Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103018
Rodrigo Almeida Magalhães Oliveira, Monaliza Cardozo Rebouças, Marcio Pires dos Santos, Fabianna Marcia Maranhão Bahia, Leila Regina Amorim Araújo de Azavedo, Silvio Romero da Silva Larangeira Junior, Miralba Freire de Carvalho Ribeiro da Silva
A pandemia de COVID-19 causou prejuízos na qualidade assistencial a Pessoas Vivendo com HIV/AIDS (PVHA) no Brasil e no mundo, sendo que a dimensão deste impacto ainda não foi plenamente mensurada. Este estudo avaliou o impacto da pandemia no tratamento de PVHA no Centro Estadual de Referência da Bahia, considerando os aspectos clínicos, de adesão à terapia antirretroviral (TARV) e de falhas terapêuticas, com base na assistência pré-pandemia. Trata-se de um estudo longitudinal e retrospectivo oriundo do Centro Estadual Especializado em Diagnóstico, Assistência e Pesquisa, de 03/2018 a 02/2022. Foram analisadas a adesão à TARV, a frequência de consultas médicas e as falhas terapêuticas. Os dados foram coletados de prontuários e sistemas de informações nacionais. Foram incluídas PVHA em seguimento no centro com diagnóstico de HIV, maiores de 18 anos e com retirada de TARV 3 meses antes do estudo. A seleção foi por amostragem aleatória simples, em uma população de 357 PVHA do Estudo de Coorte Ambispectiva em pacientes HIV acompanhados em um Centro de Referência na Bahia, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa. O cálculo amostral considerou um erro padrão de 5%. A amostra foi composta por 162 participantes que atenderam aos critérios de inclusão, com cerca de 51,2% de indivíduos do sexo masculino (média de 49,73 anos; ± 10,62 anos). Houve uma redução significativa na taxa de consultas médicas, de exames de carga viral e linfócitos T CD4, assim como na adesão à TARV, quando comparado ao ano pré-pandemia com o primeiro ano de pandemia (média de 0,74; ±2,67; p < 0,05). A taxa de falhas virológicas manteve-se estável, mas houve um menor número de exames realizados durante a pandemia. A proporção de PVHA sem nenhuma dispensa de ARV no ano aumentou 4 vezes entre o período pré-pandemia e o período de vigência da pandemia (p < 0,05), apesar do centro ter um funcionamento pleno da farmácia, distribuição otimizada de ARV e atendimento clínico com triagem nos primeiros 2 meses de pandemia, seguido de atendimento universal. Este estudo evidenciou impactos importantes na adesão à TARV, na realização de exames e de consultas médicas ambulatoriais na pandemia, apesar das medidas adotadas. Tais resultados ratificam a necessidade de serviços especializados em cuidado a PVHA desenvolverem novas estratégias com o objetivo de mitigar falhas no tratamento em situações-limite, como pandemias ou emergências de doenças infecciosas.
{"title":"IMPACTO DA PANDEMIA DE COVID-19 NA ASSISTÊNCIA AMBULATORIAL A PESSOAS VIVENDO COM HIV/AIDS- EXPERIÊNCIA DO CENTRO ESTADUAL DE REFERÊNCIA NA BAHIA, BRASIL","authors":"Rodrigo Almeida Magalhães Oliveira, Monaliza Cardozo Rebouças, Marcio Pires dos Santos, Fabianna Marcia Maranhão Bahia, Leila Regina Amorim Araújo de Azavedo, Silvio Romero da Silva Larangeira Junior, Miralba Freire de Carvalho Ribeiro da Silva","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103018","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103018","url":null,"abstract":"A pandemia de COVID-19 causou prejuízos na qualidade assistencial a Pessoas Vivendo com HIV/AIDS (PVHA) no Brasil e no mundo, sendo que a dimensão deste impacto ainda não foi plenamente mensurada. Este estudo avaliou o impacto da pandemia no tratamento de PVHA no Centro Estadual de Referência da Bahia, considerando os aspectos clínicos, de adesão à terapia antirretroviral (TARV) e de falhas terapêuticas, com base na assistência pré-pandemia. Trata-se de um estudo longitudinal e retrospectivo oriundo do Centro Estadual Especializado em Diagnóstico, Assistência e Pesquisa, de 03/2018 a 02/2022. Foram analisadas a adesão à TARV, a frequência de consultas médicas e as falhas terapêuticas. Os dados foram coletados de prontuários e sistemas de informações nacionais. Foram incluídas PVHA em seguimento no centro com diagnóstico de HIV, maiores de 18 anos e com retirada de TARV 3 meses antes do estudo. A seleção foi por amostragem aleatória simples, em uma população de 357 PVHA do Estudo de Coorte Ambispectiva em pacientes HIV acompanhados em um Centro de Referência na Bahia, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa. O cálculo amostral considerou um erro padrão de 5%. A amostra foi composta por 162 participantes que atenderam aos critérios de inclusão, com cerca de 51,2% de indivíduos do sexo masculino (média de 49,73 anos; ± 10,62 anos). Houve uma redução significativa na taxa de consultas médicas, de exames de carga viral e linfócitos T CD4, assim como na adesão à TARV, quando comparado ao ano pré-pandemia com o primeiro ano de pandemia (média de 0,74; ±2,67; p < 0,05). A taxa de falhas virológicas manteve-se estável, mas houve um menor número de exames realizados durante a pandemia. A proporção de PVHA sem nenhuma dispensa de ARV no ano aumentou 4 vezes entre o período pré-pandemia e o período de vigência da pandemia (p < 0,05), apesar do centro ter um funcionamento pleno da farmácia, distribuição otimizada de ARV e atendimento clínico com triagem nos primeiros 2 meses de pandemia, seguido de atendimento universal. Este estudo evidenciou impactos importantes na adesão à TARV, na realização de exames e de consultas médicas ambulatoriais na pandemia, apesar das medidas adotadas. Tais resultados ratificam a necessidade de serviços especializados em cuidado a PVHA desenvolverem novas estratégias com o objetivo de mitigar falhas no tratamento em situações-limite, como pandemias ou emergências de doenças infecciosas.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"27 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136247041","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103148
Amanda Mendes Silva Cruz, Edivaldo Costa Sousa Júnior, Luana Soares Barbagelata, Wanderley Dias das Chagas Júnior, Delana Andreza Melo Bezerra, Ágatha Monike Silva Nunes, Walter André Júnior, Kátia Cristina de Lima Furtado, Francy Anny Ribeiro Monteiro Mariscal, Andreia Santos Costa, Luisa Tajuja Rocha, Fernando Tavares, Mirleide Cordeiro dos Santos
Anualmente a Organização Mundial da Saúde (OMS), verifica a necessidade de atualização da composição da vacina antigripal, devido à alta variabilidade dos vírus influenza, baseando-se nos dados capitados pela Rede Global de Vigilância de Influenza. Nesse contexto, objetivamos por meio da caracterização genética, investigar compatibilidade das cepas de vírus influenza A circulantes na região Amazônica no período de janeiro de 2021 a maio de 2023 com as cepas vacinais preconizadas neste período. Foram selecionadas 354 amostras positivas, de modo que houvesse representatividade geográfica e temporal, para realização do sequenciamento de genoma completo por amplicons utilizando a plataforma MiSeq illumina. As sequências de nucleotídeos obtidas foram comparadas com as sequencias das cepas vacinais preconizadas para os Hemisférios Norte e Sul dos anos de 2021-2023. Dentre os 354 genomas de influenza A analisados, 194 (55%) foram do subtipo A/H1N1pdm09 e 160 (45%) A/H3N2. Quanto as cepas de A/H3N2, 76 (47,5%) foram coletados em 2021, 82 (51,25%) em 2022 e duas (1,25%) em 2023. A análise filogenética mostrou que os genomas de A/H3N2 pertenciam a cinco clados distintos, são eles: 2a.1b (n = 1); 2a.2a (n = 5); 2a.3 (n = 18); 2a.2b (n = 20); e 2a.2 (n = 116). Todos geneticamente divergentes da cepa vacinal A/HongKong/2671/2019 preconizada para a temporada de 2021, mas geneticamente compatível com a cepa vacinal A/Darwin/6/2021-like, estabelecida para as temporadas de 2022 e 2023 do hemisfério sul. Em relação as cepas de A(H1N1)pdm09, 182 (94%) foram coletadas no ano de 2023 e 12 (6%) em 2022. No período analisado, observou-se a co-circulação do clado 6B.1A.5a.2a (n = 112) e clado 6B.1A.5a.2a.1 (n = 82). A maioria das cepas circulantes (72,7%) em 2022 eram geneticamente relacionadas com a cepa vacinal A/Victoria/2570/2019 preconizada para a temporada de 2022 do hemisfério Sul. Até maio de 2023, 60% dos vírus circulantes são geneticamente relacionados com a cepa vacinal A/Sydney/5/2021 disponível para o hemisfério sul, porém 40% são geneticamente relacionados com a cepa vacinal A/Wisconsin/588/2019, estabelecida para a temporada 2022/2023 do hemisfério Norte. Como consequência da alta variabilidade genética dos vírus influenza, os eventos de incompatibilidade entre a vacina e os vírus circulantes são observados e podem contribuir para uma carga adicional relacionada à doença devido à limitada proteção cruzada.
{"title":"DIVERSIDADE GENÉTICA DAS CEPAS DE VÍRUS INFLUENZA A CIRCULANTES NA REGIÃO AMAZÔNICA NOS ANOS DE 2021 A 2023: UMA ANÁLISE DA COMPATIBILIDADE VACINAL","authors":"Amanda Mendes Silva Cruz, Edivaldo Costa Sousa Júnior, Luana Soares Barbagelata, Wanderley Dias das Chagas Júnior, Delana Andreza Melo Bezerra, Ágatha Monike Silva Nunes, Walter André Júnior, Kátia Cristina de Lima Furtado, Francy Anny Ribeiro Monteiro Mariscal, Andreia Santos Costa, Luisa Tajuja Rocha, Fernando Tavares, Mirleide Cordeiro dos Santos","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103148","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103148","url":null,"abstract":"Anualmente a Organização Mundial da Saúde (OMS), verifica a necessidade de atualização da composição da vacina antigripal, devido à alta variabilidade dos vírus influenza, baseando-se nos dados capitados pela Rede Global de Vigilância de Influenza. Nesse contexto, objetivamos por meio da caracterização genética, investigar compatibilidade das cepas de vírus influenza A circulantes na região Amazônica no período de janeiro de 2021 a maio de 2023 com as cepas vacinais preconizadas neste período. Foram selecionadas 354 amostras positivas, de modo que houvesse representatividade geográfica e temporal, para realização do sequenciamento de genoma completo por amplicons utilizando a plataforma MiSeq illumina. As sequências de nucleotídeos obtidas foram comparadas com as sequencias das cepas vacinais preconizadas para os Hemisférios Norte e Sul dos anos de 2021-2023. Dentre os 354 genomas de influenza A analisados, 194 (55%) foram do subtipo A/H1N1pdm09 e 160 (45%) A/H3N2. Quanto as cepas de A/H3N2, 76 (47,5%) foram coletados em 2021, 82 (51,25%) em 2022 e duas (1,25%) em 2023. A análise filogenética mostrou que os genomas de A/H3N2 pertenciam a cinco clados distintos, são eles: 2a.1b (n = 1); 2a.2a (n = 5); 2a.3 (n = 18); 2a.2b (n = 20); e 2a.2 (n = 116). Todos geneticamente divergentes da cepa vacinal A/HongKong/2671/2019 preconizada para a temporada de 2021, mas geneticamente compatível com a cepa vacinal A/Darwin/6/2021-like, estabelecida para as temporadas de 2022 e 2023 do hemisfério sul. Em relação as cepas de A(H1N1)pdm09, 182 (94%) foram coletadas no ano de 2023 e 12 (6%) em 2022. No período analisado, observou-se a co-circulação do clado 6B.1A.5a.2a (n = 112) e clado 6B.1A.5a.2a.1 (n = 82). A maioria das cepas circulantes (72,7%) em 2022 eram geneticamente relacionadas com a cepa vacinal A/Victoria/2570/2019 preconizada para a temporada de 2022 do hemisfério Sul. Até maio de 2023, 60% dos vírus circulantes são geneticamente relacionados com a cepa vacinal A/Sydney/5/2021 disponível para o hemisfério sul, porém 40% são geneticamente relacionados com a cepa vacinal A/Wisconsin/588/2019, estabelecida para a temporada 2022/2023 do hemisfério Norte. Como consequência da alta variabilidade genética dos vírus influenza, os eventos de incompatibilidade entre a vacina e os vírus circulantes são observados e podem contribuir para uma carga adicional relacionada à doença devido à limitada proteção cruzada.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"40 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136247046","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103510
Juliana Santos Teles, Josefa Rayane Santos Silveira, Renato Brito dos Santos Júnior, Íris Tarciana de Freitas Cunha, Tássia Nayane Vieira dos Santos, Maria Clara Menezes Nocrato Prado, Guilherme Reis de Santana Santos, Tatiana Rodrigues de Moura, Shirley Veronica Melo Almeida Lima, Allan Dantas dos Santos, Caíque Jordan Nunes Ribeiro
A leishmaniose visceral (LV) é uma doença tropical negligenciada e potencialmente letal. Ao considerar que o Brasil é responsável pela notificação de mais de 90% dos casos da América Latina, a vigilância epidemiológica possibilita a caracterização espacial, sazonal e cíclica dos novos casos. Como a covid-19 demandou a reorganização dos sistemas de saúde, hipotetizamos que houve redução da notificação de casos de LV na pandemia. Diante disso, este trabalho teve como objetivo analisar a dinâmica espacial da notificação de casos novos LV no Brasil em 2020, no contexto da pandemia da covid-19. Trata-se de um estudo ecológico de série temporal que utilizou análise espacial, cujas unidades de análise foram os 5.570 municípios brasileiros e a população os casos novos de LV registrados entre 2015 e 2020 no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). O p-score foi calculado para estimar a variação percentual dos registros de casos novos de LV. Os índices de Moran global e local univariados foram utilizados na análise espacial para a identificação de padrões espaciais por meio da aglomeração de municípios com taxas semelhantes. No Brasil, entre 2010 e 2019, a incidência de LV apresentou progressiva redução. Além disso, a análise da distribuição mensal dos casos novos de LV por estado no ano de 2020 mostrou que a maioria dos estados vinham sofrendo redução na incidência da doença. No entanto, a partir de maio, tal redução se tornou acentuada em diversos estados, especialmente na região Nordeste e Sudeste. Ademais, o índice de Moran global univariado foi utilizado na análise da autocorrelação espacial, a qual evidenciou a existência de dependência espacial na ocorrência de novos casos de LV, tanto no período de 2015-2019 (I = 0,491; p < 0,001), quanto no ano de 2020 (I = 0,031; p = 0,009). A distribuição da LV no Brasil mostrou-se dependente do território analisado, formando clusters espaciais de alto risco compostos por municípios da região Nordeste, Norte e Centro-oeste. Entretanto, embora as reduções expressivas na detecção dos casos de LV possam parecer um bom cenário, são uma preocupação importante para a saúde pública, pois a sobreposição geográfica entre covid-19 e LV e a sobrecarga do sistema de notificações podem ter contribuído para a diminuição dos registros. Sendo assim, a redução significativa na incidência de LV em 2020 deve alertar para o fortalecimento do sistema de vigilância epidemiológica.
{"title":"ANÁLISE ESPACIAL DA REDUÇÃO DE CASOS NOVOS DE LEISHMANIOSE VISCERAL NO BRASIL NO PRIMEIRO ANO DA PANDEMIA DE COVID-19","authors":"Juliana Santos Teles, Josefa Rayane Santos Silveira, Renato Brito dos Santos Júnior, Íris Tarciana de Freitas Cunha, Tássia Nayane Vieira dos Santos, Maria Clara Menezes Nocrato Prado, Guilherme Reis de Santana Santos, Tatiana Rodrigues de Moura, Shirley Veronica Melo Almeida Lima, Allan Dantas dos Santos, Caíque Jordan Nunes Ribeiro","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103510","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103510","url":null,"abstract":"A leishmaniose visceral (LV) é uma doença tropical negligenciada e potencialmente letal. Ao considerar que o Brasil é responsável pela notificação de mais de 90% dos casos da América Latina, a vigilância epidemiológica possibilita a caracterização espacial, sazonal e cíclica dos novos casos. Como a covid-19 demandou a reorganização dos sistemas de saúde, hipotetizamos que houve redução da notificação de casos de LV na pandemia. Diante disso, este trabalho teve como objetivo analisar a dinâmica espacial da notificação de casos novos LV no Brasil em 2020, no contexto da pandemia da covid-19. Trata-se de um estudo ecológico de série temporal que utilizou análise espacial, cujas unidades de análise foram os 5.570 municípios brasileiros e a população os casos novos de LV registrados entre 2015 e 2020 no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). O p-score foi calculado para estimar a variação percentual dos registros de casos novos de LV. Os índices de Moran global e local univariados foram utilizados na análise espacial para a identificação de padrões espaciais por meio da aglomeração de municípios com taxas semelhantes. No Brasil, entre 2010 e 2019, a incidência de LV apresentou progressiva redução. Além disso, a análise da distribuição mensal dos casos novos de LV por estado no ano de 2020 mostrou que a maioria dos estados vinham sofrendo redução na incidência da doença. No entanto, a partir de maio, tal redução se tornou acentuada em diversos estados, especialmente na região Nordeste e Sudeste. Ademais, o índice de Moran global univariado foi utilizado na análise da autocorrelação espacial, a qual evidenciou a existência de dependência espacial na ocorrência de novos casos de LV, tanto no período de 2015-2019 (I = 0,491; p < 0,001), quanto no ano de 2020 (I = 0,031; p = 0,009). A distribuição da LV no Brasil mostrou-se dependente do território analisado, formando clusters espaciais de alto risco compostos por municípios da região Nordeste, Norte e Centro-oeste. Entretanto, embora as reduções expressivas na detecção dos casos de LV possam parecer um bom cenário, são uma preocupação importante para a saúde pública, pois a sobreposição geográfica entre covid-19 e LV e a sobrecarga do sistema de notificações podem ter contribuído para a diminuição dos registros. Sendo assim, a redução significativa na incidência de LV em 2020 deve alertar para o fortalecimento do sistema de vigilância epidemiológica.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"6 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136247095","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103423
Thaís Campos Macharete, Tamara Lopes Rocha de Oliveira, Evellyn Max Guedes, Gabriel Freire Igari, Andryelle Cristina de Sant'Ana, Claudia Regina da Costa, Adriana Lúcia Pires Ferreira, Simone Aranha Nóuer, Fernanda Sampaio Cavalcante, Kátia Regina Netto dos Santos
Staphylococcus aureus possui amplo repertório de fatores de virulência e capacidade de formação de biofilme. A colonização prévia por cepas de S. aureus Resistentes à Meticilina (MRSA) é fator de risco para desenvolvimento de infecções invasivas, que apresentam prognóstico reservado. Na pandemia de COVID-19 houve maior uso de antimicrobianos e saneantes, com pressão seletiva sobre os microrganismos, acarretando possível resistência a estes agentes. Avaliar a prevalência de genes de virulência e a produção de biofilme, assim como a tolerância a saneantes em amostras MRSA isoladas de swabs nasais de vigilância de pacientes internados em UTIs de um hospital durante a pandemia. Métodos: A espécie foi confirmada por MALDI-TOF-MS. A confirmação da resistência à meticilina foi realizada por disco difusão e o tipo de SCCmec por PCR. A presença de genes associados a virulência [toxinas (pvl e cluster egc: seg, sei, sem, sen, seo) e adesinas (ebps, fnbpB, cna, bbp, sasX)] e a saneantes (qacA/B e smr) foram detectados por PCR. A formação de biofilme foi avaliada em placas de microtitulação. De um total de 10.408 pacientes internados entre setembro/2020 e setembro/2021 nas UTIs COVID (UTIc) e não-COVID (UTInc), 256 swabs foram positivos para S. aureus, sendo 79 da UTIc e 177 da UTInc. Entre as 93 (36,3%) amostras MRSA, 33 (41,8%, 33/79) eram da UTIc, e 57% destas carreavam o SCCmecIV enquanto 33% tinham o tipo II. Entre as 60 (33,9%, 60/177) amostras MRSA da UTInc, 78,3% e 16,6% carreavam os SCCmecIV e II, respectivamente, sendo demonstrada uma correlação do tipo IV com a UTInc (p<0,01). Os genes de virulência ebps, cluster egc, fnbpB e cna foram detectados em mais de 50% das amostras. O gene fnbpB e o cluster egc foram associados ao SCCmecII (p<0,01), enquanto o gene pvl ao SCCmecIV (p<0,01). O gene smr foi positivo em 65,5% das amostras, sendo mais frequente na UTIc (p<0,01). Em relação à produção de biofilme, 48,4% das amostras foram classificadas como fortes ou moderadas. O estudo mostra alta frequência de genes de virulência e de tolerância à saneantes entre amostras MRSA isoladas nas UTIs durante a pandemia, além de muitas apresentarem alta capacidade de formação de biofilme. Esses aspectos indicam possível pressão seletiva e disseminação de amostras no ambiente hospitalar, muitas destas associadas à comunidade com SCCmec IV, e a necessidade de estratégias para prevenir a colonização por amostras multirresistentes.
{"title":"STAPHYLOCOCCUS AUREUS RESISTENTE À METICILINA DE COLONIZAÇÃO NASAL DE PACIENTES INTERNADOS EM UTIS DE UM HOSPITAL DO RIO DE JANEIRO NA PANDEMIA DE COVID-19: ASPECTOS ASSOCIADOS À VIRULÊNCIA E À TOLERÂNCIA AOS SANEANTES","authors":"Thaís Campos Macharete, Tamara Lopes Rocha de Oliveira, Evellyn Max Guedes, Gabriel Freire Igari, Andryelle Cristina de Sant'Ana, Claudia Regina da Costa, Adriana Lúcia Pires Ferreira, Simone Aranha Nóuer, Fernanda Sampaio Cavalcante, Kátia Regina Netto dos Santos","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103423","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103423","url":null,"abstract":"Staphylococcus aureus possui amplo repertório de fatores de virulência e capacidade de formação de biofilme. A colonização prévia por cepas de S. aureus Resistentes à Meticilina (MRSA) é fator de risco para desenvolvimento de infecções invasivas, que apresentam prognóstico reservado. Na pandemia de COVID-19 houve maior uso de antimicrobianos e saneantes, com pressão seletiva sobre os microrganismos, acarretando possível resistência a estes agentes. Avaliar a prevalência de genes de virulência e a produção de biofilme, assim como a tolerância a saneantes em amostras MRSA isoladas de swabs nasais de vigilância de pacientes internados em UTIs de um hospital durante a pandemia. Métodos: A espécie foi confirmada por MALDI-TOF-MS. A confirmação da resistência à meticilina foi realizada por disco difusão e o tipo de SCCmec por PCR. A presença de genes associados a virulência [toxinas (pvl e cluster egc: seg, sei, sem, sen, seo) e adesinas (ebps, fnbpB, cna, bbp, sasX)] e a saneantes (qacA/B e smr) foram detectados por PCR. A formação de biofilme foi avaliada em placas de microtitulação. De um total de 10.408 pacientes internados entre setembro/2020 e setembro/2021 nas UTIs COVID (UTIc) e não-COVID (UTInc), 256 swabs foram positivos para S. aureus, sendo 79 da UTIc e 177 da UTInc. Entre as 93 (36,3%) amostras MRSA, 33 (41,8%, 33/79) eram da UTIc, e 57% destas carreavam o SCCmecIV enquanto 33% tinham o tipo II. Entre as 60 (33,9%, 60/177) amostras MRSA da UTInc, 78,3% e 16,6% carreavam os SCCmecIV e II, respectivamente, sendo demonstrada uma correlação do tipo IV com a UTInc (p<0,01). Os genes de virulência ebps, cluster egc, fnbpB e cna foram detectados em mais de 50% das amostras. O gene fnbpB e o cluster egc foram associados ao SCCmecII (p<0,01), enquanto o gene pvl ao SCCmecIV (p<0,01). O gene smr foi positivo em 65,5% das amostras, sendo mais frequente na UTIc (p<0,01). Em relação à produção de biofilme, 48,4% das amostras foram classificadas como fortes ou moderadas. O estudo mostra alta frequência de genes de virulência e de tolerância à saneantes entre amostras MRSA isoladas nas UTIs durante a pandemia, além de muitas apresentarem alta capacidade de formação de biofilme. Esses aspectos indicam possível pressão seletiva e disseminação de amostras no ambiente hospitalar, muitas destas associadas à comunidade com SCCmec IV, e a necessidade de estratégias para prevenir a colonização por amostras multirresistentes.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"39 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136247108","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103555
Rodrigo Sala Ferro, Louise Garcia Samora, Giovanna de Carvalho, Marco Antonio Zerbinatti Bini, Luiz Euribel Prestes Carneiro
Casos de recidiva de LT têm sido descritos na literatura em pacientes submetidos a tratamentos imunossupressores como os utilizados para artrite reumatoide ou pacientes transplantados, que podem estar associados com a reativação de leishmaniose cutânea ou mucocutânea. Sugere-se que esses casos podem estar associados a alterações na produção de Interleucina-12 Interferon-gama. Há casos de recidiva da doença após tratamento, que podem ser consequência de uma infecção recorrente, por reativação da otmailstoquí após longo período de latência ou uma reinfecção. Neste último caso, as cepas isoladas inicialmente e na fase recorrente são diferentes. A leishmaniose recorrente, que surge em consequência de uma reativação, recebe maior atenção, não apenas pelo envolvimento de lesões em mucosas, mais difíceis de serem tratadas, mas também por surgirem em estados de imunodeficiência. Destacam que pacientes submetidos ao tratamento para LT devem ser acompanhados para avaliação de recidivas, principalmente os imunodeprimidos. O presente relato visa descrever um caso raro de recidiva de LT em um paciente imunocompetente do sexo masculino, 59 anos, tratado cinco vezes com amoniato de meglumina 15mg/Kg/dia. O paciente ainda relatou que trabalhava na sericultura no Sul Brasil quando percebeu os primeiros sinais clínicos da doença em 1993, representados por lesões cutâneas em membros inferiores e superiores além da face. A primo-infecção ocorreu na década de 90 onde foi medicado com o plano terapêutico conforme instituição do protocolo do Ministério da Saúde, vigente na época (amoniato de meglumina). O paciente apresentou recidiva após nove anos, em 2002, e em 2014, 2015, 2017 e 2021 mesmo com a repetição do tratamento. Após o tratamento havia remissão dos sintomas, entretanto, ocorria a recidiva da doença anos depois. No último quadro em 2021, o paciente foi encaminhado para um serviço de dermatologia terciário para realização de biópsia, com filtrum nasal em 4 pontos diferentes, que resultou em teste positivo para LT. Pela história das recidivas e com o diagnóstico atual, o paciente foi encaminhado para tratamento no centro de referência Instituto Lauro de Souza Lima em Bauru/SP. Internado durante três meses, recebeu 10 ampolas de Pentamidina 4mg/Kg. Após o término do tratamento, foi novamente realizada biópsia com filtrum nasal, que resultou negativo para o protozoário da LT. Atualmente o paciente continua em acompanhamento em um hospital terciário sem novas recidivas.
文献中已经描述了在接受免疫抑制治疗的患者(如类风湿关节炎患者或移植患者)中LT复发的病例,这可能与皮肤或粘膜皮肤利什曼病的重新激活有关。有人认为,这些病例可能与白介素-12干扰素- γ的产生有关。有治疗后疾病复发的病例,这可能是反复感染的结果,在长潜伏期后重新激活otmailstoqui或再次感染。在后一种情况下,最初分离的菌株和复发期分离的菌株是不同的。复发性利什曼病是重新激活的结果,受到更多的关注,不仅因为它涉及粘膜病变,更难治疗,而且还因为它们出现在免疫缺陷状态。他们强调,接受LT治疗的患者应随访评估复发,特别是免疫抑制的患者。本报告旨在描述一名59岁免疫能力强的男性患者LT复发的罕见病例,用葡胺氨15mg/Kg/天治疗5次。该患者还报告说,1993年,当他注意到该病的第一个临床症状时,他在巴西南部的养鱼场工作,表现为面部以外的上肢和下肢皮肤病变。原发性感染发生在90年代,当时根据当时生效的卫生部方案(葡胺氨)制定了治疗计划。患者在2002年、2014年、2015年、2017年和2021年出现复发,即使重复治疗。治疗后症状有所缓解,但多年后病情复发。在2021年的最后一幅画,皮肤病患者被路由到一个服务产业进行活组织检查,鼻和filtrum 4点不同,导致测试中将阳性复发的历史和当前的诊断,病人在治疗被称为标准中心研究所Lauro de Souza的利马宝路/ SP。住院3个月,接受喷他脒10安瓿4mg/Kg。治疗结束后,再次进行鼻滤液活检,结果lt原生动物阴性。目前患者仍在三级医院随访,无复发。
{"title":"LEISHMANIOSE TEGUMENTAR: UM CASO RARO DE RECIDIVA APÓS TRATAMENTO USUAL","authors":"Rodrigo Sala Ferro, Louise Garcia Samora, Giovanna de Carvalho, Marco Antonio Zerbinatti Bini, Luiz Euribel Prestes Carneiro","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103555","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103555","url":null,"abstract":"Casos de recidiva de LT têm sido descritos na literatura em pacientes submetidos a tratamentos imunossupressores como os utilizados para artrite reumatoide ou pacientes transplantados, que podem estar associados com a reativação de leishmaniose cutânea ou mucocutânea. Sugere-se que esses casos podem estar associados a alterações na produção de Interleucina-12 Interferon-gama. Há casos de recidiva da doença após tratamento, que podem ser consequência de uma infecção recorrente, por reativação da otmailstoquí após longo período de latência ou uma reinfecção. Neste último caso, as cepas isoladas inicialmente e na fase recorrente são diferentes. A leishmaniose recorrente, que surge em consequência de uma reativação, recebe maior atenção, não apenas pelo envolvimento de lesões em mucosas, mais difíceis de serem tratadas, mas também por surgirem em estados de imunodeficiência. Destacam que pacientes submetidos ao tratamento para LT devem ser acompanhados para avaliação de recidivas, principalmente os imunodeprimidos. O presente relato visa descrever um caso raro de recidiva de LT em um paciente imunocompetente do sexo masculino, 59 anos, tratado cinco vezes com amoniato de meglumina 15mg/Kg/dia. O paciente ainda relatou que trabalhava na sericultura no Sul Brasil quando percebeu os primeiros sinais clínicos da doença em 1993, representados por lesões cutâneas em membros inferiores e superiores além da face. A primo-infecção ocorreu na década de 90 onde foi medicado com o plano terapêutico conforme instituição do protocolo do Ministério da Saúde, vigente na época (amoniato de meglumina). O paciente apresentou recidiva após nove anos, em 2002, e em 2014, 2015, 2017 e 2021 mesmo com a repetição do tratamento. Após o tratamento havia remissão dos sintomas, entretanto, ocorria a recidiva da doença anos depois. No último quadro em 2021, o paciente foi encaminhado para um serviço de dermatologia terciário para realização de biópsia, com filtrum nasal em 4 pontos diferentes, que resultou em teste positivo para LT. Pela história das recidivas e com o diagnóstico atual, o paciente foi encaminhado para tratamento no centro de referência Instituto Lauro de Souza Lima em Bauru/SP. Internado durante três meses, recebeu 10 ampolas de Pentamidina 4mg/Kg. Após o término do tratamento, foi novamente realizada biópsia com filtrum nasal, que resultou negativo para o protozoário da LT. Atualmente o paciente continua em acompanhamento em um hospital terciário sem novas recidivas.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"26 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136247114","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103558
Celso Alessandro de Andrade, Kelly Ayumi Harada, Giovana Sapienza Muro, Guilherme Ribeiro Gama
A esquistossomose é um importante problema de saúde pública na África Subsaariana, Ásia e América do Sul. Mais de 200 milhões de pessoas em todo o mundo são afetadas e cerca de 600 milhões de pessoas com risco de infecção em 79 países endêmicos. No Brasil, 6 a 10 milhões de pessoas vivem com o Schistosoma mansoni. Em áreas endêmicas como estados de Minas Gerais e Bahia, a prevalência ultrapassa a 15%. A infecção esquistossomótica do sistema nervoso central é conhecida como neuroesquistossomose e pode afetar o cérebro ou a medula espinhal ocorrendo durante todas as fases da esquistossomose. Forma rara de esquistossomose, sendo assintomática ou resultar em complicações graves manifestando-se como síndromes neurológicas. Comumente associada à infestação por Schistosoma japonicum, mas também associados ao Schistosoma mansoni e ao Schistosoma haematobium. Apresentaremos um raro caso, com observação de um ano, dos sintomas de Neuroesquistossomose em sua forma encefálica como manifestação de uma síndrome tumoral cerebral, do ambulatório do serviço de infectologia do Hospital Heliópolis-SP. Realizada coleta de dados, revisão de prontuário e pesquisa bibliográfica sobre Neuroesquistossomose. O estudo foi feito mediante obtenção de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido em que o paciente autoriza utilização de dados clínicos. Paciente, masculino, 61 anos, nascido em Brejo Santo (Ceará), iniciou sintomas de parestesia em membro superior e inferior direitos, associados a síncopes e episódios convulsivos há 1 ano. Evolui com quadro de lentificação de fala com afasia, piora das crises convulsivas e distúrbio de marcha, de caráter progressivo. Diagnosticado com Neuroesquistossomose apresentando exame histopatológico positivo com ovos de Schistosoma mansoni em biópsia cerebral. Imagem com efeito de massa em ínsula esquerda, associada a edema cerebral, presente em tomografia de crânio, interpretada inicialmente como glioma. A progressão da doença deve apontar para a possibilidade de sequelas motoras irreversíveis, devendo-se iniciar uma ampla investigação com exames de imagem de rastreio e biópsia para o diagnóstico precoce. O exame histopatológico se torna necessário e primordial, a fim de tratar o doente e evitar a progressão da doença ao longo dos anos. Este seria um dos raros casos relatados sobre neuroesquistossomose, descritos em literatura.
{"title":"NEUROESQUISTOSSOMOSE MANIFESTANDO-SE COMO SÍNDROME TUMORAL CEREBRAL: RELATO DE CASO","authors":"Celso Alessandro de Andrade, Kelly Ayumi Harada, Giovana Sapienza Muro, Guilherme Ribeiro Gama","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103558","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103558","url":null,"abstract":"A esquistossomose é um importante problema de saúde pública na África Subsaariana, Ásia e América do Sul. Mais de 200 milhões de pessoas em todo o mundo são afetadas e cerca de 600 milhões de pessoas com risco de infecção em 79 países endêmicos. No Brasil, 6 a 10 milhões de pessoas vivem com o Schistosoma mansoni. Em áreas endêmicas como estados de Minas Gerais e Bahia, a prevalência ultrapassa a 15%. A infecção esquistossomótica do sistema nervoso central é conhecida como neuroesquistossomose e pode afetar o cérebro ou a medula espinhal ocorrendo durante todas as fases da esquistossomose. Forma rara de esquistossomose, sendo assintomática ou resultar em complicações graves manifestando-se como síndromes neurológicas. Comumente associada à infestação por Schistosoma japonicum, mas também associados ao Schistosoma mansoni e ao Schistosoma haematobium. Apresentaremos um raro caso, com observação de um ano, dos sintomas de Neuroesquistossomose em sua forma encefálica como manifestação de uma síndrome tumoral cerebral, do ambulatório do serviço de infectologia do Hospital Heliópolis-SP. Realizada coleta de dados, revisão de prontuário e pesquisa bibliográfica sobre Neuroesquistossomose. O estudo foi feito mediante obtenção de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido em que o paciente autoriza utilização de dados clínicos. Paciente, masculino, 61 anos, nascido em Brejo Santo (Ceará), iniciou sintomas de parestesia em membro superior e inferior direitos, associados a síncopes e episódios convulsivos há 1 ano. Evolui com quadro de lentificação de fala com afasia, piora das crises convulsivas e distúrbio de marcha, de caráter progressivo. Diagnosticado com Neuroesquistossomose apresentando exame histopatológico positivo com ovos de Schistosoma mansoni em biópsia cerebral. Imagem com efeito de massa em ínsula esquerda, associada a edema cerebral, presente em tomografia de crânio, interpretada inicialmente como glioma. A progressão da doença deve apontar para a possibilidade de sequelas motoras irreversíveis, devendo-se iniciar uma ampla investigação com exames de imagem de rastreio e biópsia para o diagnóstico precoce. O exame histopatológico se torna necessário e primordial, a fim de tratar o doente e evitar a progressão da doença ao longo dos anos. Este seria um dos raros casos relatados sobre neuroesquistossomose, descritos em literatura.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"22 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136247285","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103608
Romário Martins Araújo, Wlisses Henrique Veloso de Carvalho Silva, Kessia Kelly Batista da Silva, Nathyeli Oliveira do Nascimento, Josefa Nayara dos Santos Nascimento, Bárbara Wanessa Delgado Abrantes, Renata Inglez de Souza Tejo, Rayssa Maria Pastick Jares da Costa, Danielle Martiniano da Silva Rodrigues, Milena Brandão de Lima, Jéssica Lopes Teixeira, Lilian Maria Lapa Montenegro, Haiana Charifker Schindler
A tuberculose (TB) é uma doença causada pelo Mycobacterium tuberculosis (Mtb) que permanece como uma das principais causas de doença e morte na população. Apenas 5%-15% dos indivíduos infectados desenvolvem a forma ativa da doença, indicando que a resposta à exposição ao bacilo pode variar entre os indivíduos. O reconhecimento de microorganismos pelas células apresentadoras de antígenos (APC) é mediado pelos receptores Toll-Like, sendo o Toll-Like 4 um dos principais responsáveis pelo reconhecimento do Mtb. Diversos estudos demonstraram que o componente genético do hospedeiro desempenha um papel importante na relação hospedeiro-bacilo. As variantes genéticas rs4986790 e rs4986791 do receptor Toll-like 4 têm sido associadas à susceptibilidade à TB em diferentes grupos étnicos. O presente trabalho propõe investigar uma possível associação de variantes do gene do TLR4 com a susceptibilidade a tuberculose pulmonar ativa em pacientes oriundos da cidade do Recife/PE. O estudo foi desenvolvido no Instituto Aggeu Magalhães (Fiocruz Pernambuco), em associação com os principais serviços de referência para tratamento e diagnóstico da tuberculose do SUS Pernambuco, estando a provado no comitê de ética em pesquisa da instituição principal (CAAE: 48498821.2.0000.5190). Foram coletadas amostras de sangue periférico de pacientes com TB pulmonar ativa (N = 81) e indivíduos controle (N=83). As amostras foram submetidas à extração de DNA genômico e, posteriormente, foram realizados os ensaios de PCR e Sequenciamento para avaliação das variantes genéticas propostas (rs4986790 e rs4986791). Resultados: Observou-se uma predominância dos genótipos selvagens das variantes rs4986790 e rs4986791 (AA e CC, respectivamente), não sendo observada associação (p > 0,05). As análises no modelo alélico indicaram o alelo mutante (T) na variante rs4986791 demonstrou associação com a tuberculose pulmonar (p = 0,04; OR = 0,12; IC = 0,01 – 0,99), estando de acordo com os resultados obtidos na literatura. Não foi observada associação na variante rs4986790. A presença do alelo mutante (T) na variante rs4986791 demonstrou associação com o desenvolvimento da tuberculose pulmonar, indicando que existe potencial num estudo mais profundo dessa variante. Além do exposto, os dados desse estudo são importantes na caracterização dessas variantes nessa parcela da população brasileira.
{"title":"AVALIAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO ENTRE VARIANTES GENÉTICAS DO RECEPTOR TOLL-LIKE 4 COM O RISCO DE DESENVOLVIMENTO DA TUBERCULOSE PULMONAR","authors":"Romário Martins Araújo, Wlisses Henrique Veloso de Carvalho Silva, Kessia Kelly Batista da Silva, Nathyeli Oliveira do Nascimento, Josefa Nayara dos Santos Nascimento, Bárbara Wanessa Delgado Abrantes, Renata Inglez de Souza Tejo, Rayssa Maria Pastick Jares da Costa, Danielle Martiniano da Silva Rodrigues, Milena Brandão de Lima, Jéssica Lopes Teixeira, Lilian Maria Lapa Montenegro, Haiana Charifker Schindler","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103608","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103608","url":null,"abstract":"A tuberculose (TB) é uma doença causada pelo Mycobacterium tuberculosis (Mtb) que permanece como uma das principais causas de doença e morte na população. Apenas 5%-15% dos indivíduos infectados desenvolvem a forma ativa da doença, indicando que a resposta à exposição ao bacilo pode variar entre os indivíduos. O reconhecimento de microorganismos pelas células apresentadoras de antígenos (APC) é mediado pelos receptores Toll-Like, sendo o Toll-Like 4 um dos principais responsáveis pelo reconhecimento do Mtb. Diversos estudos demonstraram que o componente genético do hospedeiro desempenha um papel importante na relação hospedeiro-bacilo. As variantes genéticas rs4986790 e rs4986791 do receptor Toll-like 4 têm sido associadas à susceptibilidade à TB em diferentes grupos étnicos. O presente trabalho propõe investigar uma possível associação de variantes do gene do TLR4 com a susceptibilidade a tuberculose pulmonar ativa em pacientes oriundos da cidade do Recife/PE. O estudo foi desenvolvido no Instituto Aggeu Magalhães (Fiocruz Pernambuco), em associação com os principais serviços de referência para tratamento e diagnóstico da tuberculose do SUS Pernambuco, estando a provado no comitê de ética em pesquisa da instituição principal (CAAE: 48498821.2.0000.5190). Foram coletadas amostras de sangue periférico de pacientes com TB pulmonar ativa (N = 81) e indivíduos controle (N=83). As amostras foram submetidas à extração de DNA genômico e, posteriormente, foram realizados os ensaios de PCR e Sequenciamento para avaliação das variantes genéticas propostas (rs4986790 e rs4986791). Resultados: Observou-se uma predominância dos genótipos selvagens das variantes rs4986790 e rs4986791 (AA e CC, respectivamente), não sendo observada associação (p > 0,05). As análises no modelo alélico indicaram o alelo mutante (T) na variante rs4986791 demonstrou associação com a tuberculose pulmonar (p = 0,04; OR = 0,12; IC = 0,01 – 0,99), estando de acordo com os resultados obtidos na literatura. Não foi observada associação na variante rs4986790. A presença do alelo mutante (T) na variante rs4986791 demonstrou associação com o desenvolvimento da tuberculose pulmonar, indicando que existe potencial num estudo mais profundo dessa variante. Além do exposto, os dados desse estudo são importantes na caracterização dessas variantes nessa parcela da população brasileira.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"26 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136247287","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103451
Luís Arthur Brasil Gadelha Farias, Vladmir do Nascimento Aragão, Lucas Ribeiro de Sousa, Marina Catunda Pinheiro Jucá, Ana Danielle Tavares da Silva, Lauro Vieira Perdigão Neto, Lisandra Serra Damasceno
O vírus Mpox pertence ao gênero Orthopoxvírus, família Poxviridae. Em março de 2022, inúmeros casos da doença foram identificados no mundo, tornando-se uma emergência global. O objetivo deste estudo foi descrever as características clínico-epidemiológicas dos pacientes com diagnóstico de mpox internados no Hospital São José de Doenças Infecciosas (HSJ). Trata-se de estudo tipo série de casos. Foram incluídos pacientes com diagnóstico confirmado de mpox por RT-PCR, internados no HSJ em 2022. Foram identificados 586 pacientes suspeitos de mpox; 6,1% (n = 360) dos casos confirmaram o diagnóstico, e destes, sete (1,9%) foram internados. Todos os pacientes eram do sexo masculino. A mediana de idade foi 28 anos (IIQ 23-39). A maioria dos pacientes eram procedentes de Fortaleza (85,7%). Infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) foi observada em quatro pacientes (57,1%). Dois pacientes estavam em abandono da terapia antirretroviral (TARV), e apresentavam aids avançada (linfócitos T CD4+ < 200 cels/mm3). A carga viral do HIV foi de 61 e 4.941 cópias/mm³. Dois pacientes faziam uso regular da TARV, e estavam com controle virológico sustentado. A contagem de linfócitos T CD4+ nestes pacientes foi 447 e 565 cel/mm³. As principais indicações para o internamento foram manejo álgico das lesões (42,8%), enterorragia (14,3%), abscesso perianal (14,3%), infecção secundária (14,3%) e precaução de contato de paciente institucionalizado (14,3%). As lesões cutâneas foram identificadas nas regiões genital (85,7%), tronco/dorso (85,7%), face (28,6%) e extremidades (28,6%). As principais característica das lesões cutâneas observadas foram lesões ulceradas (42,8%), vesiculares (28,6%), verrucosas (14,3%) e eritemato-papulosas com umbilicação central (14,3%). Lesões crostosas cornu cutaneum like foram observadas nos pacientes em abandono de TARV. Outros sintomas observados foram febre (85,7%), dor abdominal (57,2%), dor anal (57,2%) e cefaleia (42,9%). Um paciente, no quinto mês de hospitalização, recebeu tecovirimat por 14 dias com resolução do quadro. A mediana de internamento foi 28,5 dias (IIQ 11-42). Seis pacientes receberam alta hospitalar (85,7%), e um paciente foi a óbito (14,3%). Casos de mpox geralmente são autolimitados, entretanto indivíduos podem necessitar de internamento, devido as complicações, principalmente em pacientes imunossuprimidos.
{"title":"EPIDEMIOLOGIA E CLÍNICA DE PACIENTES INTERNADOS POR MPOX NO HOSPITAL SÃO JOSÉ DE DOENÇAS INFECCIOSAS, CEARÁ, NO ANO DE 2022","authors":"Luís Arthur Brasil Gadelha Farias, Vladmir do Nascimento Aragão, Lucas Ribeiro de Sousa, Marina Catunda Pinheiro Jucá, Ana Danielle Tavares da Silva, Lauro Vieira Perdigão Neto, Lisandra Serra Damasceno","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103451","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103451","url":null,"abstract":"O vírus Mpox pertence ao gênero Orthopoxvírus, família Poxviridae. Em março de 2022, inúmeros casos da doença foram identificados no mundo, tornando-se uma emergência global. O objetivo deste estudo foi descrever as características clínico-epidemiológicas dos pacientes com diagnóstico de mpox internados no Hospital São José de Doenças Infecciosas (HSJ). Trata-se de estudo tipo série de casos. Foram incluídos pacientes com diagnóstico confirmado de mpox por RT-PCR, internados no HSJ em 2022. Foram identificados 586 pacientes suspeitos de mpox; 6,1% (n = 360) dos casos confirmaram o diagnóstico, e destes, sete (1,9%) foram internados. Todos os pacientes eram do sexo masculino. A mediana de idade foi 28 anos (IIQ 23-39). A maioria dos pacientes eram procedentes de Fortaleza (85,7%). Infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) foi observada em quatro pacientes (57,1%). Dois pacientes estavam em abandono da terapia antirretroviral (TARV), e apresentavam aids avançada (linfócitos T CD4+ < 200 cels/mm3). A carga viral do HIV foi de 61 e 4.941 cópias/mm³. Dois pacientes faziam uso regular da TARV, e estavam com controle virológico sustentado. A contagem de linfócitos T CD4+ nestes pacientes foi 447 e 565 cel/mm³. As principais indicações para o internamento foram manejo álgico das lesões (42,8%), enterorragia (14,3%), abscesso perianal (14,3%), infecção secundária (14,3%) e precaução de contato de paciente institucionalizado (14,3%). As lesões cutâneas foram identificadas nas regiões genital (85,7%), tronco/dorso (85,7%), face (28,6%) e extremidades (28,6%). As principais característica das lesões cutâneas observadas foram lesões ulceradas (42,8%), vesiculares (28,6%), verrucosas (14,3%) e eritemato-papulosas com umbilicação central (14,3%). Lesões crostosas cornu cutaneum like foram observadas nos pacientes em abandono de TARV. Outros sintomas observados foram febre (85,7%), dor abdominal (57,2%), dor anal (57,2%) e cefaleia (42,9%). Um paciente, no quinto mês de hospitalização, recebeu tecovirimat por 14 dias com resolução do quadro. A mediana de internamento foi 28,5 dias (IIQ 11-42). Seis pacientes receberam alta hospitalar (85,7%), e um paciente foi a óbito (14,3%). Casos de mpox geralmente são autolimitados, entretanto indivíduos podem necessitar de internamento, devido as complicações, principalmente em pacientes imunossuprimidos.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"59 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136247291","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103522
Marina Rovani Drummond, Paulo Eduardo Neves Ferreira Velho
As Bartonella spp. São gram-negativos de cultivo muito difícil. A infecção em humanos é potencialmente fatal, muito diversa em suas manifestações clínicas e raramente lembrada como diagnóstico diferencial. Nenhum método disponível atualmente tem sensibilidade suficiente para diagnosticar a infecção, sobretudo em pacientes imunocompetentes que apresentam baixa bacteremia (em torno de 102 unidades formadoras de colônias (UFC)/mL de sangue). Avaliar a sensibilidade de diferentes PCRs na detecção de Bartonella henselae. Foram utilizadas cinco reações moleculares (PCR convencional, PCR nested, qPCR qualitativo com SyBr e qPCRs com sonda de hidrólise para duas regiões diferentes) para detectar B. henselae em amostras de DNA extraídas de sangue, soro e cultura líquida (CL), infectadas em concentrações de 106 a 100 UFC de B. henselae/mL, a partir de três cepas diferentes de referência e os respectivos controles. Todas as amostras foram processadas em triplicata. Não houve detecção do DNA da bactéria em nenhuma amostra controle e houve detecção em todas reações de todas as amostras nas concentrações de 106 e 105. Na concentração de 104, as amostras de uma das três cepas já apresentaram reações falso-negativas em ao menos uma das triplicatas, exceto quando utilizado qPCR com sonda para o gene nuoG. Na concentração de 103 qualquer cepa já poderia ser falsamente considerada sem infecção nas amostras de CL (apenas 13 das 45 reações foram positivas). Nas concentrações 102 a 100, os resultados falso negativos predominaram em todas as amostras. Na concentração 100 apenas 3 das 135 PCRs realizadas foram positivas. As amostras de CL foram a menos sensíveis, possivelmente por causa do efeito de diluição e do não crescimento das bactérias fastidiosas. A maior quantidade de amplificações foi com a PCR convencional do soro e a menor na PCR nested de CL. As qPCRs tiveram desempenho similar, portanto a melhor escolha levando-se em consideração o custo-benefício seria a PCR com SyBr. O diagnóstico das bartoneloses não pode ser baseado apenas em uma reação molecular de triagem, pois houve muitas reações falso-negativas nas amostras com menores concentrações de B. henselae. Os resultados obtidos neste experimento demonstram a dificuldade do diagnóstico molecular desta bactéria. Estudos sobre testes diagnósticos mais sensíveis e acessíveis para estas doenças negligenciadas são urgentes.
{"title":"COMPARAÇÃO DA SENSIBILIDADE DE DIFERENTES PCRS PARA A DETECÇÃO DO DNA DE BARTONELLA HENSELAE","authors":"Marina Rovani Drummond, Paulo Eduardo Neves Ferreira Velho","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103522","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103522","url":null,"abstract":"As Bartonella spp. São gram-negativos de cultivo muito difícil. A infecção em humanos é potencialmente fatal, muito diversa em suas manifestações clínicas e raramente lembrada como diagnóstico diferencial. Nenhum método disponível atualmente tem sensibilidade suficiente para diagnosticar a infecção, sobretudo em pacientes imunocompetentes que apresentam baixa bacteremia (em torno de 102 unidades formadoras de colônias (UFC)/mL de sangue). Avaliar a sensibilidade de diferentes PCRs na detecção de Bartonella henselae. Foram utilizadas cinco reações moleculares (PCR convencional, PCR nested, qPCR qualitativo com SyBr e qPCRs com sonda de hidrólise para duas regiões diferentes) para detectar B. henselae em amostras de DNA extraídas de sangue, soro e cultura líquida (CL), infectadas em concentrações de 106 a 100 UFC de B. henselae/mL, a partir de três cepas diferentes de referência e os respectivos controles. Todas as amostras foram processadas em triplicata. Não houve detecção do DNA da bactéria em nenhuma amostra controle e houve detecção em todas reações de todas as amostras nas concentrações de 106 e 105. Na concentração de 104, as amostras de uma das três cepas já apresentaram reações falso-negativas em ao menos uma das triplicatas, exceto quando utilizado qPCR com sonda para o gene nuoG. Na concentração de 103 qualquer cepa já poderia ser falsamente considerada sem infecção nas amostras de CL (apenas 13 das 45 reações foram positivas). Nas concentrações 102 a 100, os resultados falso negativos predominaram em todas as amostras. Na concentração 100 apenas 3 das 135 PCRs realizadas foram positivas. As amostras de CL foram a menos sensíveis, possivelmente por causa do efeito de diluição e do não crescimento das bactérias fastidiosas. A maior quantidade de amplificações foi com a PCR convencional do soro e a menor na PCR nested de CL. As qPCRs tiveram desempenho similar, portanto a melhor escolha levando-se em consideração o custo-benefício seria a PCR com SyBr. O diagnóstico das bartoneloses não pode ser baseado apenas em uma reação molecular de triagem, pois houve muitas reações falso-negativas nas amostras com menores concentrações de B. henselae. Os resultados obtidos neste experimento demonstram a dificuldade do diagnóstico molecular desta bactéria. Estudos sobre testes diagnósticos mais sensíveis e acessíveis para estas doenças negligenciadas são urgentes.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"141 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136247297","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-10-01DOI: 10.1016/j.bjid.2023.103000
Maria Helena Fernandes Zancan, Camila Rigolin Crozatti, José Eduardo Mainart Panini, Carla Sakuma de Oliveira, Juliana Gerhardt Moroni
A doença de Castleman é uma patologia linfoproliferativa rara e heterogênea, que se apresenta de duas formas distintas, a multicêntrica e a unicêntrica, e pode evoluir para linfoma de Hodgkin ou não Hodgkin. Seus fatores de risco são desconhecidos, mas sabe-se que a infecção pelo HIV está relacionada ao desenvolvimento dessa condição. Este relato de caso visa reportar uma situação incomum de Doença de Castleman em uma mulher de 32 anos, com diagnóstico de infecção pelo HIV há 2 semanas, ainda sem início da terapia antirretroviral. A paciente apresentou-se em hospital terciário com anemia hemolítica grave (Hb 2,8 g/dL; VCM 134; teste de Coombs positivo; LDH 342 U/L; Bilirrubina Total 3,60 mg/dL; Bilirrubina Direta 2,46 mg/dL; Bilirrubina Indireta 1,14 mg/dL), tinha como antecedentes uma infecção genital há 2 meses por varicela zóster e apresentou como sintomas tosse, febre e sudorese noturna. Possuía contagem de células T-CD4 de 100/mm3, além de alterações na função renal, hiperlactatemia e elevações nas transaminases, e ferritina. Linfonodos proeminentes em região periaórtica em abdome e pelve, mediastino, axilas e pescoço, juntamente com esplenomegalia (15cm) identificados a partir de tomografia computadorizada. A hemólise respondeu apenas ao uso de imunoglobulina humana na dose de 0,5 g/kg/dia durante 3 dias, com discreta melhora laboratorial (Hb 6,8 g/dL). Durante o período de internação, foi submetida a uma linfadenectomia axilar direita, que revelou achados altamente compatíveis com a Doença de Castleman, variante hialino-vascular. Posteriormente, foi transferida para hospital oncológico para progressão do tratamento. O caso descrito refere-se à Doença de Castleman multicêntrica, ou seja, múltiplas lesões que envolvem duas ou mais regiões linfoides não adjacentes ou acompanhadas por outros locais ou órgãos, com correlações clínicas, de imagem e histológicas positivas para o subtipo hialino vascular, que se caracteriza por centros germinativos atrésicos atravessados por vasos hialinos penetrantes. Seu diagnóstico é desafiador, devido a sua raridade e seus vários diagnósticos diferenciais. A forma multicêntrica é associada a pior prognóstico e requer tratamento cirúrgico e oncológico com quimioterapia associada à radioterapia. No caso da paciente, é fundamental iniciar a terapia antirretroviral para controle da infecção pelo HIV, a fim de minimizar riscos.
{"title":"DOENÇA DE CASTLEMAN MULTICÊNTRICA ASSOCIADA À INFECÇÃO PELO HIV EM PACIENTE IMUNOSSUPRIMIDO","authors":"Maria Helena Fernandes Zancan, Camila Rigolin Crozatti, José Eduardo Mainart Panini, Carla Sakuma de Oliveira, Juliana Gerhardt Moroni","doi":"10.1016/j.bjid.2023.103000","DOIUrl":"https://doi.org/10.1016/j.bjid.2023.103000","url":null,"abstract":"A doença de Castleman é uma patologia linfoproliferativa rara e heterogênea, que se apresenta de duas formas distintas, a multicêntrica e a unicêntrica, e pode evoluir para linfoma de Hodgkin ou não Hodgkin. Seus fatores de risco são desconhecidos, mas sabe-se que a infecção pelo HIV está relacionada ao desenvolvimento dessa condição. Este relato de caso visa reportar uma situação incomum de Doença de Castleman em uma mulher de 32 anos, com diagnóstico de infecção pelo HIV há 2 semanas, ainda sem início da terapia antirretroviral. A paciente apresentou-se em hospital terciário com anemia hemolítica grave (Hb 2,8 g/dL; VCM 134; teste de Coombs positivo; LDH 342 U/L; Bilirrubina Total 3,60 mg/dL; Bilirrubina Direta 2,46 mg/dL; Bilirrubina Indireta 1,14 mg/dL), tinha como antecedentes uma infecção genital há 2 meses por varicela zóster e apresentou como sintomas tosse, febre e sudorese noturna. Possuía contagem de células T-CD4 de 100/mm3, além de alterações na função renal, hiperlactatemia e elevações nas transaminases, e ferritina. Linfonodos proeminentes em região periaórtica em abdome e pelve, mediastino, axilas e pescoço, juntamente com esplenomegalia (15cm) identificados a partir de tomografia computadorizada. A hemólise respondeu apenas ao uso de imunoglobulina humana na dose de 0,5 g/kg/dia durante 3 dias, com discreta melhora laboratorial (Hb 6,8 g/dL). Durante o período de internação, foi submetida a uma linfadenectomia axilar direita, que revelou achados altamente compatíveis com a Doença de Castleman, variante hialino-vascular. Posteriormente, foi transferida para hospital oncológico para progressão do tratamento. O caso descrito refere-se à Doença de Castleman multicêntrica, ou seja, múltiplas lesões que envolvem duas ou mais regiões linfoides não adjacentes ou acompanhadas por outros locais ou órgãos, com correlações clínicas, de imagem e histológicas positivas para o subtipo hialino vascular, que se caracteriza por centros germinativos atrésicos atravessados por vasos hialinos penetrantes. Seu diagnóstico é desafiador, devido a sua raridade e seus vários diagnósticos diferenciais. A forma multicêntrica é associada a pior prognóstico e requer tratamento cirúrgico e oncológico com quimioterapia associada à radioterapia. No caso da paciente, é fundamental iniciar a terapia antirretroviral para controle da infecção pelo HIV, a fim de minimizar riscos.","PeriodicalId":22315,"journal":{"name":"The Brazilian Journal of Infectious Diseases","volume":"214 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136247308","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}