Pub Date : 2023-02-28DOI: 10.20396/remate.v42i2.8671173
Christian Fischgold
As narrativas míticas são geralmente compreendidas como termos de síntese e mediação entre atores e mundos humanos e não humanos. As mudanças ocorridas na abordagem antropológica do século XX alteraram a concepção corrente do mito, a partir de então não mais visto como uma narrativa do passado, mas como tendo adquirido uma função de orientar a vida social cotidiana no presente. Essa nova atitude destacou a dimensão do mito sendo vivido, utilizado e atuante. Quando introduzidas no contexto artístico, as narrativas míticas se tornam um campo no qual se desenvolve um intenso processo de transculturação, estabelecendo um diálogo intercultural entre culturas periféricas e culturas hegemônicas. Esse artigo afirma o lugar central que as narrativas míticas ocuparam (e ainda ocupam) nos processos de modernização do campo das letras e das artes no contexto dos países de língua oficial portuguesa, especialmente Brasil e Angola. Além disso, destaca como essas narrativas desafiam o eurocentrismo e o antropocentrismo, presentes nas artes e nas sociedades contemporâneas.
{"title":"Notas sobre narrativas míticas e transculturação","authors":"Christian Fischgold","doi":"10.20396/remate.v42i2.8671173","DOIUrl":"https://doi.org/10.20396/remate.v42i2.8671173","url":null,"abstract":"As narrativas míticas são geralmente compreendidas como termos de síntese e mediação entre atores e mundos humanos e não humanos. As mudanças ocorridas na abordagem antropológica do século XX alteraram a concepção corrente do mito, a partir de então não mais visto como uma narrativa do passado, mas como tendo adquirido uma função de orientar a vida social cotidiana no presente. Essa nova atitude destacou a dimensão do mito sendo vivido, utilizado e atuante. Quando introduzidas no contexto artístico, as narrativas míticas se tornam um campo no qual se desenvolve um intenso processo de transculturação, estabelecendo um diálogo intercultural entre culturas periféricas e culturas hegemônicas. Esse artigo afirma o lugar central que as narrativas míticas ocuparam (e ainda ocupam) nos processos de modernização do campo das letras e das artes no contexto dos países de língua oficial portuguesa, especialmente Brasil e Angola. Além disso, destaca como essas narrativas desafiam o eurocentrismo e o antropocentrismo, presentes nas artes e nas sociedades contemporâneas.","PeriodicalId":32941,"journal":{"name":"Remate de Males","volume":null,"pages":null},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-02-28","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"48872299","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-02-28DOI: 10.20396/remate.v42i2.8669980
Benito Benito Petraglia
O autor apresenta uma resenha crítica sobre uma antologia de Machado de Assis.
作者对马沙多·德·阿西斯的一本选集进行了评论。
{"title":"Atualidade de Machado de Assis","authors":"Benito Benito Petraglia","doi":"10.20396/remate.v42i2.8669980","DOIUrl":"https://doi.org/10.20396/remate.v42i2.8669980","url":null,"abstract":"O autor apresenta uma resenha crítica sobre uma antologia de Machado de Assis.","PeriodicalId":32941,"journal":{"name":"Remate de Males","volume":null,"pages":null},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-02-28","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"42914297","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-02-28DOI: 10.20396/remate.v42i2.8670993
Nicholas Brown
Resenha de Seja como for, do Roberto Schwarz.
罗伯托·施瓦茨的《无论如何》评论。
{"title":"Seja como for","authors":"Nicholas Brown","doi":"10.20396/remate.v42i2.8670993","DOIUrl":"https://doi.org/10.20396/remate.v42i2.8670993","url":null,"abstract":"Resenha de Seja como for, do Roberto Schwarz.","PeriodicalId":32941,"journal":{"name":"Remate de Males","volume":null,"pages":null},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-02-28","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"47926886","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-02-27DOI: 10.20396/remate.v42i2.8669055
Claudio Cardinali
A mais recente peça de Roberto Schwarz, Rainha Lira (2022), é uma apropriação artística dos acontecimentos sociopolíticos brasileiros da última década. Em sua camada mais superficial, ela é uma paródia que põe em cena figuras-chave da história contemporânea. No entanto, esse aspecto, apesar do grande valor documentário que terá no futuro, não determina por si só o valor estético da peça. Ao observar a composição da obra, desde a configuração das falas individuais, passando por sua orquestração cacofônica nas cenas, até os macromovimentos que abrangem toda a trama, vê-se que sua unidade e força estéticas dependem principalmente de sua estrutura. As contradições fundantes da sociabilidade brasileira, objeto principal da ensaística de Schwarz, configuram também a dinâmica formal em Rainha Lira, onde, por exemplo, a relação entre modernidade e atraso aparece profundamente imbricada com a própria dinâmica das falas e das cenas. Por fim, também o caráter político da peça se deve não ao aspecto paródico, mas antes ao ímpeto crítico que impulsiona sua composição literária.
{"title":"Notas sobre Rainha Lira","authors":"Claudio Cardinali","doi":"10.20396/remate.v42i2.8669055","DOIUrl":"https://doi.org/10.20396/remate.v42i2.8669055","url":null,"abstract":"A mais recente peça de Roberto Schwarz, Rainha Lira (2022), é uma apropriação artística dos acontecimentos sociopolíticos brasileiros da última década. Em sua camada mais superficial, ela é uma paródia que põe em cena figuras-chave da história contemporânea. No entanto, esse aspecto, apesar do grande valor documentário que terá no futuro, não determina por si só o valor estético da peça. Ao observar a composição da obra, desde a configuração das falas individuais, passando por sua orquestração cacofônica nas cenas, até os macromovimentos que abrangem toda a trama, vê-se que sua unidade e força estéticas dependem principalmente de sua estrutura. As contradições fundantes da sociabilidade brasileira, objeto principal da ensaística de Schwarz, configuram também a dinâmica formal em Rainha Lira, onde, por exemplo, a relação entre modernidade e atraso aparece profundamente imbricada com a própria dinâmica das falas e das cenas. Por fim, também o caráter político da peça se deve não ao aspecto paródico, mas antes ao ímpeto crítico que impulsiona sua composição literária. ","PeriodicalId":32941,"journal":{"name":"Remate de Males","volume":null,"pages":null},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-02-27","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"46253874","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-02-27DOI: 10.20396/remate.v42i2.8670935
Janaina Tatim
Neste artigo, tomo como ponto de partida a observação de que o livro A queda do céu, do xamã yanomami Davi Kopenawa em coautoria com o antropólogo Bruce Albert, foi elaborado no chão editorial da Coleção Terre Humaine, que disputa historicamente um viés Humanista como orientação para o conhecimento produzido no meio letrado. Mapeando esse viés, comparo certas mediações editoriais, a saber, o entendimento de humanismo e de humano, com o modo como essas noções podem ser entendidas a partir da perspectiva xamânica de Kopenawa. Argumento sobre como ela, ao mesmo tempo em que expande a compreensão do humano, o reivindica como uma condição ecológica. Se por um lado a perspectiva de Kopenawa fala de uma humanidade não só humana, divergente do antropocentrismo narcisista do Humanismo ocidental, por outro lado, o apelo de suas palavras é dirigido especificamente aos ditos humanos, uma vez que estes se tornaram os agentes privilegiados da destruição da terra-floresta. O artigo mostra de que forma o pensamento de Davi Kopenawa, elaborado no centro da ecologia e enquanto um livro endereçado a nós, traz a necessidade da expansão do sentido de humano, tanto como produção de conhecimento e reconhecimento, quanto como princípio para o enfretamento das grandes interrogações acerca do futuro da Humanidade perante o colapso ambiental.
在这篇文章中,我以观察到的观点为出发点,亚诺马米萨满达维·科佩纳瓦与人类学家布鲁斯·艾伯特合著的《a queda do céu》一书是在Terre Humaine Collection的编辑部详细阐述的,该书在历史上对人文主义偏见作为在识字环境中产生的知识的指导提出了质疑。映射这种偏见,我将某些编辑中介,即对人文主义和人类的理解,与如何从科佩纳瓦的萨满视角理解这些概念进行了比较。我争论它是如何在扩大对人类的理解的同时,声称它是一种生态条件的。如果说,一方面,科佩纳瓦的视角讲述的是一个不仅仅是人类的人性,与西方人道主义的自恋的人类中心主义不同,另一方面,他的话的吸引力是专门针对人类谚语的,因为它们已经成为破坏陆地森林的特权代理人。这篇文章展示了Davi Kopenawa的思想是如何在生态学的中心阐述的,作为一本写给我们的书,它带来了对人类意识扩展的需求,既是知识和认可的产物,也是在环境崩溃的情况下面对人类未来重大问题的原则。
{"title":"Da terra humana à emergência de um \"humanismo\" ecológico nas palavras de Davi Kopenawa endereçadas aos brancos","authors":"Janaina Tatim","doi":"10.20396/remate.v42i2.8670935","DOIUrl":"https://doi.org/10.20396/remate.v42i2.8670935","url":null,"abstract":"Neste artigo, tomo como ponto de partida a observação de que o livro A queda do céu, do xamã yanomami Davi Kopenawa em coautoria com o antropólogo Bruce Albert, foi elaborado no chão editorial da Coleção Terre Humaine, que disputa historicamente um viés Humanista como orientação para o conhecimento produzido no meio letrado. Mapeando esse viés, comparo certas mediações editoriais, a saber, o entendimento de humanismo e de humano, com o modo como essas noções podem ser entendidas a partir da perspectiva xamânica de Kopenawa. Argumento sobre como ela, ao mesmo tempo em que expande a compreensão do humano, o reivindica como uma condição ecológica. Se por um lado a perspectiva de Kopenawa fala de uma humanidade não só humana, divergente do antropocentrismo narcisista do Humanismo ocidental, por outro lado, o apelo de suas palavras é dirigido especificamente aos ditos humanos, uma vez que estes se tornaram os agentes privilegiados da destruição da terra-floresta. O artigo mostra de que forma o pensamento de Davi Kopenawa, elaborado no centro da ecologia e enquanto um livro endereçado a nós, traz a necessidade da expansão do sentido de humano, tanto como produção de conhecimento e reconhecimento, quanto como princípio para o enfretamento das grandes interrogações acerca do futuro da Humanidade perante o colapso ambiental.","PeriodicalId":32941,"journal":{"name":"Remate de Males","volume":null,"pages":null},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-02-27","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"46375092","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-02-27DOI: 10.20396/remate.v42i2.8667351
Bruno Henrique Alvarenga Souza
Este artigo intenta promover uma leitura da poesia de João Cabral de Melo Neto, associando-a a conceitos oriundos do pensamento de Gilles Deleuze e Félix Guattari, notadamente a concepção de literatura menor e suas consequências estéticas e políticas. O foco da análise recai em Dois parlamentos e Auto do frade, textos significativos no que tange ao engajamento da obra cabralina. O objetivo é demonstrar como essa poesia produz sua “participação” através de suas escolhas formais, afastando assim interpretações simplórias que enxergam a relação entre política e poesia apenas em viés conteudista.
本文旨在促进对joao Cabral de Melo Neto诗歌的阅读,将其与Gilles Deleuze和felix Guattari思想中的概念联系起来,特别是次要文学的概念及其美学和政治后果。分析的重点是两个议会和Auto do frade,这是关于卡布拉利纳工作的重要文本。目的是证明这首诗是如何通过它的形式选择产生它的“参与”的,从而避免简单的解释,只从内容主义的角度看待政治和诗歌之间的关系。
{"title":"João Cabral de Melo Neto, poeta menor","authors":"Bruno Henrique Alvarenga Souza","doi":"10.20396/remate.v42i2.8667351","DOIUrl":"https://doi.org/10.20396/remate.v42i2.8667351","url":null,"abstract":"Este artigo intenta promover uma leitura da poesia de João Cabral de Melo Neto, associando-a a conceitos oriundos do pensamento de Gilles Deleuze e Félix Guattari, notadamente a concepção de literatura menor e suas consequências estéticas e políticas. O foco da análise recai em Dois parlamentos e Auto do frade, textos significativos no que tange ao engajamento da obra cabralina. O objetivo é demonstrar como essa poesia produz sua “participação” através de suas escolhas formais, afastando assim interpretações simplórias que enxergam a relação entre política e poesia apenas em viés conteudista.","PeriodicalId":32941,"journal":{"name":"Remate de Males","volume":null,"pages":null},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-02-27","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"43692299","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-02-24DOI: 10.20396/remate.v42i2.8668096
Sabrina Alvernaz
Este artigo se debruça sobre o curta-metragem Agahü: o sal do Xingu (2020) do cineasta indígena Takumã Kuikuro e seu contexto de produção na Terra Indígena do Xingu, Mato Grosso, Brasil. O documentário dialoga com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, mais especificamente com o direito à liberdade de pensamento, consciência e religião, de maneira a enfatizar que o “sal tradicional” conjuga ciência, arte, fé. Especial destaque é dado à dinâmica de produção imagética, considerando desdobramentos audiovisuais e político-sociais a partir da elaboração do roteiro, de escolhas de tradução e montagem. O foco também recai sobre a relação que a sociedade kuikuro tem com o sal tradicional. A resistência, a partir da insistência por um modo de vida Kuikuro, é entendida pelo viés da sustentabilidade ambiental diante da defesa do direito de colher seu alimento.
本文主要介绍土著电影制作人takuma Kuikuro的短片agahu: o sal do Xingu(2020)及其在巴西马托格罗索州兴古土著土地上的制作背景。这部纪录片与《世界人权宣言》,特别是思想、良心和宗教自由的权利进行了对话,以强调“传统盐”结合了科学、艺术和信仰。特别强调图像制作的动态,考虑视听和政治社会发展,从剧本的发展,翻译和编辑的选择。重点还在于kuikuro社会与传统盐的关系。这种抵制,源于对Kuikuro生活方式的坚持,被环境可持续性的偏见所理解,面对着对获取食物权利的捍卫。
{"title":"O direito de colher, o direito de filmar em “Agahü","authors":"Sabrina Alvernaz","doi":"10.20396/remate.v42i2.8668096","DOIUrl":"https://doi.org/10.20396/remate.v42i2.8668096","url":null,"abstract":"Este artigo se debruça sobre o curta-metragem Agahü: o sal do Xingu (2020) do cineasta indígena Takumã Kuikuro e seu contexto de produção na Terra Indígena do Xingu, Mato Grosso, Brasil. O documentário dialoga com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, mais especificamente com o direito à liberdade de pensamento, consciência e religião, de maneira a enfatizar que o “sal tradicional” conjuga ciência, arte, fé. Especial destaque é dado à dinâmica de produção imagética, considerando desdobramentos audiovisuais e político-sociais a partir da elaboração do roteiro, de escolhas de tradução e montagem. O foco também recai sobre a relação que a sociedade kuikuro tem com o sal tradicional. A resistência, a partir da insistência por um modo de vida Kuikuro, é entendida pelo viés da sustentabilidade ambiental diante da defesa do direito de colher seu alimento.","PeriodicalId":32941,"journal":{"name":"Remate de Males","volume":null,"pages":null},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-02-24","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"45356823","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-02-23DOI: 10.20396/remate.v42i2.8667224
A. Gellis, Juliana Araujo Nascimento
Prenunciando aspectos da realidade humana investigados por Sigmund Freud, Le Horla de Maupassant retrata a possessão do protagonista anônimo ou por um monstro desconhecido ou por uma desordem psíquica, os quais parecem transpor a estrutura mental maior que governa a sociedade da época e o regime de pensamento que se impõe com a secularização dos costumes, em uma narrativa em forma de diário, permitindo outras tantas aproximações com a psicanálise. Com isso, encontram-se aberturas e meandros para um estudo comparado de literatura e psicanálise: percorrendo suas zonas fronteiriças, novas significações e interpretações surgem; entretanto, deve-se ter em vista os limites dessa abordagem, na qual a literatura pode ilustrar a psique humana, e a psicanálise, auxiliar na análise do texto literário. Aplicando metodologias diferentes a um mesmo objeto de estudo, literatura e psicanálise produzem um saber a respeito desse objeto, cuja inter-ação pode ser observada em Le Horla. Ambos autores confrontavam uma sociedade fascinada por fenômenos sobrenaturais e paranormais ao mesmo tempo, preocupada em apreender o espírito humano em seu funcionamento e em sua perturbação e distúrbios: os alienistas da época mais consagrados a descrever a doença, alienavam o doente em nosografias, julgando-se seguramente distanciados de seu objeto de estudo e imparciais, (re)produzindo exclusões e preconceitos. Crentes de tamanho equívoco, de um lado Freud funda a psicanálise, de outro, Maupassant faz da literatura seu laboratório. Ambos criticam a ilusão de uma neutralidade no campo científico e trazem, ainda hoje, outra visão dos limites dos processos do inconsciente, mostrando que diferentes áreas podem dialogar sem que uma se reduza ou se imponha à outra para prosperar e impulsionar novas perspectivas de estudos e crítica.
在西格蒙德·弗洛伊德(Sigmund Freud)调查的人类现实的早期方面,勒·霍拉·德·莫泊桑(Le Horla de Maupassant,在日记形式的叙述中,允许其他精神分析方法。有了这一点,文学和精神分析的比较研究就有了开口和复杂性:跨越边界地带,出现了新的意义和解释;然而,我们必须记住这种方法的局限性,在这种方法中,文学可以说明人类的心理,而精神分析可以帮助分析文学文本。文学和精神分析将不同的方法应用于同一研究对象,产生了关于这个对象的知识,其相互作用可以在《荷拉》中观察到。两位作者同时面对一个对超自然现象和超自然现象着迷的社会,他们关心的是理解人类精神的运作及其干扰和干扰:更专注于描述疾病的时代的异化者用通俗易懂的语言疏远了病人,认为自己肯定与他们的研究对象相距遥远,而且是公正的,(重新)产生排斥和偏见。信仰错误的人,一方面弗洛伊德创立了精神分析,另一方面莫泊桑把文学作为他的实验室。两者都批评了科学领域中立的幻想,甚至在今天,也对无意识过程的局限性提出了另一种看法,表明不同领域可以进行对话,而不会减少或强加给另一个领域,以繁荣和促进研究和批评的新视角。
{"title":"Le horla","authors":"A. Gellis, Juliana Araujo Nascimento","doi":"10.20396/remate.v42i2.8667224","DOIUrl":"https://doi.org/10.20396/remate.v42i2.8667224","url":null,"abstract":"Prenunciando aspectos da realidade humana investigados por Sigmund Freud, Le Horla de Maupassant retrata a possessão do protagonista anônimo ou por um monstro desconhecido ou por uma desordem psíquica, os quais parecem transpor a estrutura mental maior que governa a sociedade da época e o regime de pensamento que se impõe com a secularização dos costumes, em uma narrativa em forma de diário, permitindo outras tantas aproximações com a psicanálise. Com isso, encontram-se aberturas e meandros para um estudo comparado de literatura e psicanálise: percorrendo suas zonas fronteiriças, novas significações e interpretações surgem; entretanto, deve-se ter em vista os limites dessa abordagem, na qual a literatura pode ilustrar a psique humana, e a psicanálise, auxiliar na análise do texto literário. Aplicando metodologias diferentes a um mesmo objeto de estudo, literatura e psicanálise produzem um saber a respeito desse objeto, cuja inter-ação pode ser observada em Le Horla. Ambos autores confrontavam uma sociedade fascinada por fenômenos sobrenaturais e paranormais ao mesmo tempo, preocupada em apreender o espírito humano em seu funcionamento e em sua perturbação e distúrbios: os alienistas da época mais consagrados a descrever a doença, alienavam o doente em nosografias, julgando-se seguramente distanciados de seu objeto de estudo e imparciais, (re)produzindo exclusões e preconceitos. Crentes de tamanho equívoco, de um lado Freud funda a psicanálise, de outro, Maupassant faz da literatura seu laboratório. Ambos criticam a ilusão de uma neutralidade no campo científico e trazem, ainda hoje, outra visão dos limites dos processos do inconsciente, mostrando que diferentes áreas podem dialogar sem que uma se reduza ou se imponha à outra para prosperar e impulsionar novas perspectivas de estudos e crítica.","PeriodicalId":32941,"journal":{"name":"Remate de Males","volume":null,"pages":null},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-02-23","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"47661879","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-02-23DOI: 10.20396/remate.v42i2.8670383
J. Lopes
Este artigo procura desenhar os primeiros parâmetros do que, no decorrer desta pesquisa em curso, estamos chamando de “dificuldade da poesia”. Para isso, toma-se como ponto de partida a reflexão crítica sobre o conceito de “resistência” formulado por Alfredo Bosi nos anos 1970. Busca-se demonstrar que o funcionamento do conceito bosiano de resistência depende de uma dupla projeção: de um lado, tendo perdido a sua capacidade de “nomear a vida”, o poema resistente, ou lido sob a chave da “poesia enquanto resistência”, projeta-se sobre a imagem do que o autor chama de “unidade mítica perdida” da poesia; de outro, instalando-se em um “presente aberto”, o poema resistente profetiza um “futuro promissor”. A partir de uma análise da conjuntura política e ideológica do Brasil de hoje e, de modo mais amplo, do capitalismo contemporâneo, este artigo recorre às obras de três poetas brasileiros contemporâneos para defender a hipótese de que este mecanismo de dupla projeção já não encontra lugar hoje, razão que nos leva a procurar definir os impasses da poesia contemporânea a partir não da ideia de “resistência”, mas da proposição do conceito de “dificuldade”, cujas delimitações teóricas esta pesquisa tem por objetivo estabelecer.
{"title":"Dificuldade da poesia","authors":"J. Lopes","doi":"10.20396/remate.v42i2.8670383","DOIUrl":"https://doi.org/10.20396/remate.v42i2.8670383","url":null,"abstract":"Este artigo procura desenhar os primeiros parâmetros do que, no decorrer desta pesquisa em curso, estamos chamando de “dificuldade da poesia”. Para isso, toma-se como ponto de partida a reflexão crítica sobre o conceito de “resistência” formulado por Alfredo Bosi nos anos 1970. Busca-se demonstrar que o funcionamento do conceito bosiano de resistência depende de uma dupla projeção: de um lado, tendo perdido a sua capacidade de “nomear a vida”, o poema resistente, ou lido sob a chave da “poesia enquanto resistência”, projeta-se sobre a imagem do que o autor chama de “unidade mítica perdida” da poesia; de outro, instalando-se em um “presente aberto”, o poema resistente profetiza um “futuro promissor”. A partir de uma análise da conjuntura política e ideológica do Brasil de hoje e, de modo mais amplo, do capitalismo contemporâneo, este artigo recorre às obras de três poetas brasileiros contemporâneos para defender a hipótese de que este mecanismo de dupla projeção já não encontra lugar hoje, razão que nos leva a procurar definir os impasses da poesia contemporânea a partir não da ideia de “resistência”, mas da proposição do conceito de “dificuldade”, cujas delimitações teóricas esta pesquisa tem por objetivo estabelecer.","PeriodicalId":32941,"journal":{"name":"Remate de Males","volume":null,"pages":null},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-02-23","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"47868945","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-02-23DOI: 10.20396/remate.v42i2.8664990
E. Silva
O presente estudo observa Dora Bruder, de Patrick Modiano, na sua condição de literatura de testemunho, entendendo-se que se trata de um romance que faz uso tanto da memória individual como da coletiva para que ele possa configurar a verdade daquilo que narra e assumir-se como testemunho com valor de arquivo. Para tanto, recorre-se a teorias sobre os tipos de testemunhas, sobretudo a de Agamben. As convenções que Searle estabelece para distinguir a ficção do documento, assim como sua ideia de que a obra literária é produzida por uma intencionalidade, são atreladas ao percurso que Iser define para a recepção pelo leitor-ideal, que parte do gênero para chegar a especificidades de obras. As noções de sedimentação e inovação, de Ricoeur explicam a maneira como o romance assume modos menos convencionados de configuração, que mimetizam o real sem negar sua natureza de gênero ficcional. Assim, o gênero romance pode inovar-se em um subgênero como o romance-de-testemunho, servir à fixação da memória coletiva e ter a intencionalidade que o define reconhecida pelo leitor-ideal, sem recair em categorizações que deixam de observá-lo como arte literária para ver nele apenas o documental.
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