O presente artigo tem como objetivo trazer à tona reflexões sobre a cena do Manguebeat, movimento que irrompe em Recife ao fim dos anos 1980. Nesse panorama, propõe-se uma relação entre a cidade e as produções culturais da banda Chico Science & Nação Zumbi – especificamente nos álbuns Da lama ao caos (1994) e Afrociberdelia (1996) –, projetando um espaço simbólico entendido como Manguetown. Busca-se entender como as canções inscritas na cena repercutem uma outra imagem do Brasil ao Brasil e diversificam um eixo hegemônico de produção e circulação da cultura. Para isso, recuperam-se as contribuições de Lefevbre (2002), Anderson (2008) e Didi-Huberman (2015) para a construção de um aparelho teórico que permita a investigação desse cenário. Esse processo é acompanhado das considerações sobre as dinâmicas entre global e local – pensadas a partir das ideias de Huyssen (2002) na esteira dos Estudos Culturais – configuradas no espaço privilegiado de análise da cidade.
本文旨在对20世纪80年代末在累西腓爆发的一场运动——Manguebeat场景进行反思。在这幅全景图中,提出了这座城市与Chico Science和Nação Zumbi的文化作品之间的关系——特别是在Da lama ao caos(1994)和Afrociberdelia(1996)的专辑中——投射出一个被理解为Manguetown的象征性空间。它试图理解场景中的歌曲如何反映巴西对巴西的另一个形象,并使文化生产和流通的霸权轴心多样化。为此,我们恢复了Lefevre(2002)、Anderson(2008)和Didi Huberman(2015)对构建一个理论装置的贡献,该理论装置允许对该场景进行调查。这一过程伴随着对全球和地方之间动态的考虑——从Huyssen(2002)在文化研究之后的思想中思考——配置在城市分析的特权空间中。
{"title":"Próxima parada: Manguetown – fluxos de cultura na cidade e um novo olhar devolvido ao Brasil","authors":"Felipe Roner Vilanova Novais, Rômulo Monte Alto","doi":"10.5902/1679849x67870","DOIUrl":"https://doi.org/10.5902/1679849x67870","url":null,"abstract":"O presente artigo tem como objetivo trazer à tona reflexões sobre a cena do Manguebeat, movimento que irrompe em Recife ao fim dos anos 1980. Nesse panorama, propõe-se uma relação entre a cidade e as produções culturais da banda Chico Science & Nação Zumbi – especificamente nos álbuns Da lama ao caos (1994) e Afrociberdelia (1996) –, projetando um espaço simbólico entendido como Manguetown. Busca-se entender como as canções inscritas na cena repercutem uma outra imagem do Brasil ao Brasil e diversificam um eixo hegemônico de produção e circulação da cultura. Para isso, recuperam-se as contribuições de Lefevbre (2002), Anderson (2008) e Didi-Huberman (2015) para a construção de um aparelho teórico que permita a investigação desse cenário. Esse processo é acompanhado das considerações sobre as dinâmicas entre global e local – pensadas a partir das ideias de Huyssen (2002) na esteira dos Estudos Culturais – configuradas no espaço privilegiado de análise da cidade.","PeriodicalId":40985,"journal":{"name":"Literatura e Autoritarismo","volume":null,"pages":null},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2022-02-28","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"49418826","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
E. Cornelsen, João Luis Pereira Ourique, R. Umbach
A relação entre resistência e estudos literários, por vezes, ainda é tratada de forma conflitiva. Um conflito que não se relaciona com a oposição de ideias ou mesmo como oportunidade para que sejam pensadas novas visões acerca da sociedade e do devir histórico, mas com uma noção que empobrece a potencialidade da crítica literária ao renegá-la ao campo dos aspectos formais quando desconsidera as questões temáticas que norteiam e embasam a criação artística. A Revista Literatura e Autoritarismo procura evidenciar a aproximação entre os aspectos éticos e estéticos, mediados pelo viés de um pensamento filosófico e científico capaz de interagir nesses campos que se complementam.
抵抗与文学研究之间的关系有时仍被以一种冲突的方式对待。这场冲突与思想的对立无关,甚至与思考社会和历史形成的新愿景的机会无关,而是与一种观念有关,即当文学批评忽视指导和支撑艺术创作的主题问题时,将其否定在形式方面,从而削弱了文学批评的潜力。Revista Literatura e Autoritarismo试图强调伦理和美学方面之间的近似,这是由能够在这些互补领域相互作用的哲学和科学思想的偏见所介导的。
{"title":"Literatura, música e o testemunho de resistência","authors":"E. Cornelsen, João Luis Pereira Ourique, R. Umbach","doi":"10.5902/1679849x68840","DOIUrl":"https://doi.org/10.5902/1679849x68840","url":null,"abstract":"A relação entre resistência e estudos literários, por vezes, ainda é tratada de forma conflitiva. Um conflito que não se relaciona com a oposição de ideias ou mesmo como oportunidade para que sejam pensadas novas visões acerca da sociedade e do devir histórico, mas com uma noção que empobrece a potencialidade da crítica literária ao renegá-la ao campo dos aspectos formais quando desconsidera as questões temáticas que norteiam e embasam a criação artística. A Revista Literatura e Autoritarismo procura evidenciar a aproximação entre os aspectos éticos e estéticos, mediados pelo viés de um pensamento filosófico e científico capaz de interagir nesses campos que se complementam.","PeriodicalId":40985,"journal":{"name":"Literatura e Autoritarismo","volume":null,"pages":null},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2022-01-13","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"45129928","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Este artigo se propõe examinar estratégias de escrita de resistência, adotadas na ficção de Carlos Heitor Cony. Autor engajado na luta revolucionária, confrontou o regime civil-militar em suas crônicas e em alguns romances, com isso conquistou o seu espaço junto ao meio intelectual da época. Selecionei como objeto de estudo, o romance Pilatos publicado em 1974, por se tratar e uma narrativa de temática e de estilo de escrita beirando ao insólito, ao grotesco e ao escatológico. Cony, por meio desse exercício de escrita, critica o autoritarismo e a falta de liberdade de expressão do período mais agudo da ditadura militar brasileira: os chamados “Anos de Chumbo”. O autor transfere para o campo literário a noção de liberdade de expressão na voz narrativa do seu mutilado protagonista. O narrador é um indivíduo frustrado, solitário e melancólico, mas que está em busca de um forte anseio por liberdade.
{"title":"Pilatos, de Carlos Heitor Cony: uma escrita de resistência","authors":"Camila Marcelina Pasqual","doi":"10.5902/1679849x67553","DOIUrl":"https://doi.org/10.5902/1679849x67553","url":null,"abstract":"Este artigo se propõe examinar estratégias de escrita de resistência, adotadas na ficção de Carlos Heitor Cony. Autor engajado na luta revolucionária, confrontou o regime civil-militar em suas crônicas e em alguns romances, com isso conquistou o seu espaço junto ao meio intelectual da época. Selecionei como objeto de estudo, o romance Pilatos publicado em 1974, por se tratar e uma narrativa de temática e de estilo de escrita beirando ao insólito, ao grotesco e ao escatológico. Cony, por meio desse exercício de escrita, critica o autoritarismo e a falta de liberdade de expressão do período mais agudo da ditadura militar brasileira: os chamados “Anos de Chumbo”. O autor transfere para o campo literário a noção de liberdade de expressão na voz narrativa do seu mutilado protagonista. O narrador é um indivíduo frustrado, solitário e melancólico, mas que está em busca de um forte anseio por liberdade. ","PeriodicalId":40985,"journal":{"name":"Literatura e Autoritarismo","volume":null,"pages":null},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2022-01-13","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"46867328","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
No contexto latino-americano das décadas de 1960 e 1970, o rock aparecia como um gênero malquisto pelo establishment. Convivendo com ditaduras militares que tolhiam praticamente qualquer forma de expressão que atingisse não apenas os aspectos políticos, mas também a moral “e os bons costumes”, o rock propõe uma resistência por vias múltiplas, tanto presente em seu conteúdo, como na sua forma, no seu conteúdo outsider e estranho, para usar o conceito de Zygmunt Bauman, incluindo aí o modo de vestir e a liberdade de experimentar. Este ensaio se propõe a analisar brevemente a resistência no rock latino-americano no contexto ditatorial na Argentina, no Brasil e no Chile.
{"title":"Rock e resistência na América Latina","authors":"G. Werlang","doi":"10.5902/1679849x68511","DOIUrl":"https://doi.org/10.5902/1679849x68511","url":null,"abstract":"No contexto latino-americano das décadas de 1960 e 1970, o rock aparecia como um gênero malquisto pelo establishment. Convivendo com ditaduras militares que tolhiam praticamente qualquer forma de expressão que atingisse não apenas os aspectos políticos, mas também a moral “e os bons costumes”, o rock propõe uma resistência por vias múltiplas, tanto presente em seu conteúdo, como na sua forma, no seu conteúdo outsider e estranho, para usar o conceito de Zygmunt Bauman, incluindo aí o modo de vestir e a liberdade de experimentar. Este ensaio se propõe a analisar brevemente a resistência no rock latino-americano no contexto ditatorial na Argentina, no Brasil e no Chile.","PeriodicalId":40985,"journal":{"name":"Literatura e Autoritarismo","volume":null,"pages":null},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2022-01-13","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"46342771","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Luiza Carvalho Santos Brandão, Constantino Luz de Medeiros
O artigo analisa e discute o conto popular francês enquanto instrumento de representação literária e de conscientização crítica das camadas sociais populares. Enquanto forma literária cuja origem remete à tradição das formas breves, o conto francês é um objeto muito importante para pensarmos a cultura popular no início da modernidade na Europa. Tais narrativas evidenciam a consciência do povo do campo acerca da dura realidade que os cercava e forneciam estratégias resistir a ela. Em um período em que a fome e a doença assolavam o continente, as histórias que os camponeses contavam serviam não apenas de divertimento, mas levantavam questões latentes à vida nos feudos, as quais, no decorrer do tempo, auxiliariam a formar o espírito crítico dessas populações. Para os franceses, os contos informavam sobre o mundo e forneciam meios para enfrentá-lo. No presente artigo, objetiva-se realizar esta discussão a partir da teorização realizada por Darnton (2014) sobre as histórias que os camponeses contam, tendo em perspectiva o conceito de resistência inerente à narrativa apresentado por Bosi (1996) e a produção de Burke (2010) acerca da descoberta do povo e da cultura oral. Para tanto, serão analisados os contos O pequeno polegar (PERRAULT, 2010), Jean de l’ours (anônimo) e L’enfant perdu (DELAURE, 1956).
{"title":"Revolta nas aldeias: o conto popular francês como forma de resistência","authors":"Luiza Carvalho Santos Brandão, Constantino Luz de Medeiros","doi":"10.5902/1679849x67788","DOIUrl":"https://doi.org/10.5902/1679849x67788","url":null,"abstract":"O artigo analisa e discute o conto popular francês enquanto instrumento de representação literária e de conscientização crítica das camadas sociais populares. Enquanto forma literária cuja origem remete à tradição das formas breves, o conto francês é um objeto muito importante para pensarmos a cultura popular no início da modernidade na Europa. Tais narrativas evidenciam a consciência do povo do campo acerca da dura realidade que os cercava e forneciam estratégias resistir a ela. Em um período em que a fome e a doença assolavam o continente, as histórias que os camponeses contavam serviam não apenas de divertimento, mas levantavam questões latentes à vida nos feudos, as quais, no decorrer do tempo, auxiliariam a formar o espírito crítico dessas populações. Para os franceses, os contos informavam sobre o mundo e forneciam meios para enfrentá-lo. No presente artigo, objetiva-se realizar esta discussão a partir da teorização realizada por Darnton (2014) sobre as histórias que os camponeses contam, tendo em perspectiva o conceito de resistência inerente à narrativa apresentado por Bosi (1996) e a produção de Burke (2010) acerca da descoberta do povo e da cultura oral. Para tanto, serão analisados os contos O pequeno polegar (PERRAULT, 2010), Jean de l’ours (anônimo) e L’enfant perdu (DELAURE, 1956).","PeriodicalId":40985,"journal":{"name":"Literatura e Autoritarismo","volume":null,"pages":null},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2022-01-13","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"46348211","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
A partir da dupla possibilidade de constituição de narrativas de resistência, apresentada por Alfredo Bosi (1996), coloca-se em foco os romances K. Relato de uma busca (2011), de Bernardo Kucinski; Não falei (2014), de Beatriz Bracher; e O corpo interminável (2019), de Claudia Lage. Os três romances, ao abordarem a ditadura civil-militar brasileira, bem como suas consequências que ainda se fazem presentes, muito em razão de um processo de reconciliação extorquida, apresentam certamente uma temática de resistência. Pretende-se, no entanto, pensá-los também a partir da concepção de resistência como forma imanente à escrita. Para tanto, objetiva-se verificar as estratégias narrativas utilizadas, buscando conferir a hipótese de que a aporia da memória guarda em si a faísca da potência estética de cada romance, das saídas formais que cada um deles irá encontrar para lidar, então, com as (im)possibilidades da narração da memória.
从阿尔弗雷多·博西(1996)提出的抵抗叙事构成的双重可能性出发,我们关注了贝纳多·库钦斯基的小说《K. Relato de uma busca》(2011);比阿特丽斯·布拉克(Beatriz Bracher)的《我没有说话》(2014);还有克劳迪娅·拉格的《无尽的身体》(2019)。这三部小说探讨了巴西军民独裁及其后果,这在很大程度上是由于敲诈和解的过程,当然呈现了抵抗的主题。然而,我们也打算从抵抗作为一种内在的写作形式的概念来思考它们。因此,我们的目标是验证所使用的叙事策略,试图验证这样一个假设,即记忆的aporia本身就保留了每一部小说的审美力量的火花,以及每一部小说将找到的形式输出,然后处理记忆叙事的(im)可能性。
{"title":"Aporias da memória: estratégias de escrita resistente em três romances contemporâneos brasileiros","authors":"D. Gonçalves","doi":"10.5902/1679849x67797","DOIUrl":"https://doi.org/10.5902/1679849x67797","url":null,"abstract":"A partir da dupla possibilidade de constituição de narrativas de resistência, apresentada por Alfredo Bosi (1996), coloca-se em foco os romances K. Relato de uma busca (2011), de Bernardo Kucinski; Não falei (2014), de Beatriz Bracher; e O corpo interminável (2019), de Claudia Lage. Os três romances, ao abordarem a ditadura civil-militar brasileira, bem como suas consequências que ainda se fazem presentes, muito em razão de um processo de reconciliação extorquida, apresentam certamente uma temática de resistência. Pretende-se, no entanto, pensá-los também a partir da concepção de resistência como forma imanente à escrita. Para tanto, objetiva-se verificar as estratégias narrativas utilizadas, buscando conferir a hipótese de que a aporia da memória guarda em si a faísca da potência estética de cada romance, das saídas formais que cada um deles irá encontrar para lidar, então, com as (im)possibilidades da narração da memória.","PeriodicalId":40985,"journal":{"name":"Literatura e Autoritarismo","volume":null,"pages":null},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2022-01-13","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"48809346","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
A partir do estabelecimento da literatura como campo do conhecimento, regras e valores instituídos por estudiosos passaram a indicar o que é ou não literatura. A literatura se tornou altamente seletiva e reacionária, pois se baseou no gosto de determinada classe social negando textos que não se enquadrassem em seus padrões. Passou a considerar textos e escritores fora de seu eixo como literatura marginal. Todavia, em contraposição a esse estigma negativo, nos últimos anos do século XX, surgiu uma nova modalidade literária que passa a se denominar literatura marginal em contraposição à acepção negativa empregada aos que foram classificados sob essa marca. Dentre os escritores dessa modalidade destaca-se Ferréz. Aqui será feita breve análise de seus três romances com a finalidade de demonstrar a força desse movimento, sua forma de resistência aos preceitos literários institucionalizados e seu caráter de denúncia à violência que estão submetidas comunidades periféricas e sujeitos marginalizados.
{"title":"Literatura marginal como projeto de resistência: uma leitura a partir de três romances de Ferréz","authors":"Ricardo José Dos Santos Neto","doi":"10.5902/1679849x67523","DOIUrl":"https://doi.org/10.5902/1679849x67523","url":null,"abstract":"A partir do estabelecimento da literatura como campo do conhecimento, regras e valores instituídos por estudiosos passaram a indicar o que é ou não literatura. A literatura se tornou altamente seletiva e reacionária, pois se baseou no gosto de determinada classe social negando textos que não se enquadrassem em seus padrões. Passou a considerar textos e escritores fora de seu eixo como literatura marginal. Todavia, em contraposição a esse estigma negativo, nos últimos anos do século XX, surgiu uma nova modalidade literária que passa a se denominar literatura marginal em contraposição à acepção negativa empregada aos que foram classificados sob essa marca. Dentre os escritores dessa modalidade destaca-se Ferréz. Aqui será feita breve análise de seus três romances com a finalidade de demonstrar a força desse movimento, sua forma de resistência aos preceitos literários institucionalizados e seu caráter de denúncia à violência que estão submetidas comunidades periféricas e sujeitos marginalizados.","PeriodicalId":40985,"journal":{"name":"Literatura e Autoritarismo","volume":null,"pages":null},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2022-01-13","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"42299076","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
O presente artigo tem por objetivo analisar, na formação cultural brasileira, a linguagem de resistência em épocas distintas, a partir de uma perspectiva decolonial (FANON, 2020), considerando o projeto civilizatório de nação por que passou o Brasil do início do século XIX. Trata-se, assim, de perceber as vozes de resistências que soaram, no início da República, em defesa dos socialmente excluídos com Luiz Gama, na literatura, e com Alberto Nepomuceno, na formação da canção brasileira, e contemporaneamente as expressões literárias de Conceição Evaristo, por meio do conto “A gente combinamos de não morrer”, e o estilo musical do Rap no cenário sociocultural brasileiro.
{"title":"Do verso ao berro: vozes de resistências frente ao projeto “civilizatório brasileiro” nos campos da literatura e da música popular","authors":"Filipe Alexandre Silva Moreira, P. Castilho","doi":"10.5902/1679849x67806","DOIUrl":"https://doi.org/10.5902/1679849x67806","url":null,"abstract":"O presente artigo tem por objetivo analisar, na formação cultural brasileira, a linguagem de resistência em épocas distintas, a partir de uma perspectiva decolonial (FANON, 2020), considerando o projeto civilizatório de nação por que passou o Brasil do início do século XIX. Trata-se, assim, de perceber as vozes de resistências que soaram, no início da República, em defesa dos socialmente excluídos com Luiz Gama, na literatura, e com Alberto Nepomuceno, na formação da canção brasileira, e contemporaneamente as expressões literárias de Conceição Evaristo, por meio do conto “A gente combinamos de não morrer”, e o estilo musical do Rap no cenário sociocultural brasileiro.","PeriodicalId":40985,"journal":{"name":"Literatura e Autoritarismo","volume":null,"pages":null},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2022-01-13","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"44557564","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
O estudo propõe uma genealogia para o fenômeno da “literatura marginal”, que emerge no sistema literário brasileiro no início do século XXI a partir do agenciamento de Ferréz, ensejando embate fundamental na cena cultural contemporânea através da reivindicação de seus autores por reconhecimento como produtores de cultura. Tendo como o fundamento a concepção de Stuart Hall (2006), que vê no jogo das relações culturais “a luta de classes na cultura”, propõe-se uma linhagem composta por autores historicamente identificados com a margem representada em seus textos. Entende-se ser Euclides da Cunha o primeiro autor nacional a propor, um século antes, uma escrita que se fazia instrumento de denúncia da opressão dos segmentos marginalizados de então, os sertanejos. Lima Barreto, Plínio Marcos e João Antônio oferecem ao longo do século XX uma mudança radical de perspectiva nessa série literária, passando a enunciar a resistência a partir do próprio espaço em que habitavam.
该研究提出了一个“边缘文学”现象的谱系,这一现象出现在21世纪初的巴西文学体系中,从ferrez的代理,通过其作者作为文化生产者的主张,在当代文化场景中引发了根本性的冲突。基于Stuart Hall(2006)的概念,他在文化关系的游戏中看到了“文化中的阶级斗争”,我们提出了一个由历史上认同其文本中所代表的边缘的作者组成的谱系。据了解,欧几里得·达·库尼亚(Euclides da Cunha)是一个世纪前第一个提出写作的国家作家,他的写作工具是谴责当时边缘化群体的压迫,即sertanejos。利马·巴雷托,plinio马科斯和joao antonio在整个20世纪为这个文学系列提供了一个彻底的视角变化,开始从他们居住的空间表达抵抗。
{"title":"Literatura marginal: a genealogia de uma escrita de resistência","authors":"L. Coronel","doi":"10.5902/1679849x68099","DOIUrl":"https://doi.org/10.5902/1679849x68099","url":null,"abstract":"O estudo propõe uma genealogia para o fenômeno da “literatura marginal”, que emerge no sistema literário brasileiro no início do século XXI a partir do agenciamento de Ferréz, ensejando embate fundamental na cena cultural contemporânea através da reivindicação de seus autores por reconhecimento como produtores de cultura. Tendo como o fundamento a concepção de Stuart Hall (2006), que vê no jogo das relações culturais “a luta de classes na cultura”, propõe-se uma linhagem composta por autores historicamente identificados com a margem representada em seus textos. Entende-se ser Euclides da Cunha o primeiro autor nacional a propor, um século antes, uma escrita que se fazia instrumento de denúncia da opressão dos segmentos marginalizados de então, os sertanejos. Lima Barreto, Plínio Marcos e João Antônio oferecem ao longo do século XX uma mudança radical de perspectiva nessa série literária, passando a enunciar a resistência a partir do próprio espaço em que habitavam.","PeriodicalId":40985,"journal":{"name":"Literatura e Autoritarismo","volume":null,"pages":null},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2022-01-13","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"47494806","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
A partir do levantamento realizado por Regina Dalcastagnè sobre o perfil do escritor brasileiro, pretende-se problematizar os silenciamentos e critérios de elegibilidade do campo literário, que culminam numa produção literária majoritariamente branca, heterossexual e masculina. Esta prevalência resulta numa adjetivação de literaturas que não se enquadram nesse padrão -literatura feminina, negra, indígena, LGBT, marginal e periférica-, na medida em que se pressupõe como universal a literatura canônica. Dialogando com as problematizações levantadas por Dalcastagnè, no segundo momento, o artigo trabalhará com os movimentos de resistência da literatura marginal, que abre vão a despeito do circuito de publicação das grandes editoras. Serão analisados brevemente dois saraus de importância emblemática nesse processo de descentralização, a Cooperifa em São Paulo e o Coletivoz em Belo Horizonte, que fazem circular a força da literatura marginal em suas escrevivências.
{"title":"Literatura e resistência: a força da quebrada diante dos silenciamentos do campo literário","authors":"Marina Du bois e Souza","doi":"10.5902/1679849x68014","DOIUrl":"https://doi.org/10.5902/1679849x68014","url":null,"abstract":"A partir do levantamento realizado por Regina Dalcastagnè sobre o perfil do escritor brasileiro, pretende-se problematizar os silenciamentos e critérios de elegibilidade do campo literário, que culminam numa produção literária majoritariamente branca, heterossexual e masculina. Esta prevalência resulta numa adjetivação de literaturas que não se enquadram nesse padrão -literatura feminina, negra, indígena, LGBT, marginal e periférica-, na medida em que se pressupõe como universal a literatura canônica. Dialogando com as problematizações levantadas por Dalcastagnè, no segundo momento, o artigo trabalhará com os movimentos de resistência da literatura marginal, que abre vão a despeito do circuito de publicação das grandes editoras. Serão analisados brevemente dois saraus de importância emblemática nesse processo de descentralização, a Cooperifa em São Paulo e o Coletivoz em Belo Horizonte, que fazem circular a força da literatura marginal em suas escrevivências. ","PeriodicalId":40985,"journal":{"name":"Literatura e Autoritarismo","volume":null,"pages":null},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2022-01-13","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"46786506","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}