Pub Date : 2022-01-10DOI: 10.5020/23590777.rs.v21i3.e10830
Lucas de Oliveira Alves, Ana Lúcia Mandelli De Marsillac
Esse artigo analisa a obra Lei da jornada (Law of the journey) do artista contemporâneo Ai Weiwei. Para isso, utiliza-se o método psicanalítico da atenção flutuante de modo a investigar a obra como uma formação do inconsciente, sintoma de um tempo que interroga contextos e obras que extrapolam as intencionalidades do artista. Perscruta-se a densidade da imagem e do universo simbólico que constitui a obra, operando com os conceitos freud-lacanianos de sujeito, estrangeiro e uma concepção híbrida de tempo. A reflexão desdobra-se em discussões sobre o unheimliche (infamiliar), o trauma e a diferença, buscando, no enlace com a obra, problematizar questões subjetivas, políticas e históricas tocantes às jornadas dos refugiados.
{"title":"Travessias Artísticas de Ai Weiwei: Um Olhar Psicanalítico sobre o Sujeito, o Tempo e o Estrangeiro na Obra Lei da Jornada","authors":"Lucas de Oliveira Alves, Ana Lúcia Mandelli De Marsillac","doi":"10.5020/23590777.rs.v21i3.e10830","DOIUrl":"https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v21i3.e10830","url":null,"abstract":"Esse artigo analisa a obra Lei da jornada (Law of the journey) do artista contemporâneo Ai Weiwei. Para isso, utiliza-se o método psicanalítico da atenção flutuante de modo a investigar a obra como uma formação do inconsciente, sintoma de um tempo que interroga contextos e obras que extrapolam as intencionalidades do artista. Perscruta-se a densidade da imagem e do universo simbólico que constitui a obra, operando com os conceitos freud-lacanianos de sujeito, estrangeiro e uma concepção híbrida de tempo. A reflexão desdobra-se em discussões sobre o unheimliche (infamiliar), o trauma e a diferença, buscando, no enlace com a obra, problematizar questões subjetivas, políticas e históricas tocantes às jornadas dos refugiados.","PeriodicalId":296766,"journal":{"name":"Revista Subjetividades","volume":"63 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2022-01-10","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"115999774","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2021-10-05DOI: 10.5020/23590777.rs.v21i2.e11048
Bruna Moraes Battistelli, Lílian Rodrigues da Cruz
Como narrar a construção de um processo metodológico? Orientado por esta pergunta este artigo tem como objetivo discutir as possibilidades de construção de uma dissertação na forma de objeto a partir dos conceitos de coleção de Walter Benjamin (1987a; 1987b) e de fragmento de Gilles Deleuze (2011; 2013), articulados através do uso de cartas em uma metodologia denominada pela primeira autora como cartagrafia. O conceito de coleção, oriundo da obra de Walter Benjamin, fundamenta a busca por outras possibilidades de montagem para a dissertação em contraponto aos modelos instituídos. Este trabalho relata a experiência de pesquisa durante o mestrado da primeira autora orientada pela segunda autora, a partir de uma pesquisa realizada no campo do acolhimento institucional de crianças e adolescentes, pensando a produção de cuidado na política de Assistência Social. A criação de uma caixa como objeto final teve como foco a abertura da dissertação para múltiplas experimentações. Já o conceito de fragmento auxilia a pensar a escrita e a constituição do processo de pesquisa enquanto ferramenta de produção de cuidado. A escrita de cartas como parte do processo metodológico e da política de escrita teve como fundamentação a necessidade de ampliar os diálogos possíveis no texto acadêmico e aumentar sua capacidade polifônica. O encontro entre Walter Benjamin e Gilles Deleuze se origina na escrita e confecção do objeto final (dissertação) e teve como intenção discutir a possibilidade das cartas e da dissertação-caixa-coleção-de-cartas enquanto política de pesquisa e como ferramenta de produção acadêmica.
{"title":"Cartagrafias: A Escrita Acadêmica entre Cuidado, Pesquisa e Acolhimento","authors":"Bruna Moraes Battistelli, Lílian Rodrigues da Cruz","doi":"10.5020/23590777.rs.v21i2.e11048","DOIUrl":"https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v21i2.e11048","url":null,"abstract":"Como narrar a construção de um processo metodológico? Orientado por esta pergunta este artigo tem como objetivo discutir as possibilidades de construção de uma dissertação na forma de objeto a partir dos conceitos de coleção de Walter Benjamin (1987a; 1987b) e de fragmento de Gilles Deleuze (2011; 2013), articulados através do uso de cartas em uma metodologia denominada pela primeira autora como cartagrafia. O conceito de coleção, oriundo da obra de Walter Benjamin, fundamenta a busca por outras possibilidades de montagem para a dissertação em contraponto aos modelos instituídos. Este trabalho relata a experiência de pesquisa durante o mestrado da primeira autora orientada pela segunda autora, a partir de uma pesquisa realizada no campo do acolhimento institucional de crianças e adolescentes, pensando a produção de cuidado na política de Assistência Social. A criação de uma caixa como objeto final teve como foco a abertura da dissertação para múltiplas experimentações. Já o conceito de fragmento auxilia a pensar a escrita e a constituição do processo de pesquisa enquanto ferramenta de produção de cuidado. A escrita de cartas como parte do processo metodológico e da política de escrita teve como fundamentação a necessidade de ampliar os diálogos possíveis no texto acadêmico e aumentar sua capacidade polifônica. O encontro entre Walter Benjamin e Gilles Deleuze se origina na escrita e confecção do objeto final (dissertação) e teve como intenção discutir a possibilidade das cartas e da dissertação-caixa-coleção-de-cartas enquanto política de pesquisa e como ferramenta de produção acadêmica.","PeriodicalId":296766,"journal":{"name":"Revista Subjetividades","volume":"26 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2021-10-05","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"114846936","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2021-10-05DOI: 10.5020/23590777.rs.v21i2.e8868
Jéssyca Borges Guimarães, Miriam Tachibana
Esta pesquisa tem como objetivo investigar a experiência emocional de mães de crianças que foram diagnosticadas com autismo. Para tanto, foram realizadas entrevistas individuais com sete mulheres, que tinham um filho autista. As entrevistas foram mediadas pelo Procedimento de Desenhos-Estórias com Tema, segundo o tema “uma mãe que possui um filho diferente dos outros”. Após cada entrevista, a pesquisadora que a realizou redigiu uma narrativa transferencial sobre o respectivo encontro. O material foi analisado segundo o método psicanalítico, tal como prevê a “Teoria dos Campos”. Foram identificados três campos, intitulados “Quem é o culpado?”, “Quem vai cuidar da criança?” e “Quem vai cuidar de mim?”, por meio dos quais foi observado que as participantes experienciavam mal-estar por se sentirem ora culpabilizadas pelo quadro de autismo da criança, ora desamparadas pelos pais das crianças e pelos profissionais da saúde nos cuidados do filho autista. Os dados apontam a importância da atenção psicológica ao grupo de mães de crianças com diagnóstico de autismo, pois estas se sentem ocupando um lugar exclusivo no “cuidar do outro”, sem, em contrapartida, contar com uma postura de cuidado para com elas.
{"title":"Conversando e Desenhando com Mães de Crianças Autistas: Investigação Psicanalítica","authors":"Jéssyca Borges Guimarães, Miriam Tachibana","doi":"10.5020/23590777.rs.v21i2.e8868","DOIUrl":"https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v21i2.e8868","url":null,"abstract":"Esta pesquisa tem como objetivo investigar a experiência emocional de mães de crianças que foram diagnosticadas com autismo. Para tanto, foram realizadas entrevistas individuais com sete mulheres, que tinham um filho autista. As entrevistas foram mediadas pelo Procedimento de Desenhos-Estórias com Tema, segundo o tema “uma mãe que possui um filho diferente dos outros”. Após cada entrevista, a pesquisadora que a realizou redigiu uma narrativa transferencial sobre o respectivo encontro. O material foi analisado segundo o método psicanalítico, tal como prevê a “Teoria dos Campos”. Foram identificados três campos, intitulados “Quem é o culpado?”, “Quem vai cuidar da criança?” e “Quem vai cuidar de mim?”, por meio dos quais foi observado que as participantes experienciavam mal-estar por se sentirem ora culpabilizadas pelo quadro de autismo da criança, ora desamparadas pelos pais das crianças e pelos profissionais da saúde nos cuidados do filho autista. Os dados apontam a importância da atenção psicológica ao grupo de mães de crianças com diagnóstico de autismo, pois estas se sentem ocupando um lugar exclusivo no “cuidar do outro”, sem, em contrapartida, contar com uma postura de cuidado para com elas.","PeriodicalId":296766,"journal":{"name":"Revista Subjetividades","volume":"1 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2021-10-05","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"129045005","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2021-10-05DOI: 10.5020/23590777.rs.v21i2.e10333
Thiago Araújo Oliveira
Baseado em uma revisão de literatura, este artigo objetiva abordar o fundamentalismo religioso por meio de uma crítica embasada na teoria freudiana, mas, sobretudo, na abordagem de Freud sobre a religião, articulada com ideias de alguns estudiosos do tema. Em sua obra, Freud não tratou sobre o fundamentalismo religioso, contudo, seu pensamento pode ser tomado como um aporte teórico que contribui para a compreensão desse fenômeno contemporâneo alardeador. Por se tratar de uma forma de religiosidade complexa, que tem ganhado influência social e força política em âmbito nacional e mundial, fazem-se oportunas intervenções críticas sobre o fundamentalismo a partir de várias áreas do saber, como a psicanálise freudiana. As reflexões desenvolvidas ajudam a perceber como a ânsia pelo poder, a agressividade, a intolerância e a intransigência dos movimentos fundamentalistas podem ser compreendidas por meio do dinamismo pulsional que move indivíduos e grupos agregados por identificações ideológicas.
{"title":"Considerações sobre o Fundamentalismo Religioso a partir da Crítica Freudiana à Religião","authors":"Thiago Araújo Oliveira","doi":"10.5020/23590777.rs.v21i2.e10333","DOIUrl":"https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v21i2.e10333","url":null,"abstract":"Baseado em uma revisão de literatura, este artigo objetiva abordar o fundamentalismo religioso por meio de uma crítica embasada na teoria freudiana, mas, sobretudo, na abordagem de Freud sobre a religião, articulada com ideias de alguns estudiosos do tema. Em sua obra, Freud não tratou sobre o fundamentalismo religioso, contudo, seu pensamento pode ser tomado como um aporte teórico que contribui para a compreensão desse fenômeno contemporâneo alardeador. Por se tratar de uma forma de religiosidade complexa, que tem ganhado influência social e força política em âmbito nacional e mundial, fazem-se oportunas intervenções críticas sobre o fundamentalismo a partir de várias áreas do saber, como a psicanálise freudiana. As reflexões desenvolvidas ajudam a perceber como a ânsia pelo poder, a agressividade, a intolerância e a intransigência dos movimentos fundamentalistas podem ser compreendidas por meio do dinamismo pulsional que move indivíduos e grupos agregados por identificações ideológicas.","PeriodicalId":296766,"journal":{"name":"Revista Subjetividades","volume":"13 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2021-10-05","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"121689569","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2021-10-05DOI: 10.5020/23590777.rs.v21i2.e11018
Graziela Morgana Tavares Da Silva, Rafael De Tílio
Os diagnósticos de transtorno do espectro autista aumentaram consideravelmente nos últimos anos e, não raro, sujeitos autistas são considerados por seus familiares como sexualmente infantilizados ou descontrolados – fato este questionado pela psicanálise. O objetivo deste estudo foi investigar discursos de familiares sobre a sexualidade de sujeitos autistas. Participaram desta pesquisa dezesseis entrevistados (dois sujeitos autistas, oito mães, três pais, dois irmãos e um avô de sujeitos autistas) todos inseridos em formatos familiares nucleares cujos relatos foram organizados a partir de uma análise de conteúdo temática e analisados a partir da teoria dos quatro discursos de Lacan. Os principais temas e discursos produzidos pelos participantes foram organizados em eixos temáticos que destacaram: as dúvidas e questionamentos justificados pelos descompassos entre o desenvolvimento psicológico, físico e sexual dos sujeitos autistas; a suposição da imaturidade biológica e das inadequações atitudinais dos sujeitos autistas nas questões sexuais; o reforço dos papéis tradicionais de gênero, delegando às mães os cuidados íntimos dos filhos autistas e delegando aos pais o estímulo pela virilidade dos sujeitos autistas do sexo masculino; mas também – principalmente por parte dos irmãos – a possibilidade de os sujeitos autistas vivenciarem suas sexualidades de maneira autônoma, mesmo que referenciados nos esquemas neurotípicos e heterossexuais. Neste sentido, as tensões entre os discursos do mestre e discurso universitário (que pretendem o controle) e o discurso da psicanálise (que aposta na autonomia/singularidade dos sujeitos autistas no campo da sexualidade) se mostraram os mais evidentes nas entrevistas. Por fim, a teoria lacaniana dos quatro discursos se mostrou propicia para compreender a constituição dos laços sociais que organizam as vivências sexuais dos sujeitos autistas.
{"title":"Discursos de Familiares acerca da Sexualidade de Sujeitos Autistas","authors":"Graziela Morgana Tavares Da Silva, Rafael De Tílio","doi":"10.5020/23590777.rs.v21i2.e11018","DOIUrl":"https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v21i2.e11018","url":null,"abstract":"Os diagnósticos de transtorno do espectro autista aumentaram consideravelmente nos últimos anos e, não raro, sujeitos autistas são considerados por seus familiares como sexualmente infantilizados ou descontrolados – fato este questionado pela psicanálise. O objetivo deste estudo foi investigar discursos de familiares sobre a sexualidade de sujeitos autistas. Participaram desta pesquisa dezesseis entrevistados (dois sujeitos autistas, oito mães, três pais, dois irmãos e um avô de sujeitos autistas) todos inseridos em formatos familiares nucleares cujos relatos foram organizados a partir de uma análise de conteúdo temática e analisados a partir da teoria dos quatro discursos de Lacan. Os principais temas e discursos produzidos pelos participantes foram organizados em eixos temáticos que destacaram: as dúvidas e questionamentos justificados pelos descompassos entre o desenvolvimento psicológico, físico e sexual dos sujeitos autistas; a suposição da imaturidade biológica e das inadequações atitudinais dos sujeitos autistas nas questões sexuais; o reforço dos papéis tradicionais de gênero, delegando às mães os cuidados íntimos dos filhos autistas e delegando aos pais o estímulo pela virilidade dos sujeitos autistas do sexo masculino; mas também – principalmente por parte dos irmãos – a possibilidade de os sujeitos autistas vivenciarem suas sexualidades de maneira autônoma, mesmo que referenciados nos esquemas neurotípicos e heterossexuais. Neste sentido, as tensões entre os discursos do mestre e discurso universitário (que pretendem o controle) e o discurso da psicanálise (que aposta na autonomia/singularidade dos sujeitos autistas no campo da sexualidade) se mostraram os mais evidentes nas entrevistas. Por fim, a teoria lacaniana dos quatro discursos se mostrou propicia para compreender a constituição dos laços sociais que organizam as vivências sexuais dos sujeitos autistas.","PeriodicalId":296766,"journal":{"name":"Revista Subjetividades","volume":"32 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2021-10-05","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"127080784","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2021-09-15DOI: 10.5020/23590777.RS.V21I2.E10551
Fernanda Caiado Guerra Emrich, Priscilla Melo Ribeiro De Lima
O desamparo sempre foi um tema central à psicanálise, ao qual Freud se dedicou em textos como “O mal-estar na civilização” (1930/1996e) e “O futuro de uma ilusão” (1927/1996c). A partir desse conceito, realizamos uma pesquisa qualitativa com pacientes que haviam sido internados em uma Unidade de Terapia Intensiva de um hospital universitário. Utilizando do método de análise de conteúdo, as categorias desamparo e enlaçamento pulsional, desamparo e religiosidade, desamparo e finitude, e desamparo e transitoriedade foram analisadas a partir do referencial teórico psicanalítico. A análise nos possibilitou pensar na internação em terapia intensiva como uma vivência de (re)atualização do desamparo inicial que demanda do sujeito-paciente e do psicólogo/psicanalista lidar com questões que remontam à castração e à finitude. Diante da ameaça à vida e das fontes de sofrimento destacadas por Freud, o sujeito internado lança mão de algumas medidas paliativas para tentar amenizar sua angústia: a religiosidade, o apego às lembranças da família, a reflexão acerca da própria vida, fantasias acerca da volta para casa.
{"title":"O Desamparo na UTI: Uma Análise Psicanalítica da Experiência de Pacientes em um Hospital Universitário","authors":"Fernanda Caiado Guerra Emrich, Priscilla Melo Ribeiro De Lima","doi":"10.5020/23590777.RS.V21I2.E10551","DOIUrl":"https://doi.org/10.5020/23590777.RS.V21I2.E10551","url":null,"abstract":"O desamparo sempre foi um tema central à psicanálise, ao qual Freud se dedicou em textos como “O mal-estar na civilização” (1930/1996e) e “O futuro de uma ilusão” (1927/1996c). A partir desse conceito, realizamos uma pesquisa qualitativa com pacientes que haviam sido internados em uma Unidade de Terapia Intensiva de um hospital universitário. Utilizando do método de análise de conteúdo, as categorias desamparo e enlaçamento pulsional, desamparo e religiosidade, desamparo e finitude, e desamparo e transitoriedade foram analisadas a partir do referencial teórico psicanalítico. A análise nos possibilitou pensar na internação em terapia intensiva como uma vivência de (re)atualização do desamparo inicial que demanda do sujeito-paciente e do psicólogo/psicanalista lidar com questões que remontam à castração e à finitude. Diante da ameaça à vida e das fontes de sofrimento destacadas por Freud, o sujeito internado lança mão de algumas medidas paliativas para tentar amenizar sua angústia: a religiosidade, o apego às lembranças da família, a reflexão acerca da própria vida, fantasias acerca da volta para casa.","PeriodicalId":296766,"journal":{"name":"Revista Subjetividades","volume":"1 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2021-09-15","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"116196758","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2021-09-15DOI: 10.5020/23590777.RS.V21I2.E11060
Celso Francisco Tondin, Camila Lorenzoni Cortina
Esta pesquisa objetiva compreender o processo de institucionalização de sujeitos presos, identificando efeitos subjetivos e estratégias que utilizam no cumprimento da pena. Também contextualiza a atuação do profissional de Psicologia no sistema prisional brasileiro e o debate com a Justiça em torno do exame criminológico. O estudo é de abordagem genealógica, com uso de entrevistas e análise de documentos. Os participantes são três profissionais e três apenados de um presídio masculino localizado em um estado do Sul do Brasil. A análise evidenciou que a prisão, como instituição total, provoca uma ruptura com o mundo exterior e a realidade anterior dos apenados, e que abandonam sua identidade e assumem uma identidade institucional. São prescritas condutas que legitimam hierarquias e é compartilhada uma linguagem que assinala pertencimento ao grupo. Geralmente, a família é apoiadora, mas a distância entre ela e os presos é fonte de sofrimento para eles, que criam táticas de adaptação para a convivência institucional. A perspectiva de liberdade provoca sentimentos de alegria e medo, porque o estereótipo de ex-detento segue com eles após o cumprimento da pena. A Lei de Execução Penal prevê o exame criminológico a fim de estabelecer programa de individualização da pena e progressão de regime, porém o Conselho Federal de Psicologia se posiciona contrário a sua elaboração por psicólogos no que tange ao prognóstico criminológico de reincidência, à aferição de periculosidade e ao estabelecimento de nexo causal a partir do binômio delito-delinquente, e argumenta pelo acompanhamento do preso na perspectiva da humanização, superando o paradigma punitivo.
{"title":"Processo de Institucionalização de Sujeitos Presos","authors":"Celso Francisco Tondin, Camila Lorenzoni Cortina","doi":"10.5020/23590777.RS.V21I2.E11060","DOIUrl":"https://doi.org/10.5020/23590777.RS.V21I2.E11060","url":null,"abstract":"Esta pesquisa objetiva compreender o processo de institucionalização de sujeitos presos, identificando efeitos subjetivos e estratégias que utilizam no cumprimento da pena. Também contextualiza a atuação do profissional de Psicologia no sistema prisional brasileiro e o debate com a Justiça em torno do exame criminológico. O estudo é de abordagem genealógica, com uso de entrevistas e análise de documentos. Os participantes são três profissionais e três apenados de um presídio masculino localizado em um estado do Sul do Brasil. A análise evidenciou que a prisão, como instituição total, provoca uma ruptura com o mundo exterior e a realidade anterior dos apenados, e que abandonam sua identidade e assumem uma identidade institucional. São prescritas condutas que legitimam hierarquias e é compartilhada uma linguagem que assinala pertencimento ao grupo. Geralmente, a família é apoiadora, mas a distância entre ela e os presos é fonte de sofrimento para eles, que criam táticas de adaptação para a convivência institucional. A perspectiva de liberdade provoca sentimentos de alegria e medo, porque o estereótipo de ex-detento segue com eles após o cumprimento da pena. A Lei de Execução Penal prevê o exame criminológico a fim de estabelecer programa de individualização da pena e progressão de regime, porém o Conselho Federal de Psicologia se posiciona contrário a sua elaboração por psicólogos no que tange ao prognóstico criminológico de reincidência, à aferição de periculosidade e ao estabelecimento de nexo causal a partir do binômio delito-delinquente, e argumenta pelo acompanhamento do preso na perspectiva da humanização, superando o paradigma punitivo.","PeriodicalId":296766,"journal":{"name":"Revista Subjetividades","volume":"165 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2021-09-15","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"115196167","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2021-09-15DOI: 10.5020/23590777.RS.V21I2.E11129
Bianca de Araújo Liboreiro, Maria Gláucia Pires Calzavara
Parte-se, neste artigo, de um caso clínico, atendido no Serviço de Psicologia de uma universidade, cuja demanda, trazida pela mãe, era dar continuidade ao tratamento da filha, que fora iniciado aos seis anos de idade. Em seu relato, o que vinha sendo realizado se tratava da possibilidade de uma redesignação do sexo da criança. Esta, no momento em que iniciamos o trabalho, estava com oito anos. Anatomicamente, é uma menina e apresenta estereótipos de um menino. Nesse caso, desperta nossa atenção a frase proferida pela mãe à criança aos três anos, quando esta lhe questionou se era um menino ou menina: “Eu disse para minha filha que ela pode ser o que ela quiser”. Diante dessa afirmação à filha em idade tão tenra, indagou-se sobre a incidência da palavra da mãe na significação da identidade dessa criança. Do mesmo modo, o tratamento já iniciado por uma psicóloga, aos seis anos da paciente, que trazia a orientação para a possibilidade de uma redesignação do sexo, nos fez interrogar, amparadas pela psicanálise, as questões relativas ao sexo e ao gênero nos sujeitos e a direção do tratamento em crianças. Ademais, as questões com o corpo apresentadas pela paciente exigiram a compreensão de como fazer frente a demandas tão precoces de redesignação do sexo. No percurso analítico até o momento, buscou-se, por meio da palavra, fazer emergir a possibilidade de um saber sobre o próprio sexo dessa criança. Além disso, confrontou-se a contradição presente na incidência da palavra do Outro em seus elementos orientadores e devastadores na vida do sujeito e fez-se cara a constante reflexão crítica da prática psicológica. Apostar na psicanálise e na escuta do sujeito visou a permitir que algo de mais singular de seu desejo pudesse se apresentar e se fazer ouvir.
{"title":"“Você pode ser o que você quiser!” Será? Contribuições da Psicanálise","authors":"Bianca de Araújo Liboreiro, Maria Gláucia Pires Calzavara","doi":"10.5020/23590777.RS.V21I2.E11129","DOIUrl":"https://doi.org/10.5020/23590777.RS.V21I2.E11129","url":null,"abstract":"Parte-se, neste artigo, de um caso clínico, atendido no Serviço de Psicologia de uma universidade, cuja demanda, trazida pela mãe, era dar continuidade ao tratamento da filha, que fora iniciado aos seis anos de idade. Em seu relato, o que vinha sendo realizado se tratava da possibilidade de uma redesignação do sexo da criança. Esta, no momento em que iniciamos o trabalho, estava com oito anos. Anatomicamente, é uma menina e apresenta estereótipos de um menino. Nesse caso, desperta nossa atenção a frase proferida pela mãe à criança aos três anos, quando esta lhe questionou se era um menino ou menina: “Eu disse para minha filha que ela pode ser o que ela quiser”. Diante dessa afirmação à filha em idade tão tenra, indagou-se sobre a incidência da palavra da mãe na significação da identidade dessa criança. Do mesmo modo, o tratamento já iniciado por uma psicóloga, aos seis anos da paciente, que trazia a orientação para a possibilidade de uma redesignação do sexo, nos fez interrogar, amparadas pela psicanálise, as questões relativas ao sexo e ao gênero nos sujeitos e a direção do tratamento em crianças. Ademais, as questões com o corpo apresentadas pela paciente exigiram a compreensão de como fazer frente a demandas tão precoces de redesignação do sexo. No percurso analítico até o momento, buscou-se, por meio da palavra, fazer emergir a possibilidade de um saber sobre o próprio sexo dessa criança. Além disso, confrontou-se a contradição presente na incidência da palavra do Outro em seus elementos orientadores e devastadores na vida do sujeito e fez-se cara a constante reflexão crítica da prática psicológica. Apostar na psicanálise e na escuta do sujeito visou a permitir que algo de mais singular de seu desejo pudesse se apresentar e se fazer ouvir.","PeriodicalId":296766,"journal":{"name":"Revista Subjetividades","volume":"38 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2021-09-15","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"129119619","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2021-09-15DOI: 10.5020/23590777.RS.V21I2.E10034
Felipe Dutra Demetri, Maria Juracy Filgueiras Toneli
O objetivo deste texto é problematizar o lugar destacado que o campo de concentração ocupa no pensamento do filósofo italiano Giorgio Agamben, especificamente nas primeiras obras da série Homo Sacer. Nesse sentido, retorna-se ao pensamento de Michel Foucault, nomeadamente em História da Loucura, identificando o Hospital Geral e o grande internamento à luz das noções de biopoder e poder soberano. Também analisamos como Agamben utiliza tais conceitos, questionando o espaço problemático que o filósofo italiano concede aos doentes mentais em O poder soberano e a vida nua, e as consequências de tal opção no restante do seu pensamento. Esperamos demonstrar que uma teoria sobre o biopoder e a tanatopolítica deve ter um escopo mais amplo, a fim de não omitir outras experiências do arbítrio.
{"title":"O que Resta do Internamento: Loucura, Exclusão e Biopolítica em Michel Foucault e Giorgio Agamben","authors":"Felipe Dutra Demetri, Maria Juracy Filgueiras Toneli","doi":"10.5020/23590777.RS.V21I2.E10034","DOIUrl":"https://doi.org/10.5020/23590777.RS.V21I2.E10034","url":null,"abstract":"O objetivo deste texto é problematizar o lugar destacado que o campo de concentração ocupa no pensamento do filósofo italiano Giorgio Agamben, especificamente nas primeiras obras da série Homo Sacer. Nesse sentido, retorna-se ao pensamento de Michel Foucault, nomeadamente em História da Loucura, identificando o Hospital Geral e o grande internamento à luz das noções de biopoder e poder soberano. Também analisamos como Agamben utiliza tais conceitos, questionando o espaço problemático que o filósofo italiano concede aos doentes mentais em O poder soberano e a vida nua, e as consequências de tal opção no restante do seu pensamento. Esperamos demonstrar que uma teoria sobre o biopoder e a tanatopolítica deve ter um escopo mais amplo, a fim de não omitir outras experiências do arbítrio.","PeriodicalId":296766,"journal":{"name":"Revista Subjetividades","volume":"11 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2021-09-15","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"122223422","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2021-09-15DOI: 10.5020/23590777.RS.V21I2.E10957
Wanessa Wonsoski, Eliane Domingues
A psicanálise freudiana é um dos principais embasamentos da etnopsicanálise, disciplina fundada por Georges Devereux (1908-1985). Devereux se considerava um “psicanalista autenticamente clássico”, de acordo com as concepções “maiores” de Freud, mas com divergências em relação a certas concepções consideradas por ele como “menores”. Quais seriam essas concepções “menores” de Freud que Devereux discordava? Quais são as contribuições de Devereux à teoria psicanalítica? São essas questões que orientam este artigo. As concepções abordadas, alvos de discordâncias ou de desenvolvimentos de Devereux, que serão apresentadas aqui são: inconsciente; complexo de Édipo e período de latência; supereu e ideal do eu; e pulsão de morte. A partir da leitura dos principais textos de Devereux, identificamos que o autor adota as proposições freudianas da universalidade do psiquismo e do complexo de Édipo, mas discorda da existência da pulsão de morte e da universalidade do período de latência, e parece indicar uma distinção constitutiva entre o que é da ordem da interdição arbitrária (supereu) e o que é da ordem da função de modelo (ideal do eu). Além disso, Devereux amplia as formulações freudianas a respeito do desenvolvimento psicossexual ao refletir sobre as pulsões incestuosas, agressivas e canibalistas dos pais em relação aos filhos.
{"title":"Georges Devereux: Um Psicanalista Freudiano?","authors":"Wanessa Wonsoski, Eliane Domingues","doi":"10.5020/23590777.RS.V21I2.E10957","DOIUrl":"https://doi.org/10.5020/23590777.RS.V21I2.E10957","url":null,"abstract":"A psicanálise freudiana é um dos principais embasamentos da etnopsicanálise, disciplina fundada por Georges Devereux (1908-1985). Devereux se considerava um “psicanalista autenticamente clássico”, de acordo com as concepções “maiores” de Freud, mas com divergências em relação a certas concepções consideradas por ele como “menores”. Quais seriam essas concepções “menores” de Freud que Devereux discordava? Quais são as contribuições de Devereux à teoria psicanalítica? São essas questões que orientam este artigo. As concepções abordadas, alvos de discordâncias ou de desenvolvimentos de Devereux, que serão apresentadas aqui são: inconsciente; complexo de Édipo e período de latência; supereu e ideal do eu; e pulsão de morte. A partir da leitura dos principais textos de Devereux, identificamos que o autor adota as proposições freudianas da universalidade do psiquismo e do complexo de Édipo, mas discorda da existência da pulsão de morte e da universalidade do período de latência, e parece indicar uma distinção constitutiva entre o que é da ordem da interdição arbitrária (supereu) e o que é da ordem da função de modelo (ideal do eu). Além disso, Devereux amplia as formulações freudianas a respeito do desenvolvimento psicossexual ao refletir sobre as pulsões incestuosas, agressivas e canibalistas dos pais em relação aos filhos.","PeriodicalId":296766,"journal":{"name":"Revista Subjetividades","volume":"26 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2021-09-15","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"122756859","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}