Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103131
Maysa de Oliveira Rosa Duarte, Gustavo de Freitas Mendonça Gontijo, Wellington Francisco Rodrigues, Aline Dias Paiva
A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST) causada por Treponema pallidum. Nos últimos anos, o número de casos de sífilis aumentou consideravelmente no município de Uberaba, sendo a terceira cidade mineira com maior número de notificações de sífilis gestacional. Nesse sentido, o objetivo do presente estudo foi caracterizar os casos de sífilis gestacional e congênita notificados no município de Uberaba/MG, entre os anos de 2012 a 2022. Neste estudo foram avaliadas três variáveis relacionadas à sífilis gestacional (teste diagnóstico, esquema de tratamento, tratamento do parceiro) e três variáveis vinculadas à sífilis congênita (faixa etária, raça e sexo). Essas variáveis foram obtidas a partir das fichas de notificação disponíveis no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). No período avaliado foram notificados 915 casos de sífilis em gestante, sendo que 871 (95%) tiveram VDRL reativo, 4 (0,43%) não reativo, 7 não realizaram o teste diagnóstico (0,76%) e 33 (3,6%) foram ignorados. Essas porcentagens revelam a sensibilidade do teste não treponêmico VDRL, em que 95% das gestantes portadoras de sífilis obtiveram positividade no rastreio desta IST. No que se refere ao esquema de tratamento, 494 gestantes (53,98%) realizaram o tratamento preconizado, 208 (22%) foram ignorados ou não preenchidos na ficha de notificação, 159 (17%) pacientes usaram outro esquema de tratamento e 54 (5,9%) não realizaram nenhum tratamento. Apenas 219 parceiros (23,93%) destas gestantes foram tratados, 277 não realizaram nenhum tratamento (30,27%) e em 419 fichas de notificação não havia a informação (45,6%). Em relação à sífilis congênita foram notificados 493 casos, sendo 490 (99,39%) casos em menores de 1 ano, 2 (0,4%) casos com 1 ano e 1 (0,2%) caso com 7 anos. Dessas crianças, 170 (34,4%) foram declaradas brancas, 43 (8,72%) pretas, 1 (0,2%) amarela, 126 (25,6%) pardas e 153 (31%) ignorados ou em branco. Observou-se também que 235 (47,7%) crianças eram do sexo masculino e 242 (49%) do sexo feminino (em 16 (3,24%) dos casos notificados não havia informação sobre tal variável). A baixa porcentagem de tratamento dos parceiros está aliada à maior probabilidade de reinfecção da gestante. Assim, ações que visem a divulgação de informações a respeito de sífilis e o treinamento dos profissionais de saúde têm sido conduzidas no município e espera-se reduzir o número de casos dessa IST nos próximos anos.
{"title":"CARACTERIZAÇÃO DOS CASOS DE SÍFILIS GESTACIONAL E SÍFILIS CONGÊNITA NOTIFICADOS NO MUNICÍPIO DE UBERABA/MG ENTRE OS ANOS DE 2012 A 2022","authors":"Maysa de Oliveira Rosa Duarte, Gustavo de Freitas Mendonça Gontijo, Wellington Francisco Rodrigues, Aline Dias Paiva","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103131","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103131","url":null,"abstract":"A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST) causada por Treponema pallidum. Nos últimos anos, o número de casos de sífilis aumentou consideravelmente no município de Uberaba, sendo a terceira cidade mineira com maior número de notificações de sífilis gestacional. Nesse sentido, o objetivo do presente estudo foi caracterizar os casos de sífilis gestacional e congênita notificados no município de Uberaba/MG, entre os anos de 2012 a 2022. Neste estudo foram avaliadas três variáveis relacionadas à sífilis gestacional (teste diagnóstico, esquema de tratamento, tratamento do parceiro) e três variáveis vinculadas à sífilis congênita (faixa etária, raça e sexo). Essas variáveis foram obtidas a partir das fichas de notificação disponíveis no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). No período avaliado foram notificados 915 casos de sífilis em gestante, sendo que 871 (95%) tiveram VDRL reativo, 4 (0,43%) não reativo, 7 não realizaram o teste diagnóstico (0,76%) e 33 (3,6%) foram ignorados. Essas porcentagens revelam a sensibilidade do teste não treponêmico VDRL, em que 95% das gestantes portadoras de sífilis obtiveram positividade no rastreio desta IST. No que se refere ao esquema de tratamento, 494 gestantes (53,98%) realizaram o tratamento preconizado, 208 (22%) foram ignorados ou não preenchidos na ficha de notificação, 159 (17%) pacientes usaram outro esquema de tratamento e 54 (5,9%) não realizaram nenhum tratamento. Apenas 219 parceiros (23,93%) destas gestantes foram tratados, 277 não realizaram nenhum tratamento (30,27%) e em 419 fichas de notificação não havia a informação (45,6%). Em relação à sífilis congênita foram notificados 493 casos, sendo 490 (99,39%) casos em menores de 1 ano, 2 (0,4%) casos com 1 ano e 1 (0,2%) caso com 7 anos. Dessas crianças, 170 (34,4%) foram declaradas brancas, 43 (8,72%) pretas, 1 (0,2%) amarela, 126 (25,6%) pardas e 153 (31%) ignorados ou em branco. Observou-se também que 235 (47,7%) crianças eram do sexo masculino e 242 (49%) do sexo feminino (em 16 (3,24%) dos casos notificados não havia informação sobre tal variável). A baixa porcentagem de tratamento dos parceiros está aliada à maior probabilidade de reinfecção da gestante. Assim, ações que visem a divulgação de informações a respeito de sífilis e o treinamento dos profissionais de saúde têm sido conduzidas no município e espera-se reduzir o número de casos dessa IST nos próximos anos.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"74 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136247829","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103336
Luiza Arcas Gonçalves, Ivan Lira dos Santos, Denise Brandão de Assis, Viviane Maria de Carvalho Hessel Dias, Carlos Magno Castelo Branco Fortaleza, Eduardo Alexandrino Servolo de Medeiros, Thais Guimarães, Silvia Figueiredo Costa
A infecção hospitalar por Clostridioides difficile é considerada uma das principais Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde, com impacto significativo em morbimortalidade, assim como nos custos hospitalares. A despeito de extensa literatura internacional, existem lacunas nos dados nacionais no que tange a abordagem diagnóstica, terapêutica e de controle de C. difficile. O presente trabalho objetiva avaliar a abordagem institucional e estruturação das CCIHs em relação à infecção por C. Difficile (CDI) em hospitais públicos e privados do país. Foi realizado um inquérito transversal com aplicação de questionário autorrespondido sobre estruturação institucional de CDI, incluindo diagnóstico, tratamento e controle institucional de CDI em hospitais brasileiros, para infectologistas e membros da CCIH. Além da descrição da estruturação das instituições, foram avaliadas associações entre características dos hospitais (natureza, complexidade e porte) e disponibilidade de diagnóstico laboratorial, orientação institucional de tratamento de CDI, existência de Programa de Stewardship de Antimicrobianos. As associações foram analisadas por meio do teste de Qui-Quadrado de Pearson e o teste exato de Fisher, com p<0,05 considerado estatisticamente significante. 281 hospitais participaram do estudo, a maioria privado (n=153; 54,5%), com maior representatividade do estado de São Paulo (n=224; 79,7%). Cerca de 18% dos serviços não dispunham de realização de testes laboratoriais para confirmação diagnóstica, enquanto, o ELISA de Toxinas A e B foi o método mais empregado (n=117; 51,3%). Para CDI não grave, metronidazol oral foi a escolha na maioria dos hospitais (n=189; 67,5%), seguido de vancomicina oral (n=69; 24,6%). A existência do Programa de Stewardship, mais frequente entre hospitais de alta complexidade (p=0.,013), foi associada ao aumento da chance de existência de uma recomendação terapêutica oficial em análise bivariada (p<0,001) e à maior chance de realização de diagnóstico laboratorial de CDI em análise multivariada (p=0,026). A indisponibilidade de exames laboratoriais e o predomínio de realização isolada de pesquisas de toxinas A e B podem constituir obstáculos para um controle efetivo da CDI no país, já a existência de um Programa de Stewardship foi associado positivamente ao seu manejo diagnóstico e terapêutico. Mais estudos são necessários para melhor compreensão do cenário de controle de CDI no país.
{"title":"AVALIAÇÃO DE MANEJO E CONTROLE INSTITUCIONAL DE CLOSTRIDIOIDES DIFFICILE EM HOSPITAIS PÚBLICOS E PRIVADOS DO BRASIL","authors":"Luiza Arcas Gonçalves, Ivan Lira dos Santos, Denise Brandão de Assis, Viviane Maria de Carvalho Hessel Dias, Carlos Magno Castelo Branco Fortaleza, Eduardo Alexandrino Servolo de Medeiros, Thais Guimarães, Silvia Figueiredo Costa","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103336","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103336","url":null,"abstract":"A infecção hospitalar por Clostridioides difficile é considerada uma das principais Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde, com impacto significativo em morbimortalidade, assim como nos custos hospitalares. A despeito de extensa literatura internacional, existem lacunas nos dados nacionais no que tange a abordagem diagnóstica, terapêutica e de controle de C. difficile. O presente trabalho objetiva avaliar a abordagem institucional e estruturação das CCIHs em relação à infecção por C. Difficile (CDI) em hospitais públicos e privados do país. Foi realizado um inquérito transversal com aplicação de questionário autorrespondido sobre estruturação institucional de CDI, incluindo diagnóstico, tratamento e controle institucional de CDI em hospitais brasileiros, para infectologistas e membros da CCIH. Além da descrição da estruturação das instituições, foram avaliadas associações entre características dos hospitais (natureza, complexidade e porte) e disponibilidade de diagnóstico laboratorial, orientação institucional de tratamento de CDI, existência de Programa de Stewardship de Antimicrobianos. As associações foram analisadas por meio do teste de Qui-Quadrado de Pearson e o teste exato de Fisher, com p<0,05 considerado estatisticamente significante. 281 hospitais participaram do estudo, a maioria privado (n=153; 54,5%), com maior representatividade do estado de São Paulo (n=224; 79,7%). Cerca de 18% dos serviços não dispunham de realização de testes laboratoriais para confirmação diagnóstica, enquanto, o ELISA de Toxinas A e B foi o método mais empregado (n=117; 51,3%). Para CDI não grave, metronidazol oral foi a escolha na maioria dos hospitais (n=189; 67,5%), seguido de vancomicina oral (n=69; 24,6%). A existência do Programa de Stewardship, mais frequente entre hospitais de alta complexidade (p=0.,013), foi associada ao aumento da chance de existência de uma recomendação terapêutica oficial em análise bivariada (p<0,001) e à maior chance de realização de diagnóstico laboratorial de CDI em análise multivariada (p=0,026). A indisponibilidade de exames laboratoriais e o predomínio de realização isolada de pesquisas de toxinas A e B podem constituir obstáculos para um controle efetivo da CDI no país, já a existência de um Programa de Stewardship foi associado positivamente ao seu manejo diagnóstico e terapêutico. Mais estudos são necessários para melhor compreensão do cenário de controle de CDI no país.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"57 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136247847","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Os procedimentos inadequados de desinfecção das superfícies dos ambientes de saúde contribuem com a disseminação de microrganismos potencialmente patogênicos, impactando diretamente na ocorrência das contaminações cruzadas. O objetivo deste trabalho foi verificar, “in vitro”, a eficácia de um aparelho portátil de Ultravioleta C (UV-C), indicado como descontaminador auxiliar de superfícies, na redução de amostras microbianas. Métodos: Cinco espécies bacterianas foram avaliadas no experimento, sendo estas: Staphylococcus aureus ATCC 25923, Streptococcus mutans ATCC 25175, Enterococcus faecalis ATCC 29212, Pseudomonas aeruginosa ATCC 10145 e Escherichia coli ATCC 11775. Foram preparadas suspensões contendo aproximadamente 108 Unidade Formadora de Colônia (UFC)/mL e estas foram diluídas até 10‒7. Posteriormente, cada amostra teve suas diluições semeadas em quadruplicata em meio ágar “Brain and Heart Infusion”. Um conjunto de duplicata (grupo teste) de cada amostra foi irradiado por cinco vezes, 1,5 cm de distância e 1 cm/s, enquanto que o outro conjunto de cada amostra compôs o grupo não irradiado (grupo controle). As placas foram incubadas por 24h/36°C e o número de UFC/mL definido em seguida. O ensaio foi realizado em três momentos distintos para cada amostra bacteriana. O descontaminador auxiliar de superfícies foi responsável por reduzir mais de 99% da carga bacteriana, sendo 99,99998% para S. aureus, 99,99991% para S. mutans, 99,99996% para E. faecalis, 99,99999% para P. aeruginosa e 99,99998% para E. coli. Os resultados sugerem que o descontaminador portátil à base de UV-C representa uma alternativa adjuvante na redução da carga bacteriana presente nas superfícies dos ambientes de assistência à saúde, reduzindo assim risco de contaminação cruzada.
{"title":"ANÁLISE MICROBIOLÓGICA “IN VITRO” DE UM DESCONTAMINADOR PORTÁTIL DE SUPERFÍCIES","authors":"Isabella Emerique da Costa, Caroline Corrêa Fendeler, Gabriela Ceccon Chianca, Helvécio Cardoso Corrêa Póvoa, Raiane Cardoso Chamon, Natalia Lopes Pontes Póvoa Iorio","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103332","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103332","url":null,"abstract":"Os procedimentos inadequados de desinfecção das superfícies dos ambientes de saúde contribuem com a disseminação de microrganismos potencialmente patogênicos, impactando diretamente na ocorrência das contaminações cruzadas. O objetivo deste trabalho foi verificar, “in vitro”, a eficácia de um aparelho portátil de Ultravioleta C (UV-C), indicado como descontaminador auxiliar de superfícies, na redução de amostras microbianas. Métodos: Cinco espécies bacterianas foram avaliadas no experimento, sendo estas: Staphylococcus aureus ATCC 25923, Streptococcus mutans ATCC 25175, Enterococcus faecalis ATCC 29212, Pseudomonas aeruginosa ATCC 10145 e Escherichia coli ATCC 11775. Foram preparadas suspensões contendo aproximadamente 108 Unidade Formadora de Colônia (UFC)/mL e estas foram diluídas até 10‒7. Posteriormente, cada amostra teve suas diluições semeadas em quadruplicata em meio ágar “Brain and Heart Infusion”. Um conjunto de duplicata (grupo teste) de cada amostra foi irradiado por cinco vezes, 1,5 cm de distância e 1 cm/s, enquanto que o outro conjunto de cada amostra compôs o grupo não irradiado (grupo controle). As placas foram incubadas por 24h/36°C e o número de UFC/mL definido em seguida. O ensaio foi realizado em três momentos distintos para cada amostra bacteriana. O descontaminador auxiliar de superfícies foi responsável por reduzir mais de 99% da carga bacteriana, sendo 99,99998% para S. aureus, 99,99991% para S. mutans, 99,99996% para E. faecalis, 99,99999% para P. aeruginosa e 99,99998% para E. coli. Os resultados sugerem que o descontaminador portátil à base de UV-C representa uma alternativa adjuvante na redução da carga bacteriana presente nas superfícies dos ambientes de assistência à saúde, reduzindo assim risco de contaminação cruzada.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"48 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136247903","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.102922
Anna Karenine Braúna Cunha
A pandemia da covid-19 causada pela nova síndrome respiratória aguda grave pelo SARS-CoV-2, levou a uma enorme pressão sobre os sistemas de saúde em todo o mundo com um aumento nas internações por pneumonia. A doença crítica (ou seja, insuficiência respiratória, choque séptico e/ou disfunção múltipla de órgãos) foi relatada em aproximadamente 5% dos pacientes sintomáticos. Esses pacientes atendem aos critérios de sepse. Além disso, a coinfecção bacteriana ou infecção secundária pode agravar a condição e perpetuar a disfunção dos órgãos. Avaliar o impacto da pandemia de covid-19 na mortalidade dos pacientes inseridos no protocolo de sepse, apresentar o perfil nosológico dos casos inseridos no protocolo de sepse no período do estudo. Foi realizado um estudo descritivo do tipo transversal, retrospectivo com base nos protocolos de sepse abertos de janeiro de 2019 a dezembro de 2022. Foram analisados 433 protocolos e avaliado a taxa de mortalidade geral dos pacientes inseridos no protocolo. Foi avaliada também a taxa de mortalidade dos pacientes com sepse de etiologia comunitária e hospitalar. Foram analisados 161 protocolos abertos em 2019, 113 em 2020 e 79 em 2021 e 80 em 2022 com diagnóstico de sepse e choque séptico. Foram excluídos da análise os pacientes com diagnóstico de infecção sem disfunção que entraram na rota sepse. Em 2020, 24 pacientes com diagnóstico de covid-19 foram inseridos no protocolo e 19 pacientes no ano de 2021 e 5 em 2022. A mortalidade geral do protocolo de sepse em 2019 foi de 10,2%, 34,5% em 2020, 41,8% em 2021 e 27,5% em 2022. No período do estudo as infecções mais prevalentes que desencadearam sepse e choque sépticos foram pneumonia, covid-19 e infecção do trato urinário. De acordo com a série analisada do Protocolo de Sepse do ano de 2019 (pré-pandemia de covid-19) e 2020, 2021 e 2022, período em que a pandemia se estabeleceu e se arrefeceu, observa-se um aumento progressivo na taxa de mortalidade por sepse. O aumento na taxa de mortalidade explica-se pela gravidade do quadro clínico apresentado por estes pacientes, necessitando longos períodos de internação em unidades de terapia intensiva, uso de procedimentos invasivos, como ventilação mecânica, uso de cateteres venosos centrais, terapia de substituição renal, além da aquisição de infecções relacionadas a assistência em saúde por microrganismos multirresistentes.
{"title":"IMPACTO DA PANDEMIA DE COVID-19 NA MORTALIDADE DOS PACIENTES INSERIDOS NO PROTOCOLO DE SEPSE EM HOSPITAL PRIVADO DE SALVADOR-BA ENTRE 2019 E 2022","authors":"Anna Karenine Braúna Cunha","doi":"10.1016/j.bjid.2023.102922","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.102922","url":null,"abstract":"A pandemia da covid-19 causada pela nova síndrome respiratória aguda grave pelo SARS-CoV-2, levou a uma enorme pressão sobre os sistemas de saúde em todo o mundo com um aumento nas internações por pneumonia. A doença crítica (ou seja, insuficiência respiratória, choque séptico e/ou disfunção múltipla de órgãos) foi relatada em aproximadamente 5% dos pacientes sintomáticos. Esses pacientes atendem aos critérios de sepse. Além disso, a coinfecção bacteriana ou infecção secundária pode agravar a condição e perpetuar a disfunção dos órgãos. Avaliar o impacto da pandemia de covid-19 na mortalidade dos pacientes inseridos no protocolo de sepse, apresentar o perfil nosológico dos casos inseridos no protocolo de sepse no período do estudo. Foi realizado um estudo descritivo do tipo transversal, retrospectivo com base nos protocolos de sepse abertos de janeiro de 2019 a dezembro de 2022. Foram analisados 433 protocolos e avaliado a taxa de mortalidade geral dos pacientes inseridos no protocolo. Foi avaliada também a taxa de mortalidade dos pacientes com sepse de etiologia comunitária e hospitalar. Foram analisados 161 protocolos abertos em 2019, 113 em 2020 e 79 em 2021 e 80 em 2022 com diagnóstico de sepse e choque séptico. Foram excluídos da análise os pacientes com diagnóstico de infecção sem disfunção que entraram na rota sepse. Em 2020, 24 pacientes com diagnóstico de covid-19 foram inseridos no protocolo e 19 pacientes no ano de 2021 e 5 em 2022. A mortalidade geral do protocolo de sepse em 2019 foi de 10,2%, 34,5% em 2020, 41,8% em 2021 e 27,5% em 2022. No período do estudo as infecções mais prevalentes que desencadearam sepse e choque sépticos foram pneumonia, covid-19 e infecção do trato urinário. De acordo com a série analisada do Protocolo de Sepse do ano de 2019 (pré-pandemia de covid-19) e 2020, 2021 e 2022, período em que a pandemia se estabeleceu e se arrefeceu, observa-se um aumento progressivo na taxa de mortalidade por sepse. O aumento na taxa de mortalidade explica-se pela gravidade do quadro clínico apresentado por estes pacientes, necessitando longos períodos de internação em unidades de terapia intensiva, uso de procedimentos invasivos, como ventilação mecânica, uso de cateteres venosos centrais, terapia de substituição renal, além da aquisição de infecções relacionadas a assistência em saúde por microrganismos multirresistentes.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"59 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136247930","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103244
Rafael Zonin Rosendo, Ana Júlia Bianchini, Rodolfo Corrêa de Barros, Giovanni Luis Breda, Gisele Loth
A repercussão da infecção pelo Cryptosporidium sp. em imunossuprimidos pode desencadear quadros crônicos e atípicos. Neste relato, exibimos um caso de criptosporidiose de acometimento gastrointestinal e pulmonar em criança submetida à transplante de medula óssea(TMO) por deficiência de CD40 ligante, também denominada síndrome de Hiper-IgM. Paciente do sexo masculino, atualmente com 12 anos de idade. Apresentou infecções respiratórias de repetição desde os primeiros 6 meses de vida, com necessidade de múltiplos internamentos. Recebeu diagnóstico de deficiência funcional de ligante de CD40 aos 9 anos. Ao diagnóstico apresentava-se emagrecido e com hepatomegalia discreta, além de ecografia abdominal sugerindo colangite esclerosante e biópsia hepática demonstrando aspectos morfológicos compatíveis com colangite biliar secundária. Seu primeiro contato com o serviço de TMO ocorreu aos seus 11 anos, momento em que apresentava quadro de tosse iniciada há uma semana, com nódulos de distribuição centrolobular multifocais e áreas de atenuação em vidro fosco identificados em tomografia de tórax (TC). Foi então iniciado voriconazol de maneira empírica. Paciente interna aos 12 anos de idade para TMO. Em nova TC de tórax apresentou resolução significativa dos nódulos anteriormente presentes. O procedimento foi antecedido por picos febris esporádicos e antibioticoterapia foi iniciada. O TMO ocorreu sem intercorrências, porém foi sucedido imediatamente por síndrome colestática, com valor de bilirrubina total atingindo 14,28 mg/dL em seu pico, às custas de bilirrubina direta, com progressiva melhora a partir do 30° dia após procedimento. Concomitantemente, o evento foi sucedido por novos picos febris diários. No 22° dia após o transplante, durante a investigação etiológica da febre, foi verificada nas fezes do paciente a presença de oocistos de Cryptosporidium sp. Neste mesmo dia, houve o aparecimento de um quadro de tosse produtiva, onde se optou pela análise do escarro dada a suspeita de uma parasitose disseminada. Um dia após a coleta da secreção, confirmou-se também a presença de Cryptosporidium sp. no escarro. Foi iniciado tratamento com nitazoxanida e azitromicina em doses elevadas, havendo melhora nos exames laboratoriais. Paciente recebeu alta hospitalar no 34° dia após o transplante, mantendo uso dos antiparasitários, e permanece em seguimento até o 100° dia no hospital-dia.
{"title":"CRIPTOSPORIDIOSE DISSEMINADA EM CRIANÇA SUBMETIDA A TRANSPLANTE DE MEDULA ÓSSEA PARA DEFICIÊNCIA DE CD40 LIGANTE - RELATO DE CASO","authors":"Rafael Zonin Rosendo, Ana Júlia Bianchini, Rodolfo Corrêa de Barros, Giovanni Luis Breda, Gisele Loth","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103244","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103244","url":null,"abstract":"A repercussão da infecção pelo Cryptosporidium sp. em imunossuprimidos pode desencadear quadros crônicos e atípicos. Neste relato, exibimos um caso de criptosporidiose de acometimento gastrointestinal e pulmonar em criança submetida à transplante de medula óssea(TMO) por deficiência de CD40 ligante, também denominada síndrome de Hiper-IgM. Paciente do sexo masculino, atualmente com 12 anos de idade. Apresentou infecções respiratórias de repetição desde os primeiros 6 meses de vida, com necessidade de múltiplos internamentos. Recebeu diagnóstico de deficiência funcional de ligante de CD40 aos 9 anos. Ao diagnóstico apresentava-se emagrecido e com hepatomegalia discreta, além de ecografia abdominal sugerindo colangite esclerosante e biópsia hepática demonstrando aspectos morfológicos compatíveis com colangite biliar secundária. Seu primeiro contato com o serviço de TMO ocorreu aos seus 11 anos, momento em que apresentava quadro de tosse iniciada há uma semana, com nódulos de distribuição centrolobular multifocais e áreas de atenuação em vidro fosco identificados em tomografia de tórax (TC). Foi então iniciado voriconazol de maneira empírica. Paciente interna aos 12 anos de idade para TMO. Em nova TC de tórax apresentou resolução significativa dos nódulos anteriormente presentes. O procedimento foi antecedido por picos febris esporádicos e antibioticoterapia foi iniciada. O TMO ocorreu sem intercorrências, porém foi sucedido imediatamente por síndrome colestática, com valor de bilirrubina total atingindo 14,28 mg/dL em seu pico, às custas de bilirrubina direta, com progressiva melhora a partir do 30° dia após procedimento. Concomitantemente, o evento foi sucedido por novos picos febris diários. No 22° dia após o transplante, durante a investigação etiológica da febre, foi verificada nas fezes do paciente a presença de oocistos de Cryptosporidium sp. Neste mesmo dia, houve o aparecimento de um quadro de tosse produtiva, onde se optou pela análise do escarro dada a suspeita de uma parasitose disseminada. Um dia após a coleta da secreção, confirmou-se também a presença de Cryptosporidium sp. no escarro. Foi iniciado tratamento com nitazoxanida e azitromicina em doses elevadas, havendo melhora nos exames laboratoriais. Paciente recebeu alta hospitalar no 34° dia após o transplante, mantendo uso dos antiparasitários, e permanece em seguimento até o 100° dia no hospital-dia.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"51 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136247957","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103210
Adriano de Souza Santos Monteiro, Adriele Pinheiro Bomfim, Lorena Galvão de Araújo, Matheus Sales Barbosa, Vívian Santos Galvão, Isabela Oliveira Sousa, Camila Maria Piñeiro Silva, Soraia Machado Cordeiro, Joice Neves Reis
Klebsiella pneumoniae tem importância crítica mundial, sobretudo pelas taxas elevadas de resistência aos antibióticos e mortalidade. As infecções de corrente sanguínea (ICS) e do trato urinário (ITU) estão entre as principais infecções causadas por essa bactéria. O objetivo do estudo foi avaliar o perfil de suscetibilidade aos antimicrobianos de K. pneumoniae de casos de ICS e de ITU adquiridas na comunidade (AC). Os isolados de ICS-AC foram oriundos de dois hospitais de Salvador (4/2016-12/2018) e de ITU-AC, de pacientes do laboratório LACTFAR/UFBA (4/2019-5/2023). O critério de ICS-AC foi hemocultura positiva para K. pneumoniae em ≤48h após admissão do paciente e para ITU-AC, urocultura positiva (>100.000 UFC/mL) e sem realização de procedimentos relacionados à assistência à saúde (<3 meses) em ambos os grupos. Os isolados foram submetidos ao antibiograma (BrCAST 2023) e considerados multirresistentes (MDR) quando resistentes a ≥3 grupos de antibióticos. Os genes de β-lactamases foram identificados por PCR e os grupos foram comparados pelos testes Mann-Whitney e exato de Fisher. Um total de 27 pacientes com ICS-AC e 35 com ITU-AC foram identificados. Pacientes com ITU-AC foram mais jovens (mediana 47 [27-68; 1qt-3qt] vs. 79 [68-84; 1qt-3qt]; p < 0.01) e a maioria do sexo feminino (85,7% vs. 38,5%; p < 0.01). Pacientes com ICS-AC tiveram mediana do índice de comorbidade de Charlson de 3 (1-4; 1qt-3qt) e 19,2% com índice ≥5; o escore de bacteremia de Pitt ≥4 foi em 34,6%. K. pneumoniae de ICS-AC foram mais resistentes às cefalosporinas (p < 0,05) e a carbapenêmicos (p = 0,03) e mais MDR que isolados de ITU-AC (44,4% vs. 17,1%, p = 0,03). Detectamos produção de β-lactamase de espectro estendido em 40,7% dos isolados de ICS-AC e em 14,3% de ITU-AC (p = 0,02). Os genes de β-lactamases detectados em isolados de ICS-AC e ITU-AC foram: blaTEM (25,9% vs. 29,0%; p > 0,99), blaSHV (88,9% vs. 71,0%; p = 0,11), blaOXA-1 (22,2% vs. 12,9%; p = 0,49) e blaCTX-M (37% vs. 14,3%; p = 0,07). blaKPC (7,4%; p = 0,19) e blaNDM (3,7%; p = 0,44) só foram detectados em isolados de ICS-AC. Embora em menor proporção, K. pneumoniae de ICS-AC foram mais resistentes às cefalosporinas que isolados de ITU-AC, incluindo maior taxa de MDR. Destaca-se que a resistência a carbapenêmicos só foi encontrada em casos de ICS-AC. Há um potencial para o perfil de resistência destes isolados se disseminar mais ainda na comunidade, visto que são carreados por plasmídeos. Infecção de corrente sanguínea Infecção do trato urinário Infecções comunitárias Resistência aos antimicrobianos Bactérias MDR
肺炎克雷伯菌在世界范围内具有至关重要的意义,特别是由于抗生素耐药性和死亡率高。血流感染(bsi)和尿路感染(uti)是由这种细菌引起的主要感染。本研究的目的是评估社区获得性bsi和uti病例对肺炎克雷伯菌抗菌药物的敏感性。ICS-AC分离株来自萨尔瓦多两家医院(2016年4月- 2018年12月)和ITU-AC,来自LACTFAR/UFBA实验室的患者(2019年4月- 2023年5月)。ci -AC标准为入院后≤48h肺炎球菌血培养阳性,uti -AC尿培养阳性(> 100,000 cfu /mL),不进行医疗相关程序(0.99),blaSHV (88.9% vs. 71.0%), uti -AC尿培养阳性(> 100,000 cfu /mL)p = 0.11), blaOXA-1 (22.2% vs. 12.9%;p = 0.49)和blaCTX-M (37% vs. 14.3%;p = 0.07)。blaKPC (4%;p = 0.19)和blaNDM (3.7%);p = 0.44)仅在ICS-AC分离株中检测到。与uti -AC分离的肺炎克雷伯菌相比,ICS-AC分离的肺炎克雷伯菌对头孢菌素的耐药性较低,包括较高的耐多药率。值得注意的是,碳青霉烯耐药性仅在ICS-AC病例中发现。这些分离株的耐药性有可能在群落中进一步传播,因为它们是由质粒携带的。血流感染尿路感染社区感染抗菌素耐药性耐多药细菌
{"title":"PERFIL DE SUSCETIBILIDADE AOS ANTIMICROBIANOS DE KLEBSIELLA PNEUMONIAE IDENTIFICADA EM CASOS DE INFECÇÃO DE CORRENTE SANGUÍNEA E INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO ADQUIRIDAS NA COMUNIDADE","authors":"Adriano de Souza Santos Monteiro, Adriele Pinheiro Bomfim, Lorena Galvão de Araújo, Matheus Sales Barbosa, Vívian Santos Galvão, Isabela Oliveira Sousa, Camila Maria Piñeiro Silva, Soraia Machado Cordeiro, Joice Neves Reis","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103210","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103210","url":null,"abstract":"Klebsiella pneumoniae tem importância crítica mundial, sobretudo pelas taxas elevadas de resistência aos antibióticos e mortalidade. As infecções de corrente sanguínea (ICS) e do trato urinário (ITU) estão entre as principais infecções causadas por essa bactéria. O objetivo do estudo foi avaliar o perfil de suscetibilidade aos antimicrobianos de K. pneumoniae de casos de ICS e de ITU adquiridas na comunidade (AC). Os isolados de ICS-AC foram oriundos de dois hospitais de Salvador (4/2016-12/2018) e de ITU-AC, de pacientes do laboratório LACTFAR/UFBA (4/2019-5/2023). O critério de ICS-AC foi hemocultura positiva para K. pneumoniae em ≤48h após admissão do paciente e para ITU-AC, urocultura positiva (>100.000 UFC/mL) e sem realização de procedimentos relacionados à assistência à saúde (<3 meses) em ambos os grupos. Os isolados foram submetidos ao antibiograma (BrCAST 2023) e considerados multirresistentes (MDR) quando resistentes a ≥3 grupos de antibióticos. Os genes de β-lactamases foram identificados por PCR e os grupos foram comparados pelos testes Mann-Whitney e exato de Fisher. Um total de 27 pacientes com ICS-AC e 35 com ITU-AC foram identificados. Pacientes com ITU-AC foram mais jovens (mediana 47 [27-68; 1qt-3qt] vs. 79 [68-84; 1qt-3qt]; p < 0.01) e a maioria do sexo feminino (85,7% vs. 38,5%; p < 0.01). Pacientes com ICS-AC tiveram mediana do índice de comorbidade de Charlson de 3 (1-4; 1qt-3qt) e 19,2% com índice ≥5; o escore de bacteremia de Pitt ≥4 foi em 34,6%. K. pneumoniae de ICS-AC foram mais resistentes às cefalosporinas (p < 0,05) e a carbapenêmicos (p = 0,03) e mais MDR que isolados de ITU-AC (44,4% vs. 17,1%, p = 0,03). Detectamos produção de β-lactamase de espectro estendido em 40,7% dos isolados de ICS-AC e em 14,3% de ITU-AC (p = 0,02). Os genes de β-lactamases detectados em isolados de ICS-AC e ITU-AC foram: blaTEM (25,9% vs. 29,0%; p > 0,99), blaSHV (88,9% vs. 71,0%; p = 0,11), blaOXA-1 (22,2% vs. 12,9%; p = 0,49) e blaCTX-M (37% vs. 14,3%; p = 0,07). blaKPC (7,4%; p = 0,19) e blaNDM (3,7%; p = 0,44) só foram detectados em isolados de ICS-AC. Embora em menor proporção, K. pneumoniae de ICS-AC foram mais resistentes às cefalosporinas que isolados de ITU-AC, incluindo maior taxa de MDR. Destaca-se que a resistência a carbapenêmicos só foi encontrada em casos de ICS-AC. Há um potencial para o perfil de resistência destes isolados se disseminar mais ainda na comunidade, visto que são carreados por plasmídeos. Infecção de corrente sanguínea Infecção do trato urinário Infecções comunitárias Resistência aos antimicrobianos Bactérias MDR","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"51 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136247964","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
A vacinação é a medida mais efetiva no controle e erradicação de doenças infectocontagiosas em todo o mundo e tem impacto expressivo no controle da mortalidade infantil. Apesar da efetividade da vacina no combate à poliomielite, a cobertura vacinal está em queda, em particular na última década no País. Analisar a tendência da cobertura vacinal (CV) da poliomielite nas regiões do nordeste no período delimitado. Estudo ecológico de caráter descritivo e com abordagem quantitativa, realizado com dados do Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI/DATASUS), referentes a CV da poliomielite na região nordeste do Brasil no período de 2012 a 2022, sendo incluído no estudo, as três doses da poliomielite e os reforços, o primeiro aos quinze meses de idade e o segundo com quatro anos de idade. Foi constatado a média de 73,97% da CV no Nordeste, o patamar preconizado pelo Ministério da Saúde é de 95%. Quando se compara os valores anuais de todas as doses aplicadas, incluindo os reforços, torna-se ainda mais evidente o decaimento, visto que no período de 2012 e 2013 foram observados respectivamente 95,63% e 97,07% da CV, em contrapartida, a partir de 2016 observa-se uma redução considerável em que a CV foi 75,27%, decrescendo ao longo dos anos e em 2021 a CV apresentou o valor mais alarmante de 55,58%. Também ocorreu uma redução considerável em relação a aplicação das doses de reforço no período analisado, sendo a primeira dose de reforço com 73,38% de cobertura e a segunda dose de reforço com 53,03%. Valores anuais da primeira dose de reforço destacam-se com menor valor da CV do ano de 2021 com 53,90%, e o reforço aos quatro anos de idade não houve registro entre 2012 e 2016, a partir de 2017 foram registrados a CV e constata-se que os valores se mantiveram abaixo do preconizado pelo MS e novamente o ano de 2021 obteve destaque negativo com 44,60%. Observa-se também diferenças consideráveis da CV quando compara os estados do nordeste, visto que o Maranhão se destaca com menor índice, 65,56%. O Nordeste destaca-se negativamente em comparação ao sul, que obteve o melhor índice no período delimitado, cujo valor foi de 84,31% da CV. A região nordeste apresenta uma redução no índice de vacinação entre o período de 2012 a 2022 com valores preocupantes para a saúde pública. Além disso, é notável o impacto negativo da pandemia sobre a cobertura vacinal a partir de 2020.
{"title":"UM RECORTE EPIDEMIOLÓGICO DA COBERTURA VACINAL DA POLIOMIELITE NO NORDESTE DO BRASIL DE 2012 A 2022","authors":"Milena Alves Barboza, Nathalia Viviane Araújo Pinheiro, Yasmin Evlem Domingos Souza, Guilherme de Andrade Ruela","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103109","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103109","url":null,"abstract":"A vacinação é a medida mais efetiva no controle e erradicação de doenças infectocontagiosas em todo o mundo e tem impacto expressivo no controle da mortalidade infantil. Apesar da efetividade da vacina no combate à poliomielite, a cobertura vacinal está em queda, em particular na última década no País. Analisar a tendência da cobertura vacinal (CV) da poliomielite nas regiões do nordeste no período delimitado. Estudo ecológico de caráter descritivo e com abordagem quantitativa, realizado com dados do Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI/DATASUS), referentes a CV da poliomielite na região nordeste do Brasil no período de 2012 a 2022, sendo incluído no estudo, as três doses da poliomielite e os reforços, o primeiro aos quinze meses de idade e o segundo com quatro anos de idade. Foi constatado a média de 73,97% da CV no Nordeste, o patamar preconizado pelo Ministério da Saúde é de 95%. Quando se compara os valores anuais de todas as doses aplicadas, incluindo os reforços, torna-se ainda mais evidente o decaimento, visto que no período de 2012 e 2013 foram observados respectivamente 95,63% e 97,07% da CV, em contrapartida, a partir de 2016 observa-se uma redução considerável em que a CV foi 75,27%, decrescendo ao longo dos anos e em 2021 a CV apresentou o valor mais alarmante de 55,58%. Também ocorreu uma redução considerável em relação a aplicação das doses de reforço no período analisado, sendo a primeira dose de reforço com 73,38% de cobertura e a segunda dose de reforço com 53,03%. Valores anuais da primeira dose de reforço destacam-se com menor valor da CV do ano de 2021 com 53,90%, e o reforço aos quatro anos de idade não houve registro entre 2012 e 2016, a partir de 2017 foram registrados a CV e constata-se que os valores se mantiveram abaixo do preconizado pelo MS e novamente o ano de 2021 obteve destaque negativo com 44,60%. Observa-se também diferenças consideráveis da CV quando compara os estados do nordeste, visto que o Maranhão se destaca com menor índice, 65,56%. O Nordeste destaca-se negativamente em comparação ao sul, que obteve o melhor índice no período delimitado, cujo valor foi de 84,31% da CV. A região nordeste apresenta uma redução no índice de vacinação entre o período de 2012 a 2022 com valores preocupantes para a saúde pública. Além disso, é notável o impacto negativo da pandemia sobre a cobertura vacinal a partir de 2020.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"91 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136247965","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103357
Eusébio Lino dos Santos Júnior, Juliana Cavadas Teixeira, Jorge Salomão Moreira, Igor Maia Marinho
Aerococcus urinae é um coco Gram-positivo, catalase-negativo, mais comumente envolvido em infecções do trato urinário. Infecções invasivas são raras, com pouco mais de sessenta casos de endocardite já descritos. Relatamos o caso de um homem de 65 anos, com antecedente de câncer de próstata submetido à prostatectomia radical em 2012 e de doença renal crônica secundária à estenose de uretra, internado por quadro de bacteremia durante sessão de hemodiálise. Coletadas hemoculturas e iniciadas vancomicina e cefepima. Evoluiu com hemiparesia esquerda, sendo identificado acidente vascular cerebral isquêmico de artéria cerebral média direita em tomografia de crânio. Houve isolamento de Aerococcus urinae em hemoculturas periféricas e identificada imagem sugestiva de vegetação em valva mitral no ecocardiograma transesofágico. Diante do diagnóstico de endocardite infecciosa e da sensibilidade antimicrobiana descrita em literatura, descalonou-se terapia para ceftriaxona. O paciente evoluiu com boa resposta clínica, afebril, melhora das provas inflamatórias, além de negativação de hemoculturas, sem novos episódios embólicos. Dias após, o teste de sensibilidade antimicrobiana pelo método de disco difusão revelou resistência à ceftriaxona e sensibilidade à vancomicina. Contudo, foi optado pela manutenção da cefalosporina pela boa evolução do quadro. O ecocardiograma de controle após quatro semanas de tratamento evidenciou perfuração na cúspide anterior da valva mitral e insuficiência mitral, sem clínica de insuficiência cardíaca. Avaliado pela equipe de cardiologia e orientado acompanhamento ambulatorial sem indicação de cirurgia de urgência. Conforme evolução satisfatória recebeu alta hospitalar, com programação de cirurgia de troca valvar ambulatorialmente. Fatores de risco relacionados a endocardite por A. urinae descritos são sexo masculino, idade avançada e doenças do trato geniturinário, como câncer de próstata. Recentemente, houve um aumento nos relatos de endocardites por esta bactéria, com alta prevalência de eventos embólicos e elevada morbimortalidade. Avanços nos métodos de identificação podem ser responsáveis pelo aumento nas taxas de diagnóstico. Apesar de regimes antimicrobianos ótimos e a duração do tratamento ainda não serem bem definidos na literatura, as penicilinas, ceftriaxona e vancomicina com ou sem aminoglicosídeos são opções relatadas. Desta forma, o relato de uma infecção grave por Aerococcus pode auxiliar o manejo clínico de pacientes.
{"title":"ENDOCARDITE INFECCIOSA DE VALVA MITRAL POR AEROCOCCUS URINAE: UM PATÓGENO NÃO USUAL E UMA INFECÇÃO GRAVE","authors":"Eusébio Lino dos Santos Júnior, Juliana Cavadas Teixeira, Jorge Salomão Moreira, Igor Maia Marinho","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103357","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103357","url":null,"abstract":"Aerococcus urinae é um coco Gram-positivo, catalase-negativo, mais comumente envolvido em infecções do trato urinário. Infecções invasivas são raras, com pouco mais de sessenta casos de endocardite já descritos. Relatamos o caso de um homem de 65 anos, com antecedente de câncer de próstata submetido à prostatectomia radical em 2012 e de doença renal crônica secundária à estenose de uretra, internado por quadro de bacteremia durante sessão de hemodiálise. Coletadas hemoculturas e iniciadas vancomicina e cefepima. Evoluiu com hemiparesia esquerda, sendo identificado acidente vascular cerebral isquêmico de artéria cerebral média direita em tomografia de crânio. Houve isolamento de Aerococcus urinae em hemoculturas periféricas e identificada imagem sugestiva de vegetação em valva mitral no ecocardiograma transesofágico. Diante do diagnóstico de endocardite infecciosa e da sensibilidade antimicrobiana descrita em literatura, descalonou-se terapia para ceftriaxona. O paciente evoluiu com boa resposta clínica, afebril, melhora das provas inflamatórias, além de negativação de hemoculturas, sem novos episódios embólicos. Dias após, o teste de sensibilidade antimicrobiana pelo método de disco difusão revelou resistência à ceftriaxona e sensibilidade à vancomicina. Contudo, foi optado pela manutenção da cefalosporina pela boa evolução do quadro. O ecocardiograma de controle após quatro semanas de tratamento evidenciou perfuração na cúspide anterior da valva mitral e insuficiência mitral, sem clínica de insuficiência cardíaca. Avaliado pela equipe de cardiologia e orientado acompanhamento ambulatorial sem indicação de cirurgia de urgência. Conforme evolução satisfatória recebeu alta hospitalar, com programação de cirurgia de troca valvar ambulatorialmente. Fatores de risco relacionados a endocardite por A. urinae descritos são sexo masculino, idade avançada e doenças do trato geniturinário, como câncer de próstata. Recentemente, houve um aumento nos relatos de endocardites por esta bactéria, com alta prevalência de eventos embólicos e elevada morbimortalidade. Avanços nos métodos de identificação podem ser responsáveis pelo aumento nas taxas de diagnóstico. Apesar de regimes antimicrobianos ótimos e a duração do tratamento ainda não serem bem definidos na literatura, as penicilinas, ceftriaxona e vancomicina com ou sem aminoglicosídeos são opções relatadas. Desta forma, o relato de uma infecção grave por Aerococcus pode auxiliar o manejo clínico de pacientes.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"19 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136247975","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103366
Daniela Anderson da Silva, Ricardo de Souza Cavalcante, Flávia Dias Alcântara de Oliveira, Bruno Cardoso de Macedo, Jonas Atique Sawazaki, Douglas Otomo Duarte, Flávio Pasa Brandt, Matheus Soares Baracho Ramos, Patrik Nepomuceno Pereira, Sebastião Pires Ferreira Filho, Talita Cabrera Corrêa, Wagner José Sousa Carvalho
Estudos prévios identificaram que pacientes internados em Unidades Terapia Intensiva (UTI) e colonizados por Micro-Organismos Multidroga-Resistentes (MDRO) apresentam risco aumentado de desenvolver Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS) por estes mesmos agentes. Este estudo teve o objetivo de avaliar fatores de risco para o desenvolvimento de IRAS em pacientes sabidamente colonizados por MDRO e internados em UTI. Entre janeiro e junho de 2023, todos os pacientes internados há mais 48 horas em UTI clínica, cirúrgica, neurológica e cardiológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu foram submetidos semanalmente a coleta de swab oral, nasal e retal para identificação de colonizados. Todos eles foram avaliados quanto a presença de IRAS durante 30 dias, seguindo os critérios da Agência Nacional de Vigilância Sanitária de 2023, pela Comissão de Controle de IRAS da instituição. O método de regressão proporcional de Cox foi utilizado para avaliar os fatores de risco para desenvolvimento de IRAS entre os colonizados por MDRO, tanto em análise bivariada quanto múltipla, considerando-se significativo valores de p inferiores a 0,05. Foram identificados 127 pacientes colonizados. Enterobactérias resistentes à carbapenêmicos foram os agentes mais prevalentes de colonização (48,0%), seguido de Pseudomonas aeruginosa (15,0%) e complexo Acinetobacter baumannii/calcoaceticus (11,8%). Vinte e dois (17,3%) pacientes desenvolveram IRAS (densidade de incidência – DI=4,07/1000 pacientes-dia), com mediana de tempo entre colonização-infecção de 3 dias (2–16). Pneumonia associada à ventilação mecânica foi a infecção com maior DI (1,29/1000 pacientes-dia), seguida de traqueíte (1,11/1000 pacientes-dia), infecção do trato urinário associado à sondagem vesical de demora e infecção de pele e partes moles, ambas com DI=0,55/1000 pacientes-dia. Foram identificados como fatores independentes associados ao desenvolvimento de IRAS em pacientes colonizados por MDRO: escore de Charlson (Hazard Ratio – HR=1,21 [95% IC 1,04–1,40], p=0,01), uso de nutrição parenteral (HR=5,72 [95% IC 1,47–22,24], p=0,01) e uso prévio de polimixinas (HR=6,22 [95% IC 1,79–21,59), p=0,004). Este estudo demonstra que a gravidade do paciente, uso de nutrição parenteral e tratamento antimicrobiano com polimixinas aumentam o risco de desenvolvimento de infecção em pacientes colonizados por MDRO internados em UTI.
{"title":"FATORES DE RISCO PARA DESENVOLVIMENTO DE INFECÇÕES RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA À SAÚDE EM PACIENTES COLONIZADOS POR MICRO-ORGANISMOS MULTIDROGA RESISTENTES INTERNADOS EM UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA","authors":"Daniela Anderson da Silva, Ricardo de Souza Cavalcante, Flávia Dias Alcântara de Oliveira, Bruno Cardoso de Macedo, Jonas Atique Sawazaki, Douglas Otomo Duarte, Flávio Pasa Brandt, Matheus Soares Baracho Ramos, Patrik Nepomuceno Pereira, Sebastião Pires Ferreira Filho, Talita Cabrera Corrêa, Wagner José Sousa Carvalho","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103366","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103366","url":null,"abstract":"Estudos prévios identificaram que pacientes internados em Unidades Terapia Intensiva (UTI) e colonizados por Micro-Organismos Multidroga-Resistentes (MDRO) apresentam risco aumentado de desenvolver Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS) por estes mesmos agentes. Este estudo teve o objetivo de avaliar fatores de risco para o desenvolvimento de IRAS em pacientes sabidamente colonizados por MDRO e internados em UTI. Entre janeiro e junho de 2023, todos os pacientes internados há mais 48 horas em UTI clínica, cirúrgica, neurológica e cardiológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu foram submetidos semanalmente a coleta de swab oral, nasal e retal para identificação de colonizados. Todos eles foram avaliados quanto a presença de IRAS durante 30 dias, seguindo os critérios da Agência Nacional de Vigilância Sanitária de 2023, pela Comissão de Controle de IRAS da instituição. O método de regressão proporcional de Cox foi utilizado para avaliar os fatores de risco para desenvolvimento de IRAS entre os colonizados por MDRO, tanto em análise bivariada quanto múltipla, considerando-se significativo valores de p inferiores a 0,05. Foram identificados 127 pacientes colonizados. Enterobactérias resistentes à carbapenêmicos foram os agentes mais prevalentes de colonização (48,0%), seguido de Pseudomonas aeruginosa (15,0%) e complexo Acinetobacter baumannii/calcoaceticus (11,8%). Vinte e dois (17,3%) pacientes desenvolveram IRAS (densidade de incidência – DI=4,07/1000 pacientes-dia), com mediana de tempo entre colonização-infecção de 3 dias (2–16). Pneumonia associada à ventilação mecânica foi a infecção com maior DI (1,29/1000 pacientes-dia), seguida de traqueíte (1,11/1000 pacientes-dia), infecção do trato urinário associado à sondagem vesical de demora e infecção de pele e partes moles, ambas com DI=0,55/1000 pacientes-dia. Foram identificados como fatores independentes associados ao desenvolvimento de IRAS em pacientes colonizados por MDRO: escore de Charlson (Hazard Ratio – HR=1,21 [95% IC 1,04–1,40], p=0,01), uso de nutrição parenteral (HR=5,72 [95% IC 1,47–22,24], p=0,01) e uso prévio de polimixinas (HR=6,22 [95% IC 1,79–21,59), p=0,004). Este estudo demonstra que a gravidade do paciente, uso de nutrição parenteral e tratamento antimicrobiano com polimixinas aumentam o risco de desenvolvimento de infecção em pacientes colonizados por MDRO internados em UTI.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"41 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136247982","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103080
Lindracy Luara Bollis Caliari, Luan Felipe Machado Conceição, João Pedro Bastos Andrade, Thamires Souza Pires, Áurea Paste, Geser Mascarenhas de Barros, Caroline Castro Vieira
A vacina contra a poliomielite, presente no Programa Nacional de Imunizações (PNI), é indicada para crianças a partir de dois meses, com cronograma que inclui 2 ou 3 doses no esquema inicial (VIP) e 2 reforços (VOP), provando-se essencial para evitar a reintrodução do poliovírus, já erradicado do Brasil. De forma paradoxal à sua relevância, há uma tendência de queda na cobertura vacinal da poliomielite, que possivelmente se relaciona com a ausência de memória da gravidade da doença, com o isolamento social durante a pandemia de COVID-19 e falta de divulgação em massa das campanhas. Frente a isso, convém analisar as heterogeneidades regionais das capitais brasileiras no que concerne à cobertura vacinal contra a poliomielite entre os anos 2018 e 2022. Trata-se de estudo ecológico com dados extraídos do TABNET/DATASUS, coletados em junho/2023, referentes à cobertura vacinal dos imunizantes VIP nas capitais brasileiras no período de 2018-2022. Os dados foram tabulados no Excel, com cálculo de percentual de variação da cobertura vacinal no período estudado. Em análise comparativa do período, há uma redução de cerca de 12% na cobertura vacinal da poliomielite, que variou de 89,5% para 77,2%, solidificando o afastamento do índice de 95% recomendado pela OMS. De 2018 para 2019, anos pré-pandêmicos, observou-se decréscimo na taxa de cobertura na maioria das capitais brasileiras (18), com destaque para Fortaleza (-34,1%), Porto Velho (-26,6%) e Rio de Janeiro (-20,1%). Ao confrontar dados relacionados à pandemia, de 2019 para 2021, nota-se redução em 24 capitais, com realce para João Pessoa (-37,3%), Boa Vista (-35,6%), Salvador (-34,4%) e Macapá (-34,0%). Em oposição a tal padrão, somente 2 capitais apresentaram acréscimos na cobertura: Florianópolis (+7,8) e Goiânia (+7,9). A comparação entre os números de 2021 e 2022 ilustram a retomada da vacinação no período pós-pandêmico, com aumento da cobertura vacinal em 18 capitais, com maior significância para Salvador (+22,6%). À luz da análise, confirma-se a tendência de queda da cobertura vacinal de poliomielite pré-pandemia, reforçado pelo período de isolamento social nos anos de 2020 e 2021, com destaque para as regiões Norte e Nordeste, que apresentaram os menores índices de vacinação. É responsabilidade do Estado adotar ações efusivas de conscientização sobre a importância da vacina para que a poliomielite continue na lista de doenças erradicadas no Brasil.
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