Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103557
Thaysa Carolina Gonçalves Silva, Amanda Gabriela da Silva, Marisa Kele da Silva, Caroline Louise Diniz Pereira
A esquistossomose mansoni é uma doença parasitária negligenciada de interesse para a saúde pública no Brasil, pois afeta principalmente populações mais vulneráveis e causa significativa mortalidade, principalmente na região Nordeste do Brasil. Assim, este estudo buscou analisar aspectos epidemiológicos e os padrões espaço-temporais associados à mortalidade por esquistossomose mansoni no Nordeste do Brasil, entre 2018 a 2022. Foi realizada uma análise espaço-temporal com os dados secundários obtidos da plataforma de domínio público do Sistema de Informação de Agravos de Notificação do Ministério da Saúde (SINAN/DATASUS/MS). Verificou-se todos os óbitos ocorridos na região Nordeste do Brasil entre os anos de 2018 a 2022, nos quais a esquistossomose foi mencionada como causa de morte. Além disso, variáveis clínico-epidemiológicas foram descritas. No período do estudo 15.098 indivíduos foram notificados com esquistossomose, destes, 24,4% (n=3.677/15.098) ocorreram na região Nordeste do Brasil. Quanto à distribuição de casos por estado na referida região, verificou-se que a Bahia teve o maior número de notificações (n=1361/3677; 37,0%). Durante o período de estudo, a frequência de óbitos por esquistossomose apresentou 371 (2,5%) casos no país. Diante desses resultados, nota-se uma tendência decrescente na mortalidade relacionada à esquistossomose, todavia, os padrões variam entre regiões, particularmente no Nordeste onde houve 289 (77,9%) óbitos associados à doença. Verificou-se que os óbitos ocorridos no Nordeste associados à esquistossomose foram mais comuns no público feminino (n = 149/289; 51,6%) e acomete mais indivíduos na faixa etária de 40 a 59 anos em ambos os gêneros (n = 85/289; 29,4%). A partir da análise das formas clínicas observou-se que manifestações envolvendo o fígado e órgãos esplênicos estiveram mais relacionadas à mortalidade da esquistossomose (n = 107/289; 37,0%). Diante dos resultados, foi possível concluir que a esquistossomose continua sendo uma doença de relevância para a saúde pública na região do Nordeste, onde a doença é mais prevalente e houve um número expressivo de óbitos, principalmente na faixa etária de trabalhadores ativos (40 a 59 anos). Esses resultados destacam a importância da detecção precoce e do tratamento adequado, assim como, investimentos em políticas de saúde pública voltadas para o controle e prevenção da esquistossomose, essenciais para redução da mortalidade.
{"title":"MORTALIDADE POR ESQUISTOSSOMOSE MANSONI NA REGIÃO NORDESTE DO BRASIL ENTRE OS ANOS DE 2018 E 2022","authors":"Thaysa Carolina Gonçalves Silva, Amanda Gabriela da Silva, Marisa Kele da Silva, Caroline Louise Diniz Pereira","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103557","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103557","url":null,"abstract":"A esquistossomose mansoni é uma doença parasitária negligenciada de interesse para a saúde pública no Brasil, pois afeta principalmente populações mais vulneráveis e causa significativa mortalidade, principalmente na região Nordeste do Brasil. Assim, este estudo buscou analisar aspectos epidemiológicos e os padrões espaço-temporais associados à mortalidade por esquistossomose mansoni no Nordeste do Brasil, entre 2018 a 2022. Foi realizada uma análise espaço-temporal com os dados secundários obtidos da plataforma de domínio público do Sistema de Informação de Agravos de Notificação do Ministério da Saúde (SINAN/DATASUS/MS). Verificou-se todos os óbitos ocorridos na região Nordeste do Brasil entre os anos de 2018 a 2022, nos quais a esquistossomose foi mencionada como causa de morte. Além disso, variáveis clínico-epidemiológicas foram descritas. No período do estudo 15.098 indivíduos foram notificados com esquistossomose, destes, 24,4% (n=3.677/15.098) ocorreram na região Nordeste do Brasil. Quanto à distribuição de casos por estado na referida região, verificou-se que a Bahia teve o maior número de notificações (n=1361/3677; 37,0%). Durante o período de estudo, a frequência de óbitos por esquistossomose apresentou 371 (2,5%) casos no país. Diante desses resultados, nota-se uma tendência decrescente na mortalidade relacionada à esquistossomose, todavia, os padrões variam entre regiões, particularmente no Nordeste onde houve 289 (77,9%) óbitos associados à doença. Verificou-se que os óbitos ocorridos no Nordeste associados à esquistossomose foram mais comuns no público feminino (n = 149/289; 51,6%) e acomete mais indivíduos na faixa etária de 40 a 59 anos em ambos os gêneros (n = 85/289; 29,4%). A partir da análise das formas clínicas observou-se que manifestações envolvendo o fígado e órgãos esplênicos estiveram mais relacionadas à mortalidade da esquistossomose (n = 107/289; 37,0%). Diante dos resultados, foi possível concluir que a esquistossomose continua sendo uma doença de relevância para a saúde pública na região do Nordeste, onde a doença é mais prevalente e houve um número expressivo de óbitos, principalmente na faixa etária de trabalhadores ativos (40 a 59 anos). Esses resultados destacam a importância da detecção precoce e do tratamento adequado, assim como, investimentos em políticas de saúde pública voltadas para o controle e prevenção da esquistossomose, essenciais para redução da mortalidade.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"54 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136247102","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
A tuberculose renal é a segunda forma de apresentação mais frequente da tuberculose extrapulmonar, na qual ocorre disseminação linfo-hematogênica do bacilo e formação de granulomas no córtex renal, podendo atingir diversas estruturas do sistema geniturinário. Neste caso, o paciente masculino, 58 anos, branco, operador de máquinas, ex-tabagista, com hipertensão arterial sistêmica e histórico de doença prostática, procurou a Unidade de Pronto Atendimento após agravamento de sintomas gripais e náuseas durante a pandemia de Covid-19. Encontrava-se afebril e exames laboratoriais apresentaram creatinina de 13 mg/dL, uréia de 320 mg/dL, acidose metabólica e hipercalemia (6,9 mmol/L). O paciente foi encaminhado para o Hospital Universitário do Oeste do Paraná por injúria renal aguda sendo submetido a diálise. Teste RT-PCR para Covid-19 negativo assim como a tomografia de tórax descartaram hipótese de infecção viral vigentes. Evoluiu com retenção urinária nos primeiros dias da internação, sendo realizada cistostomia. Exames posteriores demonstraram plaquetopenia, elevação de transaminases, sem leucocitose. O paciente foi submetido a novas sessões de hemodiálise, durante as quais apresentava febre refratária aos antitérmicos. Suspeitou-se de infecção, culturas de sangue, cateter e urina foram coletas e foi iniciado Vancomicina e Meropenem empíricos. Antifúngico empírico também foi prescrito apesar das hemoculturas, urocultura e cultura do cateter, todas negativas. Foi, ainda, realizado exames prostáticos (relação PSA livre/total = 0,14). O paciente seguia em diálise com picos febris sem foco definido, e sem melhora clínica. Após três semanas, diante de piúria maciça, aventou-se a hipótese de tuberculose renal e a baciloscopia foi positiva no parcial de urina. Iniciou-se o tratamento para tuberculose geniturinária com Rifampicina, Isoniazida, Pirazinamida e Etambutol. Após estabilização do quadro, o paciente recebeu alta e segue em acompanhamento e diálise ambulatorial. Diante do quadro, destaca-se a dificuldade para diagnóstico da condição, uma vez que os sintomas iniciais são variáveis, e neste caso descrito, estavam relacionados com alterações renais na vigência na pandemia de Covid-19 com falta de leitos, recursos técnicos e humanos, dificultando a demora e conclusão diagnóstica.
{"title":"TUBERCULOSE RENAL: UM RELATO DE CASO","authors":"Mariana Delariva Sakiyama, Guilherme Henrique Anderle, Renan Hamud, Elaine Cristina Daka Moi, Carla Sakuma de Oliveira","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103667","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103667","url":null,"abstract":"A tuberculose renal é a segunda forma de apresentação mais frequente da tuberculose extrapulmonar, na qual ocorre disseminação linfo-hematogênica do bacilo e formação de granulomas no córtex renal, podendo atingir diversas estruturas do sistema geniturinário. Neste caso, o paciente masculino, 58 anos, branco, operador de máquinas, ex-tabagista, com hipertensão arterial sistêmica e histórico de doença prostática, procurou a Unidade de Pronto Atendimento após agravamento de sintomas gripais e náuseas durante a pandemia de Covid-19. Encontrava-se afebril e exames laboratoriais apresentaram creatinina de 13 mg/dL, uréia de 320 mg/dL, acidose metabólica e hipercalemia (6,9 mmol/L). O paciente foi encaminhado para o Hospital Universitário do Oeste do Paraná por injúria renal aguda sendo submetido a diálise. Teste RT-PCR para Covid-19 negativo assim como a tomografia de tórax descartaram hipótese de infecção viral vigentes. Evoluiu com retenção urinária nos primeiros dias da internação, sendo realizada cistostomia. Exames posteriores demonstraram plaquetopenia, elevação de transaminases, sem leucocitose. O paciente foi submetido a novas sessões de hemodiálise, durante as quais apresentava febre refratária aos antitérmicos. Suspeitou-se de infecção, culturas de sangue, cateter e urina foram coletas e foi iniciado Vancomicina e Meropenem empíricos. Antifúngico empírico também foi prescrito apesar das hemoculturas, urocultura e cultura do cateter, todas negativas. Foi, ainda, realizado exames prostáticos (relação PSA livre/total = 0,14). O paciente seguia em diálise com picos febris sem foco definido, e sem melhora clínica. Após três semanas, diante de piúria maciça, aventou-se a hipótese de tuberculose renal e a baciloscopia foi positiva no parcial de urina. Iniciou-se o tratamento para tuberculose geniturinária com Rifampicina, Isoniazida, Pirazinamida e Etambutol. Após estabilização do quadro, o paciente recebeu alta e segue em acompanhamento e diálise ambulatorial. Diante do quadro, destaca-se a dificuldade para diagnóstico da condição, uma vez que os sintomas iniciais são variáveis, e neste caso descrito, estavam relacionados com alterações renais na vigência na pandemia de Covid-19 com falta de leitos, recursos técnicos e humanos, dificultando a demora e conclusão diagnóstica.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"44 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136247276","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103512
Maria Daniella Moura da Silva, Renan Silva Santos, Marcelle de Farias Argolo, Francisco Duda da Silva Neto, Alexsandro Albuquerque dos Santos, Bruno Farias Lima, Ana Beatriz Menezes de Almeida, Milena Pereira de Avila, Raquele de Jesus Oliveira, Francieli dos Santos Silva, Aynoa Cristianne Lima Macedo, Victor Matos Gois, Lúcio Flávio Maynart da Costa Santos
A leptospirose é descrita como uma doença febril aguda, causada por bactérias espiroquetas do gênero Leptospira, sendo a mais comum a Leptospira interrogans. O contágio, no humano, ocorre devido ao contato com a urina de animais previamente contaminados pela bactéria (principalmente ratos), após o contato, essa pode penetrar ativamente tanto através da pele, quanto através de mucosas. O Nordeste (NE) do Brasil apresenta grande incidência em número absoluto de casos, estando entre as três principais regiões do país com maior número de infectados. Esse estudo objetivou analisar as taxas de letalidade (TL) entre os estados do NE brasileiro no período de quatro anos (2019-2022). Trata-se de uma pesquisa de abordagem quantitativa, com procedimento documental de dados secundários, a partir da base de dados do Ministério da Saúde (DATASUS), Doenças e Agravos de Notificação – 2007 em diante (SINAN), avaliando o número de notificações da doença por Unidade federativa (UF) e a evolução para óbitos por agravo da doença em cada UF que notificou, utilizando os filtros: ano de notificação, UF de notificação e região de notificação entre os anos de 2019 a 2022. A TL foi calculada dividindo o número de óbitos pelo total de acometidos em cada ano. No total de casos dos 4 anos analisados, a região nordeste ocupou a terceira posição entre as cinco regiões do Brasil com maior número absoluto de casos, tendo de 2019 a 2022 um total de 2199 casos com uma TL de 13,82%. Em relação ao número absoluto de casos, Pernambuco (PE) concentrou a maior parte, que foi de 1011 infectados; enquanto Piauí (PI) mostrou o menor número de infectados, que foi de 38 casos. No período analisado, entre os estados nordestinos, Sergipe (SE) exibiu a maior TL com 21%, em contrapartida o Piauí (PI) apresentou 0% de TL. O estado da Paraíba (PB) teve a segunda menor TL, que foi de 5,71%. Já os demais estados mantiveram a TL entre 11% e 17% (Maranhão 11,36%; Ceará 12,37%; Alagoas 13,52%; Pernambuco 14,04%; Rio Grande do Norte 15%; Bahia 16,18%). A partir dos dados apresentados é possível concluir que a letalidade da leptospirose varia dependendo do estado, uma vez que na mesma região do país, obteve-se taxas discrepantes que variaram de 0% a 21%. Embora PE tenha apresentado o maior número absoluto de casos, a sua TL não foi a maior.
钩端螺旋体病是一种由钩端螺旋体属螺旋体细菌引起的急性发热性疾病,其中最常见的是审问钩端螺旋体。在人类中,感染是由于接触以前被细菌污染的动物(主要是老鼠)的尿液而发生的,接触后,它可以通过皮肤和粘膜积极渗透。巴西东北部的绝对病例发病率很高,是该国感染人数最多的三个主要地区之一。本研究旨在分析4年(2019-2022年)巴西东北部各州的死亡率(TL)。这是一个定量的方法和步骤,研究纪录片的辅助数据从数据库(DATASUS卫生部通知),疾病和损伤评估—2007起(锡南),通知联邦疾病每单元的数量(UF)、进化为突然得知死亡疾病在每个你通知,使用超滤过滤器:每年付通知,通知和地区2019年至2022年之间的通知。TL的计算方法是将每年的死亡人数除以受影响的总人数。在分析的4年病例总数中,东北地区在巴西5个绝对病例数量最高的地区中排名第三,2019 - 2022年共2199例,TL为13.82%。在绝对病例数方面,伯南布哥(PE)集中最多,感染人数为1011人;而piaui (PI)的感染病例最少,为38例。在分析期间,在东北各州中,Sergipe (SE)的TL最高,为21%,而piaui (PI)的TL为0%,paraiba (PB)的TL最低,为5.71%。其他州的TL保持在11%到17%之间(maranhao 11.36%;巴西37%;阿拉戈斯52%;伯南布哥04%;里约热内卢Grande do Norte 15%;巴西18%)。从所提供的数据可以得出结论,钩端螺旋体病的致死率因州而异,因为在该国的同一地区,我们获得了从0%到21%的差异率。虽然PE的绝对病例数最高,但其TL并不是最高的。
{"title":"AVALIAÇÃO DA TAXA DE LETALIDADE DEVIDO A LEPTOSPIROSE NOS ESTADOS DO NORDESTE BRASILEIRO ENTRE OS ANOS DE 2019 A 2022","authors":"Maria Daniella Moura da Silva, Renan Silva Santos, Marcelle de Farias Argolo, Francisco Duda da Silva Neto, Alexsandro Albuquerque dos Santos, Bruno Farias Lima, Ana Beatriz Menezes de Almeida, Milena Pereira de Avila, Raquele de Jesus Oliveira, Francieli dos Santos Silva, Aynoa Cristianne Lima Macedo, Victor Matos Gois, Lúcio Flávio Maynart da Costa Santos","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103512","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103512","url":null,"abstract":"A leptospirose é descrita como uma doença febril aguda, causada por bactérias espiroquetas do gênero Leptospira, sendo a mais comum a Leptospira interrogans. O contágio, no humano, ocorre devido ao contato com a urina de animais previamente contaminados pela bactéria (principalmente ratos), após o contato, essa pode penetrar ativamente tanto através da pele, quanto através de mucosas. O Nordeste (NE) do Brasil apresenta grande incidência em número absoluto de casos, estando entre as três principais regiões do país com maior número de infectados. Esse estudo objetivou analisar as taxas de letalidade (TL) entre os estados do NE brasileiro no período de quatro anos (2019-2022). Trata-se de uma pesquisa de abordagem quantitativa, com procedimento documental de dados secundários, a partir da base de dados do Ministério da Saúde (DATASUS), Doenças e Agravos de Notificação – 2007 em diante (SINAN), avaliando o número de notificações da doença por Unidade federativa (UF) e a evolução para óbitos por agravo da doença em cada UF que notificou, utilizando os filtros: ano de notificação, UF de notificação e região de notificação entre os anos de 2019 a 2022. A TL foi calculada dividindo o número de óbitos pelo total de acometidos em cada ano. No total de casos dos 4 anos analisados, a região nordeste ocupou a terceira posição entre as cinco regiões do Brasil com maior número absoluto de casos, tendo de 2019 a 2022 um total de 2199 casos com uma TL de 13,82%. Em relação ao número absoluto de casos, Pernambuco (PE) concentrou a maior parte, que foi de 1011 infectados; enquanto Piauí (PI) mostrou o menor número de infectados, que foi de 38 casos. No período analisado, entre os estados nordestinos, Sergipe (SE) exibiu a maior TL com 21%, em contrapartida o Piauí (PI) apresentou 0% de TL. O estado da Paraíba (PB) teve a segunda menor TL, que foi de 5,71%. Já os demais estados mantiveram a TL entre 11% e 17% (Maranhão 11,36%; Ceará 12,37%; Alagoas 13,52%; Pernambuco 14,04%; Rio Grande do Norte 15%; Bahia 16,18%). A partir dos dados apresentados é possível concluir que a letalidade da leptospirose varia dependendo do estado, uma vez que na mesma região do país, obteve-se taxas discrepantes que variaram de 0% a 21%. Embora PE tenha apresentado o maior número absoluto de casos, a sua TL não foi a maior.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"214 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136247286","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103534
Sabrina de Souza Ramos, Thayná Martins Gouveia, Kézia de Souza Pinheiro, Aloísio Falqueto, Ricardo Tristão Sá
A esquistossomose é uma doença parasitária endêmica no Brasil, considerada um problema de saúde pública devido a sua alta prevalência em diversas regiões do país e a potencial gravidade das formas clínicas. O Schistosoma mansoni é o principal causador da esquistossomose no Brasil, sendo as formas intestinal e hepatoesplênica as mais comuns. Formas clínicas mais raras, com o acometimento do sistema genitourinário, geralmente são causadas por outras espécies. Paciente masculino, 62 anos, carpinteiro, natural de Pancas-ES, e residente de Viana-ES, compareceu em consulta com urologista devido a queixa de incontinência urinária, disúria, polaciúria e diminuição de jato urinário com início há cerca de 2 anos. Em investigação, obteve resultados de Antígeno Prostático Específico (PSA) elevados para os valores de referência em quatro exames, seguindo com realização de biópsia de próstata. O laudo histopatológico evidenciou granuloma calcificado em lobo direito e reação granulomatosa focal associada a ovos de Schistosoma mansoni em lobo esquerdo. Encaminhado para seguimento no serviço de infectologia do Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes (Hucam) onde foi tratado com praziquantel 40 mg/kg, em dose única. Em pesquisa de vínculo epidemiológico, paciente relata banhos em lagoas/rios de áreas rurais endêmicas. Neste caso, relatamos um acometimento prostático pelo S. mansoni, incomum para esta espécie, sendo o Schistosoma haematobium a mais comumente envolvida nas formas genitourinárias. É possível que a fêmea adulta tenha migrado através da circulação colateral e realizado a postura na próstata. Os ovos podem provocar inflamação granulomatosa, ulcerações e desenvolvimento de pseudopólipos que podem simular uma neoplasia. Ainda não está clara a associação entre S. mansoni e neoplasia de próstata, associação esta já estabelecida com o S. haematobium. O processo inflamatório crônico pode justificar o aumento do PSA. Apesar de rara, é possível a ocorrência da esquistossomose na próstata, devendo ser eventualmente colocada como diagnóstico diferencial nos acometimentos desse órgão, especialmente em pacientes provenientes de regiões endêmicas, com comportamento de risco.
血吸虫病是巴西的一种地方性寄生虫病,由于其在该国几个地区的高流行率和临床形式的潜在严重性,被认为是一个公共卫生问题。曼氏血吸虫是巴西血吸虫病的主要病因,肠道和肝脾形式是最常见的。更罕见的临床形式,累及泌尿生殖系统,通常由其他物种引起。男性患者,62岁,木匠,来自Pancas-ES, Viana-ES居民,因主诉尿失禁,排尿困难,多尿和尿流减少约2年前开始咨询泌尿科医生。在调查中,他在四项检查中获得了高水平的前列腺特异性抗原(PSA)结果,随后进行了前列腺活检。组织病理学报告显示右叶钙化肉芽肿,左叶曼氏血吸虫卵相关局灶性肉芽肿反应。在Cassiano antonio de Moraes大学医院(Hucam)的传染病科进行随访,在那里他接受吡喹酮40 mg/kg单次治疗。在流行病学联系研究中,病人报告在流行农村地区的池塘/河流洗澡。在这个病例中,我们报道了曼氏血吸虫对前列腺的影响,这在这个物种中是不常见的,血吸虫是最常见的泌尿生殖形式。成年雌性可能通过侧支循环迁移,并在前列腺中进行姿势。卵可引起肉芽肿性炎症、溃疡和假血脂的发展,可能模拟肿瘤。目前尚不清楚曼氏链球菌和前列腺肿瘤之间的关系,但已经与血链球菌建立了联系。慢性炎症过程可能是PSA升高的原因。尽管血吸虫病很少见,但它可能发生在前列腺,最终应作为对该器官影响的鉴别诊断,特别是在流行地区有危险行为的患者中。
{"title":"ESQUISTOSSOMOSE PROSTÁTICA: RELATO DE CASO","authors":"Sabrina de Souza Ramos, Thayná Martins Gouveia, Kézia de Souza Pinheiro, Aloísio Falqueto, Ricardo Tristão Sá","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103534","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103534","url":null,"abstract":"A esquistossomose é uma doença parasitária endêmica no Brasil, considerada um problema de saúde pública devido a sua alta prevalência em diversas regiões do país e a potencial gravidade das formas clínicas. O Schistosoma mansoni é o principal causador da esquistossomose no Brasil, sendo as formas intestinal e hepatoesplênica as mais comuns. Formas clínicas mais raras, com o acometimento do sistema genitourinário, geralmente são causadas por outras espécies. Paciente masculino, 62 anos, carpinteiro, natural de Pancas-ES, e residente de Viana-ES, compareceu em consulta com urologista devido a queixa de incontinência urinária, disúria, polaciúria e diminuição de jato urinário com início há cerca de 2 anos. Em investigação, obteve resultados de Antígeno Prostático Específico (PSA) elevados para os valores de referência em quatro exames, seguindo com realização de biópsia de próstata. O laudo histopatológico evidenciou granuloma calcificado em lobo direito e reação granulomatosa focal associada a ovos de Schistosoma mansoni em lobo esquerdo. Encaminhado para seguimento no serviço de infectologia do Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes (Hucam) onde foi tratado com praziquantel 40 mg/kg, em dose única. Em pesquisa de vínculo epidemiológico, paciente relata banhos em lagoas/rios de áreas rurais endêmicas. Neste caso, relatamos um acometimento prostático pelo S. mansoni, incomum para esta espécie, sendo o Schistosoma haematobium a mais comumente envolvida nas formas genitourinárias. É possível que a fêmea adulta tenha migrado através da circulação colateral e realizado a postura na próstata. Os ovos podem provocar inflamação granulomatosa, ulcerações e desenvolvimento de pseudopólipos que podem simular uma neoplasia. Ainda não está clara a associação entre S. mansoni e neoplasia de próstata, associação esta já estabelecida com o S. haematobium. O processo inflamatório crônico pode justificar o aumento do PSA. Apesar de rara, é possível a ocorrência da esquistossomose na próstata, devendo ser eventualmente colocada como diagnóstico diferencial nos acometimentos desse órgão, especialmente em pacientes provenientes de regiões endêmicas, com comportamento de risco.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"59 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136247298","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103185
Amanda Maria e Silva Coelho, João Pedro Rosa Barroncas, Júlia Duarte Diegues, Débora Alves Pereira, Thayane Moraes Lazaroni Dalpério, Ana Beathriz Barros de Azevedo Araújo, Verônica Silva Furlani, Martina Olivieri Pace Pereira, Isabella Pasqualotto, Lucas de Oliveira Barbosa, Luiza Barreto de Carvalho, Karen Cristiane Pereira de Morais
A Shiguelose é uma doença infecciosa gastrointestinal causada por bactérias gram-negativas não esporuladas. Reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um problema de saúde pública, possui ocorrência de 80 milhões de casos e 700.000 mortes por ano, afetando principalmente crianças de países em desenvolvimento. O objetivo do estudo é analisar o perfil epidemiológico das internações por Shiguelose no Brasil no período de 2013 a 2022. Trata-se de uma pesquisa transversal, quantitativa, descritiva e observacional, com dados coletados de janeiro de 2013 a dezembro de 2022. Assim, a análise deu-se pelo total de internações por Shiguelose no Brasil. A coleta de dados foi realizada através do Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), obtidos da plataforma DATASUS, utilizando os filtros “Região”, “Idade”, "Sexo", “caráter de atendimento”, “gastos hospitalares”, "taxa de letalidade", "Cor/raça" e “ano”. Do total de 1.794 internações por Shiguelose no Brasil, o Nordeste foi a região mais acometida (44,2%), seguido da região Norte, com 21,1%, sendo os anos de 2013, com 406 internações o mais incidente e 2021 com menor índice, com 77 internações, apresentando uma queda de 81% nesse período. Além disso, houve, ao total com gastos hospitalares, o valor de 638.754,18 reais, em que, dentro do caráter de atendimento, 1.697 (94,5%) foram de Urgência. Foi identificado que pardos (60,5%), sexo feminino (51%) e na faixa etária entre 01 e 04 anos, com 374 (17,5%) são as variáveis epidemiológicas mais acometidas. Ademais, os casos mostraram uma letalidade de 1,16%, com a região Sul apresentando-se mais predominante (1,88%), sendo o total de óbitos registrados de 21. No Brasil, entre 2013 e 2022, observou-se redução nos números de internações por Shiguelose. A região Nordeste foi a maior em número de casos notificados, porém a maior letalidade foi observada na região Sul. Além disso, nota-se a prevalência de casos em crianças, corroborando com a literatura. Portanto, garantir acesso de qualidade à Atenção Básica de Saúde é essencial para o controle da doença. O estudo apresentou limitações, tanto na subnotificação dos casos, quanto na impossibilidade de relacionar causa e efeito. Desse modo, estudos mais complexos são necessários para mapear essas categorias, com o intuito de desenvolver políticas públicas em saúde no Brasil.
{"title":"INTERNAÇÕES POR SHIGUELOSE NO BRASIL: UM RECORTE DE 10 ANOS","authors":"Amanda Maria e Silva Coelho, João Pedro Rosa Barroncas, Júlia Duarte Diegues, Débora Alves Pereira, Thayane Moraes Lazaroni Dalpério, Ana Beathriz Barros de Azevedo Araújo, Verônica Silva Furlani, Martina Olivieri Pace Pereira, Isabella Pasqualotto, Lucas de Oliveira Barbosa, Luiza Barreto de Carvalho, Karen Cristiane Pereira de Morais","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103185","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103185","url":null,"abstract":"A Shiguelose é uma doença infecciosa gastrointestinal causada por bactérias gram-negativas não esporuladas. Reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um problema de saúde pública, possui ocorrência de 80 milhões de casos e 700.000 mortes por ano, afetando principalmente crianças de países em desenvolvimento. O objetivo do estudo é analisar o perfil epidemiológico das internações por Shiguelose no Brasil no período de 2013 a 2022. Trata-se de uma pesquisa transversal, quantitativa, descritiva e observacional, com dados coletados de janeiro de 2013 a dezembro de 2022. Assim, a análise deu-se pelo total de internações por Shiguelose no Brasil. A coleta de dados foi realizada através do Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), obtidos da plataforma DATASUS, utilizando os filtros “Região”, “Idade”, \"Sexo\", “caráter de atendimento”, “gastos hospitalares”, \"taxa de letalidade\", \"Cor/raça\" e “ano”. Do total de 1.794 internações por Shiguelose no Brasil, o Nordeste foi a região mais acometida (44,2%), seguido da região Norte, com 21,1%, sendo os anos de 2013, com 406 internações o mais incidente e 2021 com menor índice, com 77 internações, apresentando uma queda de 81% nesse período. Além disso, houve, ao total com gastos hospitalares, o valor de 638.754,18 reais, em que, dentro do caráter de atendimento, 1.697 (94,5%) foram de Urgência. Foi identificado que pardos (60,5%), sexo feminino (51%) e na faixa etária entre 01 e 04 anos, com 374 (17,5%) são as variáveis epidemiológicas mais acometidas. Ademais, os casos mostraram uma letalidade de 1,16%, com a região Sul apresentando-se mais predominante (1,88%), sendo o total de óbitos registrados de 21. No Brasil, entre 2013 e 2022, observou-se redução nos números de internações por Shiguelose. A região Nordeste foi a maior em número de casos notificados, porém a maior letalidade foi observada na região Sul. Além disso, nota-se a prevalência de casos em crianças, corroborando com a literatura. Portanto, garantir acesso de qualidade à Atenção Básica de Saúde é essencial para o controle da doença. O estudo apresentou limitações, tanto na subnotificação dos casos, quanto na impossibilidade de relacionar causa e efeito. Desse modo, estudos mais complexos são necessários para mapear essas categorias, com o intuito de desenvolver políticas públicas em saúde no Brasil.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"40 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136247313","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103654
Ana Beatriz Floriano de Souza, Maria de Fátima Oliveira Hirth Ruiz, Rejane Kiyomi Furuya, Vanessa Cristina Luquini, Camila dos Santos Peres, Erick Souza Neri, Luana Graziely Parra da Silva, Giovanna Yamashita Tomita, Natalia Marciano de Araujo Ferreira, Andressa Midori Sakai, Tissiane Soares Seixas de Mattos, Ana Caroline Carvalho, Flávia Meneguetti Pieri
A forma pulmonar é manifestação mais comum e de maior repercussão de saúde pública da tuberculose, causada pelo Mycobacterium tuberculosis. A recidiva de tuberculose ocorre quando uma pessoa, que já teve a doença ativa previamente e recebeu alta após comprovação de cura ou conclusão do tratamento, volta a manifestá-la, seja por reativação endógena do bacilo ou por reinfecção exógena. O objetivo desse trabalho foi descrever os casos notificados de tuberculose pulmonar que manifestaram posteriormente recidiva, em indivíduos na faixa etária de 19 a 59 anos, entre 2016 e 2022, investigados no estado do Paraná. Estudo descritivo, baseado nos casos notificados de tuberculose pulmonar em recidiva, reportados no Sistema Nacional de Agravos de Notificação no estado do Paraná, entre os anos de 2016 até 2022, sob CAAE 38855820.6.0000.5231. Foram notificados 13947 casos de tuberculose, 9338 (67%) na forma pulmonar, 620 (6,6%) casos em recidiva. Desses, foram notificados mais casos nos anos de 2020 com 125 (20,2%) seguido de 2017, 117 (18,9%), com predomínio do sexo masculino com 468 casos (75,5%), 375 brancos (60,5%), 367 com até nove anos de estudos (59,2%). A mediana de idade foi 39,80 anos. Quanto às populações com risco acrescido, 99 eram privados de liberdade (16,0%), 57 estavam em situação de rua (9,2%), 4 profissionais da saúde (0,6%) e 4 imigrantes (0,6%). Nota-se que as notificações ao longo dos anos de recidiva em privados de liberdade aumentaram em 2020 (n = 25) e 2021 (n = 25), como também para os casos em situação de rua, 2020 (n = 15) e 2021 (n = 13). Quanto aos agravos, 250 eram tabagistas (40,3%), 192 alcoolistas (31,0%), 191 usuários de drogas ilícitas (30,8%), 88 desenvolveram AIDS (14,2%), 36 com diabetes (5,8%) e 18 transtornos mentais (2,9%). Dos casos de recidiva, 91 (14,7%) eram HIV positivos e 68 (11,0%) em uso de antirretroviral. Somente 437 (70,5%) realizavam o Tratamento Diretamente Observado. Obteve-se 352 curas (56,8%), 56 abandonos (9,0%), 14 óbitos por tuberculose (2,3%) e 28 droga resistente (4,5%). Observa-se maior prevalência para recidiva de tuberculose pulmonar em algumas populações-chave que apresentem comorbidades e práticas de risco acrescido como fatores importantes para novos casos. Deste modo, a rede de cuidado multidisciplinar para pessoas com tuberculose deve dar ênfase a essas populações prioritárias visando reduzir falhas terapêuticas e adesão ao tratamento.
{"title":"RECIDIVA DE TUBERCULOSE PULMONAR EM ADULTOS EM UM ESTADO DO SUL DO BRASIL","authors":"Ana Beatriz Floriano de Souza, Maria de Fátima Oliveira Hirth Ruiz, Rejane Kiyomi Furuya, Vanessa Cristina Luquini, Camila dos Santos Peres, Erick Souza Neri, Luana Graziely Parra da Silva, Giovanna Yamashita Tomita, Natalia Marciano de Araujo Ferreira, Andressa Midori Sakai, Tissiane Soares Seixas de Mattos, Ana Caroline Carvalho, Flávia Meneguetti Pieri","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103654","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103654","url":null,"abstract":"A forma pulmonar é manifestação mais comum e de maior repercussão de saúde pública da tuberculose, causada pelo Mycobacterium tuberculosis. A recidiva de tuberculose ocorre quando uma pessoa, que já teve a doença ativa previamente e recebeu alta após comprovação de cura ou conclusão do tratamento, volta a manifestá-la, seja por reativação endógena do bacilo ou por reinfecção exógena. O objetivo desse trabalho foi descrever os casos notificados de tuberculose pulmonar que manifestaram posteriormente recidiva, em indivíduos na faixa etária de 19 a 59 anos, entre 2016 e 2022, investigados no estado do Paraná. Estudo descritivo, baseado nos casos notificados de tuberculose pulmonar em recidiva, reportados no Sistema Nacional de Agravos de Notificação no estado do Paraná, entre os anos de 2016 até 2022, sob CAAE 38855820.6.0000.5231. Foram notificados 13947 casos de tuberculose, 9338 (67%) na forma pulmonar, 620 (6,6%) casos em recidiva. Desses, foram notificados mais casos nos anos de 2020 com 125 (20,2%) seguido de 2017, 117 (18,9%), com predomínio do sexo masculino com 468 casos (75,5%), 375 brancos (60,5%), 367 com até nove anos de estudos (59,2%). A mediana de idade foi 39,80 anos. Quanto às populações com risco acrescido, 99 eram privados de liberdade (16,0%), 57 estavam em situação de rua (9,2%), 4 profissionais da saúde (0,6%) e 4 imigrantes (0,6%). Nota-se que as notificações ao longo dos anos de recidiva em privados de liberdade aumentaram em 2020 (n = 25) e 2021 (n = 25), como também para os casos em situação de rua, 2020 (n = 15) e 2021 (n = 13). Quanto aos agravos, 250 eram tabagistas (40,3%), 192 alcoolistas (31,0%), 191 usuários de drogas ilícitas (30,8%), 88 desenvolveram AIDS (14,2%), 36 com diabetes (5,8%) e 18 transtornos mentais (2,9%). Dos casos de recidiva, 91 (14,7%) eram HIV positivos e 68 (11,0%) em uso de antirretroviral. Somente 437 (70,5%) realizavam o Tratamento Diretamente Observado. Obteve-se 352 curas (56,8%), 56 abandonos (9,0%), 14 óbitos por tuberculose (2,3%) e 28 droga resistente (4,5%). Observa-se maior prevalência para recidiva de tuberculose pulmonar em algumas populações-chave que apresentem comorbidades e práticas de risco acrescido como fatores importantes para novos casos. Deste modo, a rede de cuidado multidisciplinar para pessoas com tuberculose deve dar ênfase a essas populações prioritárias visando reduzir falhas terapêuticas e adesão ao tratamento.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"22 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136247469","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103662
Alexia Lavínia Holanda Gama, Mariana Ramos Andion, Laiz de Araujo Rufino, Regina Coeli Ferreira Ramos, Mayra Dias Carvalho
A tuberculose osteoarticular é uma apresentação rara da doença, correspondendo a apenas 1-3% dos casos e o acometimento de arco costal é extremamente incomum, principalmente em crianças. Descrevemos o caso de uma lactente com tuberculose de arco costal, como diagnóstico diferencial de neoplasia óssea. Lactente, sexo feminino, 1 ano e 4 meses, atendida no Hospital Oswaldo Cruz- Recife, com história de tumoração endurecida em tórax há 3 meses, com crescimento progressivo, sem sinais flogísticos ou sintomas sistêmicos associados. Lactente previamente hígida, calendário vacinal atualizado e sem epidemiologia conhecida para Tuberculose.Exame físico normal, exceto por uma área cicatricial palpável em topografia de arco costal à esquerda, sem sinais flogísticos ou lesões de pele adjacentes. A paciente já havia sido investigada em outros serviços, recebendo um diagnóstico provável de neoplasia óssea, devido aos achados de uma Ressonância magnética de Tórax que mostrava uma formação expansiva com componente de partes moles na porção anterior do 8 arco costal, medindo 3,3 × 2,0 cm nos maiores diâmetros. No entanto, o exame histopatológico da lesão revelou um processo inflamatório crônico granulomatoso necrotizante, sem sinais de malignidade. Levantado hipótese de Tuberculose de arco costal e solicitado uma Tomografia de Tórax para avaliar doença pulmonar concomitante (sem alterações) e o Teste de Mantoux, com resultado de 14 mm. Também foram realizados exames laboratoriais, incluindo sorologia para HIV que foi negativa. Após o diagnóstico, foi iniciado o tratamento com Rifampicina, Isoniazida, Pirazinamida e incluído Etambutol ao esquema, apesar de ser tratar de uma lactente, pela impossibilidade de se excluir doença vacinal causada pelo Mycobacterium bovis. Paciente segue clinicamente bem, realizando tratamento com duração programada de 12 e acompanhamento oftalmológico pelo uso do Eatmbutol. A tuberculose de arco costal é uma apresentação clínica rara de tuberculose extrapulmonar em crianças. No entanto, é importante considera-la como um diagnóstico diferencial em casos de tumorações ósseas, especialmente em áreas de alta prevalência da doença como o estado de Pernambuco. No Brasil, onde a a vacina BCG, que contém o Mycobactrerium bovis, é aplicada rotineiramente a todas as crianças ao nascimento, é importante sempre considerar esse tipo de mycobacterium como o agente causal da Tuberculose em lactentes vacinados.
{"title":"TUBERCULOSE DE ARCO COSTAL EM LACTENTE: UM RELATO DE CASO","authors":"Alexia Lavínia Holanda Gama, Mariana Ramos Andion, Laiz de Araujo Rufino, Regina Coeli Ferreira Ramos, Mayra Dias Carvalho","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103662","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103662","url":null,"abstract":"A tuberculose osteoarticular é uma apresentação rara da doença, correspondendo a apenas 1-3% dos casos e o acometimento de arco costal é extremamente incomum, principalmente em crianças. Descrevemos o caso de uma lactente com tuberculose de arco costal, como diagnóstico diferencial de neoplasia óssea. Lactente, sexo feminino, 1 ano e 4 meses, atendida no Hospital Oswaldo Cruz- Recife, com história de tumoração endurecida em tórax há 3 meses, com crescimento progressivo, sem sinais flogísticos ou sintomas sistêmicos associados. Lactente previamente hígida, calendário vacinal atualizado e sem epidemiologia conhecida para Tuberculose.Exame físico normal, exceto por uma área cicatricial palpável em topografia de arco costal à esquerda, sem sinais flogísticos ou lesões de pele adjacentes. A paciente já havia sido investigada em outros serviços, recebendo um diagnóstico provável de neoplasia óssea, devido aos achados de uma Ressonância magnética de Tórax que mostrava uma formação expansiva com componente de partes moles na porção anterior do 8 arco costal, medindo 3,3 × 2,0 cm nos maiores diâmetros. No entanto, o exame histopatológico da lesão revelou um processo inflamatório crônico granulomatoso necrotizante, sem sinais de malignidade. Levantado hipótese de Tuberculose de arco costal e solicitado uma Tomografia de Tórax para avaliar doença pulmonar concomitante (sem alterações) e o Teste de Mantoux, com resultado de 14 mm. Também foram realizados exames laboratoriais, incluindo sorologia para HIV que foi negativa. Após o diagnóstico, foi iniciado o tratamento com Rifampicina, Isoniazida, Pirazinamida e incluído Etambutol ao esquema, apesar de ser tratar de uma lactente, pela impossibilidade de se excluir doença vacinal causada pelo Mycobacterium bovis. Paciente segue clinicamente bem, realizando tratamento com duração programada de 12 e acompanhamento oftalmológico pelo uso do Eatmbutol. A tuberculose de arco costal é uma apresentação clínica rara de tuberculose extrapulmonar em crianças. No entanto, é importante considera-la como um diagnóstico diferencial em casos de tumorações ósseas, especialmente em áreas de alta prevalência da doença como o estado de Pernambuco. No Brasil, onde a a vacina BCG, que contém o Mycobactrerium bovis, é aplicada rotineiramente a todas as crianças ao nascimento, é importante sempre considerar esse tipo de mycobacterium como o agente causal da Tuberculose em lactentes vacinados.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"214 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136247474","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103572
Diego Michel Fernandes da Silva, Lívia do Carmo Silva, Juliana Santana de Curcio, Flávia Barreto de Sousa, Carlos Eduardo Anunciação
O potencial epidêmico do vírus Oropouche (OROV) demonstra a necessidade urgente de novos métodos de diagnóstico que possam ampliar os testes e fornecer resultados em menos tempo. A amplificação isotérmica mediada por transcrição reversa (RT-LAMP) é uma técnica molecular que possui alta especificidade, sensibilidade, rápida detecção e baixo custo, e está sendo amplamente utilizada no diagnóstico molecular. Portanto, o objetivo deste trabalho foi desenvolver e padronizar a técnica colorimétrica RT-LAMP para detecção do OROV. Reações de RT-LAMP foram realizadas utilizando o kit WarmStart LAMP colorimétrico 2x Master Mix, e o resultado foi determinado por avaliação visual através da mudança de cor do indicador de pH fenol vermelho. A concentração final dos reagentes, assim como a determinação da temperatura e tempo de reação otimizados. Um tempo máximo de reação de 25 minutos e a temperatura ideal de 67°C foram estabelecidos. O teste demonstrou alta sensibilidade em comparação com a RT-qPCR, sendo capaz de detectar cerca de uma cópia do vírus em poucos minutos e uma especificidade de 100% contra diversas arbovírus como Dengue, Zika, Chikungunya e Mayaro. A RT-LAMP para o vírus OROV é um diagnóstico inédito e de grande importância para auxiliar hospitais e centros de saúde ao redor do mundo no diagnóstico desse patógeno, que muitas vezes é confundido com outras arboviroses. Além disso, poderia ser uma ferramenta útil para vigilância epidemiológica do OROV, alertando a população sobre os possíveis riscos de surtos endêmicos desse vírus no país e auxiliando no controle desse patógeno negligenciado.
{"title":"QUEBRANDO AS BARREIRAS DO DIAGNÓSTICO DO VÍRUS OROPOUCHE: UM MÉTODO RÁPIDO DE DIAGNÓSTICO MOLECULAR USANDO AMPLIFICAÇÃO ISOTÉRMICA MEDIADA POR LOOP","authors":"Diego Michel Fernandes da Silva, Lívia do Carmo Silva, Juliana Santana de Curcio, Flávia Barreto de Sousa, Carlos Eduardo Anunciação","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103572","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103572","url":null,"abstract":"O potencial epidêmico do vírus Oropouche (OROV) demonstra a necessidade urgente de novos métodos de diagnóstico que possam ampliar os testes e fornecer resultados em menos tempo. A amplificação isotérmica mediada por transcrição reversa (RT-LAMP) é uma técnica molecular que possui alta especificidade, sensibilidade, rápida detecção e baixo custo, e está sendo amplamente utilizada no diagnóstico molecular. Portanto, o objetivo deste trabalho foi desenvolver e padronizar a técnica colorimétrica RT-LAMP para detecção do OROV. Reações de RT-LAMP foram realizadas utilizando o kit WarmStart LAMP colorimétrico 2x Master Mix, e o resultado foi determinado por avaliação visual através da mudança de cor do indicador de pH fenol vermelho. A concentração final dos reagentes, assim como a determinação da temperatura e tempo de reação otimizados. Um tempo máximo de reação de 25 minutos e a temperatura ideal de 67°C foram estabelecidos. O teste demonstrou alta sensibilidade em comparação com a RT-qPCR, sendo capaz de detectar cerca de uma cópia do vírus em poucos minutos e uma especificidade de 100% contra diversas arbovírus como Dengue, Zika, Chikungunya e Mayaro. A RT-LAMP para o vírus OROV é um diagnóstico inédito e de grande importância para auxiliar hospitais e centros de saúde ao redor do mundo no diagnóstico desse patógeno, que muitas vezes é confundido com outras arboviroses. Além disso, poderia ser uma ferramenta útil para vigilância epidemiológica do OROV, alertando a população sobre os possíveis riscos de surtos endêmicos desse vírus no país e auxiliando no controle desse patógeno negligenciado.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"27 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136247476","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103444
Luís Arthur Brasil Gadelha Farias, Ruth Maria Oliveira de Araujo, Kelma Maria Maia, Madalena Quinto de Azevedo, Karene Ferreira Cavalcante, Larissa Leão Ferrer de Sousa, Tania Mara Silva Coelho, Lauro Vieira Perdigão Neto
A raiva humana(RH) é uma zoonose transmitida ao homem pela inoculação do vírus rábico contido na saliva e secreções do animal infectado, através de mordedura ou arranhadura. Dentre os principais reservatórios da raiva no Brasil, encontram-se os saguis de tufo branco (Callithrix jacchus), pequenos primatas diurnos que se alimentam de frutos e insetos. Esse trabalho objetiva descrever um caso de RH em paciente do Ceará, com SARS-CoV-2, após mordedura por sagui. O presente trabalho foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa do Hospital São José de Doenças Infecciosas (HSJ) (Protocolo N° 6.075.627). Homem, 36 anos, natural de Cariús-CE, procurou atendimento em maio/2023 em UBS com história de trauma por arma branca, queixando-se de parestesia e dor em membro superior direito. Naquele momento, não relatou agressão por animal. Após 2 meses, deu entrada na emergência com quadro de agitação psicomotora, desorientação, espasmos musculares e diaforese. Após inquérito epidemiológico, familiares informaram que o paciente sofreu mordedura por sagui no punho direito em fevereiro/2023. O paciente não recebeu profilaxia antirrábica. Após 48h, evoluiu com rebaixamento do sensório, necessitando de ventilação mecânica e suporte intensivo. Iniciado vitamina C EV 1g/dia e Amantadina 100mg VO de 12/12h, além de sedação com midazolam e ketamina conforme protocolo de Milwaukee. Punção lombar revelou líquor límpido, glicorraquia 46 mg/dL, proteinorraquia 181 mg/dL, celularidade de 68 cel/mm³. RT-PCR para Covid-19 em amostra respiratória resultou positivo. No 6° dia, paciente evoluiu com disautonomia e bradicardia refratária às medidas clínicas evoluindo a óbito. A investigação para RH evidenciou: imunofluorescência direta(IFD) do LCR e RT-PCR de amostras de saliva foram negativas. A biópsia de nuca e de tecido encefálico coletado post-mortem foram positivas para a raiva na IFD. A maioria dos casos de RH tem ocorrido após agressão de animais selvagens e de interesse econômico. Um caso de RH no Ceará não era registrado há 7 anos. O último caso de RH por mordedura de sagui ocorreu em 2012. Inquéritos epidemiológicos evidenciaram novas linhagens do RABV circulando nestes animais. O período de incubação apresentado foi de 60 dias e a sintomatologia ocorreu durante a coinfecção com COVID-19. Provavelmente não houve relação entre as doenças. A conscientização da população e a profilaxia antirrábica ainda são fundamentais.
{"title":"CASO DE RAIVA HUMANA APÓS MORDEDURA POR SAGUI (CALLITHRIX JACCHUS) EM PACIENTE COM COVID-19: EVOLUÇÃO CLÍNICA, CUIDADOS INTENSIVOS E CONTEXTO EPIDEMIOLÓGICO","authors":"Luís Arthur Brasil Gadelha Farias, Ruth Maria Oliveira de Araujo, Kelma Maria Maia, Madalena Quinto de Azevedo, Karene Ferreira Cavalcante, Larissa Leão Ferrer de Sousa, Tania Mara Silva Coelho, Lauro Vieira Perdigão Neto","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103444","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103444","url":null,"abstract":"A raiva humana(RH) é uma zoonose transmitida ao homem pela inoculação do vírus rábico contido na saliva e secreções do animal infectado, através de mordedura ou arranhadura. Dentre os principais reservatórios da raiva no Brasil, encontram-se os saguis de tufo branco (Callithrix jacchus), pequenos primatas diurnos que se alimentam de frutos e insetos. Esse trabalho objetiva descrever um caso de RH em paciente do Ceará, com SARS-CoV-2, após mordedura por sagui. O presente trabalho foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa do Hospital São José de Doenças Infecciosas (HSJ) (Protocolo N° 6.075.627). Homem, 36 anos, natural de Cariús-CE, procurou atendimento em maio/2023 em UBS com história de trauma por arma branca, queixando-se de parestesia e dor em membro superior direito. Naquele momento, não relatou agressão por animal. Após 2 meses, deu entrada na emergência com quadro de agitação psicomotora, desorientação, espasmos musculares e diaforese. Após inquérito epidemiológico, familiares informaram que o paciente sofreu mordedura por sagui no punho direito em fevereiro/2023. O paciente não recebeu profilaxia antirrábica. Após 48h, evoluiu com rebaixamento do sensório, necessitando de ventilação mecânica e suporte intensivo. Iniciado vitamina C EV 1g/dia e Amantadina 100mg VO de 12/12h, além de sedação com midazolam e ketamina conforme protocolo de Milwaukee. Punção lombar revelou líquor límpido, glicorraquia 46 mg/dL, proteinorraquia 181 mg/dL, celularidade de 68 cel/mm³. RT-PCR para Covid-19 em amostra respiratória resultou positivo. No 6° dia, paciente evoluiu com disautonomia e bradicardia refratária às medidas clínicas evoluindo a óbito. A investigação para RH evidenciou: imunofluorescência direta(IFD) do LCR e RT-PCR de amostras de saliva foram negativas. A biópsia de nuca e de tecido encefálico coletado post-mortem foram positivas para a raiva na IFD. A maioria dos casos de RH tem ocorrido após agressão de animais selvagens e de interesse econômico. Um caso de RH no Ceará não era registrado há 7 anos. O último caso de RH por mordedura de sagui ocorreu em 2012. Inquéritos epidemiológicos evidenciaram novas linhagens do RABV circulando nestes animais. O período de incubação apresentado foi de 60 dias e a sintomatologia ocorreu durante a coinfecção com COVID-19. Provavelmente não houve relação entre as doenças. A conscientização da população e a profilaxia antirrábica ainda são fundamentais.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"78 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136247483","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103521
Beatriz Nobre Monteiro Paiatto, Julia Ferreira Mari, Vitor Ciampone Arcieri, Beatriz Keiko Zambon, Ho Yeh Li
Relatamos um caso de tétano ascendente generalizado acidental com apresentação atípica, quadro inicial predominantemente abdominal, que levou ao diagnóstico errôneo de abdome agudo cirúrgico. Reconhecimento dessa forma de apresentação é fundamental para evitar iatrogenia e permitir o manejo adequado do paciente. Paciente masculino, 49 anos, natural e procedente de Bragança Paulista – SP, pedreiro, hipertenso, tabagista e etilista, sem histórico vacinal. Busca atendimento de urgência devido à dor abdominal difusa, com piora progressiva há 2 semanas, sem alteração do hábito intestinal, e queda da própria altura por fraqueza em região lombar. Em exame físico foi documentado abdome em tábua, sendo assim submetido a videolaparoscopia de urgência, sem achados relevantes. Em primeiro pós operatório, paciente apresentou hipertonia generalizada, febre e trismo evoluindo com opistótono, necessitando de intubação orotraqueal. Com revisão de histórico, recuperou-se a informação de acidente pérfuro-cortante com prego no pé esquerdo há 20 dias de sua admissão. Foi realizado o diagnóstico de tétano, sendo assim o paciente transferido para UTI de Moléstias Infecciosas e Parasitárias do HCFMUSP. Paciente recebeu imunoglobulina antitetânica, desbridamento cirúrgico de lesão em membro inferior esquerdo e traqueostomia. Necessitou dose máxima de otmail de até 5mg/Kg/d (que eu me lembro foi isso) em bomba de infusão contínua e antibioticoterapia com Metronidazol por 7 dias. Após 20 dias em UTI, paciente recebe alta para enfermaria para reabilitação física e redução progressiva de benzodiazepínicos com alta hospitalar após 35 dias de internação. Recebeu vacinação após 15 dias das doses de imunoglobulina. Apesar de ser uma doença prevenível por vacinação, estima-se que o tétano ocasione 293.000 mortes em todo o mundo anualmente com distribuição desproporcional afetando principalmente países em desenvolvimento. No Brasil, aproximadamente 300 casos são relatados anualmente nos últimos 20 anos, tornando uma doença cada vez menos vista pelos profissionais de saúde. Este relato contribui para o reconhecimento precoce da doença, colaborando com o início do tratamento adequado, reduzindo assim os riscos de morbidade e mortalidade desta doença.
{"title":"CASO DE TÉTANO ACIDENTAL ASCENDENTE GENERALIZADO CONFUNDIDO COM ABDOME AGUDO CIRÚRGICO","authors":"Beatriz Nobre Monteiro Paiatto, Julia Ferreira Mari, Vitor Ciampone Arcieri, Beatriz Keiko Zambon, Ho Yeh Li","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103521","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103521","url":null,"abstract":"Relatamos um caso de tétano ascendente generalizado acidental com apresentação atípica, quadro inicial predominantemente abdominal, que levou ao diagnóstico errôneo de abdome agudo cirúrgico. Reconhecimento dessa forma de apresentação é fundamental para evitar iatrogenia e permitir o manejo adequado do paciente. Paciente masculino, 49 anos, natural e procedente de Bragança Paulista – SP, pedreiro, hipertenso, tabagista e etilista, sem histórico vacinal. Busca atendimento de urgência devido à dor abdominal difusa, com piora progressiva há 2 semanas, sem alteração do hábito intestinal, e queda da própria altura por fraqueza em região lombar. Em exame físico foi documentado abdome em tábua, sendo assim submetido a videolaparoscopia de urgência, sem achados relevantes. Em primeiro pós operatório, paciente apresentou hipertonia generalizada, febre e trismo evoluindo com opistótono, necessitando de intubação orotraqueal. Com revisão de histórico, recuperou-se a informação de acidente pérfuro-cortante com prego no pé esquerdo há 20 dias de sua admissão. Foi realizado o diagnóstico de tétano, sendo assim o paciente transferido para UTI de Moléstias Infecciosas e Parasitárias do HCFMUSP. Paciente recebeu imunoglobulina antitetânica, desbridamento cirúrgico de lesão em membro inferior esquerdo e traqueostomia. Necessitou dose máxima de otmail de até 5mg/Kg/d (que eu me lembro foi isso) em bomba de infusão contínua e antibioticoterapia com Metronidazol por 7 dias. Após 20 dias em UTI, paciente recebe alta para enfermaria para reabilitação física e redução progressiva de benzodiazepínicos com alta hospitalar após 35 dias de internação. Recebeu vacinação após 15 dias das doses de imunoglobulina. Apesar de ser uma doença prevenível por vacinação, estima-se que o tétano ocasione 293.000 mortes em todo o mundo anualmente com distribuição desproporcional afetando principalmente países em desenvolvimento. No Brasil, aproximadamente 300 casos são relatados anualmente nos últimos 20 anos, tornando uma doença cada vez menos vista pelos profissionais de saúde. Este relato contribui para o reconhecimento precoce da doença, colaborando com o início do tratamento adequado, reduzindo assim os riscos de morbidade e mortalidade desta doença.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"27 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136247492","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}