Pub Date : 2021-12-09DOI: 10.5007/2175-7917.2021e79887
Sergio Schargel Maia de Menezes
Em 2012, quando a recessão democrática mundial ainda estava apenas em seu sexto ano consecutivo de acordo com os índices da Freedom House, Timur Vermes publicou o best-seller Ele está de volta. Rapidamente transformado em filme, o absurdo da sátira política de Vermes beira o kafkiano: Hitler retorna dos mortos. É tomado levianamente como um ator fascinante, por nunca quebrar seu papel, e de forma gradual ascende novamente à política. Flexionando as fronteiras entre o real da política e o real da literatura, bem como entre o humor e o horror, Ele está de volta explora, cruamente, a possibilidade do fascismo retornar e a perigosa negação do fenômeno. Esse artigo irá colocar uma base teórica sobre o conceito de fascismo – entendendo-o como conceito político genérico, portanto passível de deslocamento para além de sua manifestação original – em diálogo com a ficção de Vermes, tornando possível, no processo, perceber não apenas aparições de traços do fascismo na ficção, mas também de suas manifestações contemporâneas. Assim, espera-se contribuir para o estado da arte ao incrementar a compreensão de um conceito polissêmico, bem como alertar para o perigo de acreditar que o fascismo morreu com a morte de Hitler em 1945. Pois, como Vermes mostra, um Hitler sempre pode estar de volta.
{"title":"O retorno do Messias: ele está de volta e o facismo eterno","authors":"Sergio Schargel Maia de Menezes","doi":"10.5007/2175-7917.2021e79887","DOIUrl":"https://doi.org/10.5007/2175-7917.2021e79887","url":null,"abstract":"Em 2012, quando a recessão democrática mundial ainda estava apenas em seu sexto ano consecutivo de acordo com os índices da Freedom House, Timur Vermes publicou o best-seller Ele está de volta. Rapidamente transformado em filme, o absurdo da sátira política de Vermes beira o kafkiano: Hitler retorna dos mortos. É tomado levianamente como um ator fascinante, por nunca quebrar seu papel, e de forma gradual ascende novamente à política. Flexionando as fronteiras entre o real da política e o real da literatura, bem como entre o humor e o horror, Ele está de volta explora, cruamente, a possibilidade do fascismo retornar e a perigosa negação do fenômeno. Esse artigo irá colocar uma base teórica sobre o conceito de fascismo – entendendo-o como conceito político genérico, portanto passível de deslocamento para além de sua manifestação original – em diálogo com a ficção de Vermes, tornando possível, no processo, perceber não apenas aparições de traços do fascismo na ficção, mas também de suas manifestações contemporâneas. Assim, espera-se contribuir para o estado da arte ao incrementar a compreensão de um conceito polissêmico, bem como alertar para o perigo de acreditar que o fascismo morreu com a morte de Hitler em 1945. Pois, como Vermes mostra, um Hitler sempre pode estar de volta.","PeriodicalId":30964,"journal":{"name":"Anuario de Literatura","volume":" ","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2021-12-09","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"43408394","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2021-12-09DOI: 10.5007/2175-7917.2021.e82640
Marcos Lampert Varnieri
O conto Alexandrita (um fato natural à luz do misticismo), do autor russo Nikolai Leskov (1831-1895), apresenta-se particularmente adequado a uma leitura anímica de seus aspectos insólitos. A personalização das pedras alexandrita e piropo, minerais preciosos que representam as nações russa e tcheca respectivamente, dá à narrativa a hesitação necessária para uma caracterização fantástica, segundo a teoria de Tzvetan Todorov reforçada por David Roas. As duas gemas são tratadas pelo personagem do ourives como dotadas de vida e de alma, características centrais do animismo. Além da concepção anímica, há no conto um contraste entre os saberes civilizados e os chamados tradicionais, pois ao narrador, representante da característica urbana, opõe-se o velho ourives cabalista e místico, guardião da tradição popular de sua terra. Walter Benjamin (1936) retoma a obra de Leskov em sua conhecida teorização acerca da arte de narrar. A qualidade narrativa por ele prezada está contida no modo artesanal como Leskov constrói suas obras. Tal reflexão sobre a arte literária está também em Sigmund Freud, que tece considerações aproximando a psicologia e a antropologia da literatura. O conto Alexandrita é, portanto, o ponto de encontro de conceitos e disciplinas díspares visto ser ele valioso como os objetos e saberes que descreve.
{"title":"Nikolai Leskov e o animismo: falar com pedras no conto Alexandrita","authors":"Marcos Lampert Varnieri","doi":"10.5007/2175-7917.2021.e82640","DOIUrl":"https://doi.org/10.5007/2175-7917.2021.e82640","url":null,"abstract":"O conto Alexandrita (um fato natural à luz do misticismo), do autor russo Nikolai Leskov (1831-1895), apresenta-se particularmente adequado a uma leitura anímica de seus aspectos insólitos. A personalização das pedras alexandrita e piropo, minerais preciosos que representam as nações russa e tcheca respectivamente, dá à narrativa a hesitação necessária para uma caracterização fantástica, segundo a teoria de Tzvetan Todorov reforçada por David Roas. As duas gemas são tratadas pelo personagem do ourives como dotadas de vida e de alma, características centrais do animismo. Além da concepção anímica, há no conto um contraste entre os saberes civilizados e os chamados tradicionais, pois ao narrador, representante da característica urbana, opõe-se o velho ourives cabalista e místico, guardião da tradição popular de sua terra. Walter Benjamin (1936) retoma a obra de Leskov em sua conhecida teorização acerca da arte de narrar. A qualidade narrativa por ele prezada está contida no modo artesanal como Leskov constrói suas obras. Tal reflexão sobre a arte literária está também em Sigmund Freud, que tece considerações aproximando a psicologia e a antropologia da literatura. O conto Alexandrita é, portanto, o ponto de encontro de conceitos e disciplinas díspares visto ser ele valioso como os objetos e saberes que descreve.","PeriodicalId":30964,"journal":{"name":"Anuario de Literatura","volume":" ","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2021-12-09","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"41844371","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2021-12-09DOI: 10.5007/2175-7917.2021e85090
B. R. Mattia, Elton da Silva Rodrigues, Isabele Soares Parente, Jair Zandoná, T. R. O. Ramos
{"title":"De batentes, venezianas, dobradiças, vidros: molduras que enquadram sensações, formas, sentidos","authors":"B. R. Mattia, Elton da Silva Rodrigues, Isabele Soares Parente, Jair Zandoná, T. R. O. Ramos","doi":"10.5007/2175-7917.2021e85090","DOIUrl":"https://doi.org/10.5007/2175-7917.2021e85090","url":null,"abstract":"","PeriodicalId":30964,"journal":{"name":"Anuario de Literatura","volume":" ","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2021-12-09","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"43095670","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2021-12-03DOI: 10.5007/2175-7917.2021.e79227
Marta Helena Cúrio de Caetano, Sandra Pottmeier
O presente artigo, assentado na teoria marxista acerca o trabalho alienado para caracterizar a sociedade capitalista, propõe uma reflexão sobre a relação simbólica que é proposta pelo filme A Vila (The Village, 2004) entre a sociedade capitalista contemporânea, a sensação de alienação e a nostalgia em relação a formas precedentes e mais satisfatórias de organização social da existência humana. O filme de autoria e direção de M. Night Shyamalan foi lançado em julho de 2004, cuja filmografia se caracteriza por uma peripécia final que, geralmente, obriga a audiência a reinterpretar a narrativa como metáfora. Trata-se de uma narrativa de horror e mistério. Destacam-se as referências à cor vermelha que atrai as criaturas da floresta, a atmosfera sombria da floresta, a vigília e o medo em que vivem os habitantes da vila. Horror e mistério são as marcas publicitárias do filme. A Vila promove e elabora uma reflexão sobre as formas – práticas e discursos – de contestação da sociedade capitalista que em sua crítica recorrem à retórica da alienação.
{"title":"A Vila: alienação, nostalgia na sociedade capitalista contemporânea","authors":"Marta Helena Cúrio de Caetano, Sandra Pottmeier","doi":"10.5007/2175-7917.2021.e79227","DOIUrl":"https://doi.org/10.5007/2175-7917.2021.e79227","url":null,"abstract":"O presente artigo, assentado na teoria marxista acerca o trabalho alienado para caracterizar a sociedade capitalista, propõe uma reflexão sobre a relação simbólica que é proposta pelo filme A Vila (The Village, 2004) entre a sociedade capitalista contemporânea, a sensação de alienação e a nostalgia em relação a formas precedentes e mais satisfatórias de organização social da existência humana. O filme de autoria e direção de M. Night Shyamalan foi lançado em julho de 2004, cuja filmografia se caracteriza por uma peripécia final que, geralmente, obriga a audiência a reinterpretar a narrativa como metáfora. Trata-se de uma narrativa de horror e mistério. Destacam-se as referências à cor vermelha que atrai as criaturas da floresta, a atmosfera sombria da floresta, a vigília e o medo em que vivem os habitantes da vila. Horror e mistério são as marcas publicitárias do filme. A Vila promove e elabora uma reflexão sobre as formas – práticas e discursos – de contestação da sociedade capitalista que em sua crítica recorrem à retórica da alienação.","PeriodicalId":30964,"journal":{"name":"Anuario de Literatura","volume":"1 1","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2021-12-03","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"41361237","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2021-12-03DOI: 10.5007/2175-7917.2021.e79779
Yara Fernanda Chimite, J. A. Saraiva, Sandra Portella Montardo
Este artigo analisa o conto “A maior ponte do mundo”, de Domingos Pellegrini, com enfoque no entrelaçamento entre a narrativa literária e a narrativa histórica. Publicado originalmente em 1977 na coletânea O homem vermelho, primeiro livro do autor, o conto relata as experiências de dois eletricistas na construção da ponte Rio-Niterói, no Rio de Janeiro, no ano de 1974. A narrativa centra-se, portanto, em um evento factual, dando-lhe, todavia, um tratamento fictício. Dessa forma, o artigo investiga as aproximações e distanciamentos entre literatura e história, explorando o modo como o fato histórico é reimaginado em uma narrativa que, por ser ficcional, expressa sentimentos e pensamentos possíveis dos envolvidos no episódio. Examina, ainda, como as escolhas estéticas do autor – concepção das personagens, linguagem marcadamente coloquial, ritmo narrativo acelerado – colaboram para construir um efeito de verossimilhança que convida o leitor a retomar os acontecimentos do passado, a reconfigurá-los no tempo presente e a melhor compreender sua própria historicidade.
{"title":"Entrelaçamento de narrativas em \"A maior ponte do mundo\", de Domingos Pellegrini","authors":"Yara Fernanda Chimite, J. A. Saraiva, Sandra Portella Montardo","doi":"10.5007/2175-7917.2021.e79779","DOIUrl":"https://doi.org/10.5007/2175-7917.2021.e79779","url":null,"abstract":"Este artigo analisa o conto “A maior ponte do mundo”, de Domingos Pellegrini, com enfoque no entrelaçamento entre a narrativa literária e a narrativa histórica. Publicado originalmente em 1977 na coletânea O homem vermelho, primeiro livro do autor, o conto relata as experiências de dois eletricistas na construção da ponte Rio-Niterói, no Rio de Janeiro, no ano de 1974. A narrativa centra-se, portanto, em um evento factual, dando-lhe, todavia, um tratamento fictício. Dessa forma, o artigo investiga as aproximações e distanciamentos entre literatura e história, explorando o modo como o fato histórico é reimaginado em uma narrativa que, por ser ficcional, expressa sentimentos e pensamentos possíveis dos envolvidos no episódio. Examina, ainda, como as escolhas estéticas do autor – concepção das personagens, linguagem marcadamente coloquial, ritmo narrativo acelerado – colaboram para construir um efeito de verossimilhança que convida o leitor a retomar os acontecimentos do passado, a reconfigurá-los no tempo presente e a melhor compreender sua própria historicidade.","PeriodicalId":30964,"journal":{"name":"Anuario de Literatura","volume":" ","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2021-12-03","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"44278080","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2021-12-03DOI: 10.5007/2175-7917.2021.e82752
Mateus Carvalho Nunes
{"title":"Tríptico ao Corpo de Nassar","authors":"Mateus Carvalho Nunes","doi":"10.5007/2175-7917.2021.e82752","DOIUrl":"https://doi.org/10.5007/2175-7917.2021.e82752","url":null,"abstract":"","PeriodicalId":30964,"journal":{"name":"Anuario de Literatura","volume":" ","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2021-12-03","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"46143982","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2021-10-26DOI: 10.5007/2175-7917.2021.e78526
Cristiane da Silva Alves
A partir do estudo de narrativas ficcionais da literatura brasileira publicadas nas primeiras décadas deste novo século, tem-se por objetivo investigar a presença das mulheres velhas, especialmente aquelas que se destacam como narradoras e/ou como protagonistas. Pretende-se observar se e como a literatura contemporânea tem contribuído para forjar determinadas identidades, ou antes, para reforçar ou (des)construir padrões e papéis comumente atribuídos à figura feminina envelhecida. Busca-se, sobretudo, contribuir para afastar ou minimizar os estereótipos e o silenciamento acerca da velhice feminina (ainda) presentes em nosso cânone. Para tanto, são tomados como corpus os romances Mar azul (Rocco, 2012), de Paloma Vidal; Amor em dois tempos (Companhia das Letras, 2014), de Lívia Garcia-Roza; Quarenta dias (Alfaguara, 2014) e Outros Cantos (Alfaguara, 2016), ambos de Maria Valéria Rezende. Para dar suporte às análises, recorre-se às contribuições de Simone de Beauvoir, Guita Grin Debert, Mirian Goldenberg, Ecléa Bosi e Regina Dalcastagnè, entre outros.
基于对新世纪头几十年出版的巴西文学虚构叙事的研究,目的是调查老年女性的存在,尤其是那些作为叙述者和/或主角脱颖而出的女性。它旨在观察当代文学是否以及如何有助于塑造某些身份,或者更确切地说,加强或(取消)构建通常归因于老年女性形象的模式和角色。最重要的是,它寻求帮助消除或最大限度地减少我们的经典中关于女性老年(仍然)的刻板印象和沉默。因此,以帕洛玛·维达尔的小说《Mar azul》(Rocco,2012)为语料;《爱在两个时代》(Companhia das Letras,2014),作者:Lívia Garcia Roza;四十天(Alfaguara,2014)和Outros Cantos(Alfaguara,2016),均由Maria Valéria Rezende撰写。为了支持这一分析,我们使用了西蒙娜·德·波伏娃、吉塔·格林·德伯特、米丽安·戈登伯格、埃克莱娅·博西和里贾娜·达尔卡斯塔涅等人的贡献。
{"title":"mulheres velhas (r)existem: algumas notas sobre a velhice feminina e sua presença na literatura brasileira do início do século XXI","authors":"Cristiane da Silva Alves","doi":"10.5007/2175-7917.2021.e78526","DOIUrl":"https://doi.org/10.5007/2175-7917.2021.e78526","url":null,"abstract":"A partir do estudo de narrativas ficcionais da literatura brasileira publicadas nas primeiras décadas deste novo século, tem-se por objetivo investigar a presença das mulheres velhas, especialmente aquelas que se destacam como narradoras e/ou como protagonistas. Pretende-se observar se e como a literatura contemporânea tem contribuído para forjar determinadas identidades, ou antes, para reforçar ou (des)construir padrões e papéis comumente atribuídos à figura feminina envelhecida. Busca-se, sobretudo, contribuir para afastar ou minimizar os estereótipos e o silenciamento acerca da velhice feminina (ainda) presentes em nosso cânone. Para tanto, são tomados como corpus os romances Mar azul (Rocco, 2012), de Paloma Vidal; Amor em dois tempos (Companhia das Letras, 2014), de Lívia Garcia-Roza; Quarenta dias (Alfaguara, 2014) e Outros Cantos (Alfaguara, 2016), ambos de Maria Valéria Rezende. Para dar suporte às análises, recorre-se às contribuições de Simone de Beauvoir, Guita Grin Debert, Mirian Goldenberg, Ecléa Bosi e Regina Dalcastagnè, entre outros.","PeriodicalId":30964,"journal":{"name":"Anuario de Literatura","volume":" ","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2021-10-26","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"49380673","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2021-10-26DOI: 10.5007/2175-7917.2021.e78279
Andressa de Jesus Araújo Ramos, Maria do Socorro Simões
De acordo com Maria de Fátima de Souza Santos (1994), o estudo do envelhecimento humano e/ou da velhice no âmbito das Ciências Humanas é recente, principalmente no Brasil onde somente nos últimos anos começam a surgir trabalhos científicos nas áreas de Psicologia, Sociologia, dentre outras. Em nossas investigações nos Repositórios Institucionais on-line das renomadas Universidades encontramos pouquíssimos trabalhos na área de Letras (Literatura), sobretudo nos Cursos de Doutorado que abordam essa etapa da vida humana e isso acaba se tornando algo, extremamente, preocupante, pois nos impede de desenvolvermos nossa função social enquanto literários que é a de humanizar os sujeitos através dos textos literários, como propõe Candido (1972). Desse modo, levando em conta o número reduzido de Teses na área de Letras, bem como o nosso interesse pelo tema, decidimos estudar a senescência, especialmente a feminina, pois além de os censos e os dados estatísticos demonstrarem que existem mais mulheres do que homens na velhice, ocasionando assim o fenômeno da feminização ou a feminilização que é discutido por Menezes (2017) e Salgado (2002), as mulheres na velhice experimentam, segundo Debert (1994), uma situação de dupla discriminação: a de ser mulher e a de ser velha. Contudo, os resultados de nossas pesquisas no acervo “O Imaginário nas Formas Narrativas Orais Populares da Amazônia Paraense” (IFNOPAP) revelaram um novo perfil da mulher velha, que não vem carregado de preconceitos e nem de estereótipos, mas de novidade, liberdade e curiosidade. Sendo assim, o objetivo geral desta pesquisa é compreender como a velhice feminina é representada em narrativas orais da Matintaperera. O referencial teórico deste estudo ampara-se em: Beauvoir (2018), Goldenberg (2017), Debert (1994) e Zimerman (2007).
根据Maria de Fátima de Souza Santos(1994)的说法,人类科学领域对人类衰老和/或老年的研究是最近才开始的,尤其是在巴西,心理学、社会学等领域的科学著作才在最近几年才开始出现。在我们对著名大学在线机构资料库的调查中,我们发现很少有文学领域的作品,尤其是在博士课程中,涉及人类生活的这一阶段,这最终变得非常令人担忧,因为它阻碍了我们发展我们作为文学的社会功能,即通过文学文本使主体人性化,正如Candido(1972)所提出的那样。因此,考虑到书信领域论文数量的减少,以及我们对这一主题的兴趣,我们决定研究衰老,尤其是女性,因为除了人口普查和统计数据显示,老年女性比男性多,从而导致了Menezes(2017)和Salgado(2002)所讨论的女性化或女性化现象,根据Debert(1994)的说法,老年妇女经历了双重歧视的情况:身为女性和年老。然而,我们在“O Imaginário nas Formas Narrativas Orais Populares da Amazonia Paraense”(IFNOPAP)系列中的研究结果揭示了这位老妇人的新形象,她没有偏见或刻板印象,而是充满了新奇、自由和好奇。因此,本研究的总体目标是了解女性老年在Matintaperera的口头叙事中是如何表现的。本研究的理论框架基于:波伏娃(2018)、戈登伯格(2017)、德伯特(1994)和齐曼(2007)。
{"title":"representação da velhice feminina em narrativas orais da matintaperera","authors":"Andressa de Jesus Araújo Ramos, Maria do Socorro Simões","doi":"10.5007/2175-7917.2021.e78279","DOIUrl":"https://doi.org/10.5007/2175-7917.2021.e78279","url":null,"abstract":"De acordo com Maria de Fátima de Souza Santos (1994), o estudo do envelhecimento humano e/ou da velhice no âmbito das Ciências Humanas é recente, principalmente no Brasil onde somente nos últimos anos começam a surgir trabalhos científicos nas áreas de Psicologia, Sociologia, dentre outras. Em nossas investigações nos Repositórios Institucionais on-line das renomadas Universidades encontramos pouquíssimos trabalhos na área de Letras (Literatura), sobretudo nos Cursos de Doutorado que abordam essa etapa da vida humana e isso acaba se tornando algo, extremamente, preocupante, pois nos impede de desenvolvermos nossa função social enquanto literários que é a de humanizar os sujeitos através dos textos literários, como propõe Candido (1972). Desse modo, levando em conta o número reduzido de Teses na área de Letras, bem como o nosso interesse pelo tema, decidimos estudar a senescência, especialmente a feminina, pois além de os censos e os dados estatísticos demonstrarem que existem mais mulheres do que homens na velhice, ocasionando assim o fenômeno da feminização ou a feminilização que é discutido por Menezes (2017) e Salgado (2002), as mulheres na velhice experimentam, segundo Debert (1994), uma situação de dupla discriminação: a de ser mulher e a de ser velha. Contudo, os resultados de nossas pesquisas no acervo “O Imaginário nas Formas Narrativas Orais Populares da Amazônia Paraense” (IFNOPAP) revelaram um novo perfil da mulher velha, que não vem carregado de preconceitos e nem de estereótipos, mas de novidade, liberdade e curiosidade. Sendo assim, o objetivo geral desta pesquisa é compreender como a velhice feminina é representada em narrativas orais da Matintaperera. O referencial teórico deste estudo ampara-se em: Beauvoir (2018), Goldenberg (2017), Debert (1994) e Zimerman (2007).","PeriodicalId":30964,"journal":{"name":"Anuario de Literatura","volume":" ","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2021-10-26","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"49248876","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2021-10-26DOI: 10.5007/2175-7917.2021.e78548
M. D. R. A. Pereira, C. Maia
Este artigo apresenta um breve estudo sobre a velhice feminina representada na literatura brasileira escrita por mulheres. Parte de um preâmbulo que procura informar sobre a ausência do tratamento dessas personagens em nossa literatura para depois analisar narrativas curtas (contos e minicontos) das seguintes escritoras: Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles, Cíntia Moscovich e Alê Motta. A análise é ancorada no pensamento de Simone de Beauvoir, Natalia Ginzburg, Eurídice Figueiredo, Carmen Lucia Tindó Secco e outras pesquisadoras, que apresentam importantes reflexões sobre a velhice, com destaque para a questão da solidão, que se mostrou recorrente nas narrativas selecionadas para o corpus, mas tratada de forma distinta em cada uma delas. A intenção não é traçar um panorama de tais representações, o que demandaria um estudo de mais fôlego, mas apontar algumas recorrências e particularidades quanto à temática, sobretudo no que toca à autoria feminina. Saliente-se que o tema da velhice faz-se pertinente para a análise pois é pouco estudado na literatura brasileira em geral, o que aponta para a relevância desta investigação.
{"title":"Entre o dilaceramento e a alegria: considerações sobre a velhice na literatura brasileira de autoria feminina","authors":"M. D. R. A. Pereira, C. Maia","doi":"10.5007/2175-7917.2021.e78548","DOIUrl":"https://doi.org/10.5007/2175-7917.2021.e78548","url":null,"abstract":"Este artigo apresenta um breve estudo sobre a velhice feminina representada na literatura brasileira escrita por mulheres. Parte de um preâmbulo que procura informar sobre a ausência do tratamento dessas personagens em nossa literatura para depois analisar narrativas curtas (contos e minicontos) das seguintes escritoras: Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles, Cíntia Moscovich e Alê Motta. A análise é ancorada no pensamento de Simone de Beauvoir, Natalia Ginzburg, Eurídice Figueiredo, Carmen Lucia Tindó Secco e outras pesquisadoras, que apresentam importantes reflexões sobre a velhice, com destaque para a questão da solidão, que se mostrou recorrente nas narrativas selecionadas para o corpus, mas tratada de forma distinta em cada uma delas. A intenção não é traçar um panorama de tais representações, o que demandaria um estudo de mais fôlego, mas apontar algumas recorrências e particularidades quanto à temática, sobretudo no que toca à autoria feminina. Saliente-se que o tema da velhice faz-se pertinente para a análise pois é pouco estudado na literatura brasileira em geral, o que aponta para a relevância desta investigação.","PeriodicalId":30964,"journal":{"name":"Anuario de Literatura","volume":" ","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2021-10-26","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"49161781","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2021-08-26DOI: 10.5007/2175-7917.2021.e77884
Gabriel Esteves
O objetivo deste artigo é recuperar a tragédia histórica como gênero reconhecidamente romântico, quer dizer, como gênero que atende às expectativas de intelectuais identificados com o romantismo nas primeiras décadas do século XIX (Staël, Manzoni, Schlegel, Stendhal, Lebrun, Delavigne etc.), que antecipa e compartilha várias características com o drama (mistura de gêneros, desrespeito às unidades clássicas, realismo histórico, enriquecimento de decoração e figurino, complexificação da trama etc.) e, enfim, que mantém um evidente comércio com o drama e o melodrama durante todo o século, não raro com eles dividindo os mesmos palcos e atores. Para tanto, recorro à análise da recepção jornalística feita à peça Le Cid d’Andalousie, de Pierre Lebrun, encenada em 1825, e argumento contra a concepção amplamente difundida de que o teatro romântico se identifica exclusivamente com o drama tal qual proposto por Victor Hugo, em 1827, no célebre prefácio ao Cromwell, e que a tragédia pertence apenas à tradição clássica.
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