratico fazendo ressoar potencias de intercessores como Gilles Deleuze, Francisco Varela e Jacques Ranciere.","PeriodicalId":432018,"journal":{"name":"Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Pará","volume":"29 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2018-08-31","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"114083873","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pensar em Maurice Blanchot e Jean Luc Nancy, e lancar-se ao impossivel, ao improrrogavel, a comunidade que de certa forma, arrisca-se em uma longa incoerencia. Uma vez que esses pensadores atraves de seus textos nos apresentam como e possivel pensar a questao da politica atraves da literatura e atraves disso nos apresentar como a nocao de comunidade desenvolvidas por eles, fortemente inspirada no pensamento de comunidade de Georges Bataille nos lanca para questionamento dos dias atuais. O ensaio busca debater um assunto que se faz bastante presente nas reflexoes desses pensadores, de suma importância para o pensamento contemporâneo pensar na politica – uma politica nao partidaria mais sim um fazer politico etico do pensamento um fazer politico pelo pensamento literario, que esta diretamente ligado ao conceito de comunidade.
{"title":"UM ENCONTRO POSSÍVEL - JEAN LUC NANCY E MAURICE BLANCHOT EM TORNO DA COMUNIDADE SEM COMUNIDADE.","authors":"A. Amaral","doi":"10.17648/IHGP.V4I02.109","DOIUrl":"https://doi.org/10.17648/IHGP.V4I02.109","url":null,"abstract":"Pensar em Maurice Blanchot e Jean Luc Nancy, e lancar-se ao impossivel, ao improrrogavel, a comunidade que de certa forma, arrisca-se em uma longa incoerencia. Uma vez que esses pensadores atraves de seus textos nos apresentam como e possivel pensar a questao da politica atraves da literatura e atraves disso nos apresentar como a nocao de comunidade desenvolvidas por eles, fortemente inspirada no pensamento de comunidade de Georges Bataille nos lanca para questionamento dos dias atuais. O ensaio busca debater um assunto que se faz bastante presente nas reflexoes desses pensadores, de suma importância para o pensamento contemporâneo pensar na politica – uma politica nao partidaria mais sim um fazer politico etico do pensamento um fazer politico pelo pensamento literario, que esta diretamente ligado ao conceito de comunidade.","PeriodicalId":432018,"journal":{"name":"Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Pará","volume":"85 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2018-08-31","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"124131611","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}