Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103110
Leonardo Lameira Lopes, Thaiane dos Santos Oliveira, Bruno Portela Dias, Dimitri Ferreira dos Santos, Ivan Andrade dos Santos, Douglas Machado Costa, Arieta de Souza Barros Vales, Juliana Alencar Isacksson Vieira, Paulo de Oliveira Neto, Amersa Christiny Rodrigues Maramalde, Luana Oliveira Rodrigues, Emanuelle Portal Moraes, Elizeu Leão da Silva
A hanseníase é uma doença infectocontagiosa crônica causada pela bactéria Mycobacterium leprae. Transmitida pelo contato com indivíduos não tratados, ela acomete a pele e os nervos periféricos e atinge pessoas de qualquer sexo ou idade, possuindo diferentes formas clínicas. Em virtude de sua alta prevalência e curso progressivo, a hanseníase é considerada um importante problema de saúde pública em todas as regiões do Brasil, em especial nas de baixa renda. Assim, o objetivo deste trabalho é investigar os aspectos epidemiológicos da hanseníase no estado do Amapá entre os anos de 2018 e 2022. Foi realizado um estudo descritivo com o uso de dados secundários, coletados do Sistema de Informação de Notificação de Agravos (SINAN), disponíveis na plataforma do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) Durante o período analisado, houve a notificação de 590 casos totais de hanseníase no estado do Amapá. Na medida em que os anos de 2018 e 2019 destacam-se, com 26,4% e 27,8% dos casos respectivamente, observa-se uma queda nos anos subsequentes. A análise de casos por sexo demonstra que os homens representam 69,5% dos casos totais da doença. Além disso, evidencia-se a predominância de casos em indivíduos de cor parda (71,8%) em relação às demais etnias. A faixa etária mais acometida foi a de jovens e adultos com idade entre 20 e 39 anos. Também é perceptível a concentração das notificações de casos na capital Macapá, com 83,2% do total. Em relação à escolaridade, nota-se uma quantidade significativa de indivíduos com ensino fundamental incompleto, em especial da 1ª a 4ª série incompleta (18,31%). A forma clínica mais prevalente da doença foi a dimorfa (47,29%), enquanto a classe operacional de maior frequência foi a multibacilar (70,17%), com cerca de 47,9% dos indivíduos apresentando mais de 5 lesões cutâneas, com maior potencial de transmissibilidade. Dessa forma, conclui-se que, entre os anos de 2018 a 2022, a hanseníase no estado do Amapá atingiu principalmente a população masculina, de cor parda, de baixa escolaridade, com idade entre 20 e 39 anos. É notável uma queda no número de notificações de casos após o ano de 2019. Ademais, também houve a predominância das formas multibacilares da doença. Nesse sentido, mostra-se fundamental a manutenção das estratégias de detecção precoce e tratamento da hanseníase, com o fim de alcançar o maior controle da doença e evitar suas sequelas na população.
{"title":"A PREVALÊNCIA DOS CASOS DE HANSENÍASE NO ESTADO DO AMAPÁ ENTRE OS ANOS DE 2018 A 2022","authors":"Leonardo Lameira Lopes, Thaiane dos Santos Oliveira, Bruno Portela Dias, Dimitri Ferreira dos Santos, Ivan Andrade dos Santos, Douglas Machado Costa, Arieta de Souza Barros Vales, Juliana Alencar Isacksson Vieira, Paulo de Oliveira Neto, Amersa Christiny Rodrigues Maramalde, Luana Oliveira Rodrigues, Emanuelle Portal Moraes, Elizeu Leão da Silva","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103110","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103110","url":null,"abstract":"A hanseníase é uma doença infectocontagiosa crônica causada pela bactéria Mycobacterium leprae. Transmitida pelo contato com indivíduos não tratados, ela acomete a pele e os nervos periféricos e atinge pessoas de qualquer sexo ou idade, possuindo diferentes formas clínicas. Em virtude de sua alta prevalência e curso progressivo, a hanseníase é considerada um importante problema de saúde pública em todas as regiões do Brasil, em especial nas de baixa renda. Assim, o objetivo deste trabalho é investigar os aspectos epidemiológicos da hanseníase no estado do Amapá entre os anos de 2018 e 2022. Foi realizado um estudo descritivo com o uso de dados secundários, coletados do Sistema de Informação de Notificação de Agravos (SINAN), disponíveis na plataforma do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) Durante o período analisado, houve a notificação de 590 casos totais de hanseníase no estado do Amapá. Na medida em que os anos de 2018 e 2019 destacam-se, com 26,4% e 27,8% dos casos respectivamente, observa-se uma queda nos anos subsequentes. A análise de casos por sexo demonstra que os homens representam 69,5% dos casos totais da doença. Além disso, evidencia-se a predominância de casos em indivíduos de cor parda (71,8%) em relação às demais etnias. A faixa etária mais acometida foi a de jovens e adultos com idade entre 20 e 39 anos. Também é perceptível a concentração das notificações de casos na capital Macapá, com 83,2% do total. Em relação à escolaridade, nota-se uma quantidade significativa de indivíduos com ensino fundamental incompleto, em especial da 1ª a 4ª série incompleta (18,31%). A forma clínica mais prevalente da doença foi a dimorfa (47,29%), enquanto a classe operacional de maior frequência foi a multibacilar (70,17%), com cerca de 47,9% dos indivíduos apresentando mais de 5 lesões cutâneas, com maior potencial de transmissibilidade. Dessa forma, conclui-se que, entre os anos de 2018 a 2022, a hanseníase no estado do Amapá atingiu principalmente a população masculina, de cor parda, de baixa escolaridade, com idade entre 20 e 39 anos. É notável uma queda no número de notificações de casos após o ano de 2019. Ademais, também houve a predominância das formas multibacilares da doença. Nesse sentido, mostra-se fundamental a manutenção das estratégias de detecção precoce e tratamento da hanseníase, com o fim de alcançar o maior controle da doença e evitar suas sequelas na população.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"48 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136248046","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103237
Pedro Luis Valeiras Gaddini, Roberto Focaccia, Lucinéia Medeiros do Nascimento, Flávia Rodrigues de Oliveira, Giullia Carvalho Mangas Lopes, Marcella Ferreira Olintho, Carolina Narita, Gabriel Carvalho Ventura, Fabiana Cortez Larguesa, Michelle Karine Cunha Ferreira
Estimar a prevalência das infecções pelo HIV, Hepatites B e C, e da Sífilis em moradores em situação de rua no município de Santos. Estudo transversal em amostra com 192 indivíduos representativos da população estimada de moradores em situação de rua do município de Santos. Critério de Inclusão: todos indivíduos, independente de gênero ou idade, que ao chegarem ao acaso no albergue noturno mantido pelo município apresentavam condições clínico-intelectuais e concordavam com o termo de consentimento livre e esclarecido, assim como responder à questionário sociodemográfico e comportamental, e permitir coleta de sangue na polpa digital para pesquisa sorológica de Sífilis, Hepatite B e C, e HIV. Os testes rápidos foram fornecidos pelo Ministério da Saúde. Todos os indivíduos com testagem positiva foram tratados em Ambulatório de IST da Prefeitura de Santos. O estudo é trabalho de campo de tese do primeiro autor e apresentador. Resultados preliminares são de 119 indivíduos já estudados. Predomina idade de 30-60 anos (46,2%), com 78/119 do sexo masculino. Vivendo há menos de um ano na rua são 42,9% deles. Procedentes da Baixada Santista são 55/119 (49,5%) sendo 32,0% (38/55) de Santos; 18/119 procedentes da região metropolitana de São Paulo e 20/119 do interior do estado de São Paulo; Nascidos em outros estados brasileiros são 19,3%. A positividade para Sífilis foi de 22,7% (27/119) sendo que 14 destes já foram tratados anteriormente. Houve nulidade de prevalência para Hepatite B. Cinco dos indivíduos pesquisados foram positivos para Hepatite C (4,2%) sendo três do sexo feminino. Cinco indivíduos pesquisados foram positivos para HIV (4,2%), sendo que três já sabiam e não estavam em tratamento. Quanto aos fatores de risco: 72/119 (60,5%) relataram ter relações sexuais na rua; 84/119 (70,6%) relataram fazer uso de drogas ilícitas; 14/119 disseram já ter recebido transfusão de sangue durante a vida, e somente 68/119 cortam cabelo e unhas no albergue. 1) A alta prevalência de Sífilis, HIV e Hepatite C nessa comunidade de moradores em situação de rua sugere a necessidade de reforços nos programas de redução de danos. 2) O Município de Santos, em que somente 32% dos indivíduos dessa comunidade serem cidadãos nascidos e procedentes do município, arca com pesado ônus social e econômico sugerindo a necessidade de programas assistenciais e resolutivos mais extensos nas demais esferas institucionais federativas.
{"title":"PREVALÊNCIA DE SÍFILIS, HIV, HEPATITES B E C EM MORADORES EM SITUAÇÃO DE RUA, SANTOS, SP","authors":"Pedro Luis Valeiras Gaddini, Roberto Focaccia, Lucinéia Medeiros do Nascimento, Flávia Rodrigues de Oliveira, Giullia Carvalho Mangas Lopes, Marcella Ferreira Olintho, Carolina Narita, Gabriel Carvalho Ventura, Fabiana Cortez Larguesa, Michelle Karine Cunha Ferreira","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103237","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103237","url":null,"abstract":"Estimar a prevalência das infecções pelo HIV, Hepatites B e C, e da Sífilis em moradores em situação de rua no município de Santos. Estudo transversal em amostra com 192 indivíduos representativos da população estimada de moradores em situação de rua do município de Santos. Critério de Inclusão: todos indivíduos, independente de gênero ou idade, que ao chegarem ao acaso no albergue noturno mantido pelo município apresentavam condições clínico-intelectuais e concordavam com o termo de consentimento livre e esclarecido, assim como responder à questionário sociodemográfico e comportamental, e permitir coleta de sangue na polpa digital para pesquisa sorológica de Sífilis, Hepatite B e C, e HIV. Os testes rápidos foram fornecidos pelo Ministério da Saúde. Todos os indivíduos com testagem positiva foram tratados em Ambulatório de IST da Prefeitura de Santos. O estudo é trabalho de campo de tese do primeiro autor e apresentador. Resultados preliminares são de 119 indivíduos já estudados. Predomina idade de 30-60 anos (46,2%), com 78/119 do sexo masculino. Vivendo há menos de um ano na rua são 42,9% deles. Procedentes da Baixada Santista são 55/119 (49,5%) sendo 32,0% (38/55) de Santos; 18/119 procedentes da região metropolitana de São Paulo e 20/119 do interior do estado de São Paulo; Nascidos em outros estados brasileiros são 19,3%. A positividade para Sífilis foi de 22,7% (27/119) sendo que 14 destes já foram tratados anteriormente. Houve nulidade de prevalência para Hepatite B. Cinco dos indivíduos pesquisados foram positivos para Hepatite C (4,2%) sendo três do sexo feminino. Cinco indivíduos pesquisados foram positivos para HIV (4,2%), sendo que três já sabiam e não estavam em tratamento. Quanto aos fatores de risco: 72/119 (60,5%) relataram ter relações sexuais na rua; 84/119 (70,6%) relataram fazer uso de drogas ilícitas; 14/119 disseram já ter recebido transfusão de sangue durante a vida, e somente 68/119 cortam cabelo e unhas no albergue. 1) A alta prevalência de Sífilis, HIV e Hepatite C nessa comunidade de moradores em situação de rua sugere a necessidade de reforços nos programas de redução de danos. 2) O Município de Santos, em que somente 32% dos indivíduos dessa comunidade serem cidadãos nascidos e procedentes do município, arca com pesado ônus social e econômico sugerindo a necessidade de programas assistenciais e resolutivos mais extensos nas demais esferas institucionais federativas.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"25 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136248050","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103242
Eusébio Lino dos Santos Júnior, Erick Menezes Xavier, Hermes Ryoiti Higashino, Vanderson Geraldo Rocha, Silvia Figueiredo Costa
Uma estratégia moderna e eficaz para tratar neoplasias hematológicas refratárias é a modificação genética de células T autólogas para expressar um receptor quimérico de antígeno contra as células tumorais, o CAR-T-cell. Existem poucos dados sobre complicações infecciosas de CAR-T-cell, sem guias de recomendação de profilaxias. Descrevemos o caso de uma bacteremia por Pseudomonas aeruginosa produtora de Metalo-beta-lactamase (MBL). Homem, 61 anos, diagnosticado com Linfoma de Hodgkin Difuso de Grandes Células B em 2018, já submetido a quimioterapia e transplante de células-tronco hematopoiéticas (TCTH) autólogo, com recaída. Em 2023, é internado para receber CAR-T-cell. No D0 e D+9, foi diagnosticado com síndrome de liberação de citocinas (SLC) grau I e grau II, respectivamente, para as quais recebeu tocilizumab e dexametasona, com melhora clínica. Porém, no D+24 teve choque séptico, tratado empiricamente com meropenem e vancomicina. As hemoculturas identificaram P. aeruginosa, sensível apenas à polimixina B e ao aztreonam. O teste imunocromatográfico de carbapenemase foi positivo para Verona Íntegron Metalo-betalactamase (VIM). Assim, a terapia foi alterada para as duas drogas por 7 dias. Posteriormente, o teste de sinergismo entre ambas não identificou efeito sinérgico. Foi investigado com ecocardiograma, tomografias e PET-SCAN sem identificar foco infeccioso. Após 4 dias do fim do tratamento, teve novo choque séptico e as hemoculturas indicaram o mesmo agente. Logo, foi reiniciado o tratamento com polimixina B e aztreonam, e a nova investigação não identificou foco. Desta vez, foi tratado por 21 dias e teve alta bem clinicamente. Infecções após o CAR-T-cell são mais frequentes no primeiro mês pós-infusão, quando predominam as bacterianas. Alguns fatores de risco descritos são o TCTH prévio e a SLC. Bacteremias por P. aeruginosa resistente a carbapenêmicos implicam maior chance de erro no tratamento empírico e taxas de mortalidade de até 50%. As opções terapêuticas são escassas, mas a polimixina parece eficaz. No Brasil, predomina a enzima SPM, e no caso identificamos a VIM. As amostras de P. aeruginosa serão sequenciadas para análise da linhagem, genes de resistência e virulência. Faltam estudos robustos que explorem o desfecho da terapia combinada neste cenário de MBL. Este relato alerta para o diagnóstico de infecções bacterianas graves em pacientes submetidos a CAR-T-cell e descreve o sucesso da terapia combinada num paciente grave.
{"title":"BACTEREMIA POR PSEUDOMONAS AERUGINOSA PRODUTORA DE VIM COMO COMPLICAÇÃO APÓS O CAR-T-CELL","authors":"Eusébio Lino dos Santos Júnior, Erick Menezes Xavier, Hermes Ryoiti Higashino, Vanderson Geraldo Rocha, Silvia Figueiredo Costa","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103242","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103242","url":null,"abstract":"Uma estratégia moderna e eficaz para tratar neoplasias hematológicas refratárias é a modificação genética de células T autólogas para expressar um receptor quimérico de antígeno contra as células tumorais, o CAR-T-cell. Existem poucos dados sobre complicações infecciosas de CAR-T-cell, sem guias de recomendação de profilaxias. Descrevemos o caso de uma bacteremia por Pseudomonas aeruginosa produtora de Metalo-beta-lactamase (MBL). Homem, 61 anos, diagnosticado com Linfoma de Hodgkin Difuso de Grandes Células B em 2018, já submetido a quimioterapia e transplante de células-tronco hematopoiéticas (TCTH) autólogo, com recaída. Em 2023, é internado para receber CAR-T-cell. No D0 e D+9, foi diagnosticado com síndrome de liberação de citocinas (SLC) grau I e grau II, respectivamente, para as quais recebeu tocilizumab e dexametasona, com melhora clínica. Porém, no D+24 teve choque séptico, tratado empiricamente com meropenem e vancomicina. As hemoculturas identificaram P. aeruginosa, sensível apenas à polimixina B e ao aztreonam. O teste imunocromatográfico de carbapenemase foi positivo para Verona Íntegron Metalo-betalactamase (VIM). Assim, a terapia foi alterada para as duas drogas por 7 dias. Posteriormente, o teste de sinergismo entre ambas não identificou efeito sinérgico. Foi investigado com ecocardiograma, tomografias e PET-SCAN sem identificar foco infeccioso. Após 4 dias do fim do tratamento, teve novo choque séptico e as hemoculturas indicaram o mesmo agente. Logo, foi reiniciado o tratamento com polimixina B e aztreonam, e a nova investigação não identificou foco. Desta vez, foi tratado por 21 dias e teve alta bem clinicamente. Infecções após o CAR-T-cell são mais frequentes no primeiro mês pós-infusão, quando predominam as bacterianas. Alguns fatores de risco descritos são o TCTH prévio e a SLC. Bacteremias por P. aeruginosa resistente a carbapenêmicos implicam maior chance de erro no tratamento empírico e taxas de mortalidade de até 50%. As opções terapêuticas são escassas, mas a polimixina parece eficaz. No Brasil, predomina a enzima SPM, e no caso identificamos a VIM. As amostras de P. aeruginosa serão sequenciadas para análise da linhagem, genes de resistência e virulência. Faltam estudos robustos que explorem o desfecho da terapia combinada neste cenário de MBL. Este relato alerta para o diagnóstico de infecções bacterianas graves em pacientes submetidos a CAR-T-cell e descreve o sucesso da terapia combinada num paciente grave.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"41 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136248058","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.102920
Karen Helen Rodrigues Carneiro, Luís Arthur Brasil Gadelha Farias, Paulo Jonas Rabelo Nobre, Lisandra Serra Damasceno
A covid-19 afetou populações em todo o mundo como uma das principais causas de morbimortalidade na atualidade. Em períodos sazonais há a circulação de vírus respiratórios, sendo possível que as coinfecções elevem o potencial de internamento, principalmente, em indivíduos que evoluem com síndrome respiratória aguda grave (SRAG). Esse estudo objetiva descrever as características clínico-epidemiológicas de pacientes com coinfecção covid-19/Influenza internados no Hospital São José de Doenças Infecciosas (HSJ). Estudo transversal de pacientes adultos internados com a coinfecção confirmada por método molecular (Allplex™ SARS-CoV-2/FluAFluB/RSV Assay ou Painel respiratório Filmarray Multiplex), em amostras respiratórias, no HSJ, entre 2022-2023. No período do estudo, foram identificados dez pacientes com a coinfecção covid-19/Influenza. Seis pacientes eram do sexo masculino, e quatro do sexo feminino. A mediana de idade foi de 54 anos [IIQ 43 – 62]. Sete pacientes eram procedentes de Fortaleza-CE. Nove tinham comorbidades, sendo as comorbidades mais comuns hipertensão arterial sistêmica (n = 3), diabetes mellitus tipo 2 (n = 3) e infecção pelo HIV (n = 2). Os pacientes com HIV apresentavam imunossupressão avançada (linfócitos T CD4+ < 50 cel/mm3). Informações sobre vacinação para covid-19 estavam presentes em sete pacientes, dos quais, quatro (57%) haviam sido vacinados. Os sintomas mais comuns à admissão foram: febre (70%), tosse (60%), dispneia (40%) e hipoxemia (30%). Seis pacientes foram admitidos com SRAG. Nove pacientes necessitaram de suporte de oxigênio, sendo quatro por cateter nasal de baixo fluxo, dois por máscara reservatório, e três por ventilação mecânica invasiva. Nove pacientes realizaram tomografia computadorizada de tórax. Os principais achados foram: opacidades em vidro fosco (44,5%), derrame pleural (44,5%), consolidações (33,4%) e atelectasias (33,4%). Cinco pacientes evoluíram para óbito; três por pneumonia associada à ventilação mecânica (PAV), um por choque séptico e outro por histoplasmose disseminada. Apesar do número pequeno de pacientes deste estudo devemos estar atentos à gravidade e às potenciais complicações desta coinfecção respiratória. É possível, que tenhamos muitos mais casos, porém o acesso aos métodos moleculares com alvo em múltiplos agentes, ainda é difícil para a população em geral.
{"title":"INTERNAMENTOS HOSPITALARES POR COINFECÇÃO COVID-19/INFLUENZA","authors":"Karen Helen Rodrigues Carneiro, Luís Arthur Brasil Gadelha Farias, Paulo Jonas Rabelo Nobre, Lisandra Serra Damasceno","doi":"10.1016/j.bjid.2023.102920","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.102920","url":null,"abstract":"A covid-19 afetou populações em todo o mundo como uma das principais causas de morbimortalidade na atualidade. Em períodos sazonais há a circulação de vírus respiratórios, sendo possível que as coinfecções elevem o potencial de internamento, principalmente, em indivíduos que evoluem com síndrome respiratória aguda grave (SRAG). Esse estudo objetiva descrever as características clínico-epidemiológicas de pacientes com coinfecção covid-19/Influenza internados no Hospital São José de Doenças Infecciosas (HSJ). Estudo transversal de pacientes adultos internados com a coinfecção confirmada por método molecular (Allplex™ SARS-CoV-2/FluAFluB/RSV Assay ou Painel respiratório Filmarray Multiplex), em amostras respiratórias, no HSJ, entre 2022-2023. No período do estudo, foram identificados dez pacientes com a coinfecção covid-19/Influenza. Seis pacientes eram do sexo masculino, e quatro do sexo feminino. A mediana de idade foi de 54 anos [IIQ 43 – 62]. Sete pacientes eram procedentes de Fortaleza-CE. Nove tinham comorbidades, sendo as comorbidades mais comuns hipertensão arterial sistêmica (n = 3), diabetes mellitus tipo 2 (n = 3) e infecção pelo HIV (n = 2). Os pacientes com HIV apresentavam imunossupressão avançada (linfócitos T CD4+ < 50 cel/mm3). Informações sobre vacinação para covid-19 estavam presentes em sete pacientes, dos quais, quatro (57%) haviam sido vacinados. Os sintomas mais comuns à admissão foram: febre (70%), tosse (60%), dispneia (40%) e hipoxemia (30%). Seis pacientes foram admitidos com SRAG. Nove pacientes necessitaram de suporte de oxigênio, sendo quatro por cateter nasal de baixo fluxo, dois por máscara reservatório, e três por ventilação mecânica invasiva. Nove pacientes realizaram tomografia computadorizada de tórax. Os principais achados foram: opacidades em vidro fosco (44,5%), derrame pleural (44,5%), consolidações (33,4%) e atelectasias (33,4%). Cinco pacientes evoluíram para óbito; três por pneumonia associada à ventilação mecânica (PAV), um por choque séptico e outro por histoplasmose disseminada. Apesar do número pequeno de pacientes deste estudo devemos estar atentos à gravidade e às potenciais complicações desta coinfecção respiratória. É possível, que tenhamos muitos mais casos, porém o acesso aos métodos moleculares com alvo em múltiplos agentes, ainda é difícil para a população em geral.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"56 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136248085","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103123
Paulo de Oliveira Neto, Carolline Alves Ibiapino, Denise Tavares Camara do Nascimento, Higor Netto Roizenblit, Gabriela Gonçalves de Medeiros Dela Bianca, Pedro Arthur Gonçalves de Medeiros Dela Bianca, Alex André Lelis da Costa, Arieta de Souza Barros Vales, Emanuelle Portal Moraes, Thaiane dos Santos Oliveira
A sífilis congênita é uma infecção resultante da transmissão da sífilis materna, causa pela bactéria Treponema pallidum para o feto e tende a cursar com complicações como abortamentos, surdez, cegueira, más formações fetais e morte do feto. No amapá, ainda há poucos estudos sobre essa condição e entendendo a importância de conhecer a distribuição destes casos, se faz necessário conhecer o perfil epidemiológico envolvido nessa patologia. Estudo epidemiológico observacional do tipo análise de série temporal, realizado por meio da análise de dados extraídos do Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis (DVIAHV) e os selecionados foram as gestantes, independente da faixa etária, com sorologia positiva para sífilis das quais também houve o exame positivo no neonato. As variáveis analisadas foram: faixa etária, escolaridade, realização de pré-natal, momento do diagnóstico, esquema de tratamento da gestante, evolução, e óbitos por meio de estatística descritiva. Observaram-se 1.142 casos de sífilis diagnosticada em gestantes no período analisado, sendo que 520 (45,53%) culminaram na infecção do feto pela sífilis. Dentre essas, houve predomínio da faixa etária entre 20-29 anos com 289 casos (55,57%) com maiores taxas em pardas 453 (87,11%) e com ensino médio incompleto 106 (20,38%) sendo que 354 gestantes (68,07%) realizaram o pré-natal e o momento de maior diagnóstico da sífilis materna foi no parto/curetagem 264 (50,76%) e o esquema de tratamento materno em 439 pacientes (84,42%) foi inadequado. Ademais, 57 dos casos (10,96%) evoluíram com natimorto por sífilis. Os resultados reforçam a relação do contato com as Infeções Sexualmente Transmissíveis (IST) com a baixa escolaridade, ao passo que a desinformação da saúde sexual entra como um fator que corrobora para o contato com as IST antes ou durante a gestação. Não só isso, como também, as políticas de diagnóstico e tratamento realizadas no pré-natal apresentam fragilidades haja visto que, em grande parte das pacientes, o diagnóstico da sífilis materna foi tardio mesmo com o pré-natal. Condição está, sobretudo por um possível tratamento ineficaz que por vezes deixa de englobar a parceria da gestante, o que cursa com a possibilidade de reinfecção e permanência da bactéria para transmissão. Desse modo, é de suma importância uma maior ênfase na saúde sexual da gestante desde a atenção primária de saúde.
{"title":"ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA DOS CASOS NOTIFICADOS DE SÍFILIS CONGÊNITA NO ESTADO DO AMAPÁ DE 2020 A 2022","authors":"Paulo de Oliveira Neto, Carolline Alves Ibiapino, Denise Tavares Camara do Nascimento, Higor Netto Roizenblit, Gabriela Gonçalves de Medeiros Dela Bianca, Pedro Arthur Gonçalves de Medeiros Dela Bianca, Alex André Lelis da Costa, Arieta de Souza Barros Vales, Emanuelle Portal Moraes, Thaiane dos Santos Oliveira","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103123","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103123","url":null,"abstract":"A sífilis congênita é uma infecção resultante da transmissão da sífilis materna, causa pela bactéria Treponema pallidum para o feto e tende a cursar com complicações como abortamentos, surdez, cegueira, más formações fetais e morte do feto. No amapá, ainda há poucos estudos sobre essa condição e entendendo a importância de conhecer a distribuição destes casos, se faz necessário conhecer o perfil epidemiológico envolvido nessa patologia. Estudo epidemiológico observacional do tipo análise de série temporal, realizado por meio da análise de dados extraídos do Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis (DVIAHV) e os selecionados foram as gestantes, independente da faixa etária, com sorologia positiva para sífilis das quais também houve o exame positivo no neonato. As variáveis analisadas foram: faixa etária, escolaridade, realização de pré-natal, momento do diagnóstico, esquema de tratamento da gestante, evolução, e óbitos por meio de estatística descritiva. Observaram-se 1.142 casos de sífilis diagnosticada em gestantes no período analisado, sendo que 520 (45,53%) culminaram na infecção do feto pela sífilis. Dentre essas, houve predomínio da faixa etária entre 20-29 anos com 289 casos (55,57%) com maiores taxas em pardas 453 (87,11%) e com ensino médio incompleto 106 (20,38%) sendo que 354 gestantes (68,07%) realizaram o pré-natal e o momento de maior diagnóstico da sífilis materna foi no parto/curetagem 264 (50,76%) e o esquema de tratamento materno em 439 pacientes (84,42%) foi inadequado. Ademais, 57 dos casos (10,96%) evoluíram com natimorto por sífilis. Os resultados reforçam a relação do contato com as Infeções Sexualmente Transmissíveis (IST) com a baixa escolaridade, ao passo que a desinformação da saúde sexual entra como um fator que corrobora para o contato com as IST antes ou durante a gestação. Não só isso, como também, as políticas de diagnóstico e tratamento realizadas no pré-natal apresentam fragilidades haja visto que, em grande parte das pacientes, o diagnóstico da sífilis materna foi tardio mesmo com o pré-natal. Condição está, sobretudo por um possível tratamento ineficaz que por vezes deixa de englobar a parceria da gestante, o que cursa com a possibilidade de reinfecção e permanência da bactéria para transmissão. Desse modo, é de suma importância uma maior ênfase na saúde sexual da gestante desde a atenção primária de saúde.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"22 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136248108","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103224
Leonardo Filipetto Ferrari, Nubia Leilane Barth Schierling, Lucas Viechniewski Vasconcellos, Amanda Stinghen Correia, Gabriele da Silva
A prostatite aguda é uma infecção da próstata que cursa com sintomas urinários e dor pélvica em homens, causada, sobretudo, pela infecção, por via ascendente. Sendo a Escherichia coli a principal bactéria isolada nesses casos (65-80%). Em pacientes jovens e sexualmente ativos a Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis devem ser consideradas. A infecção gastrointestinal por Salmonella é a forma mais comum da doença por Salmonella. A presença desse patógeno em urina é raro. Os casos de prostatite associada a ela são mais raros ainda. Paciente masculino, 54 anos, admitido com queixa de febre (temperatura de 38,5°C), calafrios, sudorese, mialgia e mal-estar generalizado há 3 dias. Evoluiu com disúria, dor perineal e redução do débito urinário (relatado). Além disso, relatou viagem recente para Bolívia e uma semana antes apresentou quadro de dor abdominal autolimitado. Tinha histórico de hiperplasia prostática (PSAtotal 5,2 ng/mL - 04/02/23). Ao exame físico, o paciente apresentava dor à palpação de região supra-púbica e “bexigoma”. Na admissão, o paciente apresentava leucocitose (19400 células/mm3) com desvio à esquerda e proteína C reativa (PCR) de 307,2 mg/L. Iniciado empiricamente ceftriaxona e solicitado PSA total que demonstrou estar elevado (PSAt 177,76 ng/mL). Na urocultura, houve crescimento de Salmonella enterica (4.000 UFC/mL) sensível a ceftriaxona e ciprofloxacino. Devido a retenção urinária aguda foi necessário sondagem vesical. Realizado ressonância magnética de pelve com vesícula seminal esquerda distendida, direita com intensidade de sinal heterogênea e próstata com dimensões aumentadas (volume estimado de 94cm3) com intensidade de sinal difusamente heterogênea e com restrição à difusão sugerindo prostatite aguda. Houve melhora clinico-laboratorial importante durante o internamento e alta no dia 10/03/23 com leve desconforto em região supra-púbica, sem leucocitose/desvio, PCR de 70,7 e PSAt de 96,89. Prescrito ciprofloxacino, em dose habitual, por 28 dias. No retorno 10 dias após alta e no 16o de tratamento o paciente estava assintomático e com um PSAt de 41,1. A prostatite por Salmonella é rara não existindo recomendações bem definidas de tempo de tratamento dessa condição. Sendo assim, optou-se por realizar um curso prolongado de antimicrobianos guiado por 28 dias, conforme recomendações da maioria das referências de tratamento de prostatite aguda e o paciente evoluiu de forma favorável.
{"title":"PROSTATITE POR SALMONELLA ENTERICA: UM RELATO DE CASO","authors":"Leonardo Filipetto Ferrari, Nubia Leilane Barth Schierling, Lucas Viechniewski Vasconcellos, Amanda Stinghen Correia, Gabriele da Silva","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103224","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103224","url":null,"abstract":"A prostatite aguda é uma infecção da próstata que cursa com sintomas urinários e dor pélvica em homens, causada, sobretudo, pela infecção, por via ascendente. Sendo a Escherichia coli a principal bactéria isolada nesses casos (65-80%). Em pacientes jovens e sexualmente ativos a Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis devem ser consideradas. A infecção gastrointestinal por Salmonella é a forma mais comum da doença por Salmonella. A presença desse patógeno em urina é raro. Os casos de prostatite associada a ela são mais raros ainda. Paciente masculino, 54 anos, admitido com queixa de febre (temperatura de 38,5°C), calafrios, sudorese, mialgia e mal-estar generalizado há 3 dias. Evoluiu com disúria, dor perineal e redução do débito urinário (relatado). Além disso, relatou viagem recente para Bolívia e uma semana antes apresentou quadro de dor abdominal autolimitado. Tinha histórico de hiperplasia prostática (PSAtotal 5,2 ng/mL - 04/02/23). Ao exame físico, o paciente apresentava dor à palpação de região supra-púbica e “bexigoma”. Na admissão, o paciente apresentava leucocitose (19400 células/mm3) com desvio à esquerda e proteína C reativa (PCR) de 307,2 mg/L. Iniciado empiricamente ceftriaxona e solicitado PSA total que demonstrou estar elevado (PSAt 177,76 ng/mL). Na urocultura, houve crescimento de Salmonella enterica (4.000 UFC/mL) sensível a ceftriaxona e ciprofloxacino. Devido a retenção urinária aguda foi necessário sondagem vesical. Realizado ressonância magnética de pelve com vesícula seminal esquerda distendida, direita com intensidade de sinal heterogênea e próstata com dimensões aumentadas (volume estimado de 94cm3) com intensidade de sinal difusamente heterogênea e com restrição à difusão sugerindo prostatite aguda. Houve melhora clinico-laboratorial importante durante o internamento e alta no dia 10/03/23 com leve desconforto em região supra-púbica, sem leucocitose/desvio, PCR de 70,7 e PSAt de 96,89. Prescrito ciprofloxacino, em dose habitual, por 28 dias. No retorno 10 dias após alta e no 16o de tratamento o paciente estava assintomático e com um PSAt de 41,1. A prostatite por Salmonella é rara não existindo recomendações bem definidas de tempo de tratamento dessa condição. Sendo assim, optou-se por realizar um curso prolongado de antimicrobianos guiado por 28 dias, conforme recomendações da maioria das referências de tratamento de prostatite aguda e o paciente evoluiu de forma favorável.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"1 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136248113","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103592
Marcos Davi Gomes de Sousa, Gabrielle Mendonça Condé, Larissa Pinheiro do Nascimento, Nathalia David de Almeida, Leonardo Lora
Sífilis maligna precoce (SMP) é forma rara de sífilis secundária com lesões necróticas, que podem estar acompanhadas de sinais e sintomas sistêmicos. Geralmente está associada à imunossupressão, particularmente induzida pelo HIV, mas pode se manifestar no paciente imunocompetente. Com o contínuo aumento dos casos de sífilis, a SMP torna-se menos incomum. Apresenta-se o caso de um paciente imunocompetente acometido com lesões sifilíticas exuberantes. Masculino 38 anos, heterossexual, relatou um mês de evolução de nódulo na região occipital à direita, na base do pescoço, associado à dor, aumento progressivo e saída de exsudato purulento. Negava traumas prévios ou contato com animais, negava também perda de peso ou febre nesse período. Na história pregressa, negava uso continuo de medicamentos ou antecedentes patológicos. Relatou ainda antecedente de uso de cocaína inalada e sexo desprotegido com parceira regular. Ao exame físico, apresentava nódulo eritematoso de bordos mal delimitados, endurecido, medindo 5 × 5 cm, com crostas purulentas e áreas de necrose em região cervical posterior direita, além de lesão única, periumbilical ipsilateral, com crosta e hiperemia adjacente e dois pontos centrais de supuração. Nos diagnósticos diferenciais do caso foram levantados: foliculite decalvante, leishmaniose e paracoccidioidomicose. Foram realizados testes rápidos para HIV e hepatites B e C, negativos, e teste rápido para sífilis, que foi positivo, tendo sido iniciado tratamento com 2.400.000 UI, em dose única, via intramuscular. O VDRL veio 1/32, tendo havido involução importante do quadro após 3 semanas. Logo após o tratamento, apresentou febre e mal-estar, tendo sido manejado sintomaticamente com antitérmicos, com sucesso. Descrita inicialmente por Bazin (1859), SMP é uma manifestação rara dessa infecção. Inicialmente, acreditava-se que era uma forma inicial de sífilis terciária, mas, em 1896, no 3° Congresso Internacional de Dermatologia, foi classificada como uma forma de sífilis secundária ulcerativa. Até a expansão da transmissão do HIV, a SMP era associada ao alcoolismo, desnutrição grave e uso de drogas ilícitas, o qual nós observamos. Os critérios diagnósticos para SM descritos por Ficher et al incluem: (1) sorologia fortemente positiva; (2) uma intensa reação de Jarisch-Herxheimer; (3) manifestações clínica e histopatológica características e (4) uma boa resposta à antibioticoterapia, os quais também observamos.
{"title":"MANIFESTAÇÃO EXUBERANTE DA SÍFILIS MALIGNA PRECOCE EM ADULTO IMUNOCOMPETENTE","authors":"Marcos Davi Gomes de Sousa, Gabrielle Mendonça Condé, Larissa Pinheiro do Nascimento, Nathalia David de Almeida, Leonardo Lora","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103592","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103592","url":null,"abstract":"Sífilis maligna precoce (SMP) é forma rara de sífilis secundária com lesões necróticas, que podem estar acompanhadas de sinais e sintomas sistêmicos. Geralmente está associada à imunossupressão, particularmente induzida pelo HIV, mas pode se manifestar no paciente imunocompetente. Com o contínuo aumento dos casos de sífilis, a SMP torna-se menos incomum. Apresenta-se o caso de um paciente imunocompetente acometido com lesões sifilíticas exuberantes. Masculino 38 anos, heterossexual, relatou um mês de evolução de nódulo na região occipital à direita, na base do pescoço, associado à dor, aumento progressivo e saída de exsudato purulento. Negava traumas prévios ou contato com animais, negava também perda de peso ou febre nesse período. Na história pregressa, negava uso continuo de medicamentos ou antecedentes patológicos. Relatou ainda antecedente de uso de cocaína inalada e sexo desprotegido com parceira regular. Ao exame físico, apresentava nódulo eritematoso de bordos mal delimitados, endurecido, medindo 5 × 5 cm, com crostas purulentas e áreas de necrose em região cervical posterior direita, além de lesão única, periumbilical ipsilateral, com crosta e hiperemia adjacente e dois pontos centrais de supuração. Nos diagnósticos diferenciais do caso foram levantados: foliculite decalvante, leishmaniose e paracoccidioidomicose. Foram realizados testes rápidos para HIV e hepatites B e C, negativos, e teste rápido para sífilis, que foi positivo, tendo sido iniciado tratamento com 2.400.000 UI, em dose única, via intramuscular. O VDRL veio 1/32, tendo havido involução importante do quadro após 3 semanas. Logo após o tratamento, apresentou febre e mal-estar, tendo sido manejado sintomaticamente com antitérmicos, com sucesso. Descrita inicialmente por Bazin (1859), SMP é uma manifestação rara dessa infecção. Inicialmente, acreditava-se que era uma forma inicial de sífilis terciária, mas, em 1896, no 3° Congresso Internacional de Dermatologia, foi classificada como uma forma de sífilis secundária ulcerativa. Até a expansão da transmissão do HIV, a SMP era associada ao alcoolismo, desnutrição grave e uso de drogas ilícitas, o qual nós observamos. Os critérios diagnósticos para SM descritos por Ficher et al incluem: (1) sorologia fortemente positiva; (2) uma intensa reação de Jarisch-Herxheimer; (3) manifestações clínica e histopatológica características e (4) uma boa resposta à antibioticoterapia, os quais também observamos.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"31 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136246680","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103480
Wanderley Dias das Chagas Junior, Amanda Mendes Silva, Luana Soares Barbagelata, Edivaldo Costa Sousa Junior, Agatha Monike Silva Nunes, Delana Andreza Melo Bezerra, Edvaldo Tavares da Penha Junior, Alessandra Alves Polaro Lima, Edna Maria Acunã de Souza, Maria Silvia Sousa da Lucena, Luana da Silva Soares Farias, Fernando Neto Tavares, Mirleide Cordeiro dos Santos
Dentre as doenças infecciosas de grande importância para a saúde pública, a gripe ou influenza desempenha um papel significativo nos índices de morbidade e mortalidade em todo o mundo. Tradicionalmente, os vírus influenza A são os mais descritos devido ao seu potencial de causar pandemias, no entanto os vírus influenza B apresentam grande impacto sendo associados a epidemias sazonais e ocasionando doenças graves, principalmente em crianças. Diante disto, este estudo objetivou investigar as propriedades moleculares dos vírus influenza B que circularam durante a epidemia sazonal em estados das Regiões Norte e Nordeste do Brasil no ano de 2023. Foram analisadas 387 amostras com resultado de RT-qPCR positivo para influenza B recebidas no Laboratório de Vírus Respiratório (LVR) do Instituto Evandro Chagas de janeiro a maio de 2023. Destas, 184 foram selecionadas para o sequenciamento genômico, adotando-se os seguintes critérios, amostras com Ct≤ 29, distribuídas por semanas epidemiológicas e unidades federativas, visando garantir que houvesse representatividade temporal e espacial. As bibliotecas foram preparadas utilizando Nextera XT DNA Library Preparation Kit (Ilumina) e submetidas ao sequenciamento de nova geração por amplicon, na plataforma MiSeq Illumina. As sequências obtidas foram montadas e alinhadas com cepas vacinais e outras obtidas de diferentes regiões do Brasil e do Mundo disponibilizadas no GISAID. Durante o período analisado foram gerados 174 genomas completos de influenza B. A análise genética demonstrou que todas as amostras pertenciam a linhagem Victoria, clado V1A.3ª.2, que apresentam como marcadores genéticos a deleção de três aminoácidos (resíduos HÁ1 162-164), classificando-as no grupo V.1ª.3. Desta forma, as cepas circulantes apresentam-se geneticamente relacionada a cepa vacinal B/Austria/1359417/2021 (V.1ª.3ª.2) preconizada para o ano de 2023 no hemisfério sul. A vigilância genômica dos vírus influenza nos permite entender melhor os a dinâmica evolutiva destes agentes, gerando dados que nos permitem inferir sobre a compatibilidade das cepas circulantes com as que compõe a vacina. Desta forma, favorecendo a instituição de intervenções efetivas visando melhorar a aceitação da vacina contra influenza, garantindo assim um maior impacto da vacinação, especialmente no que tange a redução do ônus trazido por esta doença para a população humana.
在对公共卫生非常重要的传染病中,流感在世界范围内的发病率和死亡率中发挥着重要作用。传统上,甲型流感病毒是描述最多的病毒,因为它有可能引起大流行,但乙型流感病毒具有很大的影响,与季节性流行病有关,并造成严重疾病,特别是在儿童中。因此,本研究旨在调查2023年在巴西北部和东北部各州季节性流行期间传播的B型流感病毒的分子特性。对2023年1月至5月在Evandro Chagas研究所呼吸道病毒实验室收到的387份乙型流感RT-qPCR阳性样本进行分析。其中,选择184例进行基因组测序,采用以下标准,Ct≤29例,按流行病学周和联邦单位分布,以确保具有时间和空间代表性。利用Nextera XT DNA库制备试剂盒(Ilumina)制备文库,并在MiSeq Illumina平台上进行下一代amplicon测序。获得的序列与来自巴西和世界不同地区的疫苗株和GISAID提供的其他疫苗株进行了组装和对齐。在分析期间产生了174个完整的b型流感基因组。遗传分析表明,所有样本都属于维多利亚系,分支V1A.3ª。2、以3个氨基酸(h1162 -164残基)的缺失为遗传标记,将其分类为V.1ª.3组。因此,循环菌株与南半球2023年推荐的疫苗株B/Austria/1359417/2021 (v . 1.3ª.2)有遗传关系。对流感病毒的基因组监测使我们能够更好地了解这些病原体的进化动态,产生的数据使我们能够推断流行菌株与构成疫苗的菌株的相容性。因此,有利于采取有效干预措施,提高对流感疫苗的接受程度,从而确保疫苗接种产生更大的影响,特别是在减少这一疾病给人类带来的负担方面。
{"title":"PREDOMINÂNCIA DA LINHAGEM VICTORIA DO VÍRUS INFLUENZA B DURANTE A TEMPORADA DE INFLUENZA 2023 NAS REGIÕES NORTE E NORDESTE DO BRASIL","authors":"Wanderley Dias das Chagas Junior, Amanda Mendes Silva, Luana Soares Barbagelata, Edivaldo Costa Sousa Junior, Agatha Monike Silva Nunes, Delana Andreza Melo Bezerra, Edvaldo Tavares da Penha Junior, Alessandra Alves Polaro Lima, Edna Maria Acunã de Souza, Maria Silvia Sousa da Lucena, Luana da Silva Soares Farias, Fernando Neto Tavares, Mirleide Cordeiro dos Santos","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103480","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103480","url":null,"abstract":"Dentre as doenças infecciosas de grande importância para a saúde pública, a gripe ou influenza desempenha um papel significativo nos índices de morbidade e mortalidade em todo o mundo. Tradicionalmente, os vírus influenza A são os mais descritos devido ao seu potencial de causar pandemias, no entanto os vírus influenza B apresentam grande impacto sendo associados a epidemias sazonais e ocasionando doenças graves, principalmente em crianças. Diante disto, este estudo objetivou investigar as propriedades moleculares dos vírus influenza B que circularam durante a epidemia sazonal em estados das Regiões Norte e Nordeste do Brasil no ano de 2023. Foram analisadas 387 amostras com resultado de RT-qPCR positivo para influenza B recebidas no Laboratório de Vírus Respiratório (LVR) do Instituto Evandro Chagas de janeiro a maio de 2023. Destas, 184 foram selecionadas para o sequenciamento genômico, adotando-se os seguintes critérios, amostras com Ct≤ 29, distribuídas por semanas epidemiológicas e unidades federativas, visando garantir que houvesse representatividade temporal e espacial. As bibliotecas foram preparadas utilizando Nextera XT DNA Library Preparation Kit (Ilumina) e submetidas ao sequenciamento de nova geração por amplicon, na plataforma MiSeq Illumina. As sequências obtidas foram montadas e alinhadas com cepas vacinais e outras obtidas de diferentes regiões do Brasil e do Mundo disponibilizadas no GISAID. Durante o período analisado foram gerados 174 genomas completos de influenza B. A análise genética demonstrou que todas as amostras pertenciam a linhagem Victoria, clado V1A.3ª.2, que apresentam como marcadores genéticos a deleção de três aminoácidos (resíduos HÁ1 162-164), classificando-as no grupo V.1ª.3. Desta forma, as cepas circulantes apresentam-se geneticamente relacionada a cepa vacinal B/Austria/1359417/2021 (V.1ª.3ª.2) preconizada para o ano de 2023 no hemisfério sul. A vigilância genômica dos vírus influenza nos permite entender melhor os a dinâmica evolutiva destes agentes, gerando dados que nos permitem inferir sobre a compatibilidade das cepas circulantes com as que compõe a vacina. Desta forma, favorecendo a instituição de intervenções efetivas visando melhorar a aceitação da vacina contra influenza, garantindo assim um maior impacto da vacinação, especialmente no que tange a redução do ônus trazido por esta doença para a população humana.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"36 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136246681","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103011
Monaliza Cardozo Rebouças, Leonardo Bandeira Cerqueira Zollinger, Scarlat Marjory de Oliveira Moura, Laiane dos Santos Ribeiro Machado, Rafaella Tambone Barral, Maria Fernanda Bahia Bacellar Souza, Thiago Pinho Cordeiro Araújo, Simone murta Martins, Marcio Pires dos Santos, José Adriano Goes Silva, Anderson Vinicius Mota de Souza, Fabianna Márcia Maranhão Bahia, Carlos Roberto Brites Alves
O objetivo deste estudo foi investigar os fatores associados às mudanças da terapia antirretroviral (TARV) inicial dos indivíduos acompanhados no serviço de referência estadual em Salvador, Bahia. Estudo longitudinal, incluindo todas as PVHIV, maiores de 18 anos, matriculadas no Centro Estadual Especializado em Diagnóstico, Assistência e Pesquisa (CEDAP) em 2017 e em uso de TARV. Foram analisadas mudanças ocorridas até 31/12/2022. Os dados foram extraídos dos prontuários e de sistemas nacionais (SISCEL e SICLOM). Foram coletados variáveis epidemiológicas, clínicas, tratamento, motivo da troca, adesão suficiente (superior a 80% das retiradas de ARV na farmácia), sucesso virológico na troca (carga viral inferior a 50 cópias/mL) e óbito. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Sesab. Foram incluídos 493 indivíduos em TARV. A idade média foi 36,8±10,8 anos e variou de 18 a 73 anos. Prevaleceu o sexo masculino (64,1%), autodeclarados negros e pardos (84,6%), com até 8 anos de estudo (48,2%), residentes em Salvador (78,7%). O tempo médio de seguimento foi 154 semanas. A TARV inicial mais frequente foi a combinação de lamivudina (3TC) + tenofovir (TDF) + Dolutegravir (DTG) (60,4%), seguido de 3TC+TDF associado ao Efavirenz (25,0%) ou Atazanavir/ritonavir (4,9%). Ocorreram 173 trocas de esquema inicial, com tempo médio 50 semanas entre o início da TARV e a troca. As mudanças foram menos frequentes na TARV inicial baseada em DTG (15,9%) do que naquela sem DTG (65,1%), com risco 2,4 vezes maior de necessitar mudança na TARV (p < 0,01; IC 2,0 – 2,9). A ocorrência de reações adversas foi o principal motivo para as mudanças (41,0%), respondendo por 23,9% para esquemas baseados em DTG versus 76,1% para outros ARV (p > 0,05). A reação adversa ao DTG ocorreu em 15,2%, com ocorrência de alteração no padrão de sono, peso e tontura. O EFV foi associado a 29,9% de reações como alucinação, alteração no padrão de sono, ansiedade e depressão. Houve associação negativa entre a ocorrência de trocas e insucesso virológico (p < 0,01; IC 1,6-3,9). Foram observados 39 óbitos na amostra e, em 16 casos (41,0%), houve mudança de tratamento. O principal determinante das mudanças de TARV inicial foi a ocorrência de RAM. A maioria dos pacientes mudou a TARV inicial uma única vez. A TARV inicial baseada em DTG reduz a necessidade de mudanças no tratamento e favorece a manutenção do sucesso virológico.
{"title":"FATORES ASSOCIADOS ÀS MUDANÇAS DA TERAPIA ANTIRRETROVIRAL INICIAL EM UM CENTRO DE REFERÊNCIA NA BAHIA – BRASIL","authors":"Monaliza Cardozo Rebouças, Leonardo Bandeira Cerqueira Zollinger, Scarlat Marjory de Oliveira Moura, Laiane dos Santos Ribeiro Machado, Rafaella Tambone Barral, Maria Fernanda Bahia Bacellar Souza, Thiago Pinho Cordeiro Araújo, Simone murta Martins, Marcio Pires dos Santos, José Adriano Goes Silva, Anderson Vinicius Mota de Souza, Fabianna Márcia Maranhão Bahia, Carlos Roberto Brites Alves","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103011","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103011","url":null,"abstract":"O objetivo deste estudo foi investigar os fatores associados às mudanças da terapia antirretroviral (TARV) inicial dos indivíduos acompanhados no serviço de referência estadual em Salvador, Bahia. Estudo longitudinal, incluindo todas as PVHIV, maiores de 18 anos, matriculadas no Centro Estadual Especializado em Diagnóstico, Assistência e Pesquisa (CEDAP) em 2017 e em uso de TARV. Foram analisadas mudanças ocorridas até 31/12/2022. Os dados foram extraídos dos prontuários e de sistemas nacionais (SISCEL e SICLOM). Foram coletados variáveis epidemiológicas, clínicas, tratamento, motivo da troca, adesão suficiente (superior a 80% das retiradas de ARV na farmácia), sucesso virológico na troca (carga viral inferior a 50 cópias/mL) e óbito. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Sesab. Foram incluídos 493 indivíduos em TARV. A idade média foi 36,8±10,8 anos e variou de 18 a 73 anos. Prevaleceu o sexo masculino (64,1%), autodeclarados negros e pardos (84,6%), com até 8 anos de estudo (48,2%), residentes em Salvador (78,7%). O tempo médio de seguimento foi 154 semanas. A TARV inicial mais frequente foi a combinação de lamivudina (3TC) + tenofovir (TDF) + Dolutegravir (DTG) (60,4%), seguido de 3TC+TDF associado ao Efavirenz (25,0%) ou Atazanavir/ritonavir (4,9%). Ocorreram 173 trocas de esquema inicial, com tempo médio 50 semanas entre o início da TARV e a troca. As mudanças foram menos frequentes na TARV inicial baseada em DTG (15,9%) do que naquela sem DTG (65,1%), com risco 2,4 vezes maior de necessitar mudança na TARV (p < 0,01; IC 2,0 – 2,9). A ocorrência de reações adversas foi o principal motivo para as mudanças (41,0%), respondendo por 23,9% para esquemas baseados em DTG versus 76,1% para outros ARV (p > 0,05). A reação adversa ao DTG ocorreu em 15,2%, com ocorrência de alteração no padrão de sono, peso e tontura. O EFV foi associado a 29,9% de reações como alucinação, alteração no padrão de sono, ansiedade e depressão. Houve associação negativa entre a ocorrência de trocas e insucesso virológico (p < 0,01; IC 1,6-3,9). Foram observados 39 óbitos na amostra e, em 16 casos (41,0%), houve mudança de tratamento. O principal determinante das mudanças de TARV inicial foi a ocorrência de RAM. A maioria dos pacientes mudou a TARV inicial uma única vez. A TARV inicial baseada em DTG reduz a necessidade de mudanças no tratamento e favorece a manutenção do sucesso virológico.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"30 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136246710","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103462
Rodrigo Carvalho de Menezes, Isabella Bonifácio Brige Ferreira, Stefania Lacerda Garcia, Hugo Nunes Pustilnik, Bruno Bezerril Andrade, Luciana Sobral Silveira Silva, Mariana Araújo-Pereira
As infecções do trato respiratório inferior (ITRI) representam uma das principais causas de mortalidade em crianças de 0 a 9 anos em todo o mundo. Estratégias eficazes de prevenção e tratamento deste quadro dependem da compreensão de sua etiologia e características clínicas. Diante disso, o diagnóstico etiológico preciso das ITRIs é essencial para um manejo clínico eficaz. Durante a pandemia de COVID-19, o uso extensivo de métodos moleculares proporcionou uma grande quantidade de dados sobre as ITRIs no Brasil. Neste estudo, buscamos identificar as características clínicas associadas a oito agentes virais em crianças com ITRI grave. Trata-se de estudo de coorte retrospectivo com dados do Sistema Brasileiro de Informações da Vigilância Epidemiológica da Gripe. Foram incluídos pacientes com menos de 20 anos que apresentaram ITRI grave confirmada por RT-PCR entre os anos de 2020 e 2022. Regressões logísticas binárias foram usadas para examinar associações entre patógenos e sintomas, corrigindo para potenciais confundidores. Foram avaliados 60.657 casos. Os principais agentes virais detectados foram SARS-CoV-2 (COV2) (41,2%), Vírus Sincicial Respiratório (VSR) (29,1%), Rinovírus Humano (HRV) (12,1%) e Influenza (FLU) (5,5%). Observou-se uma taxa de mortalidade geral de 4,3%. A análise multivariada evidenciou que COV2 apresentou menos probabilidade de apresentar tosse (OR: 0,34; IC 95%: 0,32-0,36), desconforto respiratório (aOR: 0,61; IC 95%: 0,59-0,64) e dessaturação (aOR: 0,71; 95% CI: 0,69-0,75). VSR fortemente associado à tosse (aOR: 2,59; IC95%: 2,45-2,75) e desconforto respiratório (aOR: 1,54; IC95%: 1,46-1,62), enquanto a FLU foi associada à febre (aOR: 2,27; IC95%: 2,06-2,50) e dor de garganta (aOR: 1,48; IC95%: 1,34-1,64). Além disso, ocorreu uma incidência significativa dos casos de VSR nos momentos iniciais da pandemia, enquanto que o inverso aconteceu com o da influenza, no qual a manifestação destes foi menor. os agentes virais responsáveis por ITRI grave têm associações distintas com as características clínicas em crianças.
{"title":"INFECÇÕES RESPIRATÓRIAS VIRAIS GRAVES EM CRIANÇAS BRASILEIRAS: CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DE UMA COORTE NACIONAL","authors":"Rodrigo Carvalho de Menezes, Isabella Bonifácio Brige Ferreira, Stefania Lacerda Garcia, Hugo Nunes Pustilnik, Bruno Bezerril Andrade, Luciana Sobral Silveira Silva, Mariana Araújo-Pereira","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103462","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103462","url":null,"abstract":"As infecções do trato respiratório inferior (ITRI) representam uma das principais causas de mortalidade em crianças de 0 a 9 anos em todo o mundo. Estratégias eficazes de prevenção e tratamento deste quadro dependem da compreensão de sua etiologia e características clínicas. Diante disso, o diagnóstico etiológico preciso das ITRIs é essencial para um manejo clínico eficaz. Durante a pandemia de COVID-19, o uso extensivo de métodos moleculares proporcionou uma grande quantidade de dados sobre as ITRIs no Brasil. Neste estudo, buscamos identificar as características clínicas associadas a oito agentes virais em crianças com ITRI grave. Trata-se de estudo de coorte retrospectivo com dados do Sistema Brasileiro de Informações da Vigilância Epidemiológica da Gripe. Foram incluídos pacientes com menos de 20 anos que apresentaram ITRI grave confirmada por RT-PCR entre os anos de 2020 e 2022. Regressões logísticas binárias foram usadas para examinar associações entre patógenos e sintomas, corrigindo para potenciais confundidores. Foram avaliados 60.657 casos. Os principais agentes virais detectados foram SARS-CoV-2 (COV2) (41,2%), Vírus Sincicial Respiratório (VSR) (29,1%), Rinovírus Humano (HRV) (12,1%) e Influenza (FLU) (5,5%). Observou-se uma taxa de mortalidade geral de 4,3%. A análise multivariada evidenciou que COV2 apresentou menos probabilidade de apresentar tosse (OR: 0,34; IC 95%: 0,32-0,36), desconforto respiratório (aOR: 0,61; IC 95%: 0,59-0,64) e dessaturação (aOR: 0,71; 95% CI: 0,69-0,75). VSR fortemente associado à tosse (aOR: 2,59; IC95%: 2,45-2,75) e desconforto respiratório (aOR: 1,54; IC95%: 1,46-1,62), enquanto a FLU foi associada à febre (aOR: 2,27; IC95%: 2,06-2,50) e dor de garganta (aOR: 1,48; IC95%: 1,34-1,64). Além disso, ocorreu uma incidência significativa dos casos de VSR nos momentos iniciais da pandemia, enquanto que o inverso aconteceu com o da influenza, no qual a manifestação destes foi menor. os agentes virais responsáveis por ITRI grave têm associações distintas com as características clínicas em crianças.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"21 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136246789","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}