Pub Date : 2023-01-01DOI: 10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1028
Isabella de Oliveira Santana, Antônia Quarti de Andrade, Ana Carolina Mourão Passos, Giovanna Apocalypse Souza, Hagata Lós Melchiades de Souza
Introdução: O uso de coletores menstruais tem se popularizado como uma alternativa aos produtos tradicionais de higiene menstrual. No entanto, há preocupações sobre o impacto desse método na expulsão do dispositivo intrauterino (DIU), que é amplamente utilizado como método contraceptivo eficaz. A expulsão do DIU é uma complicação conhecida e pode resultar em gravidez indesejada. Apesar de estudos recentes abordarem essa relação, os resultados são contraditórios e inconclusivos. Compreender os fatores relacionados à expulsão do DIU em usuárias de coletores menstruais é essencial para garantir a segurança e eficácia desse uso concomitante, justificando a necessidade de mais pesquisas sobre o assunto. Objetivo: Realizar uma revisão da literatura existente sobre a relação entre o uso de coletores menstruais e a expulsão do DIU, identificando lacunas de conhecimento para orientar pesquisas futuras. Material e métodos: Realizou-se uma revisão sistemática da literatura nas bases de dados Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Cochrane Library utilizando-se os termos "DIU", "coletor menstrual" e "expulsão". Incluíram-se artigos publicados entre 2012 e 2023, em português e inglês, que abordavam a relação entre o uso de coletores menstruais e a expulsão do DIU. A amostra final incluiu 6 artigos. Resultados e conclusão: Os resultados dos estudos revisados indicam uma associação entre o uso de coletores menstruais e a expulsão do DIU na maioria dos casos. Três estudos relataram taxas de expulsão de 18,6, 17,3 e 3,7%. Um estudo com uma amostra de 266 mulheres mostrou que 24% das usuárias de coletores menstruais tiveram uma taxa de expulsão do DIU de 17,3%, em comparação com não usuárias. É importante destacar que o uso concomitante de coletores menstruais e DIU deve ser discutido com um médico e requer cuidados adicionais durante a remoção para evitar riscos potenciais. Mecanismos como pressão de sucção descendente aplicada ao DIU ou puxada acidental do fio durante a remoção do coletor menstrual são discutidos como possíveis causas de expulsão. A idade, anatomia pélvica, tipo de DIU e técnica de remoção do coletor menstrual também são considerados fatores importantes a serem ponderados em relação ao risco de expulsão. Apesar desses achados, são necessárias mais pesquisas, incluindo estudos randomizados, para fornecer evidências científicas mais robustas e permitir que as mulheres tomem decisões informadas sobre sua saúde reprodutiva e práticas de higiene pessoal.
简介:月经收集器作为传统月经卫生产品的替代品已经流行起来。然而,人们担心这种方法对宫内节育器(iud)排出的影响,iud是一种广泛使用的有效避孕方法。宫内节育器排出是一种已知的并发症,可能导致意外怀孕。尽管最近的研究解决了这种关系,但结果是矛盾的和不确定的。了解与月经收集器使用者排出宫内节育器相关的因素对于确保同时使用宫内节育器的安全性和有效性至关重要,因此需要对这一课题进行更多的研究。摘要目的:回顾有关月经收集器使用与宫内节育器排出关系的现有文献,找出知识差距,为今后的研究提供指导。材料和方法:系统回顾Biblioteca Virtual em saude (vhl)和Cochrane Library数据库中使用的术语“宫内节育器”、“月经收集器”和“排出”的文献。包括2012年至2023年间用葡萄牙语和英语发表的文章,这些文章讨论了使用月经收集器和排出宫内节育器之间的关系。最终样本包括6个项目。结果和结论:回顾的研究结果表明,在大多数情况下,使用月经收集器和排出宫内节育器之间存在关联。有三项研究报告驱逐率分别为18.6、17.3和3.7%。一项以266名女性为样本的研究显示,24%使用月经收集器的女性宫内节育器排出率为17.3%,而非使用月经收集器的女性宫内节育器排出率为17.3%。需要强调的是,同时使用月经收集器和宫内节育器应与医生讨论,并在摘除过程中需要额外的护理,以避免潜在的风险。讨论了对宫内节育器施加向下吸力压力或在取出月经收集器时意外拉扯电线等机制,作为可能的排出原因。年龄、盆腔解剖结构、宫内节育器类型和摘除月经收集器的技术也被认为是与排泄风险相关的重要因素。尽管有这些发现,还需要更多的研究,包括随机研究,以提供更有力的科学证据,使妇女能够就其生殖健康和个人卫生做法作出知情决定。
{"title":"Impacto do uso de coletor menstrual na eficácia de dispositivos intrauterinos","authors":"Isabella de Oliveira Santana, Antônia Quarti de Andrade, Ana Carolina Mourão Passos, Giovanna Apocalypse Souza, Hagata Lós Melchiades de Souza","doi":"10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1028","DOIUrl":"https://doi.org/10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1028","url":null,"abstract":"Introdução: O uso de coletores menstruais tem se popularizado como uma alternativa aos produtos tradicionais de higiene menstrual. No entanto, há preocupações sobre o impacto desse método na expulsão do dispositivo intrauterino (DIU), que é amplamente utilizado como método contraceptivo eficaz. A expulsão do DIU é uma complicação conhecida e pode resultar em gravidez indesejada. Apesar de estudos recentes abordarem essa relação, os resultados são contraditórios e inconclusivos. Compreender os fatores relacionados à expulsão do DIU em usuárias de coletores menstruais é essencial para garantir a segurança e eficácia desse uso concomitante, justificando a necessidade de mais pesquisas sobre o assunto. Objetivo: Realizar uma revisão da literatura existente sobre a relação entre o uso de coletores menstruais e a expulsão do DIU, identificando lacunas de conhecimento para orientar pesquisas futuras. Material e métodos: Realizou-se uma revisão sistemática da literatura nas bases de dados Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Cochrane Library utilizando-se os termos \"DIU\", \"coletor menstrual\" e \"expulsão\". Incluíram-se artigos publicados entre 2012 e 2023, em português e inglês, que abordavam a relação entre o uso de coletores menstruais e a expulsão do DIU. A amostra final incluiu 6 artigos. Resultados e conclusão: Os resultados dos estudos revisados indicam uma associação entre o uso de coletores menstruais e a expulsão do DIU na maioria dos casos. Três estudos relataram taxas de expulsão de 18,6, 17,3 e 3,7%. Um estudo com uma amostra de 266 mulheres mostrou que 24% das usuárias de coletores menstruais tiveram uma taxa de expulsão do DIU de 17,3%, em comparação com não usuárias. É importante destacar que o uso concomitante de coletores menstruais e DIU deve ser discutido com um médico e requer cuidados adicionais durante a remoção para evitar riscos potenciais. Mecanismos como pressão de sucção descendente aplicada ao DIU ou puxada acidental do fio durante a remoção do coletor menstrual são discutidos como possíveis causas de expulsão. A idade, anatomia pélvica, tipo de DIU e técnica de remoção do coletor menstrual também são considerados fatores importantes a serem ponderados em relação ao risco de expulsão. Apesar desses achados, são necessárias mais pesquisas, incluindo estudos randomizados, para fornecer evidências científicas mais robustas e permitir que as mulheres tomem decisões informadas sobre sua saúde reprodutiva e práticas de higiene pessoal.","PeriodicalId":84971,"journal":{"name":"Jornal brasileiro de ginecologia","volume":"142 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-01-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"135595640","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-01-01DOI: 10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1040
Juliana Nogueira da Cunha, Isabela Hartmann Santhiago Lopes, Gabriela Gribel de Almeida, Milena de Souza Fernandes, Victoria Guimarães Lopes da Costa, Maria Clara Pinheiro Rubio Carrasco, Luciana do Nascimento Silva
Objetivos: Avaliar os fatores que podem modificar o risco de câncer de mama em mulheres. Fonte de dados: Realizou-se revisão sistemática de artigos publicados nas plataformas eletrônicas Scientific Electronic Library Online (SciELO), Ebsco e UpToDate. A busca abrangeu o período de 2007 a 2019. Seleção de estudos: Selecionaram-se artigos originais e completos que abordavam o câncer de mama em mulheres e forneciam informações relevantes sobre fatores de risco. Os critérios de inclusão consideraram artigos nas línguas portuguesa e inglesa, sem restrições quanto ao período de realização dos estudos. A estratégia de busca utilizou descritores como câncer de mama, fatores de risco, fatores protetores, estilo de vida e neoplasias mamárias. Com base nessa estratégia, Selecionaram-se oito artigos que atendiam aos critérios de inclusão. Coleta de dados: A qualidade dos estudos foi avaliada de acordo com critérios estabelecidos, e apenas os estudos classificados como bons foram incluídos na análise. Os dados foram extraídos dos artigos selecionados e resumidos por meio de meta-análise. Resultados: Os estudos identificaram diversos fatores de risco associados ao desenvolvimento de câncer de mama em mulheres, incluindo características pessoais, histórico familiar e hábitos individuais. Um estudo destacou como fatores de risco o baixo nível educacional, a renda per capita reduzida e a residência em áreas rurais, que podem resultar em menor acesso à assistência de saúde e informações sobre prevenção. Além disso, observou-se relação de risco com histórico familiar de câncer de mama, idade avançada (acima de 50 anos) e fatores genéticos. O consumo de álcool foi apontado como fator de risco em dois estudos, enquanto três estudos analisaram o tabagismo como contribuinte para a doença. Perfis de mulheres pós-menopáusicas e o uso prolongado de contraceptivos orais também foram identificados como mais suscetíveis ao câncer de mama em um estudo. O sedentarismo e a obesidade foram apontados como fatores de risco em três estudos. A alimentação rica em alimentos gordurosos foi associada ao surgimento da doença em dois estudos. Por fim, um estudo indicou que histórico de abortos e amamentação por menos de um ano podem ser fatores de risco para o câncer de mama. Conclusão: Pode-se concluir que o risco de câncer de mama em mulheres pode ser modificado por uma variedade de fatores, isoladamente ou em combinação. Portanto, é evidente a importância de as mulheres realizarem o rastreamento recomendado pela Sociedade Brasileira de Mastologia, por meio de mamografias anuais a partir dos 40 anos de idade e rastreamento personalizado em mulheres com risco aumentado. A conscientização e a intervenção em fatores modificáveis podem potencialmente melhorar a evolução natural dessa doença.
{"title":"Revisão sistematizada dos fatores de risco para câncer de mama em mulheres","authors":"Juliana Nogueira da Cunha, Isabela Hartmann Santhiago Lopes, Gabriela Gribel de Almeida, Milena de Souza Fernandes, Victoria Guimarães Lopes da Costa, Maria Clara Pinheiro Rubio Carrasco, Luciana do Nascimento Silva","doi":"10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1040","DOIUrl":"https://doi.org/10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1040","url":null,"abstract":"Objetivos: Avaliar os fatores que podem modificar o risco de câncer de mama em mulheres. Fonte de dados: Realizou-se revisão sistemática de artigos publicados nas plataformas eletrônicas Scientific Electronic Library Online (SciELO), Ebsco e UpToDate. A busca abrangeu o período de 2007 a 2019. Seleção de estudos: Selecionaram-se artigos originais e completos que abordavam o câncer de mama em mulheres e forneciam informações relevantes sobre fatores de risco. Os critérios de inclusão consideraram artigos nas línguas portuguesa e inglesa, sem restrições quanto ao período de realização dos estudos. A estratégia de busca utilizou descritores como câncer de mama, fatores de risco, fatores protetores, estilo de vida e neoplasias mamárias. Com base nessa estratégia, Selecionaram-se oito artigos que atendiam aos critérios de inclusão. Coleta de dados: A qualidade dos estudos foi avaliada de acordo com critérios estabelecidos, e apenas os estudos classificados como bons foram incluídos na análise. Os dados foram extraídos dos artigos selecionados e resumidos por meio de meta-análise. Resultados: Os estudos identificaram diversos fatores de risco associados ao desenvolvimento de câncer de mama em mulheres, incluindo características pessoais, histórico familiar e hábitos individuais. Um estudo destacou como fatores de risco o baixo nível educacional, a renda per capita reduzida e a residência em áreas rurais, que podem resultar em menor acesso à assistência de saúde e informações sobre prevenção. Além disso, observou-se relação de risco com histórico familiar de câncer de mama, idade avançada (acima de 50 anos) e fatores genéticos. O consumo de álcool foi apontado como fator de risco em dois estudos, enquanto três estudos analisaram o tabagismo como contribuinte para a doença. Perfis de mulheres pós-menopáusicas e o uso prolongado de contraceptivos orais também foram identificados como mais suscetíveis ao câncer de mama em um estudo. O sedentarismo e a obesidade foram apontados como fatores de risco em três estudos. A alimentação rica em alimentos gordurosos foi associada ao surgimento da doença em dois estudos. Por fim, um estudo indicou que histórico de abortos e amamentação por menos de um ano podem ser fatores de risco para o câncer de mama. Conclusão: Pode-se concluir que o risco de câncer de mama em mulheres pode ser modificado por uma variedade de fatores, isoladamente ou em combinação. Portanto, é evidente a importância de as mulheres realizarem o rastreamento recomendado pela Sociedade Brasileira de Mastologia, por meio de mamografias anuais a partir dos 40 anos de idade e rastreamento personalizado em mulheres com risco aumentado. A conscientização e a intervenção em fatores modificáveis podem potencialmente melhorar a evolução natural dessa doença.","PeriodicalId":84971,"journal":{"name":"Jornal brasileiro de ginecologia","volume":"36 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-01-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"135596757","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-01-01DOI: 10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1051
Aline Rezende de Souza Mendes, Érica de Almeida, Lorena Moreira Couto, Rafaela Marcello Soares
Introdução: A icterícia neonatal é uma condição em que o recém-nascido apresenta coloração amarelada na pele e nas mucosas devido ao acúmulo de bilirrubina. No contexto da isoimunização Rh, essa icterícia ocorre devido à transmissão de anticorpos maternos contra as hemácias do feto. O diagnóstico precoce dessa condição por meio do teste de Coombs indireto é essencial para melhorar o prognóstico do recém-nascido, permitindo um planejamento e condutas adequadas. Isso é importante para evitar complicações como a impregnação de bilirrubina no sistema nervoso central (SNC). Objetivo: Realizar uma revisão narrativa da literatura sobre o prognóstico da icterícia neonatal por isoimunização Rh diagnosticada precocemente durante a assistência pré-natal, possibilitando um planejamento terapêutico adequado. Método: Realizou-se revisão narrativa da literatura utilizando-se as bases de dados Scientific Electronic Library Online (SciELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), National Library of Medicine (PubMed) e o Manual de Gestação de Alto Risco do Ministério da Saúde de 2022. Incluíram-se artigos completos publicados entre 2012 e 2022 nos idiomas português, inglês e espanhol, relacionados ao tema. Excluíram-se publicações que não estavam diretamente relacionadas à temática. No total, 12 artigos foram selecionados para leitura na íntegra. Resultados: A isoimunização Rh pode causar várias complicações relacionadas à hemólise fetal, como anemia, hiperbilirrubinemia e disfunções neurológicas. A elevação da bilirrubina pode atravessar a barreira hematoencefálica imatura do feto, resultando em encefalopatia bilirrubínica aguda e kernicterus. A isoimunização Rh ocorre quando uma gestante Rh negativa produz anticorpos contra o fator Rh em um feto Rh positivo. Portanto, é necessário realizar o teste de Coombs indireto durante o pré-natal para garantir uma assistência adequada ao recém-nascido imediatamente após o parto e nas horas subsequentes. Isso inclui a administração adequada de fototerapia e monitoramento rigoroso dos níveis séricos de bilirrubina para promover sua conjugação, excreção urinária na forma de urobilinogênio e excreção fecal na forma de estercobilina, a fim de reduzir a bilirrubina indireta e diminuir as possíveis complicações, evitando intervenções mais complexas e invasivas, como a exsanguineotransfusão, que pode levar ao óbito. Conclusão: A isoimunização Rh é uma doença grave e pouco discutida. O teste de Coombs indireto é facilmente acessível e disponibilizado pelo sistema público de saúde, fornecendo um diagnóstico preciso que orienta a terapêutica e prepara a equipe de neonatologia para receber o recém-nascido com recursos adequados. É fundamental aumentar a visibilidade dessa doença, possibilitando sua detecção precoce e a adoção de medidas preventivas para reduzir o número de ocorrências.
{"title":"A influência da assistência pré-natal no prognóstico do recém-nascido com icterícia neonatal","authors":"Aline Rezende de Souza Mendes, Érica de Almeida, Lorena Moreira Couto, Rafaela Marcello Soares","doi":"10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1051","DOIUrl":"https://doi.org/10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1051","url":null,"abstract":"Introdução: A icterícia neonatal é uma condição em que o recém-nascido apresenta coloração amarelada na pele e nas mucosas devido ao acúmulo de bilirrubina. No contexto da isoimunização Rh, essa icterícia ocorre devido à transmissão de anticorpos maternos contra as hemácias do feto. O diagnóstico precoce dessa condição por meio do teste de Coombs indireto é essencial para melhorar o prognóstico do recém-nascido, permitindo um planejamento e condutas adequadas. Isso é importante para evitar complicações como a impregnação de bilirrubina no sistema nervoso central (SNC). Objetivo: Realizar uma revisão narrativa da literatura sobre o prognóstico da icterícia neonatal por isoimunização Rh diagnosticada precocemente durante a assistência pré-natal, possibilitando um planejamento terapêutico adequado. Método: Realizou-se revisão narrativa da literatura utilizando-se as bases de dados Scientific Electronic Library Online (SciELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), National Library of Medicine (PubMed) e o Manual de Gestação de Alto Risco do Ministério da Saúde de 2022. Incluíram-se artigos completos publicados entre 2012 e 2022 nos idiomas português, inglês e espanhol, relacionados ao tema. Excluíram-se publicações que não estavam diretamente relacionadas à temática. No total, 12 artigos foram selecionados para leitura na íntegra. Resultados: A isoimunização Rh pode causar várias complicações relacionadas à hemólise fetal, como anemia, hiperbilirrubinemia e disfunções neurológicas. A elevação da bilirrubina pode atravessar a barreira hematoencefálica imatura do feto, resultando em encefalopatia bilirrubínica aguda e kernicterus. A isoimunização Rh ocorre quando uma gestante Rh negativa produz anticorpos contra o fator Rh em um feto Rh positivo. Portanto, é necessário realizar o teste de Coombs indireto durante o pré-natal para garantir uma assistência adequada ao recém-nascido imediatamente após o parto e nas horas subsequentes. Isso inclui a administração adequada de fototerapia e monitoramento rigoroso dos níveis séricos de bilirrubina para promover sua conjugação, excreção urinária na forma de urobilinogênio e excreção fecal na forma de estercobilina, a fim de reduzir a bilirrubina indireta e diminuir as possíveis complicações, evitando intervenções mais complexas e invasivas, como a exsanguineotransfusão, que pode levar ao óbito. Conclusão: A isoimunização Rh é uma doença grave e pouco discutida. O teste de Coombs indireto é facilmente acessível e disponibilizado pelo sistema público de saúde, fornecendo um diagnóstico preciso que orienta a terapêutica e prepara a equipe de neonatologia para receber o recém-nascido com recursos adequados. É fundamental aumentar a visibilidade dessa doença, possibilitando sua detecção precoce e a adoção de medidas preventivas para reduzir o número de ocorrências.","PeriodicalId":84971,"journal":{"name":"Jornal brasileiro de ginecologia","volume":"22 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-01-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"135600252","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-01-01DOI: 10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1114
Ana Laura Ribas Braga Bettega, Bryan Alexander Cuervo, Mario Fernando Davila Obando, Julio Da Silva Almeida, Daniela Cardeño Chamorro, Tatianne Rosa dos Santos, Christian Montero Vera, Sílvio Silva Fernandes
Introdução: Os tumores vulvares representam apenas 4% de todas as neoplasias ginecológicas e são o 4º em frequência, depois dos tumores do colo do útero, útero e ovário. 98% de todos os tumores vulvares são benignos e apenas 2% são malignos. No entanto, fazer o diagnóstico correto nem sempre é fácil devido às similaridades patológicas. Este relato de caso de dermatofibroma vulvar pretende contribuir para a identificação e tratamento de possíveis novos casos. Relato de caso: A.S.D.S., mulher de 88 anos, procurou o ambulatório com queixa de lesão e prurido na região vulvar há aproximadamente um ano. Relata aumento progressivo da lesão e piora do prurido, mas nega qualquer secreção, dor local e outros sinais ou sintomas que afetem o estado de saúde. Ao ser questionada, a paciente descreve a lesão como não sendo uma massa nem um nódulo. Seu histórico ginecológico e obstétrico indica menopausa aos 52 anos e realização de histerectomia total abdominal e salpingooforectomia bilateral aos 53 anos devido a sangramento uterino anormal, mas não sabe dizer o diagnóstico exato. Não apresenta alterações nos últimos exames, preventivo e mamografia, realizados aos 65 anos. Ao exame físico, foi verificada a presença de uma lesão em placa na região esquerda da vulva, no terço superior e médio, com cerca de 6 × 3 cm, acinzentada, eritematosa, descamativa na periferia e bordas irregulares. Não apresentava alterações no canal vaginal e o toque vaginal era indolor. Foi decidido realizar uma biópsia excisional. Após a ressecção da lesão com margens, a análise histopatológica da amostra sugeriu o diagnóstico de leiomioma. Por sugestão do patologista, foi realizada imuno-histoquímica, que diagnosticou a lesão como dermatofibroma. Comentários: Como existem poucas técnicas utilizadas para diferenciar a natureza do tumor, a biópsia excisional parece ser o melhor procedimento atualmente empregado, além de ser o tratamento de escolha para tais tumores. No caso apresentado, a análise imuno-histoquímica foi de grande valia para fechar o diagnóstico. Anticorpos como caldesmon, actina-alfa e desmina foram utilizados para verificar a existência de células musculares na amostra, revelando um resultado negativo. A possibilidade de estarmos diante de um melanoma também foi verificada utilizando o anticorpo proteína S100 (marcador de células de origem da crista neural, como os melanócitos), o que também foi descartado. A análise imuno-histoquímica se revelou positiva apenas para o fator XIII.
{"title":"Dermatofibroma vulvar: relato de caso","authors":"Ana Laura Ribas Braga Bettega, Bryan Alexander Cuervo, Mario Fernando Davila Obando, Julio Da Silva Almeida, Daniela Cardeño Chamorro, Tatianne Rosa dos Santos, Christian Montero Vera, Sílvio Silva Fernandes","doi":"10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1114","DOIUrl":"https://doi.org/10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1114","url":null,"abstract":"Introdução: Os tumores vulvares representam apenas 4% de todas as neoplasias ginecológicas e são o 4º em frequência, depois dos tumores do colo do útero, útero e ovário. 98% de todos os tumores vulvares são benignos e apenas 2% são malignos. No entanto, fazer o diagnóstico correto nem sempre é fácil devido às similaridades patológicas. Este relato de caso de dermatofibroma vulvar pretende contribuir para a identificação e tratamento de possíveis novos casos. Relato de caso: A.S.D.S., mulher de 88 anos, procurou o ambulatório com queixa de lesão e prurido na região vulvar há aproximadamente um ano. Relata aumento progressivo da lesão e piora do prurido, mas nega qualquer secreção, dor local e outros sinais ou sintomas que afetem o estado de saúde. Ao ser questionada, a paciente descreve a lesão como não sendo uma massa nem um nódulo. Seu histórico ginecológico e obstétrico indica menopausa aos 52 anos e realização de histerectomia total abdominal e salpingooforectomia bilateral aos 53 anos devido a sangramento uterino anormal, mas não sabe dizer o diagnóstico exato. Não apresenta alterações nos últimos exames, preventivo e mamografia, realizados aos 65 anos. Ao exame físico, foi verificada a presença de uma lesão em placa na região esquerda da vulva, no terço superior e médio, com cerca de 6 × 3 cm, acinzentada, eritematosa, descamativa na periferia e bordas irregulares. Não apresentava alterações no canal vaginal e o toque vaginal era indolor. Foi decidido realizar uma biópsia excisional. Após a ressecção da lesão com margens, a análise histopatológica da amostra sugeriu o diagnóstico de leiomioma. Por sugestão do patologista, foi realizada imuno-histoquímica, que diagnosticou a lesão como dermatofibroma. Comentários: Como existem poucas técnicas utilizadas para diferenciar a natureza do tumor, a biópsia excisional parece ser o melhor procedimento atualmente empregado, além de ser o tratamento de escolha para tais tumores. No caso apresentado, a análise imuno-histoquímica foi de grande valia para fechar o diagnóstico. Anticorpos como caldesmon, actina-alfa e desmina foram utilizados para verificar a existência de células musculares na amostra, revelando um resultado negativo. A possibilidade de estarmos diante de um melanoma também foi verificada utilizando o anticorpo proteína S100 (marcador de células de origem da crista neural, como os melanócitos), o que também foi descartado. A análise imuno-histoquímica se revelou positiva apenas para o fator XIII.","PeriodicalId":84971,"journal":{"name":"Jornal brasileiro de ginecologia","volume":"136 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-01-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"135648932","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-01-01DOI: 10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1018
Rafaela Rebollal Brigatto Medeiros, Luiza Dias Nogueira da Rocha, Guilene Vieira Gomes
Introdução: O carcinossarcoma é uma forma rara e agressiva de neoplasia endometrial. Este relato de caso descreve uma paciente com vários fatores de risco, diagnóstico em estágio avançado e prognóstico desfavorável. O objetivo é destacar essa condição infrequente, discutir fatores prognósticos e opções de tratamento. Relato de caso: Trata-se de uma paciente do sexo feminino, com 69 anos de idade, que apresentava sangramento pós-menopausa e suspeita de câncer de colo uterino devido a uma lesão vegetante visível no colo uterino durante o exame clínico. Os exames de imagem revelaram aumento do útero e cavidade uterina volumosa e heterogênea. A biópsia da lesão do colo uterino confirmou o diagnóstico histopatológico e imuno-histoquímico de carcinos-sarcoma. A paciente foi submetida a uma cirurgia para estadiamento, porém, devido à demora no diagnóstico e no início do tratamento, além da rápida progressão da doença, já apresentava comprometimento clínico significativo. Comentários: O estágio inicial da doença é um fator prognóstico importante, e o tempo é crucial. A falta de conhecimento dos profissionais de saúde sobre esse diagnóstico diferencial e a demora no início do tratamento contribuíram para a rápida progressão da doença. O tratamento primário para o carcinos-sarcoma é cirúrgico, com possíveis opções de quimioterapia, radioterapia e braquiterapia adjuvantes, que podem melhorar a qualidade de vida, mas cujos benefícios em termos de aumento da sobrevida global ainda não estão bem estabelecidos. Devido à sua raridade e rápida evolução, o conhecimento sobre essa condição é baseado principalmente em estudos retrospectivos de pequeno porte e relatos de casos, não havendo consenso sobre a terapêutica e benefícios dos tratamentos adjuvantes. No caso em questão, a combinação da história natural da doença com problemas estruturais do sistema de saúde levou a um desfecho desfavorável para a paciente.
{"title":"Carcinossarcoma uterino: relato de caso","authors":"Rafaela Rebollal Brigatto Medeiros, Luiza Dias Nogueira da Rocha, Guilene Vieira Gomes","doi":"10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1018","DOIUrl":"https://doi.org/10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1018","url":null,"abstract":"Introdução: O carcinossarcoma é uma forma rara e agressiva de neoplasia endometrial. Este relato de caso descreve uma paciente com vários fatores de risco, diagnóstico em estágio avançado e prognóstico desfavorável. O objetivo é destacar essa condição infrequente, discutir fatores prognósticos e opções de tratamento. Relato de caso: Trata-se de uma paciente do sexo feminino, com 69 anos de idade, que apresentava sangramento pós-menopausa e suspeita de câncer de colo uterino devido a uma lesão vegetante visível no colo uterino durante o exame clínico. Os exames de imagem revelaram aumento do útero e cavidade uterina volumosa e heterogênea. A biópsia da lesão do colo uterino confirmou o diagnóstico histopatológico e imuno-histoquímico de carcinos-sarcoma. A paciente foi submetida a uma cirurgia para estadiamento, porém, devido à demora no diagnóstico e no início do tratamento, além da rápida progressão da doença, já apresentava comprometimento clínico significativo. Comentários: O estágio inicial da doença é um fator prognóstico importante, e o tempo é crucial. A falta de conhecimento dos profissionais de saúde sobre esse diagnóstico diferencial e a demora no início do tratamento contribuíram para a rápida progressão da doença. O tratamento primário para o carcinos-sarcoma é cirúrgico, com possíveis opções de quimioterapia, radioterapia e braquiterapia adjuvantes, que podem melhorar a qualidade de vida, mas cujos benefícios em termos de aumento da sobrevida global ainda não estão bem estabelecidos. Devido à sua raridade e rápida evolução, o conhecimento sobre essa condição é baseado principalmente em estudos retrospectivos de pequeno porte e relatos de casos, não havendo consenso sobre a terapêutica e benefícios dos tratamentos adjuvantes. No caso em questão, a combinação da história natural da doença com problemas estruturais do sistema de saúde levou a um desfecho desfavorável para a paciente.","PeriodicalId":84971,"journal":{"name":"Jornal brasileiro de ginecologia","volume":"23 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-01-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"135550191","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-01-01DOI: 10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1004
Angela Diblasi Caneschi, Fernanda Rodrigues de Almeida, Maria Carolina Cunha de Souza, Catarina farias Silveira
Introdução: O hímen imperfurado é uma anomalia obstrutiva do trato genital feminino cuja incidência é de 1:2.000 mulheres, e seu diagnóstico precoce é importante para evitar emergências ginecológicas na adolescência. Caso o diagnóstico não seja realizado de modo adequado, poderão ocorrer infecções, subfertilidade e gravidez ectópica, por exemplo. O exame ectos-cópico da vulva detecta essa afecção desde a mais tenra idade. No entanto, o diagnóstico ainda é feito tardiamente, após a menarca, quando a mulher apre-senta sintomas em decorrência do hematocolpo, como amenorreia primária, dor abdominal ou pélvica cíclica, lombalgia e retenção urinária. Nos diferen-tes estágios da vida da mulher, o exame físico cuidadoso é fundamental para um bom prognóstico. Além disso, o diagnóstico pode ser confirmado com a ultrassonografia (USG) pélvica, para determinar a distância da obstrução ao nível da localização normal do introito. O tratamento será a reparação cirúrgica por meio da himenectomia em qualquer idade, preferencialmente na puber-dade, antes do desenvolvimento do hematocolpo. Relato de caso: A.C.S.M., sexo feminino, 15 anos, acompanhada da mãe, deu entrada na emergência de uma maternidade pública no município do Rio de Janeiro com queixa de aumento do volume abdominal, dor pélvica e amenorreia. Referiu início do desenvolvimento de caracteres secundários aos 10 anos, negou menarca e sexarca. Ao exame, paciente em bom estado geral, corada, hidratada, afebril, anictérica, abdome flácido, abaulado e doloroso à palpação em hipogástrio. Genitália externa bem desenvolvida compatível com a idade, estadiamento de Tanner M5P5. Observou-se hímen imperfurado, abaulado (acentuado à manobra de Valsalva) e de coloração escurecida. Não foi realizada USG por indisponibilidade. Após o diagnóstico de hímen imperfurado, foi encami-nhada ao centro cirúrgico para himenectomia com incisão cruciforme sob sedação e drenagem do hematocolpometra com saída de 600 mL de líquido achocolatado sem odor. Procedimento sem intercorrências. Paciente com evo-lução satisfatória, liberada após 12 horas com orientação de acompanhamento ambulatorial no Serviço de Ginecologia. Comentários: Considerando-se que a paciente tem 15 anos, iniciou o desenvolvimento de caracteres sexuais secundários aos 10 anos e tem critérios de Tanner M5 P5, chama a atenção o relato de amenorreia primária. A ectoscopia da genitália externa deve fazer parte da consulta pediátrica, e a imperfuração himenal é facilmente iden-tificada. Com isso, e sem necessidade de exames complementares, o diag-nóstico pode ser feito precocemente, com encaminhamento da paciente ao ginecologista para a conduta pertinente ao caso. Conclui-se, portanto, que o exame da genitália externa é imprescindível na rotina pediátrica para evitar situação de emergência.
{"title":"A importância do exame físico precoce para o diagnóstico de hímen imperfurado: um relato de caso","authors":"Angela Diblasi Caneschi, Fernanda Rodrigues de Almeida, Maria Carolina Cunha de Souza, Catarina farias Silveira","doi":"10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1004","DOIUrl":"https://doi.org/10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1004","url":null,"abstract":"Introdução: O hímen imperfurado é uma anomalia obstrutiva do trato genital feminino cuja incidência é de 1:2.000 mulheres, e seu diagnóstico precoce é importante para evitar emergências ginecológicas na adolescência. Caso o diagnóstico não seja realizado de modo adequado, poderão ocorrer infecções, subfertilidade e gravidez ectópica, por exemplo. O exame ectos-cópico da vulva detecta essa afecção desde a mais tenra idade. No entanto, o diagnóstico ainda é feito tardiamente, após a menarca, quando a mulher apre-senta sintomas em decorrência do hematocolpo, como amenorreia primária, dor abdominal ou pélvica cíclica, lombalgia e retenção urinária. Nos diferen-tes estágios da vida da mulher, o exame físico cuidadoso é fundamental para um bom prognóstico. Além disso, o diagnóstico pode ser confirmado com a ultrassonografia (USG) pélvica, para determinar a distância da obstrução ao nível da localização normal do introito. O tratamento será a reparação cirúrgica por meio da himenectomia em qualquer idade, preferencialmente na puber-dade, antes do desenvolvimento do hematocolpo. Relato de caso: A.C.S.M., sexo feminino, 15 anos, acompanhada da mãe, deu entrada na emergência de uma maternidade pública no município do Rio de Janeiro com queixa de aumento do volume abdominal, dor pélvica e amenorreia. Referiu início do desenvolvimento de caracteres secundários aos 10 anos, negou menarca e sexarca. Ao exame, paciente em bom estado geral, corada, hidratada, afebril, anictérica, abdome flácido, abaulado e doloroso à palpação em hipogástrio. Genitália externa bem desenvolvida compatível com a idade, estadiamento de Tanner M5P5. Observou-se hímen imperfurado, abaulado (acentuado à manobra de Valsalva) e de coloração escurecida. Não foi realizada USG por indisponibilidade. Após o diagnóstico de hímen imperfurado, foi encami-nhada ao centro cirúrgico para himenectomia com incisão cruciforme sob sedação e drenagem do hematocolpometra com saída de 600 mL de líquido achocolatado sem odor. Procedimento sem intercorrências. Paciente com evo-lução satisfatória, liberada após 12 horas com orientação de acompanhamento ambulatorial no Serviço de Ginecologia. Comentários: Considerando-se que a paciente tem 15 anos, iniciou o desenvolvimento de caracteres sexuais secundários aos 10 anos e tem critérios de Tanner M5 P5, chama a atenção o relato de amenorreia primária. A ectoscopia da genitália externa deve fazer parte da consulta pediátrica, e a imperfuração himenal é facilmente iden-tificada. Com isso, e sem necessidade de exames complementares, o diag-nóstico pode ser feito precocemente, com encaminhamento da paciente ao ginecologista para a conduta pertinente ao caso. Conclui-se, portanto, que o exame da genitália externa é imprescindível na rotina pediátrica para evitar situação de emergência.","PeriodicalId":84971,"journal":{"name":"Jornal brasileiro de ginecologia","volume":"10 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-01-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"135550588","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-01-01DOI: 10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1001
Isabela Maciel Pellerin, Paula Cristina da Silva Jordão, Stella Leony Bueno, Juliana Selbach Licks, Paula Vieira Villar, Luisa de Almeida Lopes, Debora Carreira Mofato, Amandha Mello de Souza
Objetivo: Ampliar o conhecimento acerca das patologias, especialmente na diferenciação diagnóstica de Fetus-in-Fetus (FIF) e teratoma. A partir do estudo da presente revisão bibliográfica, será possível identificar aspectos fisiopatológicos distintos dessas doenças, além do diagnóstico diferencial.Métodos: Realizaram-se análises de bases de dados nacionais e estrangeiras no período de 2009 a 2023, a partir de relatos de casos e estudos científi-cos nas plataformas de acesso restrito e aberto, como a Scientific Electronic Library Online (SciELO), The Research, Society and Development Journal, Brazilian Journal of Health Review, Fetal and Pediatric Pathology, Science Direct e SAGE Journals, contendo palavras-chave como Fetus-in-fetu, tera-toma e gêmeo parasita. Seleção de estudos: Realizou-se o levantamento de informações provenientes de 6 artigos, incluindo relato de caso, após deta-lhada seleção dentre 8 artigos, em que os critérios de inclusão foram a data de publicação a partir do ano de 2007 e a relevância com o tema. Coleta de dados: Trata-se de uma revisão sistematizada com metodologia de pesquisa bibliográfica, com dados qualitativos acerca da diferenciação das anormali-dades apresentadas. Resultados: FIF é uma condição rara na qual um feto vertebrado malformado evidenciará a integração de uma ínfima massa celular dentro de um embrião gemelar em maturação. Essa má-formação ocorre durante a divisão desigual da massa celular interna totipotente do blastocisto em desenvolvimento, cursando com organogênese e ausência de geminação diamniótica, monocoriônica e monozigótica. Análises refe-rem que o FIF representa um espectro de teratoma maligno, diferenciando--se pela presença ou não de esqueleto axial. Assim, a conformação de uma coluna vertebral separada sugere que o feto passou pelo primeiro estágio de gastrulação, com formação do tubo neural, metamerização e desdobra-mento simétrico em torno desse eixo. Outros autores distinguem a FIF do teratoma porque o FIF ocorre geralmente no abdome superior, enquanto o teratoma ocorre no abdome inferior. Além disso, o FIF é, em sua maioria, benigno. Porém, a distinção entre um teratoma e uma anormalidade gemelar é de alta complexidade, exigindo a presença de critérios clínicos, patológi-cos e exames de imagem, como ultrassonografia no pré-natal e radiografia de abdome total do feto acometido. Conclusão: Portanto, essa condição rara necessita ser diagnosticada e diferenciada do teratoma o quanto antes, com a intenção de impedir a progressão de células malignas ou prosseguir com a excisão cirúrgica completa do FIF. Nos exames de imagem, achados como a presença de coluna vertebral devem ser investigados para um diag-nóstico mais eficaz. Além disso, também podem ser detectadas numerosas calcificações, existência de membros e órgãos, e sombra amorfa de densi-dade de partes moles. Assim, mesmo com a evidente complexidade, será possibilitada a distinção entre um teratoma e um FIF.
{"title":"A controvérsia entre Fetus-in-Fetus e teratoma","authors":"Isabela Maciel Pellerin, Paula Cristina da Silva Jordão, Stella Leony Bueno, Juliana Selbach Licks, Paula Vieira Villar, Luisa de Almeida Lopes, Debora Carreira Mofato, Amandha Mello de Souza","doi":"10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1001","DOIUrl":"https://doi.org/10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1001","url":null,"abstract":"Objetivo: Ampliar o conhecimento acerca das patologias, especialmente na diferenciação diagnóstica de Fetus-in-Fetus (FIF) e teratoma. A partir do estudo da presente revisão bibliográfica, será possível identificar aspectos fisiopatológicos distintos dessas doenças, além do diagnóstico diferencial.Métodos: Realizaram-se análises de bases de dados nacionais e estrangeiras no período de 2009 a 2023, a partir de relatos de casos e estudos científi-cos nas plataformas de acesso restrito e aberto, como a Scientific Electronic Library Online (SciELO), The Research, Society and Development Journal, Brazilian Journal of Health Review, Fetal and Pediatric Pathology, Science Direct e SAGE Journals, contendo palavras-chave como Fetus-in-fetu, tera-toma e gêmeo parasita. Seleção de estudos: Realizou-se o levantamento de informações provenientes de 6 artigos, incluindo relato de caso, após deta-lhada seleção dentre 8 artigos, em que os critérios de inclusão foram a data de publicação a partir do ano de 2007 e a relevância com o tema. Coleta de dados: Trata-se de uma revisão sistematizada com metodologia de pesquisa bibliográfica, com dados qualitativos acerca da diferenciação das anormali-dades apresentadas. Resultados: FIF é uma condição rara na qual um feto vertebrado malformado evidenciará a integração de uma ínfima massa celular dentro de um embrião gemelar em maturação. Essa má-formação ocorre durante a divisão desigual da massa celular interna totipotente do blastocisto em desenvolvimento, cursando com organogênese e ausência de geminação diamniótica, monocoriônica e monozigótica. Análises refe-rem que o FIF representa um espectro de teratoma maligno, diferenciando--se pela presença ou não de esqueleto axial. Assim, a conformação de uma coluna vertebral separada sugere que o feto passou pelo primeiro estágio de gastrulação, com formação do tubo neural, metamerização e desdobra-mento simétrico em torno desse eixo. Outros autores distinguem a FIF do teratoma porque o FIF ocorre geralmente no abdome superior, enquanto o teratoma ocorre no abdome inferior. Além disso, o FIF é, em sua maioria, benigno. Porém, a distinção entre um teratoma e uma anormalidade gemelar é de alta complexidade, exigindo a presença de critérios clínicos, patológi-cos e exames de imagem, como ultrassonografia no pré-natal e radiografia de abdome total do feto acometido. Conclusão: Portanto, essa condição rara necessita ser diagnosticada e diferenciada do teratoma o quanto antes, com a intenção de impedir a progressão de células malignas ou prosseguir com a excisão cirúrgica completa do FIF. Nos exames de imagem, achados como a presença de coluna vertebral devem ser investigados para um diag-nóstico mais eficaz. Além disso, também podem ser detectadas numerosas calcificações, existência de membros e órgãos, e sombra amorfa de densi-dade de partes moles. Assim, mesmo com a evidente complexidade, será possibilitada a distinção entre um teratoma e um FIF.","PeriodicalId":84971,"journal":{"name":"Jornal brasileiro de ginecologia","volume":"81 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-01-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"135550774","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-01-01DOI: 10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1012
Marcelle Alves Torres da Silva, Anna Clara Coelho da Rocha Silva, Débora Chaves Lobo de Melo, Lucas Dalsenter Romano da Silva, Beatriz de Oliveira e Castro, Laura Reis Paz, Maria Eduarda Madeira El Khouri
Introdução: A laqueadura tubária é um procedimento cirúrgico de esterilização feminina definitiva, com uma taxa de falha (índice de Pearl) de 0,1–0,3 a cada 100 mulheres por ano. A opção de realizar a laqueadura durante uma cesariana é uma escolha para mulheres que desejam evitar gestações futuras e já têm indicação de passar por um parto cesáreo. Nesses casos, a laqueadura é realizada durante o mesmo procedimento cirúrgico, evitando a necessidade de uma intervenção adicional invasiva no pós-parto. Objetivo: O objetivo deste estudo foi avaliar a evolução do número de partos cesáreos com laqueadura e sua distribuição nas regiões brasileiras, além de analisar a média de permanência hospitalar e a taxa de letalidade associada ao procedimento. Métodos: Realizou-se estudo transversal seriado relacionado aos partos cesáreos com laqueadura tubária realizados no Brasil entre janeiro de 2016 e dezembro de 2022. Os dados foram coletados do Sistema de Informações Hospitalares (SIH), disponível no site do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). As variáveis selecionadas foram: parto cesáreo com laqueadura tubária, autorizações de internação hospitalar (AIH), média de permanência e número de óbitos. Resultados: Durante o período de estudo, realizaram-se 285.565 partos cesáreos com laqueadura no Brasil. A Região Sudeste concentrou a maioria dos casos (47,09%), seguida por Nordeste (19,94%), Centro-Oeste (12,20%), Norte (10,61%) e Sul (10,14%). Observou-se um aumento progressivo no número de AIH, com taxa de crescimento de 81,07% entre 2016 e 2022. Nos últimos 6 anos, registraram-se 99 óbitos relacionados ao procedimento, totalizando uma taxa de letalidade de 0,03%. A média de permanência hospitalar para as puérperas após o parto cesáreo com laqueadura tubária foi de 2,7 dias. Conclusão: Observou-se expressivo aumento no número de esterilizações nos últimos 6 anos, o que pode ser justificado por diversos fatores, como mudanças culturais e dinâmicas familiares no Brasil. Os procedimentos foram concentrados principalmente na Região Sudeste, que tem a maior densidade demográfica do país e abriga grandes metrópoles. Além disso, constatou-se baixa taxa de letalidade associada ao procedimento, assim como média de permanência hospitalar semelhante à do parto cesáreo sem laqueadura, indicando que, em média, não há alteração no prognóstico para as mulheres que optam pela laqueadura periparto. No entanto, é importante lembrar que a laqueadura é um procedimento com altas taxas de insucesso na reversão, devendo ser considerada com cautela e discutida em conjunto com um médico especialista para esclarecer todas as dúvidas sobre o procedimento.
{"title":"Análise quantitativa acerca da realização de parto cesáreo com laqueadura tubária no Brasi","authors":"Marcelle Alves Torres da Silva, Anna Clara Coelho da Rocha Silva, Débora Chaves Lobo de Melo, Lucas Dalsenter Romano da Silva, Beatriz de Oliveira e Castro, Laura Reis Paz, Maria Eduarda Madeira El Khouri","doi":"10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1012","DOIUrl":"https://doi.org/10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1012","url":null,"abstract":"Introdução: A laqueadura tubária é um procedimento cirúrgico de esterilização feminina definitiva, com uma taxa de falha (índice de Pearl) de 0,1–0,3 a cada 100 mulheres por ano. A opção de realizar a laqueadura durante uma cesariana é uma escolha para mulheres que desejam evitar gestações futuras e já têm indicação de passar por um parto cesáreo. Nesses casos, a laqueadura é realizada durante o mesmo procedimento cirúrgico, evitando a necessidade de uma intervenção adicional invasiva no pós-parto. Objetivo: O objetivo deste estudo foi avaliar a evolução do número de partos cesáreos com laqueadura e sua distribuição nas regiões brasileiras, além de analisar a média de permanência hospitalar e a taxa de letalidade associada ao procedimento. Métodos: Realizou-se estudo transversal seriado relacionado aos partos cesáreos com laqueadura tubária realizados no Brasil entre janeiro de 2016 e dezembro de 2022. Os dados foram coletados do Sistema de Informações Hospitalares (SIH), disponível no site do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). As variáveis selecionadas foram: parto cesáreo com laqueadura tubária, autorizações de internação hospitalar (AIH), média de permanência e número de óbitos. Resultados: Durante o período de estudo, realizaram-se 285.565 partos cesáreos com laqueadura no Brasil. A Região Sudeste concentrou a maioria dos casos (47,09%), seguida por Nordeste (19,94%), Centro-Oeste (12,20%), Norte (10,61%) e Sul (10,14%). Observou-se um aumento progressivo no número de AIH, com taxa de crescimento de 81,07% entre 2016 e 2022. Nos últimos 6 anos, registraram-se 99 óbitos relacionados ao procedimento, totalizando uma taxa de letalidade de 0,03%. A média de permanência hospitalar para as puérperas após o parto cesáreo com laqueadura tubária foi de 2,7 dias. Conclusão: Observou-se expressivo aumento no número de esterilizações nos últimos 6 anos, o que pode ser justificado por diversos fatores, como mudanças culturais e dinâmicas familiares no Brasil. Os procedimentos foram concentrados principalmente na Região Sudeste, que tem a maior densidade demográfica do país e abriga grandes metrópoles. Além disso, constatou-se baixa taxa de letalidade associada ao procedimento, assim como média de permanência hospitalar semelhante à do parto cesáreo sem laqueadura, indicando que, em média, não há alteração no prognóstico para as mulheres que optam pela laqueadura periparto. No entanto, é importante lembrar que a laqueadura é um procedimento com altas taxas de insucesso na reversão, devendo ser considerada com cautela e discutida em conjunto com um médico especialista para esclarecer todas as dúvidas sobre o procedimento.","PeriodicalId":84971,"journal":{"name":"Jornal brasileiro de ginecologia","volume":"75 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-01-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"135550777","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-01-01DOI: 10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1105
Luisa Guimarães Santos, Alexia de Avila Frayha, Ana Elisa Rodrigues Baião
Objetivo: O objetivo desta revisão foi analisar a literatura científica sobre a autonomia da mulher no processo de decisão da via de parto, a morbidade e mortalidade materna e perinatal, e os custos relacionados a cada via de parto. Fonte de dados: A busca foi realizada nas bases de dados National Library of Medicine (PubMed), Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Cochrane, no período de 1995 a 2022, utilizando-se os seguintes descritores: "cesarean section and human rights", "cesarean section and informed consent", "cesarean rates", "cesarean costs", "reproductive rights", "early term", "infant cost", "cesarean costs for the public system", "late preterm infant cost", "maternal request for cesarean section", "cesarean section and choice", "cesarean section and medical choice". Critérios de seleção: Foram selecionados 45 artigos considerados adequados para a revisão, conforme avaliação por dois especialistas. Os resultados referentes à decisão pela via de parto, desfechos maternos e perinatais, e custos hospitalares, extraídos dos artigos selecionados, foram tabulados para análise e síntese dos resultados desta revisão. Resultados: O modelo tecnocrático de assistência, caracterizado pela predominância da visão médica, intervenções excessivas e falta de envolvimento entre paciente e médico, ainda é prevalente no Brasil e em outros lugares do mundo. Isso é um fator importante nas altas taxas de cesariana, pois não favorece a escolha informada e o cuidado baseado em evidências científicas centrado na mulher. No setor privado, a cesariana predomina devido à falsa ideia de aumento da segurança, enquanto no setor público, a cesariana é apresentada como uma alternativa para evitar experiências negativas no parto. Quanto aos desfechos maternos e perinatais, a cesariana apresenta um maior risco de morte materna, infecção puerperal, parada cardíaca, hematoma da ferida, histerectomia, complicações anestésicas, tromboembolismo venoso, aumento do tempo de internação hospitalar e hemorragia grave. Além disso, a cada cesariana subsequente, o risco aumenta progressivamente, com maior incidência de acretismo placentário, placenta prévia, lesão intestinal e ureteral, e óbito fetal. Também são descritas complicações respiratórias devido ao nascimento no termo precoce e maior risco de desenvolvimento de doenças crônicas na idade adulta para o concepto. Por fim, as altas taxas de cesariana, principalmente quando realizadas sem indicação médica, resultam em um custo maior para o sistema de saúde, aproximadamente 30% a mais por gestante, sem considerar os possíveis gastos relacionados a complicações maternas e neonatais do procedimento. Conclusão: O modelo tecnocrático de assistência, a falta de orientação baseada em evidências durante o pré-natal e o acesso limitado a tecnologias que proporcionam uma experiência positiva de parto, especialmente a analgesia de parto, principalmente em maternidades públicas, afetam o exercício da autonomia da mulher na decisão
{"title":"Via de parto no Brasil — desfechos maternos e perinatais, custos e autonomia da mulher","authors":"Luisa Guimarães Santos, Alexia de Avila Frayha, Ana Elisa Rodrigues Baião","doi":"10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1105","DOIUrl":"https://doi.org/10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1105","url":null,"abstract":"Objetivo: O objetivo desta revisão foi analisar a literatura científica sobre a autonomia da mulher no processo de decisão da via de parto, a morbidade e mortalidade materna e perinatal, e os custos relacionados a cada via de parto. Fonte de dados: A busca foi realizada nas bases de dados National Library of Medicine (PubMed), Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Cochrane, no período de 1995 a 2022, utilizando-se os seguintes descritores: \"cesarean section and human rights\", \"cesarean section and informed consent\", \"cesarean rates\", \"cesarean costs\", \"reproductive rights\", \"early term\", \"infant cost\", \"cesarean costs for the public system\", \"late preterm infant cost\", \"maternal request for cesarean section\", \"cesarean section and choice\", \"cesarean section and medical choice\". Critérios de seleção: Foram selecionados 45 artigos considerados adequados para a revisão, conforme avaliação por dois especialistas. Os resultados referentes à decisão pela via de parto, desfechos maternos e perinatais, e custos hospitalares, extraídos dos artigos selecionados, foram tabulados para análise e síntese dos resultados desta revisão. Resultados: O modelo tecnocrático de assistência, caracterizado pela predominância da visão médica, intervenções excessivas e falta de envolvimento entre paciente e médico, ainda é prevalente no Brasil e em outros lugares do mundo. Isso é um fator importante nas altas taxas de cesariana, pois não favorece a escolha informada e o cuidado baseado em evidências científicas centrado na mulher. No setor privado, a cesariana predomina devido à falsa ideia de aumento da segurança, enquanto no setor público, a cesariana é apresentada como uma alternativa para evitar experiências negativas no parto. Quanto aos desfechos maternos e perinatais, a cesariana apresenta um maior risco de morte materna, infecção puerperal, parada cardíaca, hematoma da ferida, histerectomia, complicações anestésicas, tromboembolismo venoso, aumento do tempo de internação hospitalar e hemorragia grave. Além disso, a cada cesariana subsequente, o risco aumenta progressivamente, com maior incidência de acretismo placentário, placenta prévia, lesão intestinal e ureteral, e óbito fetal. Também são descritas complicações respiratórias devido ao nascimento no termo precoce e maior risco de desenvolvimento de doenças crônicas na idade adulta para o concepto. Por fim, as altas taxas de cesariana, principalmente quando realizadas sem indicação médica, resultam em um custo maior para o sistema de saúde, aproximadamente 30% a mais por gestante, sem considerar os possíveis gastos relacionados a complicações maternas e neonatais do procedimento. Conclusão: O modelo tecnocrático de assistência, a falta de orientação baseada em evidências durante o pré-natal e o acesso limitado a tecnologias que proporcionam uma experiência positiva de parto, especialmente a analgesia de parto, principalmente em maternidades públicas, afetam o exercício da autonomia da mulher na decisão","PeriodicalId":84971,"journal":{"name":"Jornal brasileiro de ginecologia","volume":"1 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-01-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"135649108","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2023-01-01DOI: 10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1089
Wender Emiliano Soares, Lara Miranda Marchesi, Rodrigo Roberto Barroso, Maria Isabel do Nascimento
Introdução: No mundo, ocorreram mais de 2 milhões de natimortos em 2019, resultando em uma taxa de óbito fetal (OF) de 13,9 por 1.000 nascimentos. A maioria desses óbitos poderia ser prevenida com a oferta de cuidados pré-natais adequados. Objetivo: Estimar as taxas de mortalidade fetal específicas por idade gestacional no estado do Rio de Janeiro de 2010 a 2020. Métodos: Estudo descritivo com base em dados secundários fornecidos pelo DATASUS. Foram calculadas as taxas de mortalidade fetal estratificadas por idade gestacional. O número de óbitos fetais foi obtido no sistema de informação de mortalidade, e o número de nascidos vivos foi obtido no sistema de informação de nascidos vivos. As taxas foram apresentadas por 1.000 nascimentos. Resultados: No período, ocorreram um total de 25.773 óbitos fetais no Rio de Janeiro, distribuídos da seguinte forma por região de saúde: Baía da Ilha Grande (1,33%), Baixada Litorânea (5,10%), Centro-Sul (2,11%), Médio Paraíba (4,50%), Metropolitana I (63,89%), Metropolita II (10,62%), Noroeste (1,73%), Norte (5,46%) e Serrana (5,21%). Em relação ao momento do parto, 92,67% dos óbitos ocorreram antes do parto. A distribuição dos óbitos por idade gestacional foi de 24,8% (22–27 semanas), 22,0% (28–31 semanas), 30,4% (32–36 semanas), 22,4% (37–41 semanas) e 0,4% (≥42 semanas). A taxa média global foi de 10,71 por 1.000 nascimentos. As taxas específicas por idade gestacional indicam maior frequência em idades gestacionais mais precoces: 334,2/1.000 (22–27 semanas), 176,9/1.000 (28–31 semanas), 34,8/1.000 (32–36 semanas), 2,8/1.000 (37–41 semanas) e 3,7/1.000 (≥42 semanas). Conclusão: Apesar de a taxa média global estar abaixo dos níveis aceitáveis pela Organização Mundial da Saúde (OMS): 12/1.000, a estratificação por idade gestacional mostra que o problema é grave no estado do Rio de Janeiro, afetando principalmente gestações muito precoces, mas também fetos de alta viabilidade. Esse quadro demanda investigações minuciosas, bem como políticas públicas de atenção que visem a redução desse importante problema de saúde pública.
{"title":"Mortalidade fetal estratificada por idade gestacional no Rio de Janeiro, de 2010 a 2020","authors":"Wender Emiliano Soares, Lara Miranda Marchesi, Rodrigo Roberto Barroso, Maria Isabel do Nascimento","doi":"10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1089","DOIUrl":"https://doi.org/10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1089","url":null,"abstract":"Introdução: No mundo, ocorreram mais de 2 milhões de natimortos em 2019, resultando em uma taxa de óbito fetal (OF) de 13,9 por 1.000 nascimentos. A maioria desses óbitos poderia ser prevenida com a oferta de cuidados pré-natais adequados. Objetivo: Estimar as taxas de mortalidade fetal específicas por idade gestacional no estado do Rio de Janeiro de 2010 a 2020. Métodos: Estudo descritivo com base em dados secundários fornecidos pelo DATASUS. Foram calculadas as taxas de mortalidade fetal estratificadas por idade gestacional. O número de óbitos fetais foi obtido no sistema de informação de mortalidade, e o número de nascidos vivos foi obtido no sistema de informação de nascidos vivos. As taxas foram apresentadas por 1.000 nascimentos. Resultados: No período, ocorreram um total de 25.773 óbitos fetais no Rio de Janeiro, distribuídos da seguinte forma por região de saúde: Baía da Ilha Grande (1,33%), Baixada Litorânea (5,10%), Centro-Sul (2,11%), Médio Paraíba (4,50%), Metropolitana I (63,89%), Metropolita II (10,62%), Noroeste (1,73%), Norte (5,46%) e Serrana (5,21%). Em relação ao momento do parto, 92,67% dos óbitos ocorreram antes do parto. A distribuição dos óbitos por idade gestacional foi de 24,8% (22–27 semanas), 22,0% (28–31 semanas), 30,4% (32–36 semanas), 22,4% (37–41 semanas) e 0,4% (≥42 semanas). A taxa média global foi de 10,71 por 1.000 nascimentos. As taxas específicas por idade gestacional indicam maior frequência em idades gestacionais mais precoces: 334,2/1.000 (22–27 semanas), 176,9/1.000 (28–31 semanas), 34,8/1.000 (32–36 semanas), 2,8/1.000 (37–41 semanas) e 3,7/1.000 (≥42 semanas). Conclusão: Apesar de a taxa média global estar abaixo dos níveis aceitáveis pela Organização Mundial da Saúde (OMS): 12/1.000, a estratificação por idade gestacional mostra que o problema é grave no estado do Rio de Janeiro, afetando principalmente gestações muito precoces, mas também fetos de alta viabilidade. Esse quadro demanda investigações minuciosas, bem como políticas públicas de atenção que visem a redução desse importante problema de saúde pública.","PeriodicalId":84971,"journal":{"name":"Jornal brasileiro de ginecologia","volume":"10 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-01-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"135650339","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}