Pub Date : 2022-04-27DOI: 10.11606/1678-9857.ra.2022.192829
Peter Gow
Um povo pode desaparecer, mas não uma história. Isso foi o que ocorreu com um mito kuniba, narrado a Nimuendaju por Carolina, em uma situação de remoção forçada promovida pelo Estado brasileiro no começo do século XX. O mito em questão falava da origem da lua, ocasionada pelo incesto de um irmão com uma irmã. Até o começo do século XX, povos vizinhos dos Kuniba, como os Cashinahua e os Kanamari, tinham narrativas muito distintas sobre a origem da lua. No entanto, ao longo do século, com a partida dos Kuniba, o tema do incesto entre irmão e irmã passa a estar presente nas narrativas, difundindo-se pela região das bacias dos rios Juruá e Purus. Isso conduz a uma reflexão sobre o problema da “causalidade informacional”, sobre a “política externa” estabelecida entre diferentes povos e sobre a “dialética espacial” promovida pelos mitos.
{"title":"A História de Carolina. Um estudo de caso sobre a difusão de um mito no Sudoeste Amazônico","authors":"Peter Gow","doi":"10.11606/1678-9857.ra.2022.192829","DOIUrl":"https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2022.192829","url":null,"abstract":"Um povo pode desaparecer, mas não uma história. Isso foi o que ocorreu com um mito kuniba, narrado a Nimuendaju por Carolina, em uma situação de remoção forçada promovida pelo Estado brasileiro no começo do século XX. O mito em questão falava da origem da lua, ocasionada pelo incesto de um irmão com uma irmã. Até o começo do século XX, povos vizinhos dos Kuniba, como os Cashinahua e os Kanamari, tinham narrativas muito distintas sobre a origem da lua. No entanto, ao longo do século, com a partida dos Kuniba, o tema do incesto entre irmão e irmã passa a estar presente nas narrativas, difundindo-se pela região das bacias dos rios Juruá e Purus. Isso conduz a uma reflexão sobre o problema da “causalidade informacional”, sobre a “política externa” estabelecida entre diferentes povos e sobre a “dialética espacial” promovida pelos mitos.","PeriodicalId":35264,"journal":{"name":"Revista de Antropologia","volume":" ","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2022-04-27","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"48439986","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2022-04-27DOI: 10.11606/1678-9857.ra.2022.192785
Nicole Soares-Pinto
As narrativas mitológicas dos povos originários dos afluentes da margem direita do médio rio Guaporé revelam uma íntima conexão entre relações de gênero e a diferença humano/animal/espírito. Enfatizam, por um lado, as condições de possibilidade de uma sociedade composta por relações de sexo oposto, e por outro lado, a “antropofagia” praticada pelas mulheres. A partir da articulação com a etnografia cotidiana, em particular referente à produção e consumo de bebida fermentada, o artigo sugere que a antropofagia feminina, i.e., a identificação virtual das mulheres com as onças, é a condição para a diferença (atual) que separa os humanos dos não-humanos e os humanos entre si.
{"title":"Mulheres-Onça: mitologia, gênero e antropofagia no Complexo do Marico","authors":"Nicole Soares-Pinto","doi":"10.11606/1678-9857.ra.2022.192785","DOIUrl":"https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2022.192785","url":null,"abstract":"As narrativas mitológicas dos povos originários dos afluentes da margem direita do médio rio Guaporé revelam uma íntima conexão entre relações de gênero e a diferença humano/animal/espírito. Enfatizam, por um lado, as condições de possibilidade de uma sociedade composta por relações de sexo oposto, e por outro lado, a “antropofagia” praticada pelas mulheres. A partir da articulação com a etnografia cotidiana, em particular referente à produção e consumo de bebida fermentada, o artigo sugere que a antropofagia feminina, i.e., a identificação virtual das mulheres com as onças, é a condição para a diferença (atual) que separa os humanos dos não-humanos e os humanos entre si.","PeriodicalId":35264,"journal":{"name":"Revista de Antropologia","volume":" ","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2022-04-27","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"47178537","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2022-04-27DOI: 10.11606/1678-9857.ra.2022.192933
Oscar Calavia Sáez
Las mitologías “cultivadas” o “eruditas” de los pueblos amerindios han permanecido en general en el margen del análisis mitológico de tradición estructuralista. Comparando dos conjuntos de relatos históricos de origen -el uno mexica, tomado de cronistas indígenas del siglo XVI y el otro elaborado en la actualidad por autores del Alto Rio Negro, en la Amazonia- este artículo quiere mostrar la conexión, y sobre todo la dependencia, de este tipo de relatos con aquellos otros mitos que, en una ocasión, Lévi-Strauss llamó “populares”, y en los que basaba su propuesta analítica. Se señala el valor que las observaciones de Lévi-Strauss sobre la “muerte” o la “degradación” de los mitos tiene para entender las elaboraciones narrativas de los especialistas indígenas.
{"title":"Mitologías “populares”, elaboraciones eruditas","authors":"Oscar Calavia Sáez","doi":"10.11606/1678-9857.ra.2022.192933","DOIUrl":"https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2022.192933","url":null,"abstract":"Las mitologías “cultivadas” o “eruditas” de los pueblos amerindios han permanecido en general en el margen del análisis mitológico de tradición estructuralista. Comparando dos conjuntos de relatos históricos de origen -el uno mexica, tomado de cronistas indígenas del siglo XVI y el otro elaborado en la actualidad por autores del Alto Rio Negro, en la Amazonia- este artículo quiere mostrar la conexión, y sobre todo la dependencia, de este tipo de relatos con aquellos otros mitos que, en una ocasión, Lévi-Strauss llamó “populares”, y en los que basaba su propuesta analítica. Se señala el valor que las observaciones de Lévi-Strauss sobre la “muerte” o la “degradación” de los mitos tiene para entender las elaboraciones narrativas de los especialistas indígenas. ","PeriodicalId":35264,"journal":{"name":"Revista de Antropologia","volume":" ","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2022-04-27","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"46422168","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2022-04-27DOI: 10.11606/1678-9857.ra.2022.192789
Alejandro Fujigaki
Entre sociedades amerindias del noroeste mexicano, la muerte de una persona produce un equívoco y un vínculo indebido entre el fallecido y su colectivo de origen; el equívoco debe solucionarse y el vínculo disolverse. Morir implica el inicio de un “Gran viaje” por parte la persona fallecida. Sus parientes y amigos deben trabajar en conjunto para ayudarla a transmigrar a un nuevo plano de existencia. El objetivo de este artículo es describir algunos aspectos de estos rituales para establecer conexiones de transformación con dos pasajes de las Mitológicas de Lévi-Strauss. Por un lado, evocaré el mito de referencia y el ritual asociado y, por otro, remitiré a la vida breve tratada en Lo crudo y lo cocido. Veremos cómo los rituales –con sus propias plasticidades– administran un arbitraje imposible que permite construir la buena distancia entre relaciones indebidas creando conexiones y desconexiones en distintos planos de existencia.
{"title":"Transmigrar entre planos de existencia. Desanidando las Mitológicas desde el noroeste de México","authors":"Alejandro Fujigaki","doi":"10.11606/1678-9857.ra.2022.192789","DOIUrl":"https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2022.192789","url":null,"abstract":"Entre sociedades amerindias del noroeste mexicano, la muerte de una persona produce un equívoco y un vínculo indebido entre el fallecido y su colectivo de origen; el equívoco debe solucionarse y el vínculo disolverse. Morir implica el inicio de un “Gran viaje” por parte la persona fallecida. Sus parientes y amigos deben trabajar en conjunto para ayudarla a transmigrar a un nuevo plano de existencia. El objetivo de este artículo es describir algunos aspectos de estos rituales para establecer conexiones de transformación con dos pasajes de las Mitológicas de Lévi-Strauss. Por un lado, evocaré el mito de referencia y el ritual asociado y, por otro, remitiré a la vida breve tratada en Lo crudo y lo cocido. Veremos cómo los rituales –con sus propias plasticidades– administran un arbitraje imposible que permite construir la buena distancia entre relaciones indebidas creando conexiones y desconexiones en distintos planos de existencia.","PeriodicalId":35264,"journal":{"name":"Revista de Antropologia","volume":" ","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2022-04-27","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"46086893","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2022-04-27DOI: 10.11606/1678-9857.ra.2022.192801
E. S. Nunes
Esse artigo toma a caracterização de Lévi-Strauss das “sociedades frias” como inspiração para discutir o regime de historicidade karajá, um povo do Brasil Central. Sua mitologia narra um tempo da criação, onde diversos aspectos do mundo são criados e a humanidade adquire os conhecimentos que hoje a caracterizam enquanto tal. Já a ação no mundo atual não é criadora: antes, as ações fazem aparecer formas já estavam lá, desde o princípio, pois inscritas pelo mito. Dessa maneira, as ações atuais fazem aparecer ou uma continuidade em relação aos tempos antigos, pois elicitam os mesmos nexos relacionais, ou uma ruptura marcada para com “a cultura”. Em um caso como no outro, o que é colocado em evidência é a potência “fria” de seu regime de historicidade, ou seu caráter contrahistórico. Para dar conta desse regime, escapando da ideia história formulada em termos de mudança e continuidade, argumento que é preciso separar o problema da história do problema do tempo.
{"title":"A cultura dos mitos: do regime de historicidade Karajá e sua potência “fria\"","authors":"E. S. Nunes","doi":"10.11606/1678-9857.ra.2022.192801","DOIUrl":"https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2022.192801","url":null,"abstract":"Esse artigo toma a caracterização de Lévi-Strauss das “sociedades frias” como inspiração para discutir o regime de historicidade karajá, um povo do Brasil Central. Sua mitologia narra um tempo da criação, onde diversos aspectos do mundo são criados e a humanidade adquire os conhecimentos que hoje a caracterizam enquanto tal. Já a ação no mundo atual não é criadora: antes, as ações fazem aparecer formas já estavam lá, desde o princípio, pois inscritas pelo mito. Dessa maneira, as ações atuais fazem aparecer ou uma continuidade em relação aos tempos antigos, pois elicitam os mesmos nexos relacionais, ou uma ruptura marcada para com “a cultura”. Em um caso como no outro, o que é colocado em evidência é a potência “fria” de seu regime de historicidade, ou seu caráter contrahistórico. Para dar conta desse regime, escapando da ideia história formulada em termos de mudança e continuidade, argumento que é preciso separar o problema da história do problema do tempo.","PeriodicalId":35264,"journal":{"name":"Revista de Antropologia","volume":" ","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2022-04-27","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"43310316","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2022-04-27DOI: 10.11606/1678-9857.ra.2022.192786
Geraldo Andrello, João Vianna
Este artigo pretende articular duas investigações etnográficas, entre os Tukano e Baniwa, que abordam a relação entre parentesco e mito. Pretende-se compreender a produção das diferenças sociocosmológicas no Noroeste Amazônico recorrendo-se às narrativas míticas da origem da humanidade. A análise seguirá os acontecimentos que se desdobram a partir de Jurupari, uma criança extraordinária e artefato cerimonial possuidor de capacidades reprodutivas; da cobra-canoa, um animal-objeto-útero que gesta a humanidade; dos nascimentos nas cachoeiras de Hipana e Ipanoré; do adultério com uma cobra-homem branco; e da guerra entre homens e mulheres. Todos estes eventos, personagens e relações, articulam de modo complexo transespecificidade e relações de sexo cruzado. Esperamos ao final evidenciar esses dois distintos modos pelos quais a humanidade atual é estabilizada a partir de um fundo virtual de alteridade, notando as importantes transformações tukano e baniwa no Alto Rio Negro.
{"title":"A humanidade e seu(s) gênero(s): mito, parentesco e diferença no noroeste amazônico","authors":"Geraldo Andrello, João Vianna","doi":"10.11606/1678-9857.ra.2022.192786","DOIUrl":"https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2022.192786","url":null,"abstract":"Este artigo pretende articular duas investigações etnográficas, entre os Tukano e Baniwa, que abordam a relação entre parentesco e mito. Pretende-se compreender a produção das diferenças sociocosmológicas no Noroeste Amazônico recorrendo-se às narrativas míticas da origem da humanidade. A análise seguirá os acontecimentos que se desdobram a partir de Jurupari, uma criança extraordinária e artefato cerimonial possuidor de capacidades reprodutivas; da cobra-canoa, um animal-objeto-útero que gesta a humanidade; dos nascimentos nas cachoeiras de Hipana e Ipanoré; do adultério com uma cobra-homem branco; e da guerra entre homens e mulheres. Todos estes eventos, personagens e relações, articulam de modo complexo transespecificidade e relações de sexo cruzado. Esperamos ao final evidenciar esses dois distintos modos pelos quais a humanidade atual é estabilizada a partir de um fundo virtual de alteridade, notando as importantes transformações tukano e baniwa no Alto Rio Negro. ","PeriodicalId":35264,"journal":{"name":"Revista de Antropologia","volume":" ","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2022-04-27","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"48351883","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2022-04-27DOI: 10.11606/1678-9857.ra.2022.192796
Rosana Castro
Durante pesquisa de campo de doutorado, acompanhei o trabalho de algumas médicas brancas em suas atividades de condução de protocolos de pesquisa clínica. Minha presença nos consultórios foi condicionada ao uso de um jaleco branco, peça que, por vezes, colocou-me em posição de explicar aos pacientes que não era uma estagiária de medicina e, por outras, tornou explícitos os limites de confusões supostamente automáticas entre mim e uma profissional da medicina. Por meio de uma análise de situações de racismo genderificado que vivi durante o trabalho de campo enquanto vestia um jaleco, reflito sobre o campo da medicina como espaço marcado pela branquidade e, estendendo tal crítica à antropologia, argumento que a reflexão ética sobre a pesquisa de campo deve levar em conta, necessariamente, as hierarquizações raciais e de gênero que compõem as interações com interlocutores de pesquisa – em especial, as experimentadas por pesquisadoras negras em contextos nos quais a branquidade é normalizada.
{"title":"Pele negra, jalecos brancos: racismo, cor(po) e (est)ética no trabalho de campo antropológico","authors":"Rosana Castro","doi":"10.11606/1678-9857.ra.2022.192796","DOIUrl":"https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2022.192796","url":null,"abstract":"Durante pesquisa de campo de doutorado, acompanhei o trabalho de algumas médicas brancas em suas atividades de condução de protocolos de pesquisa clínica. Minha presença nos consultórios foi condicionada ao uso de um jaleco branco, peça que, por vezes, colocou-me em posição de explicar aos pacientes que não era uma estagiária de medicina e, por outras, tornou explícitos os limites de confusões supostamente automáticas entre mim e uma profissional da medicina. Por meio de uma análise de situações de racismo genderificado que vivi durante o trabalho de campo enquanto vestia um jaleco, reflito sobre o campo da medicina como espaço marcado pela branquidade e, estendendo tal crítica à antropologia, argumento que a reflexão ética sobre a pesquisa de campo deve levar em conta, necessariamente, as hierarquizações raciais e de gênero que compõem as interações com interlocutores de pesquisa – em especial, as experimentadas por pesquisadoras negras em contextos nos quais a branquidade é normalizada.","PeriodicalId":35264,"journal":{"name":"Revista de Antropologia","volume":" ","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2022-04-27","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"44020761","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2022-01-05DOI: 10.11606/1678-9857.ra.2022.206557
Gemma Orobitg
Neste artigo analiso a dupla dimensão do sonho ameríndio, como viagem da alma e como ação provocada por outros seres que não o sonhador. O objetivo é discutir algumas interpretações recorrentes do sonho ameríndio e explorar o status ontológico do sonho para traçar uma proposta alternativa àquelas análises da experiência do sonho indígena que reproduzem a dicotomia sonho-vigília. Os estudos etnográficos sobre o sonho ameríndio e minhas pesquisas entre os indígenas Pumé dos Llanos do sudoeste da Venezuela são a base para responder às perguntas: o que é a experiência indígena do sonho? O que é o sonho? Por que o sonho é um estado ontológico, ou seja, representa, por um lado, o princípio da vitalidade da pessoa e, por outro, o fundamento da existência de todas as entidades que povoam o cosmos?
{"title":"Para além do sonho e da vigilia. O sonho ameríndio e a existência","authors":"Gemma Orobitg","doi":"10.11606/1678-9857.ra.2022.206557","DOIUrl":"https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2022.206557","url":null,"abstract":"Neste artigo analiso a dupla dimensão do sonho ameríndio, como viagem da alma e como ação provocada por outros seres que não o sonhador. O objetivo é discutir algumas interpretações recorrentes do sonho ameríndio e explorar o status ontológico do sonho para traçar uma proposta alternativa àquelas análises da experiência do sonho indígena que reproduzem a dicotomia sonho-vigília. Os estudos etnográficos sobre o sonho ameríndio e minhas pesquisas entre os indígenas Pumé dos Llanos do sudoeste da Venezuela são a base para responder às perguntas: o que é a experiência indígena do sonho? O que é o sonho? Por que o sonho é um estado ontológico, ou seja, representa, por um lado, o princípio da vitalidade da pessoa e, por outro, o fundamento da existência de todas as entidades que povoam o cosmos?","PeriodicalId":35264,"journal":{"name":"Revista de Antropologia","volume":" ","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2022-01-05","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"47030054","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2021-10-22DOI: 10.11606/1678-9857.ra.2020.189657
P. Lopes
Esse artigo reflete como determinadas formas de governo, apreendidas etnograficamente por meio de minha inserção como pesquisador em uma instância administrativa na Baixada Fluminense do Rio de Janeiro, são (re)elaboradas na atuação de um “serviço” destinado a “homens autores de violência doméstica”. Nesse sentido, trata-se de uma investigação acerca de processos de formação de Estado, cuja ênfase encontra-se nas práticas, dinâmicas e interações estabelecidas cotidianamente por administradores – “os técnicos” – e administrados – “os homens” –, bem como entre diferentes instâncias e dispositivos estatais. Procuro compreender tanto a produção contínua do Estado “em ato”, privilegiando tanto as dinâmicas constitutivas dos modos de fazer da administração, quanto os modos de subjetivação que, a partir de uma série de constrangimentos conduzidos pelas formas específicas de gestão a que estão submetidos, são operacionalizados pelos sujeitos atendidos pela instância etnografada.
{"title":"Formas de governo e complementaridade entre a administração estatal e seus administrados: reflexões a partir de um serviço para homens autores de violência doméstica","authors":"P. Lopes","doi":"10.11606/1678-9857.ra.2020.189657","DOIUrl":"https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2020.189657","url":null,"abstract":"Esse artigo reflete como determinadas formas de governo, apreendidas etnograficamente por meio de minha inserção como pesquisador em uma instância administrativa na Baixada Fluminense do Rio de Janeiro, são (re)elaboradas na atuação de um “serviço” destinado a “homens autores de violência doméstica”. Nesse sentido, trata-se de uma investigação acerca de processos de formação de Estado, cuja ênfase encontra-se nas práticas, dinâmicas e interações estabelecidas cotidianamente por administradores – “os técnicos” – e administrados – “os homens” –, bem como entre diferentes instâncias e dispositivos estatais. Procuro compreender tanto a produção contínua do Estado “em ato”, privilegiando tanto as dinâmicas constitutivas dos modos de fazer da administração, quanto os modos de subjetivação que, a partir de uma série de constrangimentos conduzidos pelas formas específicas de gestão a que estão submetidos, são operacionalizados pelos sujeitos atendidos pela instância etnografada.","PeriodicalId":35264,"journal":{"name":"Revista de Antropologia","volume":" ","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2021-10-22","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"41842177","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2021-10-22DOI: 10.11606/1678-9857.ra.2020.189722
C. Costa
Este texto pretende debater a difusão do futebol em comunidades indígenas ecoando seu reconhecido potencial universalizante. Apesar de incipientes interpretações teóricas desde o ponto de vista etnológico, sua prática é amplamente descrita em etnografias de variadas regiões. A proposta é a retomada de obras que trabalharam o tema na demonstração de suas relações com instituições tradicionais e modalidades nativas. A expansão do futebol promove transformações que passam pela pacificação das relações interétnicas; esportificação de disputas corporais; ressignificação estética; anexação onomástica. Enfim, é incorporado a partir do conjunto de relações próprias a cada contexto. A conexão entre essas obras seminais e o material etnográfico elaborado em pesquisas realizadas junto aos Kalapalo do Alto Xingu visa demonstrar as possibilidades de desenvolvimento dos diálogos entre etnologia e antropologia das práticas esportivas.
{"title":"Futebol em campo, no campo da etnologia: o desporto bretão e a esportividade ameríndia","authors":"C. Costa","doi":"10.11606/1678-9857.ra.2020.189722","DOIUrl":"https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2020.189722","url":null,"abstract":"Este texto pretende debater a difusão do futebol em comunidades indígenas ecoando seu reconhecido potencial universalizante. Apesar de incipientes interpretações teóricas desde o ponto de vista etnológico, sua prática é amplamente descrita em etnografias de variadas regiões. A proposta é a retomada de obras que trabalharam o tema na demonstração de suas relações com instituições tradicionais e modalidades nativas. A expansão do futebol promove transformações que passam pela pacificação das relações interétnicas; esportificação de disputas corporais; ressignificação estética; anexação onomástica. Enfim, é incorporado a partir do conjunto de relações próprias a cada contexto. A conexão entre essas obras seminais e o material etnográfico elaborado em pesquisas realizadas junto aos Kalapalo do Alto Xingu visa demonstrar as possibilidades de desenvolvimento dos diálogos entre etnologia e antropologia das práticas esportivas.","PeriodicalId":35264,"journal":{"name":"Revista de Antropologia","volume":" ","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2021-10-22","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"48793701","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}