Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103653
Brener Rafael Nascimento, Elízia Carolline Rodrigues Araujo, Jairo Martínez Zapata, Manuel Renato Retamozo Palacios
A hanseníase é uma doença infecciosa crônica causada pelo Mycobacterium leprae, um bacilo álcool-ácido resistente que se multiplica lentamente. Indivíduos não tratados com alta carga bacteriana são a principal fonte de infecção, eliminando o bacilo pelas vias aéreas superiores e servindo como porta de entrada para o patógeno. A transmissão ocorre por meio do contato direto de pessoa para pessoa, sendo facilitada pelo convívio próximo de pessoas doentes não tratadas com indivíduos susceptíveis. VMSC, 23 anos, masculino, desempregado, admitido no Hospital Regional de Taguatinga (HRT) em 19/05/2023, relatando artralgia em joelhos e mãos com rigidez matinal há 3 anos, além de perda progressiva de pelos (madarose) e dor nos pés bilateralmente, com piora no último mês. Há mais de um ano, iniciou corticoterapia em altas doses por conta própria, o que proporcionou alívio parcial da dor. Mencionou ter episódios frequentes de epistaxe e rinite alérgica, que resultaram em perfuração do septo nasal confirmada por videoendoscopia nasal. Há um ano, o paciente procurou atendimento médico devido a manchas hipercrômicas na pele com aumento de VHS e PCR. O exame de FAN revelou um padrão nuclear pontilhado fino 1/320, enquanto o fator reumatoide foi negativo. A dose de corticoterapia foi reduzida, e o paciente iniciou o uso de hidroxicloroquina, metotrexato e ácido fólico. No momento da admissão, estava em uso de cadeira de rodas, com dificuldade de locomoção devido à piora da dor. Apresentava febre há 4 dias, deformidades faciais, mão em garra, hiperemia, calor local e edema nos pés, além de perda da sensibilidade protetora e lesões cutâneas difusas com perda da sensibilidade local. Realizou eletroneuromiografia que indicava uma neuropatia focal desmielinizante no nervo ulnar direito. Com base nesses achados, foi diagnosticado com hanseníase virchowiana multibacilar e estado reacional hansênico tipo I. As medicações prévias foram suspensas; baciloscopia foi realizada em esfregaço de raspado intradérmico, que posteriormente se mostrou positiva. O tratamento foi iniciado com poliquimioterapia com previsão de 12 meses. Além disso, foi prescrita prednisona em desmame progressivo. Recebeu alta em 12/06/23, conseguindo se locomover sem auxílio e com melhora das dores. É importante ressaltar que a dificuldade no diagnóstico e o atraso no início do tratamento podem levar a sequelas graves. Portanto, a hanseníase não deve ser negligenciada, especialmente em áreas endêmicas.
{"title":"REAÇÃO HANSÊNICA TIPO I EM PACIENTE JOVEM: RELATO DE CASO.","authors":"Brener Rafael Nascimento, Elízia Carolline Rodrigues Araujo, Jairo Martínez Zapata, Manuel Renato Retamozo Palacios","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103653","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103653","url":null,"abstract":"A hanseníase é uma doença infecciosa crônica causada pelo Mycobacterium leprae, um bacilo álcool-ácido resistente que se multiplica lentamente. Indivíduos não tratados com alta carga bacteriana são a principal fonte de infecção, eliminando o bacilo pelas vias aéreas superiores e servindo como porta de entrada para o patógeno. A transmissão ocorre por meio do contato direto de pessoa para pessoa, sendo facilitada pelo convívio próximo de pessoas doentes não tratadas com indivíduos susceptíveis. VMSC, 23 anos, masculino, desempregado, admitido no Hospital Regional de Taguatinga (HRT) em 19/05/2023, relatando artralgia em joelhos e mãos com rigidez matinal há 3 anos, além de perda progressiva de pelos (madarose) e dor nos pés bilateralmente, com piora no último mês. Há mais de um ano, iniciou corticoterapia em altas doses por conta própria, o que proporcionou alívio parcial da dor. Mencionou ter episódios frequentes de epistaxe e rinite alérgica, que resultaram em perfuração do septo nasal confirmada por videoendoscopia nasal. Há um ano, o paciente procurou atendimento médico devido a manchas hipercrômicas na pele com aumento de VHS e PCR. O exame de FAN revelou um padrão nuclear pontilhado fino 1/320, enquanto o fator reumatoide foi negativo. A dose de corticoterapia foi reduzida, e o paciente iniciou o uso de hidroxicloroquina, metotrexato e ácido fólico. No momento da admissão, estava em uso de cadeira de rodas, com dificuldade de locomoção devido à piora da dor. Apresentava febre há 4 dias, deformidades faciais, mão em garra, hiperemia, calor local e edema nos pés, além de perda da sensibilidade protetora e lesões cutâneas difusas com perda da sensibilidade local. Realizou eletroneuromiografia que indicava uma neuropatia focal desmielinizante no nervo ulnar direito. Com base nesses achados, foi diagnosticado com hanseníase virchowiana multibacilar e estado reacional hansênico tipo I. As medicações prévias foram suspensas; baciloscopia foi realizada em esfregaço de raspado intradérmico, que posteriormente se mostrou positiva. O tratamento foi iniciado com poliquimioterapia com previsão de 12 meses. Além disso, foi prescrita prednisona em desmame progressivo. Recebeu alta em 12/06/23, conseguindo se locomover sem auxílio e com melhora das dores. É importante ressaltar que a dificuldade no diagnóstico e o atraso no início do tratamento podem levar a sequelas graves. Portanto, a hanseníase não deve ser negligenciada, especialmente em áreas endêmicas.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"7 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136247467","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103666
Laura Alves Moreira Novaes, Andressa Midori Sakai, Larissa Cristina Santos de Lima, Lívia Laís Coutinho dos Santos, Maria Fernanda Milani Lazaretti, Maria Gabrielle Felizardo Alves, Tissiane Soares Seixas de Mattos, Natalia Marciano de Araujo Ferreira, Giovanna Yamashita Tomita, Renata Pires de Arruda Faggion, Francielly Palhano Gregorio, Gilselena Kerbauy, Flávia Meneguetti Pieri
O combate à tuberculose persiste como desafio para a saúde pública no Brasil. E quando associado ao envelhecimento populacional, os idosos são mais susceptíveis a diversas doenças, entre elas a tuberculose. Assim, objetivou-se caracterizar os casos de tuberculose pulmonar notificados na população maior de 60 anos, entre os anos de 2016 a 2021, no estado do Paraná, segundo os fatores sociodemográficos e epidemiológicos. Trata-se de um estudo quantitativo e transversal, utilizando banco de dados do Sistema de Informações de Agravos e Notificação, no período de 2016 a 2021. Os dados foram analisados por meio do software Statistical Package for the Social Science, versão 22.0, por meio de frequência simples e relativa e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob CAAE (38855820.6.0000.5231). Foram notificados 1623 casos de tuberculose pulmonar em idosos de 60 a 97 anos. Quanto ao perfil sociodemográfico, 71% (n = 1152) eram do sexo masculino, 70,2% (n = 1139) cor branca, 8,5% com idade de 61 anos, 59,2% (n = 961) com até 9 anos de estudo, 26,5% (n = 430) estudaram da 1ª à 4ª série do fundamental, 89,7% (n = 1456) residentes em zona urbana, 96,3% (n = 1563) sem privação de liberdade, 95,0% (n = 1542) não estavam em situação de rua e 81,9% (n = 1329) não eram beneficiários de programas de transferência de renda do governo. Com relação ao tipo de casos 84,5% (n = 1372) eram casos novos, 6,4%(n=104) transferência, 6,3% (n =102) recidiva, 1,1% (n = 18) abandono, 0,8% (n = 13) eram pós óbitos e 0,9% (n = 14) não referido. Para o diagnóstico 81,6% (n = 1325) apresentaram raios-X de tórax suspeito, 53,7% (n = 871) baciloscopia de escarro positiva 28,5% (n = 462) cultura de escarro positiva. Aos agravos associados, destaca-se diabetes mellitus 21,1% (n = 343) e tabagistas 26,2% (n = 425). No encerramento dos casos, 53,7% (n = 872) evoluíram para cura, 2,2% (n = 35) abandono e 0,1% (n = 1) abandono primário. Quanto ao perfil epidemiológico, 31,1% (n = 504) dos casos ocorreram na 2ª Regional de Saúde do estado e em relação ao porte dos municípios, aqueles de grande porte 57,9% (n = 939) e pequeno porte 34,1% (n = 554) foram os mais notórios. O ano de 2021 apresentou a maior taxa (22,9%) e 2019 à menor (7,8%). A maioria dos casos de tuberculose em idosos foi do sexo masculino, raça/cor branca, com baixa escolaridade e um aumento de casos no ano de 2021, reforçando a necessidade de realizar ações mais assertivas de controle e acompanhamento nessa população.
{"title":"TUBERCULOSE PULMONAR NA POPULAÇÃO IDOSA DO ESTADO DO PARANÁ: PERFIL EPIDEMIOLÓGICO E SOCIODEMOGRÁFICO","authors":"Laura Alves Moreira Novaes, Andressa Midori Sakai, Larissa Cristina Santos de Lima, Lívia Laís Coutinho dos Santos, Maria Fernanda Milani Lazaretti, Maria Gabrielle Felizardo Alves, Tissiane Soares Seixas de Mattos, Natalia Marciano de Araujo Ferreira, Giovanna Yamashita Tomita, Renata Pires de Arruda Faggion, Francielly Palhano Gregorio, Gilselena Kerbauy, Flávia Meneguetti Pieri","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103666","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103666","url":null,"abstract":"O combate à tuberculose persiste como desafio para a saúde pública no Brasil. E quando associado ao envelhecimento populacional, os idosos são mais susceptíveis a diversas doenças, entre elas a tuberculose. Assim, objetivou-se caracterizar os casos de tuberculose pulmonar notificados na população maior de 60 anos, entre os anos de 2016 a 2021, no estado do Paraná, segundo os fatores sociodemográficos e epidemiológicos. Trata-se de um estudo quantitativo e transversal, utilizando banco de dados do Sistema de Informações de Agravos e Notificação, no período de 2016 a 2021. Os dados foram analisados por meio do software Statistical Package for the Social Science, versão 22.0, por meio de frequência simples e relativa e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob CAAE (38855820.6.0000.5231). Foram notificados 1623 casos de tuberculose pulmonar em idosos de 60 a 97 anos. Quanto ao perfil sociodemográfico, 71% (n = 1152) eram do sexo masculino, 70,2% (n = 1139) cor branca, 8,5% com idade de 61 anos, 59,2% (n = 961) com até 9 anos de estudo, 26,5% (n = 430) estudaram da 1ª à 4ª série do fundamental, 89,7% (n = 1456) residentes em zona urbana, 96,3% (n = 1563) sem privação de liberdade, 95,0% (n = 1542) não estavam em situação de rua e 81,9% (n = 1329) não eram beneficiários de programas de transferência de renda do governo. Com relação ao tipo de casos 84,5% (n = 1372) eram casos novos, 6,4%(n=104) transferência, 6,3% (n =102) recidiva, 1,1% (n = 18) abandono, 0,8% (n = 13) eram pós óbitos e 0,9% (n = 14) não referido. Para o diagnóstico 81,6% (n = 1325) apresentaram raios-X de tórax suspeito, 53,7% (n = 871) baciloscopia de escarro positiva 28,5% (n = 462) cultura de escarro positiva. Aos agravos associados, destaca-se diabetes mellitus 21,1% (n = 343) e tabagistas 26,2% (n = 425). No encerramento dos casos, 53,7% (n = 872) evoluíram para cura, 2,2% (n = 35) abandono e 0,1% (n = 1) abandono primário. Quanto ao perfil epidemiológico, 31,1% (n = 504) dos casos ocorreram na 2ª Regional de Saúde do estado e em relação ao porte dos municípios, aqueles de grande porte 57,9% (n = 939) e pequeno porte 34,1% (n = 554) foram os mais notórios. O ano de 2021 apresentou a maior taxa (22,9%) e 2019 à menor (7,8%). A maioria dos casos de tuberculose em idosos foi do sexo masculino, raça/cor branca, com baixa escolaridade e um aumento de casos no ano de 2021, reforçando a necessidade de realizar ações mais assertivas de controle e acompanhamento nessa população.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"68 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136247472","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103580
Ana Yecê das Neves Pinto, Jessica Cristina T. Vasques dos Santos, Marcus Dimitri Pontes de Oliveira, Alan Diego Moura de Farias, Aguinaldo Moura de Freitas
A doença de Chagas aguda no Pará representa um desafio aos órgãos de vigilância e controle se apresentando com uma epidemiologia inusitada e padrões repetitivos de ocorrências acidentais de transmissão predominantemente por via oral quase sempre envolvendo vetores silvestres. Estes, a despeito de não estarem domiciliados, constituem um elo forte da cadeia de transmissão a humanos, seja de forma direta por sua dispersão facilitada por alterações climáticas e ação antrópica ou indireta, e cada vez mais têm se aproximado de populações vulneráveis. Neste relato apresentamos o caso de lactente, residente na capital que entrou em contato com triatomíneo na sacada do apartamento residencial e desenvolveu infecção aguda. No dia 23 de maio/2023, um lactente do sexo masculino de nove meses, residente de área urbana em Belém, foi encontrado pela mãe com um inseto suspeito parcialmente mastigado na boca. No dia 24, a família levou o inseto ao Posto de Informações de Triatomíneos (PIT) do Instituto Evandro Chagas (IEC) e o mesmo foi identificado como um triatomíneo do gênero Rhodnius, porém sem condições para exame de infectividade. A criança estava assintomática e foi submetida ao protocolo de vigilância com coleta de sorologias iniciais, sendo os resultados desta primeira coleta todos negativos. A mãe foi instruída a procurar o serviço caso o lactente apresentasse febre. Em 15 de junho, antes de sua 2ª visita protocolar, o lactente retornou ao IEC apresentando episódios febris há três dias, registrando temperaturas de 38,3°C e 37,5°, sem outros sintomas. Foi submetido a exame parasitológico (gota espessa), confirmando a presença de Trypanosoma cruzi quantificando-se 15 parasitas em 200 campos examinados. O caso foi notificado como Doença de Chagas Aguda e o tratamento específico iniciado imediatamente, com acompanhamento clínico no IEC. Exame ecocardiográfico normal e sorologias sequenciais negativas (sem viragem). Foram desencadeadas ações de busca ativa entomológica em esforço conjunto com a vigilância epidemiológica municipal e não foram encontrados outros insetos. Exames realizados nos contatos familiares todos assintomáticos, tiveram resultados negativos, descartando outras possíveis formas de transmissão. Os autores discutem a aproximação dos insetos às populações vulneráveis e comparam à situações similares de áreas clássicas de transmissão vetorial e, mais recentemente, também na Amazônia em regiões ribeirinhas.
{"title":"TRANSMISSÃO VETORIAL-ORAL DE DOENÇA DE CHAGAS EM LACTENTE DE ÁREA URBANA EM BELÉM, AMAZÔNIA: RELATO DE CASO E DISCUSSÃO DE INOVAÇÕES PARA ESTRATÉGIA PITS EM POPULAÇÕES VULNERÁVEIS","authors":"Ana Yecê das Neves Pinto, Jessica Cristina T. Vasques dos Santos, Marcus Dimitri Pontes de Oliveira, Alan Diego Moura de Farias, Aguinaldo Moura de Freitas","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103580","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103580","url":null,"abstract":"A doença de Chagas aguda no Pará representa um desafio aos órgãos de vigilância e controle se apresentando com uma epidemiologia inusitada e padrões repetitivos de ocorrências acidentais de transmissão predominantemente por via oral quase sempre envolvendo vetores silvestres. Estes, a despeito de não estarem domiciliados, constituem um elo forte da cadeia de transmissão a humanos, seja de forma direta por sua dispersão facilitada por alterações climáticas e ação antrópica ou indireta, e cada vez mais têm se aproximado de populações vulneráveis. Neste relato apresentamos o caso de lactente, residente na capital que entrou em contato com triatomíneo na sacada do apartamento residencial e desenvolveu infecção aguda. No dia 23 de maio/2023, um lactente do sexo masculino de nove meses, residente de área urbana em Belém, foi encontrado pela mãe com um inseto suspeito parcialmente mastigado na boca. No dia 24, a família levou o inseto ao Posto de Informações de Triatomíneos (PIT) do Instituto Evandro Chagas (IEC) e o mesmo foi identificado como um triatomíneo do gênero Rhodnius, porém sem condições para exame de infectividade. A criança estava assintomática e foi submetida ao protocolo de vigilância com coleta de sorologias iniciais, sendo os resultados desta primeira coleta todos negativos. A mãe foi instruída a procurar o serviço caso o lactente apresentasse febre. Em 15 de junho, antes de sua 2ª visita protocolar, o lactente retornou ao IEC apresentando episódios febris há três dias, registrando temperaturas de 38,3°C e 37,5°, sem outros sintomas. Foi submetido a exame parasitológico (gota espessa), confirmando a presença de Trypanosoma cruzi quantificando-se 15 parasitas em 200 campos examinados. O caso foi notificado como Doença de Chagas Aguda e o tratamento específico iniciado imediatamente, com acompanhamento clínico no IEC. Exame ecocardiográfico normal e sorologias sequenciais negativas (sem viragem). Foram desencadeadas ações de busca ativa entomológica em esforço conjunto com a vigilância epidemiológica municipal e não foram encontrados outros insetos. Exames realizados nos contatos familiares todos assintomáticos, tiveram resultados negativos, descartando outras possíveis formas de transmissão. Os autores discutem a aproximação dos insetos às populações vulneráveis e comparam à situações similares de áreas clássicas de transmissão vetorial e, mais recentemente, também na Amazônia em regiões ribeirinhas.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"15 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136247480","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103443
Maria Clara Barros Santos, Vinícius Vianney, Nicholas Lourenço Malta, Marília Gabriela Barbosa da Silva, Laryssa Bandeira de Melo Silva, Matheus Azevedo Bomfim, Gabriel Freitas Araújo, Kameelah Gomes de Miranda, João Guilherme Rattes Lima de Freitas, José Anchieta de Brito, Paula Machado Ribeiro Magalhães, Patrícia Muniz Mendes Freire de Moura
O sono é fundamental para a manutenção das condições fisiológicas do corpo. A redução do sono pode ter efeitos deletérios, como aumento na secreção de proteína C-reativa e interleucina-6, além de ser um fator de progressão acelerada de doenças crônicas e inflamatórias. As infecções sexualmente transmissíveis causadas por retrovírus, como o vírus linfotrópico das células T humanas (HTLV), podem afetar a qualidade do sono devido à ativação do sistema imunológico e à produção de citocinas pró-inflamatórias. Assim, esse estudo objetiva caracterizar a qualidade do sono em pacientes com HTLV. Trata-se de um estudo observacional realizado em pacientes com HTLV acompanhados no ambulatório de cuidados paliativos do Hospital Oswaldo Cruz (HUOC/PE). Os critérios de inclusão para os pacientes são: ter mais de 18 anos, ter o diagnóstico confirmado de HTLV e não ter outras infecções concomitantes, exceto a infecção associada de HTLV e HIV. Foi utilizado o Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh, o qual possui 19 questões e avalia sete componentes do sono, sendo o escore máximo 21 pontos. Pontuações entre 0 e 4 são consideradas boas, entre 5 e 10, indicativas de qualidade do sono ruim, e acima de 10, presença de distúrbio do sono. Ao total foram entrevistados 55 pacientes, sendo 38 mulheres (69.09%) e 17 homens (30.91%) com uma média de 48 anos, com os valores variando entre 21 e 74, que foram diagnosticados entre 1998 e 2023, sendo 2019 a mediana. Em média, o índice de qualidade do sono dos pacientes foi 8.44. 29.09% apresentaram um sono considerado bom; 41.82% ruim; 29.09% classificaram com distúrbio do sono. Os componentes mais pontuados foram “latência do sono” (95 pontos na soma total) e “distúrbios do sono” (91 pontos na soma total). Tais dados indicam a possível associação da infecção pelo HTLV com a piora do sono. Reforçando a importância de avaliar a qualidade do sono como parte integrante do manejo desses pacientes. A identificação precoce e o tratamento adequado dos distúrbios do sono podem contribuir para a melhoria da qualidade de vida e para o quadro geral da condição clínica dos pacientes com HTLV.
{"title":"CARACTERIZAÇÃO DA QUALIDADE DO SONO EM PACIENTES COM HTLV","authors":"Maria Clara Barros Santos, Vinícius Vianney, Nicholas Lourenço Malta, Marília Gabriela Barbosa da Silva, Laryssa Bandeira de Melo Silva, Matheus Azevedo Bomfim, Gabriel Freitas Araújo, Kameelah Gomes de Miranda, João Guilherme Rattes Lima de Freitas, José Anchieta de Brito, Paula Machado Ribeiro Magalhães, Patrícia Muniz Mendes Freire de Moura","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103443","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103443","url":null,"abstract":"O sono é fundamental para a manutenção das condições fisiológicas do corpo. A redução do sono pode ter efeitos deletérios, como aumento na secreção de proteína C-reativa e interleucina-6, além de ser um fator de progressão acelerada de doenças crônicas e inflamatórias. As infecções sexualmente transmissíveis causadas por retrovírus, como o vírus linfotrópico das células T humanas (HTLV), podem afetar a qualidade do sono devido à ativação do sistema imunológico e à produção de citocinas pró-inflamatórias. Assim, esse estudo objetiva caracterizar a qualidade do sono em pacientes com HTLV. Trata-se de um estudo observacional realizado em pacientes com HTLV acompanhados no ambulatório de cuidados paliativos do Hospital Oswaldo Cruz (HUOC/PE). Os critérios de inclusão para os pacientes são: ter mais de 18 anos, ter o diagnóstico confirmado de HTLV e não ter outras infecções concomitantes, exceto a infecção associada de HTLV e HIV. Foi utilizado o Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh, o qual possui 19 questões e avalia sete componentes do sono, sendo o escore máximo 21 pontos. Pontuações entre 0 e 4 são consideradas boas, entre 5 e 10, indicativas de qualidade do sono ruim, e acima de 10, presença de distúrbio do sono. Ao total foram entrevistados 55 pacientes, sendo 38 mulheres (69.09%) e 17 homens (30.91%) com uma média de 48 anos, com os valores variando entre 21 e 74, que foram diagnosticados entre 1998 e 2023, sendo 2019 a mediana. Em média, o índice de qualidade do sono dos pacientes foi 8.44. 29.09% apresentaram um sono considerado bom; 41.82% ruim; 29.09% classificaram com distúrbio do sono. Os componentes mais pontuados foram “latência do sono” (95 pontos na soma total) e “distúrbios do sono” (91 pontos na soma total). Tais dados indicam a possível associação da infecção pelo HTLV com a piora do sono. Reforçando a importância de avaliar a qualidade do sono como parte integrante do manejo desses pacientes. A identificação precoce e o tratamento adequado dos distúrbios do sono podem contribuir para a melhoria da qualidade de vida e para o quadro geral da condição clínica dos pacientes com HTLV.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"44 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136247485","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103447
Rosa de Fátima Costa Ferreira da Silva, Ema Fernandes, Zoraima Neto, Ricardo Manuel Soares Parreira
Luanda é a capital de Angola, um país, que se situa no sudoeste africano. Os médicos, enfrentavam o problema do atendimento de inúmeros casos de síndromes febris de uma série de potenciais etiologias. O pacote de testes laboratorial, não incluía a avaliação de rotina da presença do vírus da dengue. A descoberta da circulação do vírus em Angola data de 1973, porém continuou sem registo até 2013. O objectivo do presente estudo foi, avaliar a consideração da probabilidade da infecção pelo vírus da dengue pela equipa de médicos, a frequência da infecção, o perfil sócio-demográfico, referente a idade, sexo, e os principais sintomas relacionados a infecção pela dengue, no período de Abril à Julho de 2022, para a produção de evidências científicas que possam mostrar a necessidade de colocar a dengue dentro da importância, no quadro nosológico de doenças transmissíveis em Angola. Após assinatura de um documento de consentimento livre e esclarecido, foram analisadas clinicamente 140 pacientes adultos com síndromes febril e laboratorialmente as respectivas amostras de soro, colhidas em consultas, nas secções de Medicina Interna dos Hospitais dos Cajueiros e Américo Boavida, localizados em áreas sub-urbanas de Luanda. O diagnóstico laboratorial foi feito por testes seroimunológicos imunocromatográficos de diagnóstico rápido (TDRs), da marca SD Bioline, para a pesquisa de antigénios NS1, e paralelamente outro teste da presença de anticorpos IgM/IgG específicos contra o vírus da Dengue. No total de 140 pacientes avaliados nas consultas, a dengue não foi considerada como hipótese diagnóstica, 35% (49/140) apresentaram infecções pelo vírus da dengue, detectada em indivíduos nas idades de 18 à 58 anos, tendo se constatado maior predominância de infecção em indivíduos mais jovens, de 18 à 28 anos, representando 40.81% (20/49) anos dos indivíduos, 57% e 43% foram do sexo masculino e feminino, respectivamente. Os sintomas mais frequentes, da dengue foram: febre (100% (49/49), dor retro-orbitrária (90% (44/49), cefaleias (100% (49/49), artralgias (100% (49/49), geralmente nos membros superiores, mialgias (41% (20/49). O vírus da dengue, pode ser o agente etiológico de inúmeros síndromes febris, que desafiam diariamente os médicos. O estudo epidemiológico da Dengue, envolvendo um maior é um necessidade prioritária para colocar a dengue na devida importância no quadro de doenças das doenças transmissíveis em Luanda, Angola.
{"title":"DENGUE EM LUANDA, ANGOLA: DIAGNÓSTICO E ASPECTOS SÓCIO-DEMOGRÁFICOS 49 ANOS APÓS A DESCOBERTA DA CIRCULAÇÃO DO AGENTE ETIOLÓGICO","authors":"Rosa de Fátima Costa Ferreira da Silva, Ema Fernandes, Zoraima Neto, Ricardo Manuel Soares Parreira","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103447","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103447","url":null,"abstract":"Luanda é a capital de Angola, um país, que se situa no sudoeste africano. Os médicos, enfrentavam o problema do atendimento de inúmeros casos de síndromes febris de uma série de potenciais etiologias. O pacote de testes laboratorial, não incluía a avaliação de rotina da presença do vírus da dengue. A descoberta da circulação do vírus em Angola data de 1973, porém continuou sem registo até 2013. O objectivo do presente estudo foi, avaliar a consideração da probabilidade da infecção pelo vírus da dengue pela equipa de médicos, a frequência da infecção, o perfil sócio-demográfico, referente a idade, sexo, e os principais sintomas relacionados a infecção pela dengue, no período de Abril à Julho de 2022, para a produção de evidências científicas que possam mostrar a necessidade de colocar a dengue dentro da importância, no quadro nosológico de doenças transmissíveis em Angola. Após assinatura de um documento de consentimento livre e esclarecido, foram analisadas clinicamente 140 pacientes adultos com síndromes febril e laboratorialmente as respectivas amostras de soro, colhidas em consultas, nas secções de Medicina Interna dos Hospitais dos Cajueiros e Américo Boavida, localizados em áreas sub-urbanas de Luanda. O diagnóstico laboratorial foi feito por testes seroimunológicos imunocromatográficos de diagnóstico rápido (TDRs), da marca SD Bioline, para a pesquisa de antigénios NS1, e paralelamente outro teste da presença de anticorpos IgM/IgG específicos contra o vírus da Dengue. No total de 140 pacientes avaliados nas consultas, a dengue não foi considerada como hipótese diagnóstica, 35% (49/140) apresentaram infecções pelo vírus da dengue, detectada em indivíduos nas idades de 18 à 58 anos, tendo se constatado maior predominância de infecção em indivíduos mais jovens, de 18 à 28 anos, representando 40.81% (20/49) anos dos indivíduos, 57% e 43% foram do sexo masculino e feminino, respectivamente. Os sintomas mais frequentes, da dengue foram: febre (100% (49/49), dor retro-orbitrária (90% (44/49), cefaleias (100% (49/49), artralgias (100% (49/49), geralmente nos membros superiores, mialgias (41% (20/49). O vírus da dengue, pode ser o agente etiológico de inúmeros síndromes febris, que desafiam diariamente os médicos. O estudo epidemiológico da Dengue, envolvendo um maior é um necessidade prioritária para colocar a dengue na devida importância no quadro de doenças das doenças transmissíveis em Luanda, Angola.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"19 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136247490","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103537
Lina de Campos Binder, Talita Beck Strabelli dos Santos, Herbert Sousa Soares, Carlos Eduardo Camargo Fanchini, Marcelo Bahia Labruna
No estado de São Paulo as capivaras são as principais hospedeiras amplificadoras da Rickettsia rickettsii, agente etiológico da febre maculosa brasileira (FMB), para o carrapato vetor Amblyomma sculptum. No entanto, muitas áreas com presença de capivaras e A. sculptum permanecem livres de R. rickettsii, indicando que outros fatores podem estar envolvidos na circulação da R. rickettsii em uma determinada área. Anteriormente, observou-se que as áreas endêmicas para FMB se diferenciam das não endêmicas pela predominância de A. sculptum na primeira, em contraponto à predominância de Ambyomma dubitatum na segunda. Considerando que carrapatos A. dubitatum encontram-se frequentemente infectados por Rickettsia bellii, uma possível interferência de R. bellii na capacidade amplificadora da capivara para R. rickettsii poderia explicar a distribuição heterogênea de R. rickettsii nas populações de A. sculptum no estado de São Paulo. Assim, o presente estudo teve como objetivo avaliar experimentalmente se uma exposição prévia a carrapatos A. dubitatum infectados com R. bellii é capaz de reduzir a amplificação da R. rickettsii para carrapatos A. sculptum. Foram utilizadas nove cobaias divididas em três grupos experimentais. Três cobaias infestadas com carrapatos A. dubitatum infectados com R. bellii (Grupo GB), quatro cobaias infestadas com carrapatos A. dubitatum não infectados (Grupo GD) e duas cobaias não expostas a carrapatos A. dubitatum (Grupo GC). Após as infestações com A.dubitatum, cada cobaia foi infestada com uma única fêmea de A. sculptum infectada com R. rickettsii e em seguida com larvas de A. sculptum não infectadas. As larvas ingurgitadas foram coletadas e, após realizarem ecdise, foram submetidas à extração de DNA. As amostras de DNA foram testadas utilizando-se um protocolo de PCR convencional para detecção de riquétsias do grupo da febre maculosa. Todas as cobaias apresentaram manifestações clínicas compatíveis com uma infecção por R. rickettsii. Cinco das seis cobaias dos grupos GD e GC vieram a óbito em contraponto a apenas uma das cobaias do grupo GB. A taxa de infecção por R. rickettsii entre os carrapatos do grupo GB foi de 21% (17/80), sendo significantemente menor que a taxa de 54% (60/111) observada nos grupos GD e GC (p < 0,00001). A exposição prévia a carrapatos A. dubitatum infectados com R. bellii reduziu a capacidade amplificadora de R. rickettsii das cobaias para o carrapato A. sculptum.
{"title":"EXPOSIÇÃO A RICKETTSIA BELLII REDUZ A CAPACIDADE AMPLIFICADORA DE RICKETTSIA RICKETTSII PARA CARRAPATOS AMBLYOMMA SCULPTUM EM COBAIAS","authors":"Lina de Campos Binder, Talita Beck Strabelli dos Santos, Herbert Sousa Soares, Carlos Eduardo Camargo Fanchini, Marcelo Bahia Labruna","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103537","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103537","url":null,"abstract":"No estado de São Paulo as capivaras são as principais hospedeiras amplificadoras da Rickettsia rickettsii, agente etiológico da febre maculosa brasileira (FMB), para o carrapato vetor Amblyomma sculptum. No entanto, muitas áreas com presença de capivaras e A. sculptum permanecem livres de R. rickettsii, indicando que outros fatores podem estar envolvidos na circulação da R. rickettsii em uma determinada área. Anteriormente, observou-se que as áreas endêmicas para FMB se diferenciam das não endêmicas pela predominância de A. sculptum na primeira, em contraponto à predominância de Ambyomma dubitatum na segunda. Considerando que carrapatos A. dubitatum encontram-se frequentemente infectados por Rickettsia bellii, uma possível interferência de R. bellii na capacidade amplificadora da capivara para R. rickettsii poderia explicar a distribuição heterogênea de R. rickettsii nas populações de A. sculptum no estado de São Paulo. Assim, o presente estudo teve como objetivo avaliar experimentalmente se uma exposição prévia a carrapatos A. dubitatum infectados com R. bellii é capaz de reduzir a amplificação da R. rickettsii para carrapatos A. sculptum. Foram utilizadas nove cobaias divididas em três grupos experimentais. Três cobaias infestadas com carrapatos A. dubitatum infectados com R. bellii (Grupo GB), quatro cobaias infestadas com carrapatos A. dubitatum não infectados (Grupo GD) e duas cobaias não expostas a carrapatos A. dubitatum (Grupo GC). Após as infestações com A.dubitatum, cada cobaia foi infestada com uma única fêmea de A. sculptum infectada com R. rickettsii e em seguida com larvas de A. sculptum não infectadas. As larvas ingurgitadas foram coletadas e, após realizarem ecdise, foram submetidas à extração de DNA. As amostras de DNA foram testadas utilizando-se um protocolo de PCR convencional para detecção de riquétsias do grupo da febre maculosa. Todas as cobaias apresentaram manifestações clínicas compatíveis com uma infecção por R. rickettsii. Cinco das seis cobaias dos grupos GD e GC vieram a óbito em contraponto a apenas uma das cobaias do grupo GB. A taxa de infecção por R. rickettsii entre os carrapatos do grupo GB foi de 21% (17/80), sendo significantemente menor que a taxa de 54% (60/111) observada nos grupos GD e GC (p < 0,00001). A exposição prévia a carrapatos A. dubitatum infectados com R. bellii reduziu a capacidade amplificadora de R. rickettsii das cobaias para o carrapato A. sculptum.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"65 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136247491","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.102991
Ana Cristina da Silva Fernandes do Amaral, Clessius Ribeiro de Souza, Jorgino Júlio Cesar, Maria das Graças Braga Ceccato
Avaliar e comparar o impacto no perfil lipídico em pessoas iniciando a terapia antirretroviral (TARV) antes e após o uso da medicação em pacientes atendidos em 03 Centros de Referência da cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. O delineamento do estudo foi uma coorte prospectiva na qual foi avaliado como desfecho principal a alteração do lipidograma de PVHIV que estavam iniciando a TARV. Os critérios de inclusão foram: pessoas com HIV, de idade igual ou superior a 18 anos e que apresentavam, qualquer dosagem laboratorial do perfil lipídico completo e/ou fracionado e/ou dos triglicérides, dentro do período de 24 semanas antes e 72 semanas após a dispensação da TARV. Foram considerados critérios de exclusão os indivíduos com algum déficit cognitivo, os privados de liberdade e aqueles em tratamento domiciliar terapêutico. A coleta dos dados ocorreu entre setembro de 2015 a outubro de 2017. A dislipidemia foi definida por critérios laboratoriais. O teste qui-quadrado foi usado para variáveis dicotômicas; o teste t student foi utilizado para amostras independentes e testes de pares combinados. Também foram usados os testes não paramétricos de qui-quadrado e Wilcoxon de pares combinados. Em todos os testes, o valor de p < 0,05 foi considerado estatisticamente significativo. Na avaliação dos 180 indivíduos, observou-se a proporção de dislipidemia antes e após a TARV, por qualquer fração foi de 74,4% pré e 66,7% pós; em relação ao CT foi de 13,3% e 20%, do HDL 63,3% e 50,6%, do LDL 10% e 12,2%; do VLDL 12,8% e 26,7% e do TG 27,2% e 26,7% respectivamente sendo a alteração estaticamente significativa para o HDL (p = 0,014). Foi comparado, por teste pareado, o perfil lipídico, pré e pós TARV, sendo detectado aumento dos valores séricos (mg/dL) do CT e suas frações e do TG, sendo que esse aumento foi estaticamente significativo para o HDL (p < 0,0001). Na avaliação dos 180 indivíduos que apresentavam resultado de exames laboratoriais com perfil lipídico, simultaneamente, no tempo T0 e T48, a presença de dislipidemia tanto pré como pós TARV ocorreu por dislipidemia geral e alteração na fração do HDL. Quando analisado as médias do nível sérico (mg/dL) do perfil lipídico também antes e após a TARV, houve aumento em todas as frações do colesterol, com exceção do LDL.
{"title":"COMPARAÇÃO DO PERFIL LIPÍDICO EM INDIVÍDUOS INICIANDO A TERAPIA ANTIRRETROVIRAL 03 CENTROS DE REFERÊNCIA DA CIDADE DE BELO HORIZONTE, MINAS GERAIS, BRASIL","authors":"Ana Cristina da Silva Fernandes do Amaral, Clessius Ribeiro de Souza, Jorgino Júlio Cesar, Maria das Graças Braga Ceccato","doi":"10.1016/j.bjid.2023.102991","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.102991","url":null,"abstract":"Avaliar e comparar o impacto no perfil lipídico em pessoas iniciando a terapia antirretroviral (TARV) antes e após o uso da medicação em pacientes atendidos em 03 Centros de Referência da cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. O delineamento do estudo foi uma coorte prospectiva na qual foi avaliado como desfecho principal a alteração do lipidograma de PVHIV que estavam iniciando a TARV. Os critérios de inclusão foram: pessoas com HIV, de idade igual ou superior a 18 anos e que apresentavam, qualquer dosagem laboratorial do perfil lipídico completo e/ou fracionado e/ou dos triglicérides, dentro do período de 24 semanas antes e 72 semanas após a dispensação da TARV. Foram considerados critérios de exclusão os indivíduos com algum déficit cognitivo, os privados de liberdade e aqueles em tratamento domiciliar terapêutico. A coleta dos dados ocorreu entre setembro de 2015 a outubro de 2017. A dislipidemia foi definida por critérios laboratoriais. O teste qui-quadrado foi usado para variáveis dicotômicas; o teste t student foi utilizado para amostras independentes e testes de pares combinados. Também foram usados os testes não paramétricos de qui-quadrado e Wilcoxon de pares combinados. Em todos os testes, o valor de p < 0,05 foi considerado estatisticamente significativo. Na avaliação dos 180 indivíduos, observou-se a proporção de dislipidemia antes e após a TARV, por qualquer fração foi de 74,4% pré e 66,7% pós; em relação ao CT foi de 13,3% e 20%, do HDL 63,3% e 50,6%, do LDL 10% e 12,2%; do VLDL 12,8% e 26,7% e do TG 27,2% e 26,7% respectivamente sendo a alteração estaticamente significativa para o HDL (p = 0,014). Foi comparado, por teste pareado, o perfil lipídico, pré e pós TARV, sendo detectado aumento dos valores séricos (mg/dL) do CT e suas frações e do TG, sendo que esse aumento foi estaticamente significativo para o HDL (p < 0,0001). Na avaliação dos 180 indivíduos que apresentavam resultado de exames laboratoriais com perfil lipídico, simultaneamente, no tempo T0 e T48, a presença de dislipidemia tanto pré como pós TARV ocorreu por dislipidemia geral e alteração na fração do HDL. Quando analisado as médias do nível sérico (mg/dL) do perfil lipídico também antes e após a TARV, houve aumento em todas as frações do colesterol, com exceção do LDL.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"46 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136247529","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103298
Isadora de Lima Xavier Andrade, Percival Henrique de Sousa Fernandes, Alexandre Albuquerque Bertucci, Alexis Florentin Calonga Gomez, Gláucia Moreira Espíndola Lima
Comprometimento gástrico pode ocorrer em doenças oportunísticas na AIDS, tanto de origem neoplásica quanto infecciosa. Linfoma gástrico, Sarcoma de Kaposi, infecção por citomegalovírus têm sido as mais relatadas. Relatar um caso de histoplasmose disseminada com acometimento do estômago como primeira manifestação de AIDS. Homem, 64 anos, natural de Regente Feijó/SP e procedente de São Gabriel do Oeste/MS, trabalha como caseiro de fazenda, limpeza de terrenos e de galinheiro. Referia, à admissão, dor em andar superior do abdômen há 20 dias, com piora progressiva da intensidade. Além de sensação febril e calafrios diários em período vespertino, adinamia e perda ponderal de 11 kg em 2 meses. Referiu também tosse seca. Negava comorbidades. Ao exame físico apresentava-se com Índice de Massa Corporal (IMC) de 14,9, abdome escavado, doloroso à palpação superficial e profunda de hipocôndrio direito, sem hepatoesplenomegalia palpável. O hemograma à admissão era normal. A sorologia de HIV foi positiva e a contagem de células CD4+ foi de 29 células/mm3, a carga viral do HIV foi de 833.386 cópias/mL. Foi submetido à endoscopia digestiva alta que evidenciou lesão gástrica úlcero-infiltrativa sugerindo neoplasia gástrica avançada com classificação endoscópica de Borrmann III. O exame Histopatológico (HP) descartou malignidade e estruturas fúngicas leveduriformes sugestivas de Histoplasma capsulatum foram visualizadas na coloração de Grocott. A tomografia de tórax mostrou incontáveis nódulos e massas pulmonares esparsas por todos os lobos pulmonares, algumas com escavações centrais e vidro-fosco periférico. O HP de uma massa pulmonar biopsiada também revelou presença de presença de estruturas sugestivas de H. capsulatum. A sorologia de H. capsulatum por imunodifusão dupla foi positiva com titulação de 1:16 e antigenúria foi detectada pelo teste rápido. As culturas da mucosa gástrica, da massa pulmonar e do aspirado de medula óssea foram positivas para H. capsulatum. Foi iniciado tratamento com itraconazol VO 600 mg/dia por 3 dias e após 400 mg/dia. O paciente apresentou melhora clínica e alta hospitalar após 14 dias para seguimento ambulatorial. O caso ressalta a importância da histoplasmose ser investigada como causa de lesões gástricas em pacientes com AIDS, mesmo em pacientes sem hepato-esplenomegalia e com hemograma normal.
胃病可发生在艾滋病的机会性疾病中,包括肿瘤和感染性疾病。胃淋巴瘤、卡波西肉瘤、巨细胞病毒感染的报道最多。报告一例弥散性组织胞浆菌病,胃受累为艾滋病的第一表现。男性,64岁,来自Regente feijo /SP,来自sao Gabriel do Oeste/MS,是一名农场管家、土地清洁工和鸡舍。入院时,上腹部疼痛20天,强度进行性恶化。除了晚上每天发热和发冷的感觉外,2个月内体重下降11公斤。你也提到了干咳。否认合并症。体格检查时,体重指数(bmi)为14.9,腹部挖洞,右侧疑病症浅、深触诊疼痛,无明显肝脾肿大。入院时血细胞计数正常。HIV血清学阳性,CD4+细胞计数29细胞/mm3, HIV病毒载量833.386拷贝/mL。接受上消化道内镜检查,显示胃溃疡浸润性病变提示晚期胃癌,内镜分类为Borrmann III。组织病理学检查(HP)排除恶性肿瘤,格罗科特染色显示酵母状真菌结构提示荚膜组织原体。胸部ct扫描显示肺叶有无数结节和稀疏的肺肿块,有些有中央凹陷和周围磨砂玻璃。活检后肺肿块的HP也显示存在荚膜H.荚膜结构。双免疫扩散法检测荚膜H.荚膜血清学阳性,滴定率为1:16,快速检测检测到抗源性。胃黏膜培养、肺肿块培养和骨髓抽吸均为荚膜梭菌阳性。开始伊曲康唑600 mg/天治疗3天,之后400 mg/天。患者临床改善,门诊随访14天后出院。该病例强调了研究组织胞浆菌病作为艾滋病患者胃损伤的原因的重要性,即使是非肝脾肿大和血细胞计数正常的患者。
{"title":"HISTOPLASMOSE DISSEMINADA COM ACOMETIMENTO GÁSTRICO COMO PRIMEIRA MANIFESTAÇÃO DE AIDS: RELATO DE CASO","authors":"Isadora de Lima Xavier Andrade, Percival Henrique de Sousa Fernandes, Alexandre Albuquerque Bertucci, Alexis Florentin Calonga Gomez, Gláucia Moreira Espíndola Lima","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103298","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103298","url":null,"abstract":"Comprometimento gástrico pode ocorrer em doenças oportunísticas na AIDS, tanto de origem neoplásica quanto infecciosa. Linfoma gástrico, Sarcoma de Kaposi, infecção por citomegalovírus têm sido as mais relatadas. Relatar um caso de histoplasmose disseminada com acometimento do estômago como primeira manifestação de AIDS. Homem, 64 anos, natural de Regente Feijó/SP e procedente de São Gabriel do Oeste/MS, trabalha como caseiro de fazenda, limpeza de terrenos e de galinheiro. Referia, à admissão, dor em andar superior do abdômen há 20 dias, com piora progressiva da intensidade. Além de sensação febril e calafrios diários em período vespertino, adinamia e perda ponderal de 11 kg em 2 meses. Referiu também tosse seca. Negava comorbidades. Ao exame físico apresentava-se com Índice de Massa Corporal (IMC) de 14,9, abdome escavado, doloroso à palpação superficial e profunda de hipocôndrio direito, sem hepatoesplenomegalia palpável. O hemograma à admissão era normal. A sorologia de HIV foi positiva e a contagem de células CD4+ foi de 29 células/mm3, a carga viral do HIV foi de 833.386 cópias/mL. Foi submetido à endoscopia digestiva alta que evidenciou lesão gástrica úlcero-infiltrativa sugerindo neoplasia gástrica avançada com classificação endoscópica de Borrmann III. O exame Histopatológico (HP) descartou malignidade e estruturas fúngicas leveduriformes sugestivas de Histoplasma capsulatum foram visualizadas na coloração de Grocott. A tomografia de tórax mostrou incontáveis nódulos e massas pulmonares esparsas por todos os lobos pulmonares, algumas com escavações centrais e vidro-fosco periférico. O HP de uma massa pulmonar biopsiada também revelou presença de presença de estruturas sugestivas de H. capsulatum. A sorologia de H. capsulatum por imunodifusão dupla foi positiva com titulação de 1:16 e antigenúria foi detectada pelo teste rápido. As culturas da mucosa gástrica, da massa pulmonar e do aspirado de medula óssea foram positivas para H. capsulatum. Foi iniciado tratamento com itraconazol VO 600 mg/dia por 3 dias e após 400 mg/dia. O paciente apresentou melhora clínica e alta hospitalar após 14 dias para seguimento ambulatorial. O caso ressalta a importância da histoplasmose ser investigada como causa de lesões gástricas em pacientes com AIDS, mesmo em pacientes sem hepato-esplenomegalia e com hemograma normal.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"48 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136247563","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103270
Julia Ferreira Mari, Patrick Leon de Godoy Macedo, Jorge Júnior Amorim de Freitas, Yeh-Li Ho, Marcello Mihailenko Chaves Magri
A mucormicose, causada por fungos da ordem Mucorales, pode ser angioinvasiva e se manifestar como eventos vasculares isquêmicos. Relata-se aqui um AVEi hemisférico por Rhizopus spp., em paciente com primodiagnóstico de diabetes mellitus. Paciente feminina, 45 anos, hipertensa, internada no HCFMUSP em 02/09/2023, por cefaleia progressiva, dor retro-orbitária à direita, baixa acuidade visual e lacrimejamento há um mês. Exame físico admissional no pronto-socorro apresentava ptose palpebral à direita, sem outros déficits focais. Negava trauma ou cefaleia semelhante prévia. Exames laboratoriais constataram cetoacidose diabética ‒ negava DM prévio e foram iniciadas medidas para compensação. Em TC-seios da face havia preenchimento de células etmoidais e dos seios maxilar e frontal direitos. No dia 03/09, TC-crânio evidenciou área redonda hipoatenuante medial do polo temporal direito, adjacente ao seio cavernoso e ápice orbitário deste lado, com cerca de 2 cm, não observada no exame anterior. Foi feita hipótese de rinossinusite fúngica invasiva, iniciando Anfotericina B Lipossomal (L-Amb) 04/09, com dose de até 500 mg/dia (10 ampolas). Dois dias após foi feita rinoscopia em que foram vistas hifas brancas em fossa nasal, áreas pálidas e cartilagem de septo nasal exposta, com rinorreia esbranquiçada. Submetida à sinusectomia anteroposterior, antrostomia maxilar, turbinectomia inferior e média à direita em 06/09. Anátomo-patológico mostrou estruturas fúngicas largas e septadas e cultura positiva para Rhizopus spp. No pós-operatório foi encaminhada à UTI de Infectologia, em ventilação mecânica e sedoanalgesia, sem drogas vasoativas, sem correção plena da cetoacidose. Nova rinoscopia em 08/09, com visualização de hifas esbranquiçadas, a despeito das medidas clínicas e cirúrgicas instituídas. Dessa forma, foi associado Posaconazol 200 mg 6/6h em 08/09. Seguiu com retirada progressiva da sedação, porém a paciente não despertou como esperado. Nova TC-crânio em 09/09 com imagem hipodensa extensa em hemisfério cerebral direito (território de artérias cerebral anterior e média), sugestiva de isquemia secundária à embolização fúngica com edema cerebral importante. No dia 10/09 foi submetida à craniectomia descompressiva pela neurocirurgia. Apesar da cirurgia, medidas de neuroproteção e antifúngicos, o quadro neurológico continuou a evoluir desfavoravelmente, indo a óbito em 12/09. A mucormicose é uma infecção rara, mas de alta mortalidade mesmo com tratamento adequado.
{"title":"ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL ISQUÊMICO CAUSADO POR RHIZOPUS SPP: UM RELATO DE CASO","authors":"Julia Ferreira Mari, Patrick Leon de Godoy Macedo, Jorge Júnior Amorim de Freitas, Yeh-Li Ho, Marcello Mihailenko Chaves Magri","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103270","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103270","url":null,"abstract":"A mucormicose, causada por fungos da ordem Mucorales, pode ser angioinvasiva e se manifestar como eventos vasculares isquêmicos. Relata-se aqui um AVEi hemisférico por Rhizopus spp., em paciente com primodiagnóstico de diabetes mellitus. Paciente feminina, 45 anos, hipertensa, internada no HCFMUSP em 02/09/2023, por cefaleia progressiva, dor retro-orbitária à direita, baixa acuidade visual e lacrimejamento há um mês. Exame físico admissional no pronto-socorro apresentava ptose palpebral à direita, sem outros déficits focais. Negava trauma ou cefaleia semelhante prévia. Exames laboratoriais constataram cetoacidose diabética ‒ negava DM prévio e foram iniciadas medidas para compensação. Em TC-seios da face havia preenchimento de células etmoidais e dos seios maxilar e frontal direitos. No dia 03/09, TC-crânio evidenciou área redonda hipoatenuante medial do polo temporal direito, adjacente ao seio cavernoso e ápice orbitário deste lado, com cerca de 2 cm, não observada no exame anterior. Foi feita hipótese de rinossinusite fúngica invasiva, iniciando Anfotericina B Lipossomal (L-Amb) 04/09, com dose de até 500 mg/dia (10 ampolas). Dois dias após foi feita rinoscopia em que foram vistas hifas brancas em fossa nasal, áreas pálidas e cartilagem de septo nasal exposta, com rinorreia esbranquiçada. Submetida à sinusectomia anteroposterior, antrostomia maxilar, turbinectomia inferior e média à direita em 06/09. Anátomo-patológico mostrou estruturas fúngicas largas e septadas e cultura positiva para Rhizopus spp. No pós-operatório foi encaminhada à UTI de Infectologia, em ventilação mecânica e sedoanalgesia, sem drogas vasoativas, sem correção plena da cetoacidose. Nova rinoscopia em 08/09, com visualização de hifas esbranquiçadas, a despeito das medidas clínicas e cirúrgicas instituídas. Dessa forma, foi associado Posaconazol 200 mg 6/6h em 08/09. Seguiu com retirada progressiva da sedação, porém a paciente não despertou como esperado. Nova TC-crânio em 09/09 com imagem hipodensa extensa em hemisfério cerebral direito (território de artérias cerebral anterior e média), sugestiva de isquemia secundária à embolização fúngica com edema cerebral importante. No dia 10/09 foi submetida à craniectomia descompressiva pela neurocirurgia. Apesar da cirurgia, medidas de neuroproteção e antifúngicos, o quadro neurológico continuou a evoluir desfavoravelmente, indo a óbito em 12/09. A mucormicose é uma infecção rara, mas de alta mortalidade mesmo com tratamento adequado.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"41 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136247569","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}